Comunicado Técnico RESUMO INTRODUÇÃO



Documentos relacionados
Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

COMPORTAMENTO DE GENÓTIPOS DE FEIJOEIRO AO ATAQUE DE Bemisia tabaci (Genn.) BIÓTIPO B (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE)

Injúria causada por percevejos fitófagos na fase inicial de desenvolvimento de plantas de milho e trigo

PROCEDIMENTO DE OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E VERIFICAÇÃO DE ESPECTROFOTÔMETRO U-2000 PROCEDIMENTO DE OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E VERIFICAÇÃO DE

PROGRAMA FITOSSANITÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO SEMANAL DE 27 DE JANEIRO A 03 DE FEVEREIRO DE 2014

Efeito de hipoclorito de sódio na desinfestação de meristemas de bastão-do-imperador

Circular. Técnica PROCEDIMENTO DE OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO E VERIFICAÇÃO DA ESTUFA ELETROLAB MODELO 112FC. Brasília, DF Dezembro 2007.

Avaliação da germinação de sementes de fragmentos florestais receptadas em redes visando recomposição da flora local

PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM. Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

ANÁLISE DA TOLERÂNCIA DE GENÓTIPOS DE FEIJÃO-CAUPI AO CARUNCHO

DEFINIÇÃO DE UMA REDE DE SENSORES SEM FIO PARA A ARQUITETURA AGROMOBILE 1

Influência do Espaçamento de Plantio de Milho na Produtividade de Silagem.

Aptidão climática do capim-búffel ¹. Palavras-chaves: Cenchrus ciliaris, exigência climática de capim-búffel, pecuária sustentável

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

INFLUÊNCIA DA QUEBRA DE DORMÊNCIA NA GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE PARICÁ

ACLIMATIZAÇÃO DE CULTIVARES DE ABACAXIZEIRO SOB MALHAS DE SOMBREAMENTO COLORIDAS

Referências Bibliográficas

INFLUÊNCIA DO USO DE ÁGUA RESIDUÁRIA E DOSES DE FÓSFORO NA ÁREA FOLIAR DO PINHÃO MANSO

INTEGRAÇÃO LAVOURA/ PECUÁRIA. Wilson José Rosa Coordenador Técnico Estadual de Culturas DEPARTAMENTO TÉCNICO - EMATER-MG

Inclusão de bagaço de cana de açúcar na alimentação de cabras lactantes: desempenho produtivo

RECIRCULAÇÃO DE EFLUENTE AERÓBIO NITRIFICADO EM REATOR UASB VISANDO A REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA

DECANTAÇÃO DO RESÍDUO DA LAVAGEM DE BATATAS DA LINHA DE BATATAS-FRITAS

1.º PERÍODO. n.º de aulas previstas DOMÍNIOS SUBDOMÍNIOS/CONTEÚDOS OBJETIVOS. De 36 a 41

Comunicado 184 Técnico

PRODUÇÃO DE MUDAS PRÉ BROTADAS (MPB) DE CANA-DE-AÇUCAR EM DIFERENTE ESTRATÉGIAS DE IRRIGAÇÃO

AMOSTRAGEM DE SOLO PARA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE 1 INTRODUÇÃO

07/12/2012. Localização das instalações. Localização das instalações. Localização das instalações. Trajeto do sol sobre o barracão

Reconhecimento de Padrões Utilizando Filtros Casados

Recomendações para o Controle Químico da Mancha Branca do Milho

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

III Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí III Jornada Científica 19 a 23 de Outubro de 2010

PRODUÇÃO DE PORTA-ENXERTO DE MANGUEIRA EM SUBSTRATO COMPOSTO POR RESÍDUOS DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA

Graviola: Nutrição, calagem e adubação 36. Apresentação. Objetivo

MF-0514.R-1 - DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO GÁS, EM CHAMINÉS

VIII Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG- campus Bambuí VIII Jornada Científica

ACTIVIDADE LABORATORIAL 1.1 FÍSICA 11º ANO

Adaptação à mudança do clima*

Potencial Germinativo De Sementes De Moringa oleifeira Em Diferentes Condições De Armazenamento

MACROFAUNA EDÁFICA DO SOLO E LÍQUENS COMO INDICADORES DE DEGRADAÇÃO EM REMANESCENTES FLORESTAIS URBANOS

PALAVRAS-CHAVE: capacidade de campo; densidade crítica; ponto de murcha permanente; porosidade de aeração; qualidade física do solo.

EXPERIMENTOS PARA USOS SUSTENTÁVEIS COM FIBRA DE BANANEIRA

MITOS X VERDADES SOBRE A DENGUE

Pesquisas em Andamento pelas Fundações e Embrapa sobre os Temas Indicados pelo Fórum do Ano Passado

CURSOS Agronomia, Ciências Habilitação em Biologia, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia e Zootecnia

Eficiência da Terra de Diatomácea no Controle do Caruncho do Feijão Acanthoscelides obtectus e o Efeito na Germinação do Feijão

ISSN Agosto, Mudanças na Geografia Agrícola das Microrregiões Alagoanas nos Anos de 1990 e 2004

Avaliação da influência de coberturas mortas sobre o desenvolvimento da cultura da alface na região de Fernandópolis- SP.

221 - PÊSSEGOS CV. GRANADA PRODUZIDOS SOB AMBIENTE PROTEGIDO EM SISTEMA DE CONVERSÃO DA PRODUÇÃO CONVENCIONAL PARA A ORGÂNICA

ENSAIO PRELIMINAR UTILIZANDO CULTURAS DE DAPHNIA SIMILIS, PARA A DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE REPRODUÇÃO, SEGUNDO A EQUAÇÃO DE MALTHUS

27/02/2013. Solo e Clima. Produção do biocarvão ainda é desafio para os cientistas

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO: LBE BIOTECNOLOGIA

GERÊNCIA EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO GERAL E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA ESTUDO ESTATISTICO DA BRISA ILHA DE SANTA CATARINA

SECAGEM DE GRÃOS. Disciplina: Armazenamento de Grãos

ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS NA CACHOEIRA DO ALAMBIQUE PARQUE JOSÉ VERGARA BERTIOGA/SP.

Até quando uma população pode crescer?

Docente do Curso de Agronomia da Universidade Estadual de Goiás, Rua S7, s/n, Setor Sul, Palmeiras de Goiás GO. .:

COMPORTAMENTO GERMINATIVO DE DIFERENTES CULTIVARES DE GIRASSOL SUBMETIDAS NO REGIME DE SEQUEIRO

Ensino Médio 2º ano classe: Prof. Gustavo Nome: nº. Lista de Exercícios 1ª Lei de Mendel, exceções e Sistema ABO e Rh

ASTRONOMIA, SOMBRAS E OUTROS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS NO ENSINO MÉDIO

VALIDAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISE QUÍMICA

HORTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA

BC 0205 Fenômenos Térmicos. Experimento 3 Roteiro

UFPB PRG X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

08/04/2013 PRAGAS DO FEIJOEIRO. Broca do caule (Elasmopalpus legnosellus) Lagarta rosca (Agrotis ipsilon)

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS. Fonte: O Estado de S.Paulo, 10/12/ 97.

PALAVRAS-CHAVE Agricultura Familiar; Sustentabilidade; Contextualização; Conhecimento Químico.

RESPOSTAS REPRODUTIVAS DE OVELHAS SUBMETIDAS A PROTOCOLOS DE INDUÇÃO DE ESTRO DE CURTA E LONGA DURAÇÃO

Palavras-Chave: Tratamento de resíduos sólidos orgânicos; adubo orgânico, sustentabilidade.

Rendimento de Grãos de Híbridos Comerciais de Milho nas Regiões Sul, Centro-Sul e Leste Maranhense

Caramuru Alimentos Ltda, Rod. BR 060 Km 388 s/n Zona Rural, C.E.P: Rio Verde/GO zeronaldo@caramuru.com

DESSECAÇÃO DE BRAQUIÁRIA COM GLYPHOSATE SOB DIFERENTES VOLUMES DE CALDA RESUMO

Vinícius Soares Sturza 1 ; Cátia Camera 2 ; Carla Daniele Sausen 3 ; Sônia Thereza Bastos Dequech 4

Projeto de Revitalização da Microbacia do Rio Abóboras Bacia Hidrográfica São Lamberto

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

REFLETÔMETRO M43D EEL (SMOKE STAIN RFLECTOMETER) MANUAL DE OPERAÇÃO. Responsável: José Walderley Coêlho Dias

