Estudo para o aproveitamento econômico do resíduo de construção e demolição Joel Martins dos Santos (SENAI) joel.martins@pr.senai.br Eliane Jorge dos Santos (SENAI) eliane.santos@pr.senai.br Thiago Henrique Ribeiro (UTFPR) thiago@kraemer.com.br Ivanir Luiz de Oliveira (UTFPR) ivanir@utfpr.edu.br Marcio Chem Banik (SENAI) marciobanik@gmail.com Resumo: A escassez de recursos naturais tem levado à busca por alternativas de crescimento mais sustentáveis, por parte de todos os segmentos da sociedade. A reciclagem de resíduos tem se mostrado uma boa alternativa na redução do impacto causado pelo consumo desordenado de matéria-prima e pela redução das áreas de disposição, em virtude do grande volume de resíduos descartados a cada ano em todo mundo. Neste contexto se inserem os resíduos da construção civil. Transformá-los em fonte alternativa de matéria-prima dentro do próprio setor constitui um desafio. Neste sentido, tem se tentado incorporar os resíduos de construção e demolição na produção de concretos convencionais, o que aumentaria seu potencial de utilização. O objetivo deste trabalho foi avaliar as possibilidades e condições para a produção areias industriais, e finos ativos para a produção de argamassas, com aplicação no segmento de construção civil e cerâmico, a partir de um rejeito de entulho de construção civil produzido por empresas da região de Ponta Grossa Paraná. Neste sentido foram desenvolvidos estudos de caracterização tecnológica e ensaios de beneficiamento na escala de bancada em uma amostra representativa do resíduo atualmente produzido. O trabalho investigou a fragmentação, e a distribuição granulométrica, deste resíduo. Os resultados obtidos nestes ensaios de caracterização fragmentação e distribuição granulométrica coloca este resíduo compatível com a utilização de matéria-prima com emprego direto na indústria da construção civil tais como: a) areia industrial devido à composição química dos materiais beneficiados, e granulometria dos produtos obtidos; b) carga mineral devido à granulometria, coloração e composição química. Palavras chave: Resíduo de construção e demolição; Areia industrial; Carga mineral. Study for the economic use of construction and demolition waste Abstract The lack of natural resources has led to the search for more sustainable growth alternatives, by all segments of society. Waste recycling has proved to be a good alternative in reducing the impact caused by the uncontrolled consumption of raw materials and the reduction of disposal sites, due to the large volume of waste discarded each year worldwide. In this context fall within the construction waste. Turn them into an alternative source of raw materials within the industry itself is a challenge. Thus, it has been tried to incorporate the construction and demolition waste in the production of conventional concrete, which would increase their potential use. The objective of this study was to
evaluate the possibilities and conditions for producing industrial sand, and fine asset for the production of mortars, with applications in civil and ceramic construction segment, from a construction dump waste produced by companies in the region Ponta Grossa Paraná. In this regard we have been developed technological characterization studies and processing trials in bench scale in a representative sample of the waste currently produced. The study investigated the fragmentation, and the particle size distribution of this waste. The results obtained in these tests for characterizing the fragmentation and particle size distribution puts this residue compatible with the use of raw materials with direct employment in the construction industry such as: a) industrial sand because the chemical composition of the material benefit, and particle size of the obtained products; b) grain size due to mineral filler, staining and chemical composition. Key-words: Construction and demolition waste, Industrial sand; Mineral filler. 