INCIDÊNCIA DE FUNGOS EM UNHAS DE IDOSOS DE UM ASILO NA CIDADE DE FRANCA-SP



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ORIGINAL INCIDÊNCIA DE FUNGOS EM UNHAS DE IDOSOS DE UM ASILO NA CIDADE DE FRANCA-SP INCIDENCE OF FUNGI ON THE NAILS OF ELDERLY RESIDENTS IN A NURSING HOME IN THE CITY OF FRANCA- SP Karine Cardoso dos Santos 1 João Luciano Andrioli 2 1 Graduanda em Biomedicina pela Universidade de Franca. 2 Professor doutor em Micologia na Universidade de Franca. RESUMO: os dermatófitos são um pequeno grupo de fungos com capacidade de invadir tecidos queratinizados e semiqueratinizados da pele, pêlo, unhas dos homens e animais, causando lesões, porém não atingindo tecidos subcutâneos. Este trabalho teve como objetivo avaliar a incidência dos fungos presentes em unha (halux do pé) em pessoas idosas, independentemente de sintomas e identificar os diferentes tipos de fungos presentes nas unhas. Foram examinados 26 moradores do Lar São Vicente de Paulo na cidade de Franca - SP com ou sem suspeita de dermatofitose. O material foi colhido após assepsia com o auxílio de algodão embebido com álcool 70º GL do hálux. Realizou-se o exame direto com KOH a 20%, e em seguida as amostras foram inoculadas nos meios de cultura Sabouraud Ágar com cloranfenicol e Mycobiotic Ágar para cultivo das colônias, as quais foram depois inoculadas em microcultivo específico Batata Dextrose Ágar (BDA) para fungos filamentosos e Ágar Fubá para leveduriforme, seguindo para identificação através de microscópio. O fungo de maior freqüência foi o Cladosporium (30%), Trichophyton rubrum e Penicillium (20%) cada e Aspergilus, Epidermophyton e Candida albicans (10%) cada um. Relacionando os fungos com o sexo dos moradores do Lar, observou-se a predominância do sexo feminino (58,33%) sobre o masculino (41,67%). O diagnóstico precoce da infecção e boa higienização são necessários para o controle e diminuição da incidência de dermatofitose. Este trabalho objetivou a identificação de fungos em unhas de idosos, independentemente de sintomas. Palavras-chave: micoses superficiais; tinha dos pés; dermatofitose. ABSTRACT: dermatophytes are a small group of fungi which are capable of invading keratinized and semi-keratinized skin tissue, hair as well as human and animal nails, causing lesions that do not reach subcutaneous tissues. This work aimed at the identification of fungi in seniors citizens nails regardless of symptoms. Twenty-six residents of Lar São Vicente de Paulo, a nursing home in the city of Franca-SP, were examined regardless of the suspicion of presenting dermatophytosis. The material was collected after hallux asepsis by using cotton soaked with 70 GL alcohol. A direct examination with 20% KOH was accomplished and the samples were inoculated in Sabouraud-agar with chloramphenicol and Mycobiotic-agar culture media for colony cultivation. The colonies were inoculated in Potato-dextrose-agar for filamentous fungi and in Corn-meal-agar for yeast form, which was followed by microscopic identification. The most frequently found fungi were Cladosporium (30%), Trichophyton rubrum (20%), Penicillium (20%), Aspergillus (10%), Epidermophyton (10%) and Candida albicans (10%). When associating fungi with the residents sex, a predominance of females (58.33%) over males (41.67%) was observed. An early diagnosis of infection and a better hygiene conditions are necessary for the control and reduction in the incidence of dermatophytosis. Key words: superficial mycosis; tinea pedis; dermatophytosis. 36

