O PAPEL DA COMUNIDADE NO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO ÂMBITO DA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AO CONDENADO (APAC)



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ANAIS - I Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional - Outubro de 2015 ISSN 2447-3251- Montes Claros, MG-p. 1 O PAPEL DA COMUNIDADE NO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO ÂMBITO DA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AO CONDENADO (APAC) ARAGÃO, Guilherme Rodrigues Discente do Curso de Direito da UNIMONTES SILVA, Marco Felipe Durães Discente do Curso de Direito da UNIMONTES SILVA, Leandro Luciano Doutorando FAE/UFMG Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc Docente do Curso de Direito da UNIMONTES ROCHA, Dalton Caldeira Docente do Curso de Direito da UNIMONTES VELOSO, Cynara Silde Mesquita Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc Docente do Curso de Direito da UNIMONTES INTRODUÇÃO Segundo a Lei de Execução Penal (LEP), a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal a proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. A integração social é uma importante dimensão da execução penal no âmbito do atual sistema carcerário e ela corre tanto no acompanhamento do condenado pela Assistência Social, quanto na participação do Conselho de Comunidade. Ocorre que os dados atuais do sistema prisional brasileiro sugerem a deficiência deste modelo de acompanhamento, possibilitando o surgimento de novos modelos e estratégias para a integração social do condenado. Esses novos modelos e estratégias vão permitir que direitos constitucionalmente estabelecidos sejam efetivamente respeitados no âmbito da execução penal. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, estabelece, em seu artigo 5º, incisos XLVIII e XLIX, que a pena deverá ser cumprida em estabelecimentos distintos, levando em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado. Além disso, assegura-se ao preso o respeito a integridade física e moral. Ocorre que dados atuais demonstram a incapacidade do sistema prisional para proporcionar integralmente esses direitos aos apenados. Diante dessa situação, a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) apresenta-se como um desses novos modelos para a integração social do condenado. A APAC

ANAIS - I Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional - Outubro de 2015 ISSN 2447-3251- Montes Claros, MG-p. 2 nasceu em São José dos Campos, em 18 de novembro de 1972, criada pelo advogado paulista Mário Ottoboni e um grupo de amigos cristãos, que se uniram com o objetivo de melhorar as condições físicas e estruturais da Cadeia Pública de São José dos Campos. Esse método baseia-se em 12 elementos fundamentais, sendo um destes a participação da comunidade no processo de ressocialização do condenado, objeto de estudo deste trabalho. É nessa perspectiva que o trabalho revela sua relevância, uma vez que procura evidenciar o papel da comunidade na ressocialização do apenado se pautando na análise comparativa do Sistema Prisional Tradicional e do Método APAC. A partir dos dados levantados será possível identificar a participação da comunidade na ressocialização do apenado e levantar os pontos de estrangulamento dessa participação nos dois modelos de execução, formando um diagnóstico da temática e incitando o debate quanto às melhores estratégias de participação da comunidade na ressocialização do apenado, com perspectivas de implantação do método APAC e com a indicação de melhorias no sistema tradicional onde o método APAC não puder ser implantado ou for inconveniente. Nesse sentido, destaque-se que o aperfeiçoamento da execução penal no Brasil deve ser um esforço conjunto dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, buscando assegurar a dignidade humana daquele que se encontra cumprindo pena, intentando a sua reintegração social. E é exatamente nesse cenário de discussão das providências estatais para uma melhor execução penal, estabelecendo delimitação de responsabilidades para cada um dos poderes, que o trabalho relaciona-se com o tema do Congresso. Por fim, o objetivo deste trabalho é analisar a integração social do condenado a partir da atuação da Assistência Social e do Conselho de Comunidade, previstos na lei 7210/84 (Lei de Execução Penal). DESENVOLVIMENTO 1. Abordagem metodológica Trata-se de estudo exploratório realizado através pesquisa bibliográfica e documental. A coleta de dados será realizada em dois bancos de dados, como resultados parciais, são apresentados dados relacionados à assistência social apontados no âmbito do relatório de inspeção em estabelecimentos penais de Minas Gerais, realizado no período de 25 e 26 de abril de 2013, pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Em outra oportunidade, os

ANAIS - I Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional - Outubro de 2015 ISSN 2447-3251- Montes Claros, MG-p. 3 dados serão obtidos junto à Vara de Execuções Criminais e do Tribunal do Júri da Comarca de Montes Claros - Minas Gerais. 2. Revisão de Literatura e descrição do Conteúdo O sistema prisional adotado atualmente no Brasil tem, em teoria, como uma de suas funções, promover a ressocialização do condenado, de maneira que possa retornar ao convívio social normalmente após o cumprimento de sua pena. Entretanto, esse sistema tem sofrido críticas, em razão da sua impossibilidade de promover a ressocialização, devido aos problemas que envolvem a execução penal no Brasil. A CRFB/88 aborda, em seu artigo 5º, nos incisos XLVIII e XLIX, a necessidade de garantir que o condenado cumpra pena em estabelecimento penal adequado a sua situação, respeitando sua integridade física e moral. Essas condições são necessárias para a individualização da pena e para que seja possível à pena alcançar as suas finalidades retributiva e preventiva. Na Lei nº 7.210/84, Lei de Execução Penal, LEP, estão previstos instrumentos que servem para atingir uma dessas finalidades da pena, que é a de ressocializar o condenado e internado, permitindo seu retorno ao meio social. Dois dos exemplos desses mecanismos são a assistência social e o Conselho de Comunidade. Os artigos 22 e 23 da LEP tratam da assistência social e de que maneira esta se realiza nas unidades prisionais. Essa assistência tem por finalidade dar suporte ao preso e ao internado quando em cumprimento das penas privativa de liberdade ou restritiva de direitos, bem como prepará-los para o retorno ao convívio social. Com relação à assistência social, esclarece Marcão (2012, p.57) que ela: [...] visa a proteger e orientar o preso e o internado, ajustando-os ao convívio no estabelecimento penal em que se encontram, e preparando-os para o retorno à vida livre, mediante orientação e contato com os diversos setores da complexa atividade humana. Já o Conselho de Comunidade (LEP, artigos 80 e 81) apresenta-se como uma forma de participação da comunidade no cumprimento de pena, seja acompanhando com mais atenção, de maneira que as unidades prisionais possuam uma estrutura adequada para alojamento dos condenados, seja para que os Juízes das Varas de Execuções Criminais e Conselhos Penitenciários estejam cientes da situação estrutural e humana das unidades prisionais que a eles cabem fiscalizar. Esse conselho é composto por quatro membros, sendo um representante comercial ou industrial, um advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advogados do Brasil,

ANAIS - I Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional - Outubro de 2015 ISSN 2447-3251- Montes Claros, MG-p. 4 um defensor público indicado pelo Defensor Público Geral e um assistente social indicado pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes sociais. Apesar de previstos na legislação especial, ou seja, na LEP, esses instrumentos não têm sido implementados nas unidades prisionais brasileiras e, se o são, não desempenham o papel para o qual foram idealizados. Uma demonstração desta dissociação entre o previsto na norma e o efetivamente encontrado nos estabelecimentos prisionais, pode ser observado pela análise dos resultados do relatório final de inspeção em estabelecimentos penais na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, nos períodos de 25 e 26 de abril de 2013. O relatório considerou critérios quanto ao estabelecimento penal, como administração; características o local, das pessoas presas, das pessoas cumprindo medida de segurança, dos funcionários em exercício no estabelecimento; condições materiais; alimentação; rotina padrão; assistências à saúde, jurídica, laboral, educacionais/desportivas/culturais e de lazer, religiosa e social; segurança; disciplina e ocorrências; visitas; relatos de pessoas presas e funcionários; e inspeções. Entre os critérios avaliados, destaca-se o resultado no que se refere à assistência social e às inspeções, em especial as realizadas pelo Conselho de Comunidade. Dos quatros estabelecimentos submetidos às inspeções, apenas dois cumpriram medianamente as normas estabelecidas. O Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, localizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, dispões de quatro assistentes sociais do Sistema Único de Assistência Social, que realizam visitas diariamente. No que tange ao Conselho de Comunidade, verifica-se que suas inspeções são realizadas anualmente, longe do que seria o ideal, uma vez que a LEP determina que tais diligências sejam realizadas mensalmente (artigo 81, I). Já a Penitenciária Inspetor José Marinho Drumond que, apesar do nome, é uma cadeia pública, dispõe de seis assistentes sociais da própria unidade prisional, que realizam de forma insatisfatória seu encargo, tendo em vista que há reclamações dos presos e funcionários do estabelecimento com relação ao serviço prestado, conforme apresenta o próprio relatório supracitado. Além disso, não há registros de inspeções do Conselho de Comunidade. Esses resultados corroboram com a hipótese de que as diretrizes relativas à execução penal, previstas na LEP, não estão cumprindo uma de suas finalidades, que é promover a ressocialização do apenado. A comunidade não se dispõe a colaborar na recuperação social do

ANAIS - I Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional - Outubro de 2015 ISSN 2447-3251- Montes Claros, MG-p. 5 preso, nem o Estado é capaz de se organizar e planejar de modo a prestar assistência social satisfatória. A Assembléia Geral das Nações Unidas, por meio da resolução nº 45/111, de 14 de Dezembro de 1990 adotou os Princípios Básicos Relativos ao Tratamento de Reclusos, que em seu item 10 descreve que Com a participação e ajuda da comunidade e das instituições sociais, e com o devido respeito pelos interesses das vítimas, devem ser criadas condições favoráveis à reinserção do antigo recluso na sociedade, nas melhores condições (ONU, 1990). Nesse mesmo sentido, Ottoboni destaca que, diante da incapacidade do Estado em proporcionar um sistema prisional adequado à ressocialização dos presos, cabe à comunidade assumir esse papel, criando novas formas para humanizar as penas e recuperar o preso, buscando colaborar por meio da Assistência Social e do Conselho de Comunidade. É evidente que tudo deve começar com a participação da comunidade. É necessário encontrar meios de despertá-la para a tarefa, mormente quando não existem dúvidas de que o Estado já se revelou incapaz de cumprir a função essencial das penas, que é exatamente a de preparar o condenado para retornar ao convívio da sociedade (OTTOBONI, 2006, p. 64). A lei de execução penal, em sua Exposição de Motivos, nos itens 24 e 25, estabelece que nenhum programa que se destina a enfrentar os problemas referentes ao delito, ao delinquente e à pena se completaria sem o indispensável e contínuo apoio comunitário. Muito além da passividade ou da ausência de reação quanto às vítimas mortas ou traumatizadas, a comunidade participa ativamente do procedimento da execução, quer por meio de um conselho, quer por intermédio das pessoas jurídicas ou naturais, que assistem ou fiscalizam não somente as reações penais em meio fechado (penas privativas da liberdade e medida de segurança detentiva) como também em meio livre (pena de multa e penas restritivas de direitos) (MARCÃO, 2012, p. 123). Como observado, o sistema penitenciário tradicional não atinge uma das finalidades da sanção penal: a ressocialização do apenado. Também é latente a necessidade maior participação da comunidade no processo de recuperação do condenado, utilizando de meios já existentes, como a Assistência Social e Conselho de Comunidade, bem como criando novos métodos. Sob a perspectiva de novos métodos de participação comunitária na execução penal, o método APAC surge como uma alternativa para suprir as lacunas deixadas pelo Estado, colaborando para reerguer mecanismos previstos na legislação penal, como o Conselho de Comunidade e a assistência social, que buscam assegurar que a pena seja devidamente individualizada para cada condenado e que seja cumprida em estabelecimentos penais

ANAIS - I Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional - Outubro de 2015 ISSN 2447-3251- Montes Claros, MG-p. 6 adequados, de acordo com os critérios determinados no artigo 5º da CRFB/88, de maneira que as integridades física e moral dos condenados sejam efetivamente respeitadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados parciais aqui apresentados indicam que a ressocialização do condenado, a partir da atuação da assistência social e do Conselho de Comunidade, não atende ao seu propósito. Isso sugere a possibilidade de experimentação de novas alternativas, sendo que o método APAC pode contribuir nesse sentido, uma vez que apresenta como primeiro elemento no processo de ressocialização, a participação da comunidade. E neste sentido, ao contribuir na ressocialização do condenado, esse novo método estaria proporcionando um estabelecimento penal mais humanizado para cumprimento de pena, garantindo, acima de tudo, o que a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, estabeleceu como um de seus fundamentos, que é a dignidade da pessoa humana REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado 1988. BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em 20 de outubro de 2014. BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em 10 de setembro de 2015. CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA. Relatório de Inspeção em Estabelecimentos penais de Minas Gerais - PERÍODO: 25 e 26 de abril de 2013. Brasília, 2013. < http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/cnpcp-1/relatorios-deinspecao-1/relatorios-de-inspecao-2013/relatorio-final-de-inspecao-minas-2013_.pