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Transcrição:

PARECER AJL/CMT Nº 028/2015. Teresina (PI), 04 de março de 2015. Assunto: Projeto de Lei nº 028/2015 Autor: Vereadora Teresa Britto Ementa: Dispõe sobre a obrigatoriedade, no âmbito do Município de Teresina, que sejam disponibilizadas informações nos bares, restaurantes, praças de alimentações e similares, acerca do desperdício de alimentos, e dá outras providências. I RELATÓRIO A insigne Vereadora Teresa Britto apresentou Projeto de Lei que Dispõe sobre a obrigatoriedade, no âmbito do Município de Teresina, que sejam disponibilizadas informações nos bares, restaurantes, praças de alimentações e similares, acerca do desperdício de alimentos, e dá outras providências. Em justificativa, a nobre parlamentar afirma que o projeto visa a inibir o desperdício de comida por parte dos consumidores em bares, restaurantes e praças de alimentação em Teresina, por meio de disponibilização de informações acerca do desperdício de alimentos, tendo em vista que enquanto se desperdiça, milhares de brasileiros passam fome. É, em síntese, o relatório. II - EXAME DE ADMISSIBILIDADE Inicialmente, observa-se que o projeto está redigido em termos claros, objetivos e concisos, em língua nacional e ortografia oficial, devidamente subscrito por sua autora, além de trazer o assunto sucintamente registrado em ementa, tudo na conformidade do disposto nos arts. 99 e 100, ambos do Regimento Interno da Câmara Municipal de Teresina - RICMT. Verifica-se, ainda, a existência de mensagem contendo justificativa escrita, atendendo ao disposto no art. 101 da mesma norma regimental. A distribuição do texto também está dentro dos padrões exigidos pela técnica legislativa, não merecendo qualquer reparo.

Destarte, restam-se cumpridos os requisitos de admissibilidade. III ANÁLISE SOB OS PRISMAS LEGAL E CONSTITUCIONAL A proposição legislativa em enfoque é bastante salutar, haja vista que possui o intuito de promover a conscientização de consumidores acerca do desperdício de alimentos, por meio da instalação de placas informativas nos bares, restaurantes, praças de alimentação e similares. seguinte: Com efeito, a Lei Orgânica do Município sobre o tema estabelece o Art. 12. Ao Município compete prover a tudo quanto diga respeito ao seu peculiar interesse e ao bem-estar de sua população, cabendo-lhe, privativamente, as seguintes atribuições: I - legislar sobre assuntos de interesse local; XII estabelecer e impor penalidade por infração de suas leis e regulamentos; XIV organizar e manter os serviços de fiscalização necessários ao exercício de seu poder de polícia administrativa; Art. 13. Ao Município compete em comum com o Estado e a União: X manter a fiscalização sanitária dos estabelecimentos hoteleiros e de vendas de produtos alimentícios, bem como das habitações; Gilmar Ferreira Mendes: Quanto ao tema, merecem destaque as considerações realizadas por A competência suplementar se exerce para regulamentar as normas federais e estaduais, inclusive as enumeradas no art. 24 da CF, a fim de atender, como melhor precisão, aos interesses surgidos das peculiaridades locais. (MENDES, Gilmar Ferreira. et. al. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 776) (grifo nosso) Ademais, quanto à iniciativa de legislar sobre o tema, tal assunto não se insere nos temas entre os quais cabe exclusivamente ao Chefe do Poder Executivo dar

início ao processo legislativo, podendo dispor sobre a matéria qualquer parlamentar, nos termos do art. 50 da LOM, in verbis: Art. 50. A iniciativa das leis cabe ao Vereador, às Comissões permanentes da Câmara, ao Prefeito Municipal e aos cidadãos. Superada a análise quanto à iniciativa, cumpre destacar que, no que toca ao aspecto material, o projeto de lei em comento trata-se de típica manifestação do poder de polícia administrativa, cuja definição consta do art. 78 do Código Tributário Nacional, como segue: Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Entende-se que o efetivo exercício do poder de polícia reclama, a princípio, medidas legislativas que servirão de base para uma futura atuação concreta da Administração nessa condição, razão pela qual é comum afirmar que a polícia administrativa se desdobra em uma competência legislativa e uma competência administrativa, como entende, também, Marçal Justen Filho (In, Curso de Direito Administrativo. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 469), nesses termos: O chamado poder de polícia se traduz, em princípio, em uma competência legislativa. [...] Até se poderia aludir a um poder de polícia legislativo para indicar essa manifestação da atuação dos órgãos integrantes do Poder Legislativo, em que a característica fundamental consiste na instituição de restrições à autonomia privada na fruição da liberdade e da propriedade, caracterizando-se pela imposição de deveres e obrigações de abstenção e de ação. Usualmente, a lei dispõe sobre a estrutura essencial das medidas de poder de polícia e atribui à Administração Pública competência para promover a sua concretização.

Poder-se-ia afirmar que se trata de indevida ingerência no âmbito da atividade econômica privada, porquanto insere nova obrigação aos bares e restaurantes. No entanto, verifica-se que apenas a mera obrigação de instalação de placas informativas acerca do desperdício de alimentos não constitui intervenção desarrazoada, tendo em vista o fim maior, que é justamente o de conscientizar a população, visando um bem maior, que é o interesse público. Consoante se verifica da definição de poder de polícia transcrita, tal limitação incide sobre o próprio valor abstratamente considerado, no caso a liberdade de exercício da atividade econômica privada, consagrado constitucionalmente, sendo que a expressão direito à liberdade já assume contornos distintos, porquanto a limitação administrativa, proveniente sempre de lei, já integra sua essência, sua definição, já indica o modo de seu exercício. Nesse exato sentido, é a definição de Celso Antônio Bandeira de Mello (in Curso de Direito Administrativo Brasileiro, 25ª Edição, Ed. Malheiros, págs 805 e 807): Convém desde logo observar que não se deve confundir liberdade e propriedade com direito de liberdade e direito de propriedade. Estes últimos são expressões daquelas, porém tal como admitidas em um dado sistema normativo. Por isso, rigorosamente falando, não há limitações administrativas ao direito de liberdade e ao direito de propriedade é a brilhante observação de Alessi, uma vez que estas simplesmente integram o desenho do próprio perfil do direito. São elas, na verdade, a fisionomia normativa dele. Há, isto sim, limitações à liberdade e à propriedade. [...] Portanto, as limitações ao exercício da liberdade e da propriedade correspondem à configuração de sua área de manifestação legítima, isto é, da esfera jurídica da liberdade e da propriedade tuteladas pelo sistema. (grifou-se) Estar-se-ia diante de uma ilegalidade se, através da atuação legislativa, ocorresse o sacrifício total do direito, de modo a tornar inviável o seu exercício, o que não se verifica no presente caso, considerando que há apenas a restrição à atividade econômica a fim de que seja atendido ao interesse coletivo no que concerne à conscientização dos consumidores, mostrando-se, portanto, legítima a interferência na iniciativa privada.

Diante do exposto, verifica-se que a proposta legislativa está em consonância com o ordenamento jurídico. IV - CONCLUSÃO Por essas razões, esta opina pela POSSIBILIDADE JURÍDICA à tramitação, discussão e votação do projeto de lei ordinária ora examinado. É o parecer, salvo melhor e soberano juízo das Comissões e Plenário desta Casa Legislativa. GRAZIELLA VIANA DA SILVA Assessora Jurídica Legislativa Mat. 06917-5 - CMT