AVALIAÇÃO DA AGITAÇÃO E DA AERAÇÃO NA PRODUÇÃO DE β- GALACTOSIDASE POR Kluyveromyces marxianus CBS 6556 A PARTIR DE SORO DE QUEIJO

AMOSTRAGEM ESTATÍSTICA EM AUDITORIA PARTE ll

Aproveitamento dos grãos da vagem verde de soja

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PRECIPITAÇÃO REGISTRADA NOS PLUVIÔMETROS VILLE DE PARIS E MODELO DNAEE. Alice Silva de Castilho 1

CONSUMO FOLIAR E SOBREVIVÊNCIA DE Diabrotica speciosa EM DIFERENTES LINHAGENS DE QUINOA

MANEJO INTEGRADO DA MOSCA-BRANCA BEMISIA ARGENTIFOLII. Zuleide A. Ramiro

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Efeito da colhedora, velocidade e ponto de coleta na qualidade física de sementes de milho

CURSO E COLÉGIO APOIO. Professor: Ronaldo Correa

ENSINO DE QUÍMICA: REALIDADE DOCENTE E A IMPORTANCIA DA EXPERIMENTAÇÃO PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ÁGUA DESTILADA E OSMOSE REVERSA 1. Wendel da Silva Lopes 2, Andressa da Silva Lopes 3, Adriana Maria Patarroyo Vargas 4.

INSTRUÇÕES PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS NA JOURNAL OF AGRONOMIC SCIENCES

DESCRITORES DAS PROVAS DO 1º BIMESTRE

ESTUDO DE SOLOS COLAPSÍVEIS POR MÉTODO NÃO-INVASIVO 1

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS E COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE CASCAS E SEMENTES DE MAMÃO RESUMO

DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO COMPUTACIONAL PARA O CONTROLE DO MANEJO DA IRRIGAÇÃO 1

MCI - MANUAL DE INSTRUÇÕES PARA COLETA E ENVIO DE AMOSTRAS DE LEITE PARA ANÁLISE - INDÚSTRIAS

4 Metodologia Experimental: Materiais e Métodos

CONVERSÃO DE TEMPERATURA

RELATÓRIO TÉCNICO. Avaliação do comportamento de HÍBRIDOS DE MILHO semeados em 3 épocas na região Parecis de Mato Grosso.

Modificações nas características estomáticas de plantas de genótipos de milho (Zea mays L. spp mays) em função da morfologia foliar

Transcrição:

Comunicado Técnico Dezembro, 90 ISSN 0102-0099 Brasília, DF 2003 RITMOS DIARIOS DE ATIVIDA- DES COMPORTAMENTAIS DE DIABROTICA SPECIOSA (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE) RELACIONA- DOS À TEMPERATURA Raul A. Laumann 1 Paulo H. Ribeiro 2 Neiva Ramos 3 Carmen Silvia Soares Pires 4 Francisco Guilherme V. Schmidt 5 Miguel Borges 6 Maria Carolina Blassioli Morais 7 Edison Ryoiti. Sujii 8 RESUMO Diabrotica speciosa é a principal espécie de um complexo que é praga de numerosas culturas, como milho, feijão, soja e batata. O objetivo desse trabalho foi estudar o comportamento deste inseto, já que conhecimentos básicos sobre suas características biológicas poderão subsidiar um manejo mais eficiente de suas populações. Foi realizado um estudo em condições de campo para determinar a distribuição do inseto em feijoeiro na fase vegetativa e seus hábitos comportamentais ao longo do dia. Em laboratório foi avaliado o consumo foliar, durante 24 horas, para isto os insetos foram separados por sexo e confinados com folhas de feijão em gaiolas. As atividades de movimentação, alimentação e vôo foram positivamente relacionados com o aumento da temperatura em campo. Os insetos se localizaram, em sua maioria, nas folhas superiores da planta. O mesmo padrão foi observado em laboratório. Nos períodos em que a temperatura elevou-se acima dos 25º C os insetos mostraram atividade alimentar e no período de maior temperatura média (27,4 º C), de 12:00 h às 17:30 h os insetos consumiram maior quantidade de área foliar. As fêmeas consumiram maior área foliar que os machos o que pode ter relação com seu maior tamanho corporal. Palavras-chave: vaquinha, comportamento, bioecologia, herbivoria, Chrysomelidae. INTRODUÇÃO Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae) vulgarmente conhecida como vaquinha é uma praga polífaga, de grande disseminação nos Estados brasileiros e alguns países da América do Sul (Ávila, 1999). Os adultos desse inseto alimentam-se preferencialmente de folhas, brotos, frutos e pólen de plantas cultivadas e silvestres; enquanto as larvas preferem as raízes. No Brasil, D. speciosa tem sido registrada causando dano em milho, cucurbitáceas, soja, feijão, amendoim e batata (Gassen 1984). Além do dano causado pelo seu consumo alimentar, D. speciosa é conhecida como vetor de viroses para diversas espécies de plantas, incluindo o mosaico 1 Biólogo, PhD, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Núcleo Temático de Controle Biológico 2 Biólogo Graduando, Universidade Católica de Brasília Bolsista de Iniciação Científica 3 Biólogo Graduando, Universidade Católica de Brasília Bolsista Embrapa 4 Bióloga, PhD, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Núcleo Temático de Controle Biológico 5 Eng. Agrônomo, MSc, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Núcleo Temático de Controle Biológico 6 Biólogo, PhD, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Núcleo Temático de Controle Biológico 7 Química, PhD, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Núcleo Temático de Controle Biológico 8 Eng. Agrônomo, PhD, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Núcleo Temático de Controle Biológico