INTRODUÇÃO As micoses superficiais são causadas por fungos que são seres vivos aeróbios. Os fungos superficiais e cutâneos muitas vezes são estudados como um só grupo porque infectam as mesmas áreas do corpo, ou seja, pele, pêlo e unha. A palavra Tinha (do latim Tinea = verme ou traça) foi empregada no passado para designar as lesões fúngicas do couro cabeludo, unhas e pele glabra, provocadas por dermatófitos (fungos ceratinofílicos). Em língua inglesa a expressão corrente para micoses superficiais é Ringworm e, em francês, Teignes (LACAZ et al., 1991). As micoses superficiais causam lesões somente de ordem estética, as micoses cutâneas destroem o tecido e produzem sintomas (KERN; BLEVINGS, 1999). As micoses superficiais são as infecções fúngicas que incluem dermatofitoses, candidoses superficiais, infecções por Malassezia e Scytalidium, mais raramente, tinha negra e piedras branca e negra. Dificilmente, infecções superficiais estendem-se aos tecidos mais profundos, exceto candidose (MIDGLEY; CLAYTON; ITAY, 1998). Outros fatores responsáveis pela ocorrência de dermatofitoses são as condições bioclimáticas, sudorese, promiscuidade, sudação, contato prolongado com pequenos animais, como gatos e cães, reservatórios em potencial de alguns dermatófitos ou com água contaminada de piscinas e áreas de risco (pisos próximos de piscinas), etc (LACAZ et al., 1991). Segundo Minelli e Minelli (1991), atualmente as micoses superficiais são classificadas em ceratofitoses, dermatofitoses e candidoses. Ceratofitoses são micoses exclusivamente superficiais, localizadas na ceratina epidérmica e nos pêlos, sem qualquer fenômeno de hipersensibilidade. Os fungos causadores das micoses superficiais limitam-se às porções queratinizadas e semiqueratinizadas da pele ou à sua superfície, pêlos, unhas. Em relação às manifestações clínicas, podem comprometer mãos, pés, unhas, regiões de dobras cutâneas e pele glabra, sendo os dermatófitos os que não acometem as mucosas, e sim, as leveduras do gênero Candida, as que afetam pele e mucosa (STEINER; BEDIN, 1999). Os dermatófitos, principalmente os do gênero Trichophyton podem produzir metabólitos que atuam à distância do foco primário, desencadeando lesões de ide com quadros dermatológicos muito variados (LACAZ et al., 1991). OBJETIVO Este trabalho teve como objetivo: - avaliar a incidência dos fungos presentes em unha halux do pé em pessoas idosas, independentemente de sintomas; - identificar os diferentes tipos de fungos presentes nas unhas. REVISÃO DE LITERATURA Candidíase Candidíase ou candidoses são causadas por leveduras do gênero Candida, principalmente C. albicans, e menos comum C. parapsilosis, C. tropicalis, C. krusei, C. stellatoidea, C. guilhermondii e C. pseudotropicalis. A maioria dos casos de doença humana é determinada pela Candida albicans (KERN; BLEVINGS, 1999). A candidose ou monilíase ocorre tanto em crianças quanto em adultos, atingindo geralmente apenas pele e/ou mucosas, mas podendo acometer pulmões, intestino, sistema nervoso, endocárdio e, inclusive, causar síndrome septicêmica (MINELLI; MINELLI, 1991). Em relação ao comprometimento imunológico e conseqüente queda da resistência causada por AIDS e outras patologias as leveduras podem proliferar e causar auto-infecção (KERN; BLEVINGS, 1999; MINELLI; MINELLI, 1991; JAWETZ et al., 1991). Onicomicose É uma infecção fúngica das unhas causadas por fungos dermatófitos de um dos três gêneros Trichophyton, Microsporum, Epidermophyton. Leveduras do gênero Candida e os fungos nãodermatófito dos gêneros Aspergillus, Fusarium, Scopulariopsis, Acremonium, Scytalidium e outros também podem ser encontrados (SILVA, 1995). Diversos fungos localizados nos pés ou em outro qualquer ponto do corpo podem determi- 3 7

nar a liberação de alérgenos circulantes, os quais em pessoas sensíveis, são capazes de provocar manifestações cutâneas distantes do foco primário (LACAZ et al., 1991). Coelho (1980), o Trichophyton mentagrophytes é também encontrado em pisos de banheiros e de vestiários próximos a piscinas. Quanto à faixa etária, as onicomicoses afetam cerca de 50% dos idosos devido à baixa imunidade, os outros 50% ficam divididos entre crianças, jovens e adultos, principalmente entre 20 e 40 anos. Dermatofitoses São micoses cutâneas causadas por fungos do grupo de dermatófitos, dos gêneros Microscoporum, Trichophyton e Epidermophyton (LACAZ et al.,1998; COSTA et al., 2002; JAWETZ et al., 1991; STEVENSON, 1974). Os dermatófitos podem ser antropofílicos, parasitas adaptados da espécie humana; zoofílicos, próprios de animais domésticos ou silvestres ou geofílicos, e vivem no solo (KERN; BLEVINGS, 1999). Os dermafitófitos têm distribuição universal sendo mais encontrados em países tropicais e subtropicais. São seres dependentes da queratina. A teoria evolutiva discorre sobre estes seres como se inicialmente habitassem apenas o solo, alimentando-se de restos de queratina, mas que, por processos mutacionais de adaptação, começaram a infectar animais e, a seguir, seres humanos, tornando-se adaptados à queratina humana. Das 40 espécies conhecidas, apenas11 infectam o ser humano (STEINER; BEDIN, 1999). As dermafitoses acometem indivíduos de qualquer idade, porém, as dermatofitoses do couro cabeludo incidem predominantemente em crianças, enquanto as tinhas dos pés, das coxas e a tinha crural, são próprias dos adultos. Dermafitoses têm predileção topográfica, de acordo com o gênero considerado, de modo que o Trichophyton pode ocasionar lesões de pele, pêlos e unhas; o Microsporum acomete pêlos e pele; e o Epidermophytom atinge pele e unhas. Com a conquista de novos conhecimentos imunológicos, pode-se explicar por que algumas dermatofitoses - geralmente com evolução benigna e boa resposta terapêutica - são, às vezes, rebeldes aos tratamentos instituídos. Nessas eventualidades, os indivíduos acometidos apresentam imunodeficiências (particularmente relativas à imunidade celular) que propiciam evolução grave, quase sempre incontrolável dessas micoses que se apresentam com lesões progressivas múltiplas e extensas. Fato semelhante pode verificar-se em indivíduos sob uso prolongado de corticosteróides e de outros medicamentos imunodepressores, sobretudo em transplantados e doentes com neoplasia (MINELLI; MINELLI, 1991). Os fungos dermatófitos são muito freqüentes nas micoses dos pés. Vários subtipos podem ser encontrados. Podem ser encontradas bactérias que simulam infeçcão por fungos. Zaits (1989), em estudo sobre Tinea pedis em São Paulo, examinou 1500 pessoas, sendo que 291 possuíam lesões clínicas que podiam corresponder a dermafitose do pé. Em 139 (9,27%) ficou demonstrada a presença do fungo na lesão. Por meio do exame direto, foram identificados 57 casos sendo o T. mentagrophytes o mais freqüente seguido pelo T. rubrum e o M. canis. Leveduras do tipo Candida foram isoladas em 93 vezes (31,95%) em 291 pacientes em lesões compatíveis com Tinea pedis. Em estudo epidemiológico prospectivo sobre a dermatofitose do pé, realizado por Gianelli et al. (1988), estudou-se a população não selecionada (baixa renda) de São Paulo por amostragem, examinando 500 pessoas em pesquisa conduzida através de protocolo. A Tinea pedis foi confirmada em 7% (35/500) da população examinada. O T. mentagrophytes (2,8) foi mais isolado. Em Vitória (ES), Mattêde et al. (1986) verificou que em 236 casos de micoses superficiais por dermatófitos o T. mentagrophytes (50,55%) foi o fungo mais isolado principalmente isolado dos pés e mãos, depois seguiu-se o T. rubrum, (30%), Epidermophyton floccosum, M. canis, T. verrucosum, M. gypseum e T. galinas. Em sua pesquisa Negroni (1986) estudou um paciente masculino que por vários meses havia tomado corticóides e foi descrito como portador de oníquia tricofítica das mãos e pés, um caso de abcessos subcutâneos múltiplos causados pelo Trichophyton rubrum. 38

MATERIAL E MÉTODOS As amostras foram processadas no Laboratório de Micologia Clínica da Universidade de Franca - UNIFRAN, da disciplina de Micologia Clínica. Coleta Nos dias 25 e 30 de junho de 2003 foram coletadas amostras de unhas do dedo hálux com ou sem suspeita clínica de infecção fúngica dos moradores do Lar São Vicente de Paulo da cidade de Franca-SP, sendo registrados dados pessoais dos moradores como idade e sexo. Fez-se assepsia do local com algodão embebido com álcool 70º GL, coletou-se o mais próximo da lesão. Com auxílio de bisturi colheu-se o raspado de unha do pé, colocando sobre lâmina de vidro estéril. Exame direto O exame direto do material coletado foi realizado com KOH a 20% e mantido à temperatura ambiente por 20 minutos para dissolver a queratina da amostra tornando o fungo visível. Depois observou-se ao microscópio em objetiva 40X a presença de estruturas fúngicas. Inoculação em meio primário As amostras foram inoculadas em tubos de ensaio com os meios de cultura Sabouraud Ágar