Conhecendo o futebol!

Documentos relacionados
Lógicas de Supervisão Pedagógica em Contexto de Avaliação de Desempenho Docente. ENTREVISTA - Professor Avaliado - E 5

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

5 Dicas Testadas para Você Produzir Mais na Era da Internet

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

O JOGO CONTRIBUINDO DE FORMA LÚDICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA

ações de cidadania Atendimento direto ECE-SP recebe a comunidade com equipe qualificada e atividades orientadas Revista Linha Direta

FORMANDO PEDAGOGOS PARA ENSINAR CIÊNCIAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Título do Case: Mudança Cultural com Treinamento e Acompanhamento da Implantação do Programa 5S. Categoria: Projeto Externo

5 Considerações finais

Educação Patrimonial Centro de Memória

Gabriela Zilioti, graduanda de Licenciatura e Bacharelado em Geografia na Universidade Estadual de Campinas.

5. Considerações Finais

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

FORMAÇÃO COMPLEMENTAR. Oficina Integrada de Produção Teatral. Fundamental I Turma I (1º e 2º ano) Primeiro Semestre de 2013

difusão de idéias QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Um processo aberto, um conceito em construção

FORMAÇÃO DE JOGADORES NO FUTEBOL BRASILEIRO PRECISAMOS MELHORAR O PROCESSO? OUTUBRO / 2013

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

Plano de Aula de Matemática. Competência 3: Aplicar os conhecimentos, adquiridos, adequando-os à sua realidade.

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

Grupo 5 Volume 3 Unidade 5: Um pouco daqui, um pouco dali, um pouco de lá.

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

1.000 Receitas e Dicas Para Facilitar a Sua Vida

CURIOSOS E PESQUISADORES: POSSIBILIDADES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Transcriça o da Entrevista

PROVA BRASIL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Obedecer é sempre certo

CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS GEÓRGIA BALARDIN

Investigando números consecutivos no 3º ano do Ensino Fundamental

Guia de Discussão Série Eu e meu dinheiro Episódio: O piano ou a Aninha

I - RELATÓRIO DO PROCESSADOR *

Experiência na formação de estudantes do curso profissionalizante normal

Sticker Art: Uma ferramenta de inclusão e conscientização do valor da arte

Exercícios Teóricos Resolvidos

Terra de Gigantes 1 APRESENTAÇÃO

Relatório do estágio de prática de ensino em ciências sociais

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

Avaliação-Pibid-Metas

Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega.

Disciplina: Matemática Data da realização: 24/8/2015

PROFISSIONALISMO INTERATIVO E ORIENTAÇÕES PARA A AÇÃO

APRENDENDO NOS MUSEUS. Exposição no Bloco do estudante: O brinquedo e a rua: diálogos

05/12/2006. Discurso do Presidente da República

Dicas para você trabalhar o livro Mamãe, como eu nasci? com seus alunos.

Exercícios Complementares Língua Portuguesa Profª Ana Paula de Melo. Hora de brincar!

Universidade Estadual de Londrina

Coordenadoria de Educação CADERNO DE REVISÃO Matemática Aluno (a) 5º ANO

PROJETO: CASA DE BRINQUEDO 1 RELATO DO PROCESSO

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

Papo com a Especialista

Motivos de transferência do negócio por parte dos franqueados

ÁGORA, Porto Alegre, Ano 4, Dez ISSN EDUCAR-SE PARA O TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO À VIDA

JUQUERIQUERÊ. Palavras-chave Rios, recursos hídricos, meio-ambiente, poluição, questão indígena.

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

E Entrevistador E18 Entrevistado 18 Sexo Masculino Idade 29anos Área de Formação Técnico Superior de Serviço Social

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

Coleção: Encantando a Gramática. Autora: Pâmela Pschichholz* palavras que existem no mundo. Lá, várias famílias vivem felizes.

Identificação do projeto

Atividades Pedagógicas. Outubro 2013

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

OS MEMORIAIS DE FORMAÇÃO COMO UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA PRÁTICA DE PROFESSORES ACERCA DA EDUCAÇÃO (MATEMÁTICA) INCLUSIVA.