2 Ritmos Diarios de Atividades Comportamentais de Diabrotica Speciosa virótico dos feijões (Viana com. pessoal Embrapa Milho e Sorgo) e doenças bacterianas (Cabrera Walsh, 2003). Milanez (1995) determinou que o inseto leva de 3 a 4 dias para a eclosão das larvas e posteriormente demora cerca de 29 dias para se desenvolver até o estágio adulto, passando por três instares larvais e pupa. A constante térmica para o desenvolvimento foi de 474,96 graus-dia com temperatura base de 11,4 ºC. O período de oviposição das fêmeas foi de 40,2 ± 12,1 dias e o número médio de ovos colocados por fêmeas foi de 1011. As fêmeas mostraram preferência por sítios de oviposição com solos mais escuros e com maiores teores de matéria orgânica e umidade entre 26-63%. O milho foi a planta hospedeira preferida em relação a feijão, soja e arroz). Ávila (1999) determinou que o milho é o melhor alimento para os estágios larvais de D. speciosa e relatou resultados similares aos de Milanez (1995) relacionados ao desenvolvimento do inseto, encontrando maior fecundidade das fêmeas quando o desenvolvimento destas foi em dieta natural (1724,1 e 2127,1 ovos/fêmea em dois tratamentos com milho). No entanto, o milho não se apresentou como o melhor hospedeiro do inseto durante a fase adulta já que a capacidade reprodutiva do inseto foi maior quando os adultos foram alimentados com batata ou feijoeiro em relação ao milho e soja. Em testes de múltipla escolha, os insetos preferiram folhas de feijoeiro às de milho, soja e batata (Ávila 1999). Assim a associação milho-feijoeiro parece ser a condição ótima para o desenvolvimento do inseto. Finalmente ao validar, em condições de semicampo o modelo de exigências térmicas (graus-dia) desenvolvido por Milanez (1995) em laboratório, Ávila (1999) encontrou que a temperatura do solo resulta mais adequada do que a temperatura do ar para determinar a ocorrência do inseto no campo. Apesar dos conhecimentos básicos sobre a biologia, vários aspectos da bioecologia e comportamento deste inseto ainda são desconhecidos, o que dificulta o manejo de suas populações. O objetivo deste trabalho foi estudar alguns padrões de comportamento de D. speciosa em condições de campo e laboratório para subsidiar o desenvolvimento de novas estratégias de manejo da praga utilizando semioquímicos como atraentes e fagoestimulantes MATERIAL E MÉTODOS Estudo no campo Foi realizado um estudo em condições de campo, nos dias 8, 9 e 10/04/2003 para determinar a distribuição do inseto em plantas de feijoeiro na fase vegetativa e seus hábitos comportamentais ao longo do dia. A área de estudo (50 x 30 metros) foi estabelecida em um plantio de feijão (Phaseolus vulgaris) situado na Embrapa, Recursos Genéticos e Biotecnologia. Foram realizadas observações em intervalos de duas horas, no período de 6:00 às 20:00 hs. Em cada momento foram observados 15 insetos registrando-se: posição na planta (solo, nível superior, médio ou inferior), local da planta (folhas (cara abaxial ou adaxial) ou caule) e seu comportamento (repouso, locomoção, alimentação, cópula ou vôo). Em cada período de amostragem foram registradas a temperatura e a umidade relativa do ar próximo às plantas. Estudo no laboratório Foram realizados experimentos para avaliar o ritmo de alimentar, oviposição e cópula de adultos de D. speciosa em condições de laboratório. Os procedimentos experimentais para manutenção dos insetos durante os experimentos de consumo foliar e oviposição foram adaptados de Ávila (1999). Os experimentos foram desenvolvidos em uma sala mantida à temperatura e umidade ambiente, e as observações foram divididas em quatro períodos ao longo de 24 h Período 1: 7:00 às 13:00 h, Período 2: 12:00 às 18:00 h, Período 3: 18:00 às 23:00 h, Período 4: 23:00 às 7:00 h. Em cada período foram realizadas observações a intervalos de 30 minutos durante o dia (7:00 a 23:00 h) e de uma hora no período noturno. A temperatura e a percentagem de umidade relativa do ar (UR) de cada período foram registradas para correlação com o comportamento dos insetos. Os insetos utilizados em todos os experimentos tinham 10 a 15 dias de idade na fase adulta. Consumo Foliar: Um grupo de 15 fêmeas e 15 machos foi utilizado para avaliar o consumo foliar. Os insetos foram mantidos individualmente em vasos plásticos junto com uma folha de feijão. Para evitar a desidratação da folha, o pecíolo foi envolto com algodão e submerso em um tubo de vidro (5 x 0,8 cm) contendo água destilada. Ao final de cada período de observação, as folhas foram substituídas e calculada a área foliar consumida. A área foliar consumida foi calculada por um software específico (SIARCS,

