COMPORTAMENTOS DE INFIDELIDADE E PRÁTICAS PREVENTIVAS NUMA PERSPECTIVA DE GÊNERO



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Transcrição:

COMPORTAMENTOS DE INFIDELIDADE E PRÁTICAS PREVENTIVAS NUMA PERSPECTIVA DE GÊNERO Elís Amanda Atanázio Silva 1 Iria Raquel Borges Wiese 2 Ana Alayde Werba Saldanha Pichelli 3 Resumo: O trabalho objetivou investigar os comportamentos de infidelidade e as práticas preventivas numa perspectiva de gênero. Método: estudo transversal com técnicas quantitativas; amostra de 400 adultos jovens, de ambos os sexos, na faixa etária de 20 a 29 anos, heterossexuais e em relacionamento afetivo. Resultados: as diferenças significativas entre os gêneros apontaram que os homens traíram mais (p=0,00) e mais frequentemente (p=0,05) do que as mulheres. Quanto à prevenção nas relações extraoficiais, 57% desses homens afirmaram fazer sempre uso de preservativo, todavia, 43% situam-se em vulnerabilidade, pois 37% afirmaram o uso inconstante e 6% alegaram ausência do uso. Conclusões: O peso do repertório sociocultural construído justifica o número de homens que traíram na amostra ser bem superior ao de mulheres, uma vez que exalta a norma de gênero de que o homem não deve desprezar oportunidades de contato sexual, pois isso legitima sua natureza. Assim, o trabalho de prevenção se dificulta à medida que o comportamento masculino se apoia na total liberdade sexual, prejudicando suas parceiras com práticas sexuais extraoficiais desprotegidas. Percebe-se a necessidade da incorporação dos resultados aqui suscitados no planejamento de estratégias preventivas direcionadas a esse grupo populacional. Palavras-chave: Infidelidade; Prevenção; Gênero; Adultos jovens. Introdução O modo como cada indivíduo experimenta a sexualidade é determinado pela identidade de cada um, ao passo que os caminhos percorridos pelo feminino e pelo masculino nessa esfera tomam dimensões inteiramente opostas, não exatamente devido às diferenças impressas em seus corpos, mas principalmente em função das expectativas na tradição ocidental, em relação à conduta sexual que cada um deve assumir. Na finalidade de preencher estas expectativas, tanto o homem quanto a mulher podem se colocar em situações de vulnerabilidade ao cumprirem uma prática sexual considerada prejudicial à sua própria saúde. (NARVAZ, 2005; WIESE & SALDANHA, 2011). Dessa forma, para se pensar as questões de gênero, é preciso refletir sobre as múltiplas instâncias e relações sociais, instituições e símbolos, formas de organização social, discursos e doutrinas nas quais estão sendo construídas as identidades masculinas e femininas. (COSTA, 1998; ADELMAN & SILVESTRIN, 2002) 1 Psicóloga Doutoranda em Psicologia Social Universidade Federal da Paraíba(UFPB). Docente na Faculdade Maurício de Nassau JP. 2 Psicóloga Docente na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 3 Psicóloga Doutoranda em Psicologia Social Universidade Federal da Paraíba(UFPB) 1