Plano de Aula SOU PAR OU ÍMPAR? TÍTULO: Iniciais. 3º ano. Matemática. Número e Operações/Álgebra e Funções 1 aula (45 min) Educação Presencial

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

COMUNIDADE AQUÁTICA: EXTENSÃO EM NATAÇÃO E ATENÇÃO AO DESEMPENHO ESCOLAR EM JATAÍ-GO.

REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO NA MATEMÁTICA ESCOLAR

Tutorial 7 Fóruns no Moodle

Pedagogia Estácio FAMAP

EDUCAÇÃO ALGÉBRICA, DIÁLOGOS E APRENDIZAGEM: UM RELATO DO TRABALHO COM UMA PROPOSTA DIDÁTICA 1

Prática com Projeto em aulas de Matemática: um desafio Antonio Roberto Barbutti EMEF Padre Francisco Silva

ALTERNATIVAS APRESENTADAS PELOS PROFESSORES PARA O TRABALHO COM A LEITURA EM SALA DE AULA

PLANTIO DE FLORES Profas Joilza Batista Souza, Isilda Sancho da Costa Ladeira e Andréia Blotta Pejon Sanches

COMO PREPARAR E COMUNICAR SEU TESTEMUNHO PESSOAL

COMO TER TEMPO PARA COMEÇAR MINHA TRANSIÇÃO DE CARREIRA?

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

AULA DE PORTUGUÊS: CRIAÇÃO DE POEMAS

ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, COM A UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Anexo F Grelha de Categorização da Entrevista à Educadora Cooperante

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

12/02/2010. Presidência da República Secretaria de Imprensa Discurso do Presidente da República

CHAIR DRYDEN: Continuemos, vamos passar ao último tema do dia. Ainda temos 30 minutos.

O PIBID E AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS: UMA PERSPECTIVA PARA A FORMAÇÃO INICIAL DA DOCÊNCIA EM GEOGRAFIA

9 Como o aluno (pré)adolescente vê o livro didático de inglês

3 Método 3.1. Entrevistas iniciais

UMA PROPOSTA DE ENSINO DA PROBABILIDADE A PARTIR DO MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E DA LUDICIDADE EM SALA DE AULA

LUTAS E BRIGAS: QUESTIONAMENTOS COM ALUNOS DA 6ª ANO DE UMA ESCOLA PELO PROJETO PIBID/UNIFEB DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1

Juniores aluno 7. Querido aluno,

RECUPERAÇÃO DE IMAGEM

A inclusão das Línguas Estrangeiras Modernas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Por Ana Paula Seixas Vial e Jonathan Zotti da Silva

KIT CÉLULA PARA CRIANÇAS:

Guia Prático para Encontrar o Seu.

Introdução. São João del Rei 10 de Janeiro de 2012 Página 1

O momento do gol. Parece muito fácil marcar um gol de pênalti, mas na verdade o espaço que a bola tem para entrar é pequeno. Observe na Figura 1:

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita à Comunidade Linha Caravaggio

PROPOSTA DE TRABALHO ENSINO MÉDIO Pais e Alunos

DICA PEDAGÓGICA EDUCAÇÃO INFANTIL

ROTINA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: INSERÇÃO DA CRIANÇA AUTISTA NO CONTEXTO ESCOLAR.

Colégio Sagrado Coração de Maria - Rio. Arca de Noé

como a arte pode mudar a vida?

Transcrição:

Conhecendo o futebol! Jacqueline Cristina Jesus Martins E.E. Alcides da Costa Vidigal Todos os anos, na Escola Estadual Alcides da Costa Vidigal, antes do início do ano letivo, os professores, a coordenação pedagógica e a direção da escola definem coletivamente qual será o tema do projeto da escola. Tal tema serve como referência para a seleção de conteúdos e para a elaboração de ações didático-pedagógicas com vistas ao alcance dos objetivos definidos pelo projeto coletivo. A partir do tema do projeto, os professores de cada disciplina elaboram um plano de ação para contribuir com o desenvolvimento do projeto da escola. No ano de 2010, o tema do projeto escolhido para trabalharmos durante o 1º semestre foi a Copa do Mundo de futebol devido a realização dessa competição durante o 1º semestre do ano. A Copa do Mundo de futebol masculino tem um impacto significativo na vida cotidiana das pessoas. Este é um evento esportivo extremamente evidenciado pelos meios de comunicação, os quais publicam notícias, comentam sobre as equipes, comercializam produtos, alteram suas programações semanais, entre outros. As pessoas também alteram suas rotinas, os horários de trabalho e da escola são alterados, as ruas são enfeitadas, enfim, este campeonato esportivo já foi assimilado como uma prática social importante na cultura brasileira. Estes foram os elementos que levaram a equipe gestora e docente selecionar o tema Copa do Mundo para articular as ações pedagógicas da unidade escolar. Assim, os professores dos diferentes anos do ciclo e dos componentes curriculares específicos buscaram integrar os conteúdos ao projeto da escola. A partir dessa discussão no início do ano letivo, decidi organizar o plano de ensino definindo como prioridade a ampliação e o aprofundamento dos conhecimentos dos alunos acerca do futebol, pois a imersão no contexto do futebol ajudaria na compreensão do evento esportivo. Além dos argumentos já apresentados, o futebol era uma manifestação corporal que não tinha sido tematizada com esses alunos, visto que, nos anos anteriores, foram tematizadas outras manifestações corporais como: brincadeiras, jogos, lutas, ginásticas, e atletismo. Assim como, nas tematizações anteriores, decidi organizar as práticas pedagógicas numa perspectiva cultural de Educação Física, isto é, optei por estudarmos o futebol enquanto uma prática esportiva que possui códigos e linguagens específicos, os quais precisam ser aprendidos e decodificados para que possamos participar, jogar e compreender o futebol nos diversos contextos de prática. Para isso elegi como objetivos do trabalho:

Conhecer, ressignificar, aprofundar e ampliar os conhecimentos dos alunos a respeito da manifestação cultural futebol; Reconhecer as diferentes formas de se praticar o futebol na sociedade; Superar a postura preconceituosa com relação a prática do futebol realizada por outros grupos; Para iniciarmos o trabalho, em nosso primeiro dia de aula expliquei aos alunos o tema que iríamos estudar durante o semestre e perguntei a eles: O que vocês conhecem sobre o futebol? E as respostas foram as mais variadas, falaram sobre: regras do jogo, gírias, nomes das posições, nomes de dribles, objetos utilizados durante os jogos, fundamentos, nomes de jogadas, etc. Percebi que alguns alunos contribuíram bastante, demonstrando bastante conhecimento sobre o futebol e que outros alunos ou não falaram ou falaram bem pouco, o que me demonstrou que eles possuíam poucas informações sobre o esporte em questão. Registrei todas as falas para poder organizar como realizaríamos o trabalho a partir daqueles conhecimentos e pedi para que todos os alunos registrassem no caderno de educação física o que gostariam de aprender sobre o futebol ou alguma curiosidade que eles tivessem sobre aquele esporte. Essas questões assim como as falas sobre o que conheciam sobre o futebol vieram em todas as direções e eu agrupei-as para que eu pudesse analisar, sendo que a análise destes registros são fundamentais para a organização do planejamento. Organizei as questões e as falas dos alunos nas seguintes categorias: regras, história, técnicas e táticas, fundamentos e curiosidades. Essas informações foram importantes para que eu pudesse selecionar quais os aspectos do futebol deveria explorar durante as aulas. Além das respostas dos alunos, precisava observar como os alunos jogavam o futebol, para tanto, fomos para a quadra jogar. Apenas disponibilizei a bola e os coletes e pedi para que os grupos se organizassem para jogar do jeito que achassem melhor. Na nossa primeira vivência, observei os primeiros conflitos que serviram de referência para realização de algumas ações pedagógicas. O grupo não conseguia se organizar e parte dos alunos começou a reclamar que estava demorando muito para começar o jogo. Durante o imbróglio, um aluno gritou: Meninos contra meninas! e todos concordaram e começaram a jogar. Observei o jogo e registrei minhas análises no caderno: as meninas não sabiam para que lado faziam gol; nem meninos nem as meninas respeitavam a saída de bola (lateral e linha de fundo); cobravam o lateral as vezes com os pés, as vezes com as mãos; um número muito grande de participantes na partida e com times com quantidades diferentes de pessoas; os meninos mudando de time para ajudar as meninas sem perguntar a elas se elas queriam aquela ajuda ou não; as meninas reclamavam que os meninos não deixavam elas jogarem; e os meninos reclamavam que as meninas atrapalhavam o jogo. Encerrei a partida e sentamos para conversar sobre o jogo.