com cloranfenicol e Mycobiotic Ágar, separadamente, colocados à temperatura para crescimento das colônias. Após o crescimento das colônias que ocorreu entre 2 a 30 dias, realizou-se a observação macroscópica das colônias para auxiliar a identificação. Microcultivos Microcultivo leveduriforme Colônias leveduriformes foram inoculadas em Ágar Fubá, sobre lâmina estéril dentro de câmara úmida e manteve-se à temperatura ambiente por 48 horas. Realizou-se a observação microscópica e seguiu-se para a prova de fermentação de açúcares. Esta prova é utilizada para diferenciar espécies de leveduras. Microcultivo para filamentosos Sobre lâmina estéril colocou-se um quadrado do meio Dextrose Batata Ágar (BDA) sólido, inoculou o fungo e cobriu-se com lamínula. Depois colocou-se dentro de câmara úmida e mantidas à temperatura ambiente por 5 dias. Após o crescimento, retirou-se a lamínula e cobriu-se com outra lâmina contendo uma gota de corante azul de algodão e observou-se ao microscópio nas objetivas de 10X e 40X para identificação do fungo. RESULTADOS Isolaram-se 10 cepas de fungos dos 26 moradores do Lar São Vicente de Paulo, sendo que 14 (53,8%) pertencentes ao sexo masculino e 12 (46,8%) ao sexo feminino, com idade média de 55 anos, sendo que 38,4% dos moradores apresentam fungos em suas unhas. Na Tabela 1, temos a distribuição por sexo e idade dos moradores diagnosticados em asilo na cidade de Franca-SP. Tabela 1- Distribuição por sexo e idade dos moradores diagnosticados IDADE/ ANOS MASCULINO FEMININO TOTAL DE CASOS 46 1 1 63 2 2 65 1 1 69 1 1 70 1 1 2 72 1 1 77 1 1 2 79 1 1 84 1 1 3 9

Os fungos isolados foram Cladosporium, Penicillium, Epidermophyton, Trichophyton rubum, Aspergilus e Candida albicans. Os fungos identificados encontram-se na Figura 1. Figura 1- Freqüência dos fungos observados em 10 casos Verificou-se o predomínio de Cladosporium responsável por três casos, seguido por Trichophyton rubrum e por Penicillium responsáveis ambos por dois casos, e o Epidermophyton, Aspergilus e Candida, um caso respectivamente. DISCUSSÃO Foram isolados 10 fungos de 26 moradores do Lar São Vicente de Paulo com ou sem suspeita clínica de dermatofitose. De acordo com os fungos encontrados (ver Figura 1), observa-se que dentre eles estão dois gêneros pertencentes aos dermatófitos e a Candida albicans, que são causadores mais comuns de onicomicose; os demais, embora também possam causar, são mais conhecidos como saprofíticos. Com relação ao sexo, observa-se na Figura 2 maior incidência no sexo feminino, o que se deve provavelmente a uma maior manipulação das unhas, principalmente por manicure e pedicure. Figura 2 - Predominância de casos do sexo feminino em relação aos do sexo masculino no lar São Vicente de Paulo em Franca. As onicomicoses por leveduras são quase sempre provocadas por espécies do gênero Candida principalmente a Candida albicans. Essas onicomicoses são relativamente freqüentes em mulheres (ROSSETI, 1941). Dentre os dermatófitos a maior incidência foi de Trichophyton rubrum (20%) e Epidermophyton (10%). Estes resultados estão de acordo com o trabalho realizado por Santos et al. (1997), onde foi destacada uma maior porcentagem de T. rubrum do que Epidermophyton, ou seja, T. rubrum (58,6%), Epidermophyton (7,2%). Relacionando com o sexo, também os autores observaram uma maior porcentagem em mulheres (37,3%) do que em homens (16,0%). Entre os brasileiros, Trichophyton rubrum e Trichophyton mentagrophytes são os agentes mais comuns de onicomicose (LACAZ et al., 1991). Conforme este estudo de Lopes et al. (1999), aproximadamente de 10 a 20% da população da região central de Rio Grande do Sul é infectada por um dermatófito, e a tinea pedis é o tipo mais comum ocorrendo em 70% dos adultos. Neste trabalho, com 26 moradores do lar, em 15 (57,69%) o exame direto demonstrou presença de fungos na lesão, sendo 12 (80%) com suspeita de fungo filamentoso e 3 (20%) com suspeita de fungo leveduriforme. Foram confirmadas 10 suspeitas (66,7%) sendo 7 (70%) filamentosos e 1 (10%) leveduriforme, enquanto que 2 (20%) foram negativos no exame direto, mas no meio de cultura sabouraud com