1 Introdução A intensa geração de resíduos sólidos da construção civil em cidades de grande e médio porte tem sido motivo de preocupação em diversos países, já que a mesma envolve questões de ordem ambiental, social e financeira. Em função disto, muitos países pesquisadores em todo o mundo vêm tentando encontrar alternativas para que os problemas decorrentes deste processo sejam minimizados, ou até mesmo sanados, com vistas à sustentabilidade do setor construtivo. Segundo Pereira e Tocchetto (2011), é grave a situação da disposição dos resíduos sólidos no Brasil, entre os quais se incluem os resíduos da construção civil. Aproximadamente, 75% das cidades brasileiras dispõem seus resíduos sólidos em lixões, o que compromete o meio ambiente e a saúde da população. Dentre os setores industriais, o da construção civil é um dos que tem maior importância no desenvolvimento das nações, pois, além de ser um dos maiores geradores de emprego, é responsável por obras de infraestrutura, pela viabilização de outras indústrias, centros comerciais e moradias. No entanto, é altamente prejudicial ao meio ambiente, principalmente no que se refere à geração de resíduos (GEUS, 2009). O setor da construção civil é responsável pelo consumo de mais de um terço dos recursos do planeta e gera, aproximadamente, 40% dos resíduos sólidos mundiais (PNUMA, 2011). Nos países mais desenvolvidos da Europa este tipo de resíduo tem altos índices de reaproveitamento e recuperação. Entretanto, em outros, também da União Europeia, existem problemas semelhantes aos encontrados em cidades do Brasil (Mália et al., 2011). Nas grandes cidades dos Estados Unidos a visão capitalista dirige as ações tomadas na gestão destes resíduos (NYCG, 2013), enquanto que, na União Europeia a busca para a redução das quantidades geradas de resíduos de construção e demolição tem como base o ciclo de vida dos produtos (JRC-IES, 2011). No Brasil os Resíduos da Construção e Demolição RCD representam a maior parte dos resíduos sólidos urbanos e, pela falta de gerenciamento, vem causando sérios problemas ambientais. A solução é a gestão adequada dos resíduos, conforme está prevista na legislação brasileira sobre o tema. Estas leis preveem ações dos agentes envolvidos e a formação de uma rede de captação e destinação correta aos resíduos gerados. Entre os principais geradores de RCD estão as construtoras de edifícios. Empresas que constroem edifícios de grande porte geralmente estão no mercado há algum tempo e os profissionais responsáveis pela execução deste tipo de empreendimento já acumularam boa
experiência. Além disso, nestas obras invariavelmente são seguidas as exigências da legislação para que, ao final, seja obtida a liberação para o uso nos órgãos públicos. Função disso, esse foi o tipo de obra escolhida para a verificação de como acontece, atualmente, a gestão dos resíduos de construção e demolição em Ponta Grossa. Pesquisas realizadas em diversas cidades do país demonstram que os RCD podem representar até duas toneladas de entulho para cada tonelada de resíduos domiciliares. Constatou-se também que a falta de gerenciamento adequado deste tipo de resíduo vem causando sérios problemas ambientais aos municípios (BRASIL, 2010). De acordo com Karpinski et al. (2009), através de estudo efetuado em alguns municípios brasileiros, estima-se que a taxa média de RCD gerados é de 0,50 t/hab.ano. Com essa informação e o total de 201.032.714 de habitantes, conforme projeções do IBGE (2013), pode-se estimar que, no ano de 2013, foram geradas aproximadamente 100 milhões de toneladas deste tipo de resíduo pela população brasileira. Na Figura 1, é mostrada a predominância do RCD, ou seja, 61% do conjunto dos resíduos sólidos urbanos gerados. Estes dados foram obtidos através de um estudo realizado em 10 cidades brasileiras, confirmando a necessidade de uma política de gestão adequada para a condução deste problema. (BRASIL, 2010). Figura 1 Presença dos diversos componentes nos resíduos sólidos urbanos, em massa. Fonte: Brasil (2010) A partir de meados da década de 90 a geração dos resíduos de construção e demolição (RCD) vem crescendo significativamente. A geração desses resíduos é oriunda de demolições e, em maior parte, de atividades construtivas, tanto para implantação de novas edificações quanto para reforma e ampliação de edificações existentes, realizadas em ampla maioria por agentes privados. Na Figura 2 é apresentada a origem dos RCD gerados nos municípios brasileiros diagnosticados. Figura 2 Origem do RCD em algumas cidades brasileiras (% da massa total) Fonte: Brasil (2010) De acordo com Hadjieva-Zaharieva et al. (2003) a reciclagem de resíduos da construção civil teve um desenvolvimento intenso a partir do final da década de 80 em muitos países da Europa Ocidental, EUA e Japão, tornando-se uma atividade industrial rentável. Já em 2003
