A INDIVIDUAÇÃO E A MORTE PRESENTE - LIGAÇÃO ENTRE JUNG E A TRADIÇÃO BUDISTA NICHIREN



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Transcrição:

Anais do V Congresso da ANPTECRE Religião, Direitos Humanos e Laicidade ISSN:2175-9685 Licenciado sob uma Licença Creative Commons A INDIVIDUAÇÃO E A MORTE PRESENTE - LIGAÇÃO ENTRE JUNG E A TRADIÇÃO BUDISTA NICHIREN Fábio Roberto Gonçalves de Oliveira Medeiros Mestrado em Ciências da Religião Universidade Federal de Juiz de Fora fabiomedeiros.psico@gmail.com CAPES ST 07 RELIGIÕES E FILOSOFIAS DA ÍNDIA Resumo: Religião para Carl Gustav Jung é um elemento vivo, existente no conceito de experiência pelo individuo, mas como religiosidade do divino ou transpessoal. Para ele, a caracterização da religião como uma atitude do espírito humano, um encontro ao seu primordial, Self ou Si-Mesmo. Um dos conceitos da Psicologia Analítica é a individuação, um processo pelo qual o ser humano pode tornar-se um indivíduo, uma totalidade, ou seja, representa a unicidade interna. Sendo assim, a jornada tanto do ego na busca de ampliação da consciência, quanto do próprio Self à integração. Diante do apresentado, como pensar a questão de morte nas teorias de Jung, vendo que a individuação não tem um fim? Uma das alunas de Carl Jung chamada Marie-Louise von Franz comenta, "alguns breves momentos numa terra totalmente desconhecida, da qual quase sempre estamos separados pela neblina, enquanto ainda vivemos nesse corpo; contudo, de vez em quando, vislumbramos dela paisagens surpreendentes". Esses momentos dizem o que Jung chamou de preparação para a morte contida no processo de individuação. Em seus estudos Jung nos mostra que a psique inconsciente ignora a morte como sendo um fim, tendo como meta o processo de individuação, a vida deve ser expressa em sua totalidade. E mais, de que a morte "não significa um fim, mas uma singular transformação que a razão não pode compreender". Na compreensão do conceito, necessário recorrer uma tradição, o Budismo Nichiren Daishonin, origem japonesa, referente à escola Mahayana do Budismo, tem como prática o objetivo de atingir o estado de Buda, através da recitação do mantra Nam-Myoho-rengue-Kyo, exercendo assim, modos de lidar com os sofrimentos do ser. Como principal, a questão da morte, no direcionamento do Budismo Nichiren, ajuda a entender que está inserida no conhecido mar dos sofrimentos (refere à vida e a morte). Os sofrimentos da transmigração nos seis caminhos da existência, que se acredita, são tão intermináveis e árduos quanto atravessar o infinito oceano. Busca compreender essa complexa questão de existência dando significado e sentido à vida. O objetivo da prática budista, assim da psicologia junguiana, consiste no deslocamento do centro psíquico do ego para o Self, e vice-versa, ou seja, no reconhecimento e na vivência de nossa totalidade. O trabalho visa apresentar uma comparação do conceito de morte estabelecido por Jung pela dinâmica da individuação, com a tradição budista japonesa de Nichiren Daishonin, em seu entendimento de morte. Será realizada pesquisa bibliográfica para o estudo. Utilizando fielmente a obra de Jung e o livro Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, utilizando os Goshos 1. O resultado será apresentado por meio da revisão bibliográfica referente à metodologia. Palavras-chave: Individuação, Budismo, Self e Morte. 1 Designação da coletânea dos escritos e individuais de Nitiren Daishonin, compilada por seu discípulo Nikko Shonin. O termo em japonês sho significa escrito e go é um prefixo honorífico.

Nichiren Daishonin foi um monge do século XIII que viveu no Japão, um revolucionário de sua época, devoto do Sutra de Lótus, recitou pela primeira vez o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, em 1259, base de sua prática Budista para entender todos os fenômenos. Nasceu no décimo sexto dia do segundo mês de 1222, na vila de Kominato, na costa leste da província de Awa (atual prefeitura de Chiba). Seu pai, Mikuni no Taifu, e sua mãe, Umegiku, viviam da pesca. Conforme Daishonin declarou em Carta de Sado, ele era de uma família de classe social baixa, abrangendo profissões como a de pescadores, carcereiros e abatedores de animais. Daishonin fazia questão de deixar claro que sua origem era a mais humilde. Quando criança recebeu o nome de Zennichi-maro. Aos doze anos, deixou o lar e a vila pesqueira onde morava para estudar num templo próximo chamado Seicho-ji. Naquela época, os templos eram os únicos locais em que as pessoas podiam aprender a ler e a escrever. Nichiren buscou a prática religiosa para entender os problemas de sofrimento que afetavam a humanidade, pois o Japão em sua época vivenciava grandes guerras, calamidades e desastres naturais. Por não saber lidar com essas perturbações, dedicou-se ao estudo profundo do Budismo. A história do Budismo, sua formação e aprendizado se deram pelos textos antigos da tradição e pesquisa histórica sobre os ensinamentos Sidarta Gautama 2 (Buddha), inconfundível e único, traz para a superfície uma série de problemas referentes à essência do homem e relativos ao enfrentamento dos quatro sofrimentos mundanos. Em diversos estudos, o Nichiren Daishonin aprofundou-se no tema da morte e na sua profunda compreensão, principalmente relativos aos seus conceitos. Ele declara, [...] Os cinco ideogramas do Myoho-rengue-kyo foram transmitidos por Shakyamuni e Muitos Tesouros os dois budas que se encontravam na Torre de Tesouro para o bodisatva Práticas Superiores, conduzindo uma herança ininterrupta desde o infinito passado. Myo representa a morte; 2 Na história Sidarta Gautama nasceu príncipe e vivia em um palácio rodeado de conforto e luxo, isso na Índia há século VI A.C.. Em quatro viagens nas quais saiu do palácio, Gautama confrontou-se com a realidade da vida e com os sofrimentos da humanidade. Conhecido como primeiro Buda, o termo Buda significa aquele que desperta, aquele que sabe, o iluminado, após perceber a existência dos quatro sofrimentos da vida, o nascimento, a doença, o envelhecimento e a morte, deixa seu palácio e sua família e busca a solução através da prática religiosa.

ho, a vida. Os seres vivos que passam por essas duas fases vida, e morte são entidades dos dez mundos, ou entidades do Myoho-rengue-kyo. (Daishonin, 2014, pág. 225) Alguns acreditam em outras linhas de Budismo, encontram bases em práticas diferentes, mas isto não torna ruim ou bom. O que pode afirmar, é que, o estudo sobre os ensinamentos budistas é um só, torna-se socialmente segregado traz à superfície toda gama de variáveis que envolvem o estudo dessa religião. No Budismo a morte ocorre como uma transformação, mas não no sentido de mudança, mas de uma continuidade. Evitar a pensar a morte, causa em nossa existência uma pobreza, para não dizer animalesca, mataria a filosofia e a religião. Daishonin em um dos textos afirma aprenda primeiramente sobre a morte e depois sobre todas as outras coisas. (WND, 2, 759). Ao tentar compreender, relacionar e dialogar com as teorias de Jung, com ênfase na individuação, de uma tradição budista, para entender a morte, identifica-se a primeira base regulamentar pessoal, um corpo e mente fortificado. Assim, o estudo desta área dentro da psicologia, torna-se fundamental na compreensão do desenvolvimento humano. Para Psicologia Analítica a religião é compreendida como fenômeno humano de dimensões psicológicas profundas. A visão sobre as religiões, para Jung, tanto na abordagem das tradições da teologia cristã quanto na das religiões orientais, é um dos pontos mais polêmicos de seu pensamento. Segundo Grinberg (2003), as religiões, com seus cultos e práticas rituais, procuram, muito mais do que representar a verdade, nos dar um significado simbólico à vida e à morte, expressando profundas necessidades psicológicas da humanidade. As crenças seriam organizações codificadas e dogmatizadas de uma experiência interior, que ele descreveu como numinoso 3, isto é, carregada de energia. Para tanto, Jung foi um grande pesquisador da religiosidade, no seu ponto de vista, diz que é uma função natural e inerente a nossa psique. Estudou religião ocidental e religião oriental. Diferenciou-as, dando como referencia Deus, no ocidente o homem procura sua salvação em algo externo a ele e no oriente, pelo contrário, o 3 Confronto com uma força que encerra um significado ainda não revelado, misterioso, atrativo, profético ou fatídico e que possibilita uma experiência imediata da transferência.

homem é Deus e se salva por si próprio. Ele diz que a psique é o elemento mais importante, é o sopro que tudo penetra, ou seja, a natureza de Buda (CW11, 771, 2011). É a partir de dentro que se devem atingir os valores orientais e procurá-los dentro de nós mesmos, e não a partir de fora. Devemos procurá-los em nós próprios, em nosso inconsciente. O estudo sobre a morte dentro da visão Junguiana traz à superfície toda gama de variáveis que envolvem o estudo da religião. O que pode levar a pensar o conceito de individuação como morte presente. Pode-se entender em um dos termos de Jung, no qual ele chamou de Sincronicidade, ele expõe que nossa psique possui movimentos que estão interligados com o todo (mundo universal). Jung comenta, simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também vice-versa (CW8/3, 818, 1991). Comprovando através dos sonhos estes fenômenos de conectividade. Alguns junguianos estudam esta relação com a física quântica. Logo, este termo pode, talvez, pensar a questão da morte. A morte seria apenas outro estado de nossa individuação, processo psíquico não tem um fim. A morte só passa para um fenômeno de não consciência. Pensando nestas questões a morte está sempre presente, relacionada a estes movimentos. O processo de individuação foi vivido e percebido pelo próprio Jung. Esse é um processo de integração do inconsciente com o consciente, e vice-versa. Pode-se pensar em um processo, de existência de uma lógica, com sentido e significado existencial, que na maioria das vezes está inconsciente e distante da realidade cotidiana. É a capacidade que todo indivíduo tem, por meio do caminho de diferenciação, separação e integração, sair da uniformidade rasa e alienante da normalidade coletiva em direção e uma busca simultânea de profundidade e expansão evolutiva. Também deve ser ressaltado que a individuação não é sinônimo de perfeição, tampouco de egoísmo. É, sim, um completar-se do individuo, atingir uma total integração psíquica de tal forma que é provocada uma mudança em sua maneira de ver e reagir ao mundo externo. De alguma forma nossa psique irá nos mostrar o caminho para melhor suportar tamanha dor e continuar vivendo. Através de nossos sonhos é um exemplo.