Ritmos Diarios de Atividades Comportamentais de Diabrotica Speciosa 3 Embrapa Instrumentação Agropecuária), a partir das imagens digitais das folhas obtidas por um scanner (Genius Color Page SP2X). Os dados foram analisados através da Análise de Variância (ANOVA) de dois fatores e teste de Student-Newman-Keuls (SNK) para a comparação das médias utilizando o software estatístico Sigmastat (Kuo et al. 1992). Oviposição: Fêmeas individualizadas, mantidas previamente com machos por 24-48h para assegurar a fecundação, foram colocadas em gaiolas plásticas em um total de 15 repetições. Dentro de cada gaiola foi introduzido um substrato para oviposição formado por uma placa de Petri plástica (9 cm de diâmetro) contendo um pedaço de espuma coberto por um pano de algodão preto. Para alimentação das fêmeas foi oferecida uma folha de feijão nas mesmas condições do experimento anterior. Ao final de cada período, a placa de Petri era retirada e vistoriada em microscópio estereoscópico para a contagem de ovos. Cópula: Quinze casais foram mantidos, individualmente, em gaiolas plásticas junto com uma folha de feijão como fonte de alimento. Para observar o comportamento de cópula foram realizadas observações a intervalos de 15 a 30 minutos no período de 7:00 às 23:00h (Períodos 1 a 3). No período noturno, 23:00 às 7:00h, o comportamento de 6 casais foi gravado em uma fita de vídeo. Para isto se utilizou uma câmera preto e branco (Sony Exwave HAD) acoplada a um gravador de fitas VHS (Panasonic). As gravações foram realizadas com fonte de luz infravermelha, adaptando um filtro na câmera. Foram realizadas 8 gravações de 15 minutos de duração em intervalos de uma hora. Posteriormente a fita foi analisada para observar o comportamento dos casais. RESULTADOS E DISCUSSÃO No campo, a maior parte dos adultos de D. speciosa concentra-se na parte superior das plantas (Figura 2), independentemente do período do dia. A maioria dos insetos observados localizava-se nas folhas, porém existiu uma grande variação no local da folha onde o inseto foi encontrado nas diferentes amostragens. Os insetos foram observados mais freqüentemente na parte superior das folhas, porém nas horas mais quentes, iluminadas e secas do dia que representam os horários de maior déficit hídrico (14:00 e 16:00 h, Figura 1) migraram para a parte inferior das folhas para posteriormente voltar à parte superior das folhas ou caule/broto (Figura 3). Este comportamento pode estar relacionado Temperatura C com a busca de microhabitats com condições mais favoráveis nos diferentes períodos do dia. A partir das 18:00h as amostragens foram interrompidas pela dificuldade de visualização dos insetos. As atividades de alimentação, movimentação e vôo foram correlacionadas positivamente com a temperatura. Em particular as atividades de locomoção aumentaram após as 10:00 h quando a temperatura superou os 25 C e diminuíram novamente com a queda da temperatura (18:00 h). A alimentação não parece ser tão influenciada pela temperatura já que foram observados adultos alimentandose até às 18:00 h. (Figura 4) 35 30 25 20 15 10 5 0 Figura 1. Temperatura ( C) e umidade relativa (UR%) medidos na área experimental durante a realização do experimento Porcentagem de indivíduos 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Temperatrura C UR% solo inferior medio superior Figura 2. Distribuição de Diabrotica speciosa (% do total amostrado, n=15) em diferentes partes de plantas de feijão (Phaseolus vulgaris) segundo a hora do dia. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 UR %

4 Ritmos Diarios de Atividades Comportamentais de Diabrotica Speciosa Porcentagem de indivíduos 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Porcentagem de indivíduos 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Folha (inferior) Folha (superior) Caule/broto Folha (inferior) Folha (superior) Caule/broto Figura 3. Distribuição de Diabrotica speciosa (% do total amostrado, n=15) em diferentes partes de plantas de feijão (Phaseolus vulgaris) segundo a hora do dia. Figura 4. Distribuição de indivíduos de Diabrotica speciosa (% do total amostrado em cada tempo, n=15) com diferentes comportamentos em plantas de feijão (Phaseolus vulgaris) segundo a hora do dia. O comportamento alimentar em laboratório mostrou correlação com o aumento de temperatura. No período 2, de 12:00 às 18:00h quando a temperatura foi maior, a proporção de indivíduos alimentando-se foi superior à dos períodos 1 e 3 (Tabela 1). Comparando o comportamento dos insetos de cada sexo viu-se que este foi similar já que só foram encontradas diferenças significativas no período 3, quando a proporção média de fêmeas alimentando-se foi maior que a de machos. (Tabela 1). Estes resultados coincidem com o observado no campo e sugerem que os fatores físicos do ambiente como temperatura e umidade controlam o comportamento de insetos, independente da ocorrência de fatores bióticos como outras espécies de herbívoros ou predadores. Tabela 1. Proporção de adultos de Diabrotica speciosa se alimentando (média ± desvio padrão) e condições ambientais nos três primeiros períodos de observação (7:00 às 23:00 hs). Tempo Temp ( C) (X ± DP) UR% Proporção de Indivíduos Alimentando-se (X ± DP) Machos Fêmeas Período 1 07:00 12:00 Período 2 12:00 18:00 Período 3 18:00-23:00 21,77 ± 3,61 66,40 ± 9,14 0,11 ± 0,15 aa 0,17 ± 0,21 aa 27,39 ± 1,22 47,44 ± 3,68 0,33 ± 0,17 ab 0,30 ± 0,15 ab 23,43 ±1,62 56,67 ± 1,75 0,052 ± 0,07 aa 0,31 ± 0,10 bab Ref : Os dados foram analisados usando ANOVA de dois fatores. F sexo = 7,56 gl=1,50 p<0,05, F tempo =6,34 gl 2,50 p<0,05 e F sxt =3,22 gl=2,50 p<0,05. Os valores médios de proporção de indivíduos alimentando-se em cada linha seguidos da mesma letra minúscula não diferem significativamente e os valores médios de proporção de indivíduos alimentando-se em cada coluna seguidos da mesma letra maiúscula não diferem significativamente (teste SNK p<0,05). Dados transformados arcsen Öx.

Ritmos Diarios de Atividades Comportamentais de Diabrotica Speciosa 5 Considerando o consumo de área foliar no período de 24 h foi observado que, a área foliar consumida pelas fêmeas (0,89 ± 0,41 cm 2 /dia) foi significativamente maior que a área foliar consumida pelos machos (052 ± 0,41 cm 2 /dia) (teste t, T=2,39; gl= 26, p=0,025, nesta análise foi excluído um inseto de cada sexo que morreu durante o experimento). Este maior consumo pode ser explicado pelo maior tamanho corporal das fêmeas ou pela necessidade de maior quantidade de recursos destinados à produção de ovos. Entretanto, a diferença observada baseou-se no consumo foliar de fêmeas e machos durante o primeiro período considerado (Tabela 2). Estes resultados indicam que, mesmo não sendo este o período onde a maior parte dos insetos está se alimentando (ver Tabela 1), esta etapa do dia pode corresponder à de maior consumo alimentar dos insetos. A determinação da posição e estruturas da planta onde o inseto permanece e seus horários de atividade subsidiarão as estratégias de utilização de produtos para controle do inseto baseado em atraentes alimentares. Os resultados sugerem que a associação de atraentes alimentares com agentes tóxicos poderá ter sua eficiência maximizada quando aplicada no início da manhã, na parte superior das plantas e preferencialmente buscando atingir a face inferior das folhas. A metodologia desenvolvida, neste trabalho, para avaliação do comportamento de D. speciosa será usada para estudar o papel de fagoestimulantes e outros semioquímicos (atraentes ou repelentes) no comportamento desta espécie, visando estabelecer o potencial destas substancias para seu controle. Devido ao baixo número de indivíduos que produziram os comportamentos de oviposição e cópula, somente duas fêmeas produziram 72 e 3 ovos respectivamente e só um casal foi observado em cópula, não foi possível analisar esses comportamentos. Tabela 2. Área foliar consumida (média ± desvio padrão) por adultos de Diabrótica speciosa nos quatro períodos de observação. Tempo Área foliar consumida (cm 2 ) Macho Fêmea Período 1 07:00 12:00 Período 2 12:00 18:00 Período 3 18:00-23:00 Período 4 23:00 07:00 0,11 ± 0,18 aa 0,43 ± 0,30 ba 0,24 ± 0,25 aa 0,19 ± 0,24 ab 0,05 ± 0,07 aa 0,15 ± 0,17 ab 0,11 ± 0,14 aa 0,10 ± 0,19 ab Ref.: Os dados foram analisados usando ANOVA de dois fatores. F sexo = 5,87 gl=1,106 p<0,05, F tempo =4,73 gl 3,106 p<0,05 e F sxt =4,92 gl=3,106 p<0,05. Os valores médios em cada linha seguidos da mesma letra minúscula não diferem significativamente e os valores médios em cada coluna seguidos da mesma letra maiúscula não diferem significativamente (teste SNK p<0,05).

6 Ritmos Diarios de Atividades Comportamentais de Diabrotica Speciosa Referências Bibliográficas Ávila, C. J. Técnica de criação e influência do hospedeiro e da temperatura no desenvolvimento de Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae). 1999. 103 p. Tese de Doutorado. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba- SP. Cabrera Walsh, G. Hosta range and reprodutive tratits of Diabrotica speciosa (Germar) and Diabrotica viridula (F.) (Coleoptera: Chrysomelidae), two species of south american pest tootworms, with notes on other species of Diabroticina. Environmental Entomology, Maryland, v. 32, n. 2, p.276-285, 2003. Gassen, D.N.. Insetos associados à cultura do trigo no Brasil. Circular técnica 3. EMBRAPA-CNPT. Passo Fundo, Rio Grande do Sul. 1984. Kuo, J.; E. Fox, & S. MacDonald.. Sigmastat: statistical software for working scientists. Users manual., Jandel Scientific, São Francisco, 1992. Milanez, J.M. Bioecologia de Diabrotica speciosa. In: Reunião sul Brasileira de Insetos de solo, V, 1995. Dourados, MS, Resumos da Reunião Brasileira de insetos de solo, V, 1995, Dourados, MS: Embrapa CPAD. Documento 8., p 44-45, 1995 Comunicado Técnico, 90 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Serviço de Atendimento ao Cidadão Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final) - Brasília, DF. CEP 70.770-900 - Caixa Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624 http://www.cenargen.embrapa.br e.mail:sac@cenargen.embrapa.br 1 a edição 1 a impressão (2003): 150 unidades Comitê de publicações Expediente Presidente: Luzemar Alves Duprat Secretário-Executivo: Maria José de Oliveira Duarte Membros: Maurício Machaim Franco Regina Maria Dechechi G. Carneiro Luciano Lourenço Nass Sueli Correa Marques de Mello Vera Tavares Campos Carneiro Supervisor editorial: Maria José de Oliveira Duarte Normalização Bibliográfica: Maria Alice Bianchi Editoração eletrônica: Giscard Matos de Queiroz