havia um grande número de plantas de reciclagem de RCD na Europa, 220 na Alemanha, 120 na Grã-Bretanha, 80 na França, 70 na Holanda, 65 na Bélgica, 20 na Dinamarca, etc. Este tipo de atividade tem sido fortemente estimulada pela legislação destes países. Em estudos realizados nos países europeus por Mália et al. (2011), verificou-se que a Dinamarca destaca-se no que diz respeito à gestão de RCD, tendo a reciclagem como uma prática corrente. Desde 1997 a taxa de reciclagem de RCD é de 90% e este nível tem sido mantido. Isto acontece principalmente por ser obrigatória a separação dos resíduos na origem e pela existência de uma elevada taxação imposta aos resíduos que não são reciclados. No Brasil o marco legal de maior relevância para o gerenciamento dos resíduos da construção civil é a Resolução CONAMA 307/2002, que foi alterada pelas Resoluções CONAMA 348/2004, 431/2011 e 448/2012. A resolução estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil (BRASIL, 2002). Para Ponta Grossa, que é uma cidade pólo regional e tem atualmente mais de 317 mil habitantes (IBGE - 2012), o evento determinante para a criação da legislação municipal referente à gestão de resíduos da construção civil foi o momento que entrou em vigor a Resolução nº 307/2002 do CONAMA. A resolução estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Esta resolução, desde então, norteia as políticas públicas e ações relacionadas aos resíduos da construção civil. (BRASIL, 2002). 2. Referencial teórico 2. 1 Resíduos de Construção e Demolição 2. 1.1 Definição Os resíduos de construção e demolição (RCD) podem ser definidos, de uma forma simplificada, como resíduos provenientes de construções, reparos, reformas e demolições de estruturas e estradas. Encontra-se na literatura diversos conceitos para resíduos de construção e demolição, como por exemplo, a definição de biocycle (1990), citado por Zordan (1997), que apresenta um significado mais amplo para o termo. Segundo o autor, os RCD, são resíduos sólidos não contaminados, provenientes tanto da construção, reforma, reparos e demolição, como também resíduos não contaminados de vegetação, resultantes da limpeza e escavação de solos. A resolução CONAMA foi baixada com a finalidade de efetivamente reduzir os impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil. Para atingir este objetivo ela atribui aos geradores de RCD a responsabilidade pelo gerenciamento, no qual o objetivo prioritário é a não geração e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem, o tratamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Os resíduos gerados deverão ser separados de acordo com sua classe e encaminhados para reciclagem e disposição final adequada. Como há uma grande heterogeneidade nos resíduos gerados em uma obra, a Resolução 307/2002 CONAMA estabeleceu a seguinte classificação para os RCD: Classe A: Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e gesso; (redação dada pela Resolução n 431/11). Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação; (redação dada pela Resolução n 431/11). Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. (redação dada pela Resolução n 34omui8/04). 2. 2 Beneficiamento do resíduo A situação ideal para o reaproveitamento dos resíduos de construção e demolição seria que não fosse necessário nenhum tipo de beneficiamento. No entanto, como estes materiais normalmente vêm em grandes dimensões, torna-se imprescindível realizar algumas operações de beneficiamento. Segundo Leite (2001), para a implantação de um programa de reciclagem dos RCD, é importante a instalação de uma usina de reciclagem. Ângulo et al. (2003) afirma que, de uma forma simplificada, a reciclagem é um beneficiamento mineral. Este é um conjunto de operações unitárias cujo objetivo é obter características especificas de um material. As operações unitárias são quatro tipos: de cominuição, de separação por tamanho, de concentração e auxiliares (CHAVES, 1996 apud ANGULO et al. 2003) 2.2.1 Cominuição Também denominada operações de redução de tamanho, podendo ser realizadas britagem ou moagem, dependendo da granulometria do material. São operações que consomem grande quantidade de energia e peças de desgastes, ou seja, são de custo elevado. Segundo Angulo (2005), normalmente só é realizada a britagem na reciclagem da fração mineral dos resíduos de construção e demolição, sendo que ela pode ser repetida várias vezes. A escolha do tipo de britador a utilizar á de grande importância, pois esse equipamento é determinante da maior parte das propriedades dos agregados obtidos (LEITE, 2001). A seguir são apresentados alguns tipos de britadores e suas características. 