[...] Por isto parece que o inconsciente se interessa tanto mais com saber como se morre, ou seja, se a atitude da consciência está em conformidade ou não com o processo de morrer. Assim, uma vez tive de tratar de uma mulher de sessenta e dois anos, ainda vigorosa, e sofrivelmente inteligente. Não era, portanto, por falta de dotes que ela se mostrava incapaz de compreender os próprios sonhos. Infelizmente era por demais evidente que ela não queria entendê-los. Seus sonhos eram muito claros, mas também desagradáveis. Ela metera na própria cabeça que era uma mãe perfeita para os filhos, mas os filhos não partilhavam desta opinião, e os seus próprios sonhos revelavam uma convicção bastante contrária. (CW8, 809, 2000). Essa representação psíquica no sonho lembra um caso clínico de um psiquiatra Russo que procurou Dr. Carl Gustav Jung para uma explicação do que sua filha sonhou. De acordo com relatos do próprio Jung (2008), a menina desenhou doze quadros, onde cada um era um sonho que tivera e seus desenhos representavam a sua morte. Um ano depois de mostrar as imagens ao pai, a menina faleceu. Portanto, perder não se refere apenas à morte do corpo físico. Talvez o conceito de perda deva ser revisto em nossa cultura. Quando perder for necessário para que nos tornemos pessoas melhores, inclusive em relação a nós próprios, então que possamos vivenciar nossas perdas com lucidez e serenidade, mesmo que nos doa muito. Nessas ocasiões, não permitir que venham à luz da nossa consciência conteúdos que estão em nosso inconsciente, que fazem parte de nós, é matar a possibilidade de nos percebermos como um todo, de continuarmos à nossa individuação. Considerações Finais Este ensaio é uma tentativa de diálogo entre as teorias da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung com os pensamentos de Nichiren Daishonin. Apesar da distancia histórica, cultural e religiosa, ambos se comunicam na forma de pensamento filosófico e soteriológico. Observando que a temática central é a morte, ou melhor, a morte presente como intitulado acima, tendo um sentindo para esses dois personagens, não de um fim, mas de continuidade do caminho. É considerado um processo que está presente na vida de todos. A pretensão do titulo é pensar a palavra presente, no sentido do aqui e agora, relacionando a um sentido de experiência

marcada no tempo. Então podemos considerar como uma proposta que deve ser ainda estudada, pois a muitos detalhes a serem elaborados. Para concluir o trabalho, uma citação de Jung de seu livro Memórias, sonhos e reflexão: Se admitirmos que há uma continuação no além, só poderemos conceber um modo de existência que seja psíquico, pois a vida da psique não tem necessidade de espaço ou tempo. A existência psíquica e sobretudo as imagens interiores de que nos ocupamos desde agora oferecemos matéria para todas as especulações míticas sobre uma vida no além, e esta eu a represento como um caminhar progressivo através do mundo das imagens. Desse modo a psique poderia ser essa existência na qual se situa o além ou o país dos mortos. Inconsciente e país dos mortos seriam, nessa perspectiva sinônimos. (JUNG, 1963, p. 277) Referências *The Collected Works of C. G. Jung (CW) Obras Completas de Jung. * Abreviações: WND - The Writings of Nichiren Daishonin Escritos - Os Escritos de Nichiren Daishonin DAISHONIN, Nichiren. Coletânea dos escritos de Nichiren Daishonin. Volume I, tradução e edição Comitê de tradução do Gosho para a língua portuguesa da BSGI, São Paulo, Ed. Brasil Seikyo, 2014. GRINBERG, Luiz. Jung - o Homem Criativo. FTP, 2003, São Paulo. HILLMAN, James. Uma busca interior em Psicologia e Religião. São Paulo, Ed. Paulus, 1984. JUNG, Carl G. Homem e Seus Símbolos. Nova Fronteira, 2008.. Memórias, sonhos e reflexão. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1963.. A Natureza da Psique. CW8, 5ª, Rio de Janeiro: Guanabara, [1921] (2000).Psicologia e Religião Oriental. CW11, Petrópolis, Vozes, 2011..Sincronicidade. CW8/3, Petrópolis, Vozes, 1991. PEREIRA, Ronan Alves. O Budismo leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da revolução humana à utopia mundial. Tese apresentada em Campinas, São Paulo, em 2001. SANTOS, Cacilda Cuba. Individuação Junguiana. São Paulo: SARVIER, 1976.

VON FRANZ, M. L. VON. OS Sonhos e a Morte Uma Interpretação Junguiana. São Paulo Ed. Cultrix, 1990.