Por conseguinte, no campo da construção social dos gêneros, não se deve deixar de atentar para a importância da identificação e compreensão das regras culturais e ocasionais implícitas ou explícitas que estruturam as práticas sexuais, bem como dos elementos objetivos e subjetivos que integram a experiência afetiva e sexual dos indivíduos. Assim, a cultura é a responsável pela transformação dos corpos em entidades sexuadas e socializadas, por intermédio de redes de significados que abarcam categorizações de gênero, de orientação sexual, de escolha de parceiros. As práticas sociais modelam, orientam e esculpem desejos de viver a sexualidade, dando origem a carreiras sexuais/amorosas. (HEILBORN, 1999; ADELMAN & SILVESTRIN, 2002; SILVA, 2002, GIDDENS, ; MADUREIRA & TRENTINE, 2008; ZACHARIAS ET AL., 2011). Frente a este apanhado contextual, o termo gênero pode ser compreendido como um complexo de determinações e características que designam socialmente o que é ser masculino e feminino em determinada cultura. Trata-se das categorizações de pessoas, artefatos, eventos e sequências baseadas no imaginário sexual (...). O gênero é pensado como categoria empírica, como um operador de diferenças não preestabelecidas que marcam e que só podem ser compreendidas contextualmente. (PISCITELLI, 1997, P. 60). O gênero é uma categoria de análise que permite que se reconheçam não apenas as semelhanças e discrepâncias existentes entre os sujeitos sociais homem e mulher, mas os padrões de coerência histórico-cultural que existe em razão da diferença que os separa e as contradições lógicas e emocionais que fluem desta coexistência binária, considerando as possíveis conseqüências advindas desta. Isso representa a aceitação de que a masculinidade e a feminilidade transcendem a questão da anatomia sexual, remetendo à redes de significação que envolvem diversas dimensões da vida das pessoas. Tal significação aparece como norma, crenças, valores, percepções ou representações, que acompanham a vida dos indivíduos. (HEILBORN, 1992; GIDDENS, 2005). Dessa forma, percebe-se que os papéis desempenhados por homens e mulheres resultam de uma construção histórica e sócio-cultural que no decorrer do tempo foi sendo naturalizada, isto é, passaram a ser encarados pelas sociedades como algo adequado e natural, o que acabou por ter uma grande importância e influência no que compete à manutenção da desigualdade entre os gêneros, principalmente nas relações afetivas e matrimoniais. (MATOS, 2000, SILVA, 2002, FONSECA, 2004; WIESE & SALDANHA, 2011; MOURA, 2011; ZACHARIAS ET AL., 2011). Já partindo do nascimento, Egypto & Egypto (2000) esclarecem que meninos e meninas são preparados para responder às expectativas da sociedade em relação ao papel que cada um deve satisfazer e também acerca da delimitação da sua identidade. E, particularmente, a família e a escola 2

aparecem como instituições vigilantes e facilitadoras do processo de assimilação desses papéis. O carrinho e o revólver, simbolizando o espaço público, representam a decisão, a violência e o domínio concernentes ao homem. A boneca atinente à menina está incorporada à maternidade, a casinha e ao trabalho doméstico. De tal modo, as identidades de homens e mulheres são projetadas na necessidade da existência de um ser submisso, sensível, dócil, a fim de justificar o outro ser forte, provedor, agressivo, inflexível, reiterando a cultura patriarcal e a diferença entre os gêneros (FISCHER & MARQUES, 2001; COSTA, 2007). Tais ideais de romanticismo enraizados desde a Idade Média e concretizados a partir da modernidade, no século XVIII, traziam o desempenho dos papéis de gênero assumidos e protagonizados em torno dessas diferentes manifestações de intimidade a partir da divisão das esferas de ação. Havia, portanto, uma maior preocupação por parte dos indivíduos quanto à emissão de comportamentos socialmente definidos como esperados e adequados para cada um dos membros da relação amorosa, principalmente no que se refere às condutas do feminino, que foram institucionalizadas ao resguardo do lar, relegadas à promoção do amor. Aos homens sucumbia o contrário, logo, a vida pública e o papel de provedor material. (VILLELA, 1997; COSTA, 1998; SALDANHA, 20). Observa-se que foi a partir deste domínio contextual que se consolidaram na sociedade os estereótipos tradicionais de gênero, que designam os homens como assumindo um papel pró-ativo na iniciação das relações, e as mulheres como assumindo um papel reativo, aceitando ou recusando as investidas masculinas. Pode-se perceber que tais estereótipos se fazem presentes em vários campos de atuação dos indivíduos, um deles é nas relações afetivo-sexuais, onde o uso do preservativo é extinto pelas mulheres apenas por uma questão de passividade frente ao desejo do parceiro fixo de não usá-lo, o que representa os ideais do mito do amor romântico, como indicado em estudos já desenvolvidos. (HEILBORN, 1992; SALDANHA, 20). Frente a estas decorrências situacionais o estudo objetiva investigar os comportamentos de infidelidade e as práticas preventivas numa perspectiva de gênero. Para tanto se faz necessário ainda entender o desenho metodológico dessa pesquisa descrito na sessão seguinte. Método 3