2.2.1.1 Britador de impacto Utilizam-se britadores de impacto para materiais friáveis. O britador de impacto possui uma câmara onde o material é britado através do choque de martelos fixados por um rotor e pelo choque com placas fixas (LIMA, 1999). Promove uma melhor distribuição do tamanho dos agregados para usos em pavimentação (HANSEN, 1992). Conforme Lima (1999), devido a sua robustez, esse tipo de britador processa tanto peças de concreto armado, quanto vigas de madeira. Outra vantagem apresentado pelo autor, é a alta redução das dimensões das peças britadas, dispensando muitas vezes a rebritagem, já que esta gera uma quantidade de finos razoável. Além disso, gera grãos de forma cúbica, com boas características mecânicas. De acordo com Talles (2006), dependendo do material a ser moído, da velocidade de rotação dos martelos e do ajuste entre os martelos e a carcaça, a relação de moagem pode ser muito alta. No entanto, Hansen (1992) apresenta como desvantagem o alto custo de manutenção desse
tipo de britador, com alto desgaste. 2. 2.1.2 Britador de mandíbula Esse tipo de britador opera sob o princípio de compressão, onde o material é comprimido entre uma superfície fixa e outra móvel. A moagem ocorre numa câmara em forma de V, larga na parte superior e estreita na parte baixa (TELLES, 2006). De acordo com Hansen (1992), o britador de mandíbulas produz a melhor distribuição granulométrica dos agregados reciclados para a produção de concreto e resulta em apenas 20% de finos abaixo de 4,8mm. Dessa forma, há a necessidade de uma segunda britagem, aumentando o custo do processo (LIMA, 1999), que representa uma desvantagem. 2.2.1.3 Moinho de martelo Também denominados britadores de cilindros, são pouco utilizados, já que só produzem grande quantidade de material fino e apresentam alto consumo de energia elétrica (LEVY, 1997 apud LEITE, 2001). Os moinhos de martelo possuem câmaras de britagem e martelos de impacto que esmagam o material. De acordo com Affonso (2005), esse tipo de britador possui uma grelha na boca de saída, que mantém os agregados de grande dimensões no compartimento de britagem. Logo, o equipamento produz grande quantidade de finos. 2.2.1.4 Cones de britagem Os cones de britagem são mais usados para britagem secundária, processando materiais com diâmetro máximo de 200 mm (HANSEN, 1992). Logo, nesse tipo de equipamento só poderão ser colocados materiais previamente britados. Os grãos produzidos no cone de britagem são cúbicos, no entanto, é produzida grande quantidade de material fino. 2.2.1.5 Britador de rolo Os britadores de rolos normalmente são utilizados em britagens secundárias. Realizam a fragmentação através da compressão das partículas entre dois cilindros que giram em sentidos contrários. Estes podem ser lisos ou dentados. O tamanho do material produzido pode ser regulado com a aproximação ou afastamento entre os rolos (LANZELLOTTI, 2005). 2.2.1.6 Separação por tamanho Essa operação separa as partículas pelo seu tamanho através de peneiras ou classificadores pneumáticos ou hidráulicos. Pode ser realizado peneiramento a seco ou a úmido. O primeiro resulta sempre em uma pequena fração fina aderia à fração graúda. Segundo é empregado para se obter uma separação mais eficiente dessas frações (KELLY; SPOTTISWOOD, 1982 apud ANGULO, 2005). Os classificadores pneumáticos geram uma corrente de ar ascendente e separam partículas leves de papel, plásticos, madeiras, entre outros, dos agregados reciclados (KURKOWSKI, 2000 apud ANGULO, 2005). Esses classificadores também podem utilizados para retirar a fração fina (- 0,15 mm) presente nos agregados reciclados. 2.2.1.7 Concentração As operações de concentração removem contaminantes, através de diferentes propriedades físicas dos materiais, tais como densidade, forma propriedades magnéticas. Conforme Angulo et al. (2003), podem ser realizadas diversas operações unitárias, como catação, separação magnética, separação em meio denso e flotação. 2.2.1.8 operações auxiliares De acordo com Chaves (1996), citado por Ângulo (2005), as principais operações auxiliares
são transporte, secagem e homogeneização por meio de pilhas. 3. Materiais e métodos A amostra de resíduo de construção e demolição (RCD) avaliada foi obtida a partir de amostragens sequenciais realizados em empresas da área de construção e demolição na Região de Ponta Grossa Paraná. As amostras individuais foram agrupadas, homogeneizadas e a umidade foi reduzida a uma faixa inferior a 10% em temperatura ambiente. Alíquotas de 25 kg foram utilizadas nos estudos subsequentes. Visando atingir os objetivos propostos optou-se por 2 duas técnicas tradicionais de beneficiamento de minérios e por via seca: (i) Técnica de britagem em britador de mandíbulas e martelos (ii) Técnica de peneiramento em peneiras vibratórios. Estas técnicas foram escolhidas por se adequarem as características físicas do resíduo de construção e demolição (RCD) e pela simplificação operacional visando futuras aplicações por pequenas e microempresa. Um quadro geral da execução dos ensaios desde a coleta, preparação das amostras até a caracterização pós-processamento é mostrado no fluxograma da Figura 3. Destacam-se as atividades de coleta de amostras, homogeneização e quarteamento, e ensaios de beneficiamento. Estas atividades serão detalhadas a seguir. Figura 3 - Fluxograma de preparação das amostras de resíduo de construção e demolição Fonte: Autoria própria
3.1 Coleta das amostras de resíduo Coletou-se uma amostra representativa, de cerca de 130 kg do resíduo no seu estado natural, aqui se denomina de RCD. Esta amostragem foi realizada em empresas da área de construção e demolição na Região de Ponta Grossa Paraná. As coletas das amostras foram realizadas retirando-se o resíduo da base, do meio e do topo da pilha, em números suficientes para os ensaios de caracterização em laboratório, conforme o procedimento descrito na NBR NM 26 (ABNT, 2009). Foram excluídos impurezas e materiais que pudessem comprometer a qualidade do agregado, tais como madeira, metal, gesso, plástico, papel, matéria orgânica e solos argilosos presentes nas amostras coletada. A figura 4 mostra a pilha onde foram coletadas as amostras. Figura 4 Pilha de resíduo (RCD) que foi utilizada para a coleta das amostras Fonte: Autoria própria 3.2 Redução das amostras de campo para ensaios de laboratório Após a coleta das amostras para a caracterização do material, obtido por quarteamento, conforme procedimento descrito na NBR NM 27 (ABNT, 2000). Retirando-se uma alíquota de aproximadamente 50 kg, para os ensaios de caracterização do resíduo (RCD) através dos ensaios de beneficiamento. 3.3 Beneficiamento do resíduo 3.3.1 Ensaio de britagem em mandíbulas Para a redução do tamanho da alíquota com aproximadamente 50 kg, utilizou-se um britador de mandíbulas Furlan Modelo BM 2010 do Laboratório de Tecnologia Mineral do SENAI. Para a execução do ensaio de britagem foi ajustada a abertura de saída do britador para 20 mm, em um tempo total de 5 minutos para a execução do ensaio de britagem. Posteriormente todo o material obtido foi novamente britado em britador de martelos. 3.3.2 Ensaio de britagem em britador de martelos O material passante na abertura de 20 mm do britador de mandíbulas seguiu integralmente para britagem em martelos. O britador de martelos utilizado foi o MM 04 - Chanceler, do Laboratório de tecnologia Mineral do SENAI. O britador foi ajustado com uma saída de 4,5mm, em um tempo total de 3 minutos para a realização do ensaio de britagem. O material passante em 4,5 mm foi separado por meio um peneirador mecânico tipo Syncro-Sizer da Inbras/Eriez. As peneiras utilizadas foram de abertura: 0,15mm, 0,30mm, 0,60mm, 1,20mm, 2,40mm. Foi utilizada a seguinte nomenclatura para facilitar a identificação das amostras: RBM que significa resíduo britada em martelos seguida de um número que representa a faixa granulométrica a que pertence à amostra. Sendo RBM1 para a faixa mais fina (-0,15mm), RBM2(+0,15mm-0,30mm), assim sucessivamente até RBM6 que representa a faixa granulométrica mais grossa (+2,4mm-4,5mm). Tabela 1 de identificação das amostras.
EG 6 EG 5 EG 4 EG 3 EG 2 EG 1-4,50-2,40-1,20-0,60-0,30-0,15 ABNT (mm) + 2,40 + 1,20 + 0,60 + 0,30 + 0,15 + 0,045 Tabela 1 - Denominação das amostras das frações granulométricas por processamento pela rota da britagem (primária e secundária) 4 Resultados e discussão Fonte: Autoria própria Nesta série preliminar de experimentos, destacam-se os ensaios de beneficiamento do resíduo, que objetivaram a redução do tamanho das partículas acompanhado da distribuição granulométrica para observação da eficácia do processo e das características dos produtos obtidos. Quanto aos ensaios beneficiamento, os processo de britagem em mandíbulas e martelos mostrou-se eficiente para se obter a redução do tamanho das partículas do resíduo até 100% passante em 4,5 mm. 4.1 Distribuição granulométrica do resíduo O ensaio de granulometria do resíduo beneficiado foi realizado segundo a norma ABNT NM 248:2003, mais adequada para caracterização de areias industriais. Os resultados permitem classificar este produto como areia média segundo o módulo de finura 2,29 mm. Para detalhes da distribuição granulométrica vide a tabela 2, e figura 5 Segundo a NBR 7217 classifica as areias (agregados miúdos) para uso em concreto em: Grossa (MF > 3,9) Média (3,9 > MF > 2,4) Fina (MF < 2,4) Quanto aos resultados demostrado na tabela 2 conclui-se que: A amostra testada apresente Módulo de Finura de 2,29 próximo á referência média, que credencia o produto obtido como areia para uso em concreto (industrial), bloco de vedação e cargas minerais devido à sua granulometria, composição química e coloração.
Abertura da malha das peneiras (mm) Distribuição Granulométrica do Resíduo Segundo - NBR NM 248:2003 a) massa inicial seca (gr) = 50.585,0 (Vr) (Mrm) (Mra) Faixas em relação as % retidas acumuladas b) massa inicial seca (gr) = 50.585,0 Massa retida Massa retida Massa retida Limites Inferiores Limites Superiores Mrg) Massa retida Mr%) Massa retida Variações média acumulada Zona Zona Zona Zona (gr) (%) Ensaio a Ensaio b Ensaio a Ensaio b + 4 % (%) (%) Utilizável Ótima Utilizável Ótima 9,5 0,0 0,0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0 0 0 0 6,3 0,0 0,0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0 0 0 7 4,75 0,0 0,0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0 0 5 10 2,36 0,0 4,0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0 10 20 25 1,18 14.132,0 14.132,0 27,9% 27,9% 0,0% 27,9% 27,9% 5 20 30 50 0,6 12.048,0 12.048,0 23,8% 23,8% 0,0% 23,8% 51,8% 15 35 55 70 0,3 6.715,0 6.715,0 13,3% 13,3% 0,0% 13,3% 65,0% 50 65 85 95 0,15 9.565,0 9.565,0 18,9% 18,9% 0,0% 18,9% 83,9% 85 90 95 100 Fundo 8.125,0 8.125,0 16,1% 16,1% 0,0% 16,1% 100,0% 100 100 100 100 Mt) Total 50.585,0 50.589,0 M ó d u l o d e F i n u r a = 2,29 D i â m e t r o m á x i m o = 1,18 S Mt = (S de Mrg) Mr% = (Mrg / Mt) *100 Vr = (Mr% ensaio a - Mr% ensaio b) Mrm = (Mr% ensaio a + Mr% ensaio b)/2 Mra = (S Mrm Massa retida media) Módulo finura = S % retidas acumuladas, nas peneiras da serie normal / 100 D. máximo = abertura da peneira na qual apresenta % retida acumulada < 5% Tabela 2 - Distribuições de massas obtidas nos ensaios de separação de partículas por granulométrica Fonte: Autoria própria
Figura 5 Curva granulométrica Fonte: Autoria própria 5 Conclusões Figura 6 Produtos obtidos Fonte: Autoria própria Os resultados obtidos nos ensaios exploratórios de beneficiamento e caracterização granulométrica mostram que a partir deste resíduo é possível, obter agregado miúdo (areia industrial) com especificações compatíveis com os utilizados pelos principais segmentos da indústria da construção civil. Este produto, notadamente a areia industrial, irá gerar uma significativa agregação de valor ao produto atualmente descartado. Referências ÂNGULO, S. C. Caracterização de agregados de resíduos de construção e demolição reciclados e a influência de suas características no comportamento dos concretos, 2005. 167 p. Tese (Doutorado em Engenharia). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil, São Paulo. ÂNGULO, S. S.; KAHN, H.; JOHN, V. M.; ULSEN, C. Metodologia da caracterização de resíduos de construção e demolição. IN: SEMINÁRIO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL MATERIAIS RECICLADOS E SUAS APLICAÇÕES, 6, 2003, São Paulo. Anais eletrônicos...são Paulo: IBRACON, 2003. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Manual para implantação de sistema de gestão de resíduos de construção civil em consórcios públicos. Projeto internacional de cooperação técnica para a melhoria da gestão
ambiental urbana no Brasil (BRA/OEA/08/001). Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente Brasília DF. 2010.. Plano Nacional de resíduos Sólidos - Versão pós Audiências e Consulta Pública para Conselhos Nacionais. Brasília. Fev. 2012. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA. Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 136, 17 de julho de 2002. Seção 1, p. 95-96. GEUS, Ana C. L. Análise do cenário do gerenciamento de resíduos na construção civil. 2009. 47 f. Monografia (Especialização Gestão da Indústria: Produção e Manutenção) Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2009. HANSEN, T. C. Recycled of demolished concrete and mansory, London: Chapman & Hall, 1992. 316 p. Part one: Reclycled aggregates and recycled aggregate concrete, p 1-160. (RILEM TC Report 6). IBGE. Brasil - Projeção da população por sexo e idades simples, em 1º de julho - 2000/2060. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_ da_população/2013>. Acesso em fev. de 2013. LANZELLOTTI, R. F. A. Desenvolvimento de fluxograma para beneficiamento de resíduos da construção civil. 2005. 114 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Engenharia Metalúrgica. Departamento de Ciência dos Materiais e Metalurgia. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. LEITE, M.B. Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com agregados reciclados de resíduos de construção e demolição. 2001. 290p. Tese (Doutorando em Engenharia). Pós-Graduação em Engenharia Civil Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. LIMA, J. A. R. Proposição de diretrizes para produção e normalização de resíduo de construção reciclado e de suas aplicações em argamassas e concretos, 1999. 240 p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, São Carlos. TELLES, A. C. S. S. Operações unitárias I: sistemas particulados notas de aula. ZORDAN, S. E. A utilização do entulho como agregado na confecção do concreto. 1997. 156 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Faculdade de Engenharia Civil. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.