Ouvi reclamações de ambos os lados, meninos e meninas. No decorrer da conversa, um aluno falou: Se fosse só os meninos o jogo seria bem melhor!. Nesse momento perguntei às meninas quantas já haviam jogado futebol, quais as experiências que elas tinham com esse esporte, onde praticavam e percebi que a maioria das meninas não praticava ou nunca tinha experimentado jogar o futebol, apenas uma ou outra afirmou ter jogado ou que costumava jogar em outros espaços. A partir dessa situação aproveitei para retomar uma das questões levantadas pelos alunos no registro inicial do trabalho sobre o futebol: Futebol é só para menino? E as respostas foram: Não! Comentaram que a Marta era a melhor jogadora do mundo e, segundo eles, ela joga melhor do que muitos homens. A conversa circulou sobre assuntos como futebol feminino, os preconceitos que existem sobre as mulheres que praticam o futebol e as brincadeiras de futebol. Sobre este último, notei que os meninos fazem brincadeiras relacionadas ao futebol em casa ou na rua, como: o bobinho, 3 dentro 3 fora, rebatida, gol a gol e artilheiro, enquanto as meninas desconhecem essas brincadeiras. Elas afirmavam que em casa faziam outras brincadeiras não relacionadas ao futebol. Essa conversa permitiu-me questionar as crianças acerca de preconceitos existentes sobre a presença das mulheres no futebol. Pois mesmo dizendo que as meninas podem jogar o futebol, as falas tanto dos meninos como das meninas são carregadas de preconceitos com relação á presença das meninas nesse esporte. Ao longo do diálogo fui tentando mostrar que esses preconceitos foram culturalmente construídos e não são estáticos, ou seja, podemos transformá-los a partir de nossas ações. A organização das aulas posteriores foi influenciada pelas observações e pelas conversas antecedentes. Para desconstruir os preconceitos presentes, pensei em ações que pudessem colocar meninos e meninas em diferentes posições durante os jogos. Primeiramente, definimos quais seriam as regras que utilizaríamos durante os jogos: cobrança de lateral com os pés; escanteio com os pés; reinicio do jogo após o gol no meio da quadra e times com o mesmo número de participantes. Realizamos os jogos com os times organizados de diferentes formas: meninas X meninas; meninos X meninos; meninas X meninos; e meninos e meninas misturados no mesmo time. Após essas vivências discutimos sobre o uso das regras para a melhora dos jogos e discutimos sobre essas diferentes formações dos times, e sobre a participação das meninas nos diferentes formatos de times. Em seguida, cada aluno registrou a sua opinião sobre as diferentes formas de organizarmos os times. Ao ler os registros, constatei que as opiniões foram bastante diversas: muitos meninos registraram que acharam mais justo quando os meninos e as meninas jogaram juntos no mesmo time para que os times ficassem equilibrados, todavia, as meninas relataram que, nesse formato, os meninos não tocavam a