clorafenicol desenvolveram fungo filamentoso. E 3 (20%) das 15 amostras que no exame direto foram positivos não desenvolveram colônia no meio de cultura. Neste estudo o Cladosporium (21,43%) apresentou maior freqüência, seguido pelo Penicillium e T. rubrum (14,28%) e Aspergilus, Epidermophyton e Cândida albicans (7,14%). Sinski e Flouras (1984), em amplo inquérito realizado nos Estados Unidos nos anos de 1979 a 1981, verificaram que o T. rubrum foi o dermatófito mais isolado dos casos de tinhas. Segundo Moreira (1989), em Belo Horizonte (MG), em 212 amostras verificou-se que o T. rubrum é o fungo mais freqüentemente isolado de 40

pacientes com suspeita de dermatomicose, e o Candida sp é o de maior freqüência. CONCLUSÃO Neste trabalho concluiu-se que: os fungos mais isolados foram Cladosporium, T. rubrum e Pencillium; a incidência dos fungos foi maior em mulheres; e que deve ser realizada avaliação periódica, principalmente, porque os idosos têm maior probabilidade de contrair onicomicose; de acordo com várias citações de pesquisadores que comprovaram a presença destes fungos em diversos locais, as unhas infectadas quando não tratadas podem ser fonte de infecção para novos indivíduos. REFERÊNCIAS COELHO, I. F. Presença de esporos de dermatófitos em pés de indivíduos com ou sem lesão clínica.1980. Dissertação (Mestrado em Micologia) - Escola Paulista de Medicina, São Paulo. COSTA, M. et al. Epidemiology and etiology of dermatophytosis in Goiânia, GO, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 35, n. 1, p. 19-22, 2002. GIANELLI, M. A. et al. Dermatofitose do pé: estudo epidemiológico prospectivo. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 63, n. 1, p. 9-12, 1988. JAWETZ, E. et al. Manual de Microbiologia Médica. 7. ed. México: Editorial El Manual Moderno, 1991. p. 254-265. KERN, M. E.; BLEVINGS, K. S. Micologia médica: texto e atlas. 2. ed. Local: Premier, 1999. p. 123-131. LACAZ, C. da S. et al. Micologia médica: fungos, actinomicetos e algas de interesse médico. 8. ed. São Paulo: Sarvier, p. 129-203, 1991. LACAZ, C. da S. et al. Guia para identificação: fungo, actinomicetos, algas de interesse médico. São Paulo: Sarvier, 1998. LOPES, J. O. et al. A ten-year survey of tinea pedis in the central região of the Rio Grande do Sul, Brazil. Rev. Inst. Med. Trop., São Paulo, Mar./ Apr., v. 41, n. 2, p. 75-77, 1999. MATTÊDE, M. G. S. et al. Etiologia das dermatofitoses em Vitória (ES). Anais Brasileiros Dermatologia, v. 61, n. 4, p. 177-182, 1986. MIDGLEY, G.; CLAYTON, Y.; ITAY, R. J. Diagnóstico em cores micologia médica. São Paulo: Manole, 1998. p. 17-18. MINELLI, L.; MINELLI, L. D. Micoses superficiais: como diagnosticar e tratar. Rev. Bras. Med., v. 48, p. 57-63, 1991. (Edição Especial). MOREIRA, Y. K. Freqüência dos tipos de dermafitoses humanas em Belo Horizonte. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 65, n. 1, p. 55-91, 1989. NEGRONI, R. Tricoficia subcutânea por Trichophyton rubrum. Rev. Pat. Inf. y tarácica Hosp. Muniz., v. 3, p. 8-12, 1986. PINHEIRO, A. de Q.; MOREIRA, J. L. B.; SIDRIM, J. J. C. Dermatofitoses no meio urbano e a coexistência do homem com cães e gatos. Rev. Soc. Bras.Med. Trop., v. 30, n. 4, p. 287-294, 1997. ROSSETI, N. Um novo problema sanitário em São Paulo. Primeiros resultados de um inquérito sobre as Tinhas. Rev.Inst. A. Lutz, São Paulo, v. 1, p. 217-303, 1941. SANTOS, J. I. et al. Some aspectta of dermatophytoses seen at universit hospital in Florianópolis, Santa Catarina, Brazil. Rev. Inst. Med. Trop., São Paulo, v. 39, n. 3, p. 137-140, 1997. SILVA, M. R. e. Infecções cutâneas por fungos: micoses superficiais. Apoio à Residência Médica, v. 1, n. 1, p. 5-10, 1995. SINSKI, J. T.; FLOURAS, K. A sur veyof dermatophytes isolad from human pacients in the United States from 1979 to 1981 with chronological listings of worldwide encidence of five dermatophytes ofen isolated in United States. Micropathologia, v. 85, p. 97-120, 1984. STEINER, D.; BEDIN, V. Doenças fúngicas superficiais da pele. Rev. Bras. Med., v. 56, p. 167-177, dez. 1999. (Edição Especial). 4 1

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