Delineamento O estudo apresenta um delineamento correlacional e descritivo, tendo um corte transversal e técnicas quantitativas de coleta e análise de dados em prevalência. Têm-se como Variável Antecedentes (VA) o comportamento de infidelidade na relação e como Variável Consequente (VC) consta a vulnerabilidade ao HIV/AIDS. Amostra Participaram 400 adultos jovens, residentes na cidade de João Pessoa - Paraíba, de ambos os sexos, sendo 200 de cada sexo. A faixa etária estudada foi de 20 a 29 anos, com orientação sexual heterossexual e em relacionamento estável com no mínimo 1(um) ano de durabilidade. Para estimativa desse tempo mínimo de (1) um ano de relacionamento, partiu-se do pressuposto de que o adulto jovem que se encontra num relacionamento estável num tempo inferior a um ano ainda não passou por vivências suficientes para julgar suas crenças, satisfações amorosas, comportamentos de infidelidade e preventivos frente ao relacionamento amoroso. Instrumentos 1) Questionário de comportamentos relacionados à Infidelidade: Tem o objetivo de identificar se determinadas situações voltadas à prática da infidelidade relacionada à vulnerabilidade ao HIV/AIDS, estariam ou não presentes no atual relacionamento do indivíduo, bem como identificar, aproximadamente, quantas vezes tal situação já ocorreu. É constituído por 6 (seis) questões formuladas pela própria pesquisadora remetidas aos objetivos já mencionados, constando em respostas dicotômicas (sim ou não). 2) Questionário de comportamentos associados à Vulnerabilidade ao HIV/AIDS: A percepção de risco foi operacionalizada por meio da questão em que o respondente classifica seu risco de contrair HIV/AIDS em uma escala tipo Likert variando de 0 (nenhum risco) até 10 (alto risco) e pela afirmação do uso do preservativo nas relações sexuais com seu parceiro(a) (nunca, quase nunca, quase sempre e sempre). Para estas duas questões citadas constam duas perguntas em aberto para que o respondente explique, em poucas palavras, a sua resposta anterior. 4

Constam ainda neste questionário, duas questões que reportam ao uso do preservativo na última relação sexual (sim/não); e na outra é questionado o jovem se já se submeteu ao teste HIV (sim/não). 3) Questionário sócio-demográfico e informações complementares acerca do relacionamento afetivo: Constituiu-se em questões elaboradas com base nos objetivos da pesquisa e com a finalidade de complementar e enriquecer a análise dos dados da escala anterior, melhor caracterizando os participantes através de informações como: sexo, idade, grau de escolaridade, renda familiar, religião, nível de religiosidade, tipo de relacionamento afetivo (namoro/casamento), tempo de relacionamento e convivência, dentre outros. Procedimento Os participantes foram informados previamente a respeito dos objetivos e procedimentos da pesquisa, tendo sido realizado contato com estes de maneira individual. Cada participante foi informado quanto ao propósito do estudo, questionou-se o tipo e tempo de relacionamento (esclarecendo o tempo mínimo), bem como se o participante encontrava-se na faixa-etária da pesquisa, e em caso de resposta afirmativa, procedeu-se à aplicação do instrumento. Foi solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como rege a Resolução n 196/96 sobre Pesquisa envolvendo Seres Humanos. Neste momento também foi assegurado aos participantes à confiabilidade dos dados, o anonimato e a possibilidade de desistência durante a aplicação. Análise dos dados O banco de dados foi construído a partir da digitação dos questionários com prévia codificação das respostas, utilizando o Software SPSS for Windows - versão18. Inicialmente, foram realizados procedimentos para análise exploratória dos dados visando identificar eventuais omissões de respostas. Os dados sócio-demográficos foram analisados através de estatística descritiva, com a utilização de medidas de posição (Média, Mediana) e de variabilidade (Desvio Padrão). Em seguida, para a escala de crenças românticas, se procederam as análises estatísticas com a realização de testes bivariados (Teste t de Student, Qui-quadrado e Correlação) para verificação de associações entre as variáveis do estudo. 5