bola para elas. Estes registros, ao longo do projeto, forneceram informações e promoveram reflexões que foram imprescindíveis para a elaboração das ações didáticas seguintes. Mesmo com a melhora na participação e organização do jogo percebi que as meninas estavam com muitas dificuldades principalmente com relação aos fundamentos técnicos do futebol como o chute, o passe, o drible e o cabeceio. Garantir um espaço para elas jogarem não estava sendo suficiente para integrá-las ao jogo, visto a pouca experiência que elas tinham com o futebol. Retornei as questões iniciais dos alunos e, numa segunda análise, verifiquei perguntas relacionadas à prática: Como pegar no gol?; Como petecar a bola? Como fazer um gol? Na sequencia do projeto, organizei momentos para trabalharmos com os fundamentos técnicos do futebol como: chute, passe, condução de bola, cabeceio, cobranças de falta e de pênalti e a vivência no gol. Para essas atividades, contei com a participação dos alunos que frequentam escolinhas de futebol. Eles apresentaram exercícios, ajudaram na organização daquelas praticas e ajudaram as meninas que tinham dificuldades. Além dos exercícios, os alunos apresentaram brincadeiras relacionadas ao futebol para colaborar com a experimentação do esporte, entre elas: o bobinho, o artilheiro, o 3 dentro 3 fora e o gol a gol. Essas atividades contribuíram bastante para que o jogo de futebol das meninas acontecesse, pois elas tinham muitas dificuldades para acertar a bola durante o jogo. Fora as dificuldades com a prática do futebol, notei que os alunos não sabiam distinguir o futebol de campo e o futsal. Para ajudar na diferenciação, assistimos um vídeo com imagens do futebol de campo e do futsal e fizemos um registro sobre as diferenças entre as modalidades através de algumas questões sobre o que foi visto nos vídeos. Tendo em vista que a Copa do Mundo é uma competição de futebol de campo e que nas nossas aulas estávamos praticando o futsal, resolvemos fazer vivências do futebol de campo em nossa quadra. Inicialmente, utilizamos as regras do campo e adaptamos o número de jogadores (oito) em função do tamanho da quadra. Para explicar as regras aos alunos utilizei explicações orais, demonstrações com os alunos, um livro pop-up chamado: As regras do Futebol e a mesa do futebol de botão. Todos esses recursos nos ajudaram bastante para entendermos melhor esse esporte que é falado diariamente na televisão. Durante as vivências, a regra do impedimento interrompia o jogo a todo instante, portanto, decidimos realizar esse futebol de campo sem a regra do impedimento. Por usar a mesa de futebol de botão para demonstração e explicação das regras, um grupo de alunos se interessou em jogar o futebol de botão. Durante as vivências do futebol de botão aproveitei para apresentar os esquemas táticos do futebol, as posições dos jogadores e a função de cada um em campo curiosidades que surgiram no início do trabalho. Um aluno

trouxe para a escola um jogo que seu pai havia-lhe dado que era semelhante ao futebol de prego, mas feito com um material de pet reciclável, e muitos alunos se interessaram em jogar aquele jogo. Decidi produzir tabuleiros de futebol de prego utilizando as formações táticas que havíamos estudado. Organizamos o material necessário e montamos os nossos tabuleiros. As participações das meninas tanto no futebol de botão como no futebol de prego me surpreenderam. Elas se envolveram com os jogos e tinham desempenho superior aos meninos, o que as motivava. Também, apresentei um filme com as imagens do futebol de botão, o qual apresentava suas regras, campeonatos e formas de se jogar. A partir daí criamos as regras das salas e realizamos os jogos do futebol de prego e de botão. Durante as aulas realizamos alguns torneios desses jogos e o interesse por esses jogos foi tão grande que começamos a disponibilizar esses brinquedos durante o recreio. Durante essas experimentações e em conversas com os alunos, percebi que tanto as meninas como os meninos nunca haviam jogado ou visitado um campo de futebol. A maioria dos meninos que frequentam escolinhas de futebol jogam em campo de futebol soçaite. Organizei com a direção da escola uma visita a um campo de futebol que existe em um clube escola da região. Durante a visita falamos sobre as dimensões do campo, as dificuldades de aguentar jogar durante 90 minutos, o tamanho das traves, entre outras coias. Naquele dia, tudo foi novidade, praticamente nenhum aluno havia entrado em um campo de futebol com aquelas dimensões. No campo, realizamos alguns jogos, cobranças de escanteios, cobranças de falta e de pênaltis. Ao retornar para a escola realizamos um registro no caderno sobre as torcidas dos times de futebol onde os alunos responderam questões sobre o times que torciam como por exemplo: o nome completo do clube, cores que o representam, mascote, nome do estádio, entre outras questões, pois esse tema foi questionado durante a visita ao campo, até porque eu solicitei aos alunos que naquele dia viessem para a escola com as camisas dos times que eles torciam. Estádios, torcidas e os clubes foram assuntos que se manifestaram durante as conversas no início do trabalho e por isso achei importante abordá-los durante o projeto. Em seguida, apresentei um filme chamado Fifa Fever que mostra um pouco da história das Copas do Mundo de Futebol através dos melhores lances, melhores gols, piores falhas de goleiros, e apresenta o Mundial de futebol feminino. Pensei nessa atividade para ampliar os conhecimentos dos alunos a respeito da Copa do Mundo de futebol, apresentando imagens de fatos que marcaram a história dessa competição. Para conhecer um pouco sobre a profissão jogador de futebol, trouxe para a escola um ex-jogador de futebol profissional que atualmente trabalha como treinador das categorias de base do São Paulo Futebol Clube. A visita dele à escola foi para conversar com os alunos, contar um pouco sobre o que é ser jogador de futebol, explicar qual foi sua trajetória na

carreira, como é o dia-a-dia de um jogador, quais são as dificuldades, de modo geral, a intenção foi fazer com que os alunos tivessem contato com um jogador profissional para desmistificar aquela ideia que todos os jogadores de futebol são bem remunerados como apresentado pelos meios de comunicação. Para receber o jogador, realizamos um estudo sobre a gírias do futebol e preparamos questões para uma entrevista coletiva. No dia marcado o jogador compareceu, trouxe seu portifólio com recortes de jornal, fotos, entrevistas, vídeos com imagens dos seus jogos, conversou com os alunos, realizou práticas com os alunos e distribuiu autógrafos. Foi uma vivência muito interessante, pois o jogador nos trouxe algumas informações que não havíamos estudado até o momento. Em meio a toda essa euforia do estudo do futebol muitas coisas foram acontecendo fora das aulas de educação física, uma delas foi a utilização das quadras para jogar futebol durante o recreio, temos duas quadras na escola uma grande e uma pequena, e nos intervalos os meninos jogavam o futebol na quadra grande e as meninas passaram a jogar na quadra pequena. Com o passar dos dias, as meninas e os meninos passaram a brigar pelo direito de utilizar a quadra grande e em muitos momentos fui chamada para resolver os conflitos dos horários do recreio. Algumas vezes inspetores e a própria diretora vieram se queixar que as meninas estavam tumultuando muito o recreio por causa desse futebol, e em todas as vezes posicionei-me a favor das meninas e disse que elas estavam corretas em buscar o direito de utilizar a quadra grande. Resolvemos esse problema através de um combinado entre os alunos em que eles decidiram pelo revezamento da quadra grande, combinado que foi respeitado por ambas as partes. Além da presença do futebol entre as meninas durante o intervalo, também estava rolando na escola as figurinhas da Copa do Mundo, uma febre entre as crianças, mas que muitas professoras não permitiam, e por isso essas figurinhas estavam dentro da escola na clandestinidade. Logo que percebi todo esse movimento das figurinhas na escola conversei com a direção da escola e mostrei que se tínhamos um projeto sobre a Copa do Mundo, aquelas figurinhas que estavam transitando ilegalmente na escola eram muito importantes para o trabalho. Acertamos que realizaríamos alguns dias de trocas das figurinhas, onde todos os alunos da escola poderiam trazê-las para trocar com os colegas, e esses momentos aconteceram sem nenhum problema. Já durante a Copa do Mundo e pensando em dar um encaminhamento final para o trabalho, visitamos o Museu de Futebol, localizado no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, popularmente, conhecido como Pacaembu. Para a visita, solicitei aos alunos que observassem alguns itens: o que tinha sobre o futebol feminino no museu, os esquemas táticos que estariam presentes nos jogos de pebolim, a história do futebol e a presença das torcidas.

Como agendei uma visita monitorada, solicitei aos monitores que tratassem de alguns desses temas com os alunos ao longo da visita para garantir que os alunos tivessem mais informações sobre os assuntos estudados. A visita ao museu contribuiu muito para o aprofundamento dos conhecimentos dos alunos sobre os estudos do futebol. Eles questionaram os monitores, perguntavam sobre os temas que já havíamos estudado, tiravam dúvidas e participaram das atividades com bastante interesse. Além das coisas que já havíamos estudado em nossas aulas experimentamos outras formas do jogo de futebol como o pebolim e o futebol virtual, mas nada foi mais interessante para as crianças do que a Jabulani. Estar com a bola tão falada na Copa do Mundo nas suas mãos foi uma experiência única. Eles puderam vê-la, tocá-la e até chutá-la, nem preciso dizer que eles ficaram felicíssimos. De volta a escola, dando continuidade as nossas aulas conversamos sobre as coisas que vimos no Museu, relembramos nossas discussões e resolvemos realizar uma vivência com alguns objetos que são usados para jogar o futebol e que não são bolas, pois no museu havia um espaço que mostrava que quando não temos a bola jogamos o futebol com qualquer objeto como: latinha, garrafa plástica, limão, cabeça de boneca e bola de papel. Os meninos relatavam que na falta de bola jogam com esses objetos sim, e as meninas nunca haviam jogado com esses objetos estranhos. Realizamos então os jogos que são feitos com esses objetos: potinhos, garrafas e latinha, e as opiniões eram que o jogo ficava muito mais difícil, mas era engraçado. Na aula seguinte montamos bolas de papel, e cada grupo fez a sua bola e realizou os seus jogos. Percebi que depois dessa aula tanto os meninos como as meninas tinham sempre bolas de papel nas mochilas para poderem jogar na entrada, no recreio e na saída. Caminhando para o fim do trabalho e com a intenção de atender as últimas questões que haviam sido apresentadas no início do ano pelos alunos, apresentei três textos que tratavam sobre ética no futebol: Quando o dinheiro e a vitória falam mais alto que a ética no futebol ; São Januário vive momentos de terror e A máfia do apito. Para discutirmos os temas abordados nos textos fiz algumas questões sobre as posturas presentes nos textos lidos. Muitas respostas me surpreenderam, pois os alunos conseguiram extrapolar os conteúdos abordados. Por fim realizamos um registro sobre o tema futebol com questões de verdadeiro ou falso, onde cada alternativa em que ele marcasse falso deveria reescrever a afirmação corretamente. Durante todo o projeto fui realizando diferentes formas de avaliação para acompanhar o avanço dos alunos e para poder nortear o meu trabalho, pois tendo em vista que a avaliação não é apenas um instrumento para medir os conhecimentos dos alunos, mas principalmente o

percurso que estamos realizando durante as nossas ações didáticas. Essas avaliações nos ajudam a pensar quais serão os nossos próximos passos, ou onde precisamos retornar ou aprofundar mais para que os alunos compreendam melhor o tema que estamos estudando. Realizei diferentes tipos de avaliação, com registros escritos pelos alunos, observações e anotações feitas por mim, a utilização de vídeos e de rodas de conversas. A multiplicidade de formas visa ampliar as possibilidades de captar as informações necessárias para a continuidade do trabalho. Após cada momento dessas avaliações, retornei ao plano de ensino com a intenção de verificar se estamos conseguindo alcançar os objetivos propostos no início do trabalho. Esse movimento de ir e vir entre plano de ensino e avaliações foi importante para não perder o foco do trabalho e redirecionar ações quando necessário. Avaliando o projeto aqui apresentado, acredito que conseguimos alcançar os objetivos propostos inicialmente, pois os alunos aprofundaram seus conhecimento acerca do futebol, isto pôde ser verificado nos registros que produziram, nas falas dos alunos, na prática do jogo de futebol e nos espaços extra-classe em que ocuparam (recreio). A mudança das posturas e das atitudes dos alunos com relação a prática do futebol pelas meninas também foi relevante. Elas entenderam melhor o jogo, melhoraram a qualidade técnica do jogo, organizaram-se para jogar futebol no recreio e reivindicaram a utilização da quadra grande. Ao mesmo tempo, os meninos têm respeitado a prática do futebol realizada pelas mulheres. Estas mudanças de postura demonstram um envolvimento do grupo com o trabalho realizado durante as aulas. Observações externas também corroboram a minha avaliação do trabalho. Os monitores do Museu do Futebol comentaram comigo que ficaram admirados com os conhecimentos acerca do futebol que os alunos possuíam sobre os temas abordados e sobre os questionamentos e posicionamentos que os alunos apresentavam. Todas essas informações contribuem para que eu faça uma avaliação positiva do trabalho realizado com o futebol. Um outro item que cabe ser avaliado aqui nesse relato, é a participação da escola nas minhas ações didáticas. Essa participação é de fundamental importância para a realização do trabalho. Em todos os momentos que precisei a direção e coordenação pedagógica estiveram presentes atendendo as solicitações. Essas participações nos permitiram organizar as nossas saídas pedagógicas, reorganizar a rotina da escola para as atividades diferenciadas, além do atendimento a solicitação de matérias pedidos para o uso durante as aulas, tanto dos materiais de como as bolas, coletes e cones, como na disponibilização das cópias dos textos, dos registros e das avaliações para serem utilizados durante as aulas. A partir daí, percebemos o quanto o trabalho de educação física é valorizado dentro da escola.