Resultados e Discussões 1. Aspectos Sócio-Demográficos e Características dos relacionamentos afetivos Do total de 400 adultos jovens (M=24; Me=24; DP=2,9), observou-se quanto à escolaridade, que a maioria (55%) têm superior incompleto; no tocante à renda dos respondentes a metade da amostra (50%) afirmou ter até 2 salários mínimos. Quanto à religião, a maioria dos adultos jovens afirmaram serem católicos (63%). Com relação às características dos relacionamentos afetivos, a variável tipo de relacionamento apresentou 64% (N=255) dos participantes na condição de namoro e 35% como casados, sendo 22% do sexo feminino. Na condição de relacionamento aberto, um total de quatro participantes (1%) se declararam, sendo três do sexo masculino. Com relação à variável Tempo de relacionamento, 43% dos participantes têm de 01 a anos de relacionamento, sendo 27% masculinos. No que se refere à moradia conjunta ou separada, 61% dos participantes declararam morar separados, enquanto que os 39% demais alegaram moradia conjunta. 2. Comportamentos de Infidelidade e práticas preventivas A fidelidade é um aspecto bastante debatido no campo de estudo das DST/AIDS. No presente estudo, quando questionados acerca de já terem realizado alguma traição no relacionamento, 27% (N=106) dos participantes responderam afirmativamente, sendo 29 (7%) do sexo feminino e 77 (20%) do sexo masculino. No entanto, apenas para 68 (17%) desses, a traição envolveu relação sexual. Tendo em vista os objetivos do presente estudo, serão considerados apenas àqueles em que houve relação sexual no comportamento infiel. Dentre os participantes que afirmaram ter traído seu/sua parceiro(a), 59 (15%) são homens e 09 (2%) são mulheres, 41% foram infiéis de 1 a 5 vezes e 32% mais de 5 vezes, observando-se que as mulheres estão situadas na primeira faixa de frequência. Em relação ao tipo de relacionamento, a maioria namora (72%; N=49), com tempo inferior a 6 anos (75%) e não residem conjuntamente (75%). Questionados acerca da prevenção nas traições, 57% afirmaram fazer sempre uso de preservativo nos relacionamentos extra-oficias, no entanto, 43% situam-se em situação de 6

vulnerabilidade com ausência de uso (6%) e uso inconstante (37%), e 87% se percebem com baixa ou nenhuma vulneráveis à AIDS. Nos relacionamentos oficiais, apenas 19% fazem uso constante de preservativo e 56% já fez teste de HIV. A análise por sexo apontou diferenças estatisticamente significativas em relação ao comportamento infiel; nesta amostra os homens traíram mais (p=0,00) e mais frequentemente (p=0,05), no entanto se percebem menos vulneráveis à AIDS (p=0,01). Os últimos dados demonstram esses jovens envoltos numa vulnerabilidade social, tanto para o exercício da sexualidade, quanto para a responsabilidade social para com suas parceiras. Detalhes do que foi explicitado podem ser observados na Tabela 1, abaixo. Quanto ao tipo de relacionamento, não houve relação com o comportamento infiel, mas quanto ao tempo de relacionamento oficial e tipo de habitação, sim. Pode-se inferir que os participantes são mais infiéis no início do namoro ou em casamentos mais duradouros (p=0,00) e, ainda, quando não estão co-habitando (N=51), no caso do namoro. Tabela 1 Comportamentos de Infidelidade Itens Geral Sexo Tipo Relacionamento N % Fe Ma p Namoro Casamento p Relacionamentos Extra-Oficiais Infidelidade 68 17 09 59 0,00 49 16 0,10 Freqüência 1 5 vezes 5 10 vezes Acima de 10 vezes Uso de Preservativo Não usa Inconstante Sempre Tipo de relacionamento Namoro Casamento 28 06 16 04 25 39 49 16 41 9 23 6 37 57 72 23 08-01 02 02 05 20 06 15 02 23 34 Relacionamentos Oficiais 06 43 0,05 0,22 13 0,63 Tempo Relacionamento 1 Habitação 3 anos Conjunta 29 17 43 25 02 26 15 0,83 27 01 14 0,00 4 Uso 6 de anos preservativo 7 Não 9 usa anos Acima Inconstante de 9 anos Sempre 22 12 09 46 5 13 32 18 13 68 7 19 01 07-01 19 09 08 05 39 12 0,65 0,83 18 04 06 32-11 08 04 12 01 0,00 0,38 Teste HIV 38 56 06 32 0,52 24 13 0,06 Percep. Vulnerabilidade Ausente Baixa 23 36 34 53 02 21 33 0,01 22 05 10 04 23 27 16 27 04 01 05-06 10 05 08 0,67 0,75 7

Alta 8 12 04 04 05 0,74 Ante os dados esclarecidos, vale ressaltar o peso do repertório sociocultural como fator que pode estar diretamente relacionado ao número de homens que traíram na amostra bem superior ao de mulheres. Fator este, relacionado ao comportamento masculino apoiado no mandamento de que o homem não deve desprezar oportunidades de contato sexual, pois legitima sua natureza sexual, o que dificulta o trabalho de prevenção, como proposto no estudo de Silva (2002) e Madureira & Trentine (2008). Acerca dos últimos argumentos, Barbosa (2008) complementa que é a cultura do erotismo no Brasil que exalta a liberdade sexual (p. 98). Investigando acerca do significado da fidelidade entre homens casados, Silva (2002) verificou que eles tinham um entendimento equivocado de que a fidelidade tornava natural para o gênero masculino não ter a esposa como única parceira sexual. Percebiam fidelidade como o respeito à parceira e o consequente uso do preservativo nas relações extraconjugais, que estão associadas ao risco de infecção; e que as relações sexuais com a esposa não eram arriscadas porque estavam baseadas no amor e companheirismo. Nelas, o uso do preservativo era bem-vindo apenas quando não se desejava uma gravidez, mas este método era usado somente quando um outro não era permitido à esposa por questões de saúde. Assim, os homens estudados por Silva (2002) estavam com uma percepção bastante limitada da sua vulnerabilidade ao HIV e foi proposto pela autora o maior incentivo ao uso do preservativo nas relações extra-conjugais, permitindo levar em conta as definições culturais para masculinidade, já construídas. As considerações dos estudos citados (SILVA, 2002; MADUREIRA & TRENTINE, 2008) confirmam os argumentos de alguns teóricos (GIDDENS, 1993; COSTA, 1998; HEILBORN, 1999), ao afirmarem que na atualidade os homens subjetivamente demarcam a divisão de dois universos: o de dentro do casamento e o de fora, em comparação às divisões nas esferas de ação dos domínios privado e público, instituídas na modernidade. Estas são formas classificatórias semelhantes às categorias opostas e complementares lar e rua, consideradas apropriadas para entender um pouco a realidade atualmente vivida. No espaço de dentro e fora, esses homens têm relações sexuais com práticas diferenciadas, que tornam adequado ou não o uso do preservativo. Além disso, alguns indivíduos afirmaram na pesquisa de Madureira & Trentine (2008) não usarem o preservativo em algumas traições devido a não premeditação do ato; e a maioria se 8

mostrou mais preocupado com a questão da gravidez acometer a amante, que não a sua esposa, do que com as DST s que poderiam vir a adquirir, justificando que a gravidez perturbaria sua família. Portanto, os autores concluem que usar o preservativo nas relações extraconjugais é, para esses homens, uma maneira de manter o mundo público, o de fora e as experiências nele vividas afastadas do mundo privado, do lar, logo, do seio familiar. A traição é ressignificada por alguns indivíduos, segundo Zacharias et al., (2011), emergindo como algo útil ao casamento. Isto é, as relações extraconjugais são vistas como ferramentas para revalorizar a união, principalmente quando ela cai em rotina, na medida em que as pessoas se envolvem extraconjugalmente e percebem que para não ter que se separar maritalmente, podem manter aventuras amorosas fora do casamento. Não obstante, até o século passado ainda era aceitável, principalmente pelas mulheres, a relação extraconjugal, tendo em vista o medo de serem rejeitadas socialmente e pela família primária. Todavia, nos dias atuais, Zacharias et al., (2011) observou que elas já conseguiram desmistificar conceitos arraigados à modernidade, e as condições de traição estão sendo aos poucos redefinidas. É perceptível um link referente às diferenças de gênero nos resultados das variáveis: crenças românticas, satisfação amorosa e comportamentos de infidelidade. Na medida de satisfação amorosa foi visível que as mulheres estão mais comprometidas com seus relacionamentos do que os homens (p=0,00), bem como na variável crenças românticas estas se apresentaram mais crentes no amor poético, sonhador e romantizado (p=0,01), isto é, onde é valorizado o sentimento de pertencimento e renúncia. Portanto, tais elementos refletem e justificam o último resultado aqui obtido, no qual as mulheres da amostra se mostraram mais fiéis afetivamente (p=0,00). Considerações Finais Partindo do objetivo geral de investigar os comportamentos de infidelidade e as práticas preventivas numa perspectiva de gênero, foi possível concluir que o comportamento de infidelidade associado à vulnerabilidade ao HIV esteve presente na amostra, uma vez que os participantes masculinos, em maior número que as mulheres, alegaram já terem traído suas parceiras. Verificouse ainda que nessas relações extra-oficiais nem sempre fazem uso do preservativo, bem como também, em maioria, não usam em seus relacionamento oficiais com suas parceiras fixas. Tal dado denota um apontamento à vulnerabilidade social executada, já que além de estarem se expondo à infecções por DST/AIDS, expõem suas parceira ao risco e põem em precipitação a vida de ambos. 9

Os elementos nesse estudo argumentados apontam para fragilidades nas iniciativas de prevenção às DST/AIDS e de promoção da saúde no campo das dinâmicas relacionais afetivas, sobretudo no que se refere à população masculina, uma vez que tal dado resulta em ambiguidades nas práticas preventivas e em situação de vulnerabilidade sexual. Espera-se, portanto, que os resultados dessa pesquisa possam subsidiar reflexões e melhorias à qualidade e satisfação dos relacionamentos de indivíduos envolvidos em vínculos estáveis, ampliando-se assim, a construção de projetos de vida baseados no comprometimento e responsabilidade individual para consigo, e social para com o outro. Referências ADELMAN, M.; SILVESTRIN, C. B. Gênero Plural. Curitica: UFPR, 2002. BARBOSA, D. R. (2008) Império do amor romântico: diferenças culturais e sexuais em casais de noivos no Brasil e na Itália. Tese de Doutorado, Pós-graduação em Psicologia, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. COSTA, J. F. Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. GIDDENS, A. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1993. GIDDENS, A. (2005). Sociologia. Editora Artmed. São Paulo. 4ª Edição. HEILBORN, M. L. Construção de si, gênero e sexualidade. In: Heilborn, M. L. (Edt.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. (pp. 40-58). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1992. MADUREIRA, V. S. F., & TRENTINE, M. (2008). Da utilização do preservativo masculino à prevenção de DST/AIDS. Ciência e Saúde Coletiva, nov-dez, ano/vol. 13, número 006. MATOS, M. Reinvenções do vínculo amoroso: cultura e identidade de gênero na modernidade tardia. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2000. MOURA, E. L. Fatores de impacto que influenciam na adesão ao preservativo por mulheres soropositivas para o HIV com AIDS. Tese de Doutorado, Escola de Enfermagem, Cuidados em saúde, Universidade de São Paulo, 2011. NARVAZ, M. G. (2005). Submissão e resistência: explodindo o discurso patriarcal da dominação feminina. [Dissertação de mestrado não-publicada], Programa de Pós-graduação em Psicologia do desenvolvimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento. PISCITELLI, A. (1997). Ambivalência sobre os conceitos de sexo e gênero na produção de algumas teóricas feministas. In Aguiar, N. Gênero e Ciências Humanas - desafio às ciências desde a perspectiva das mulheres. Ed. Rosa dos tempos. Rio de Janeiro (pp. 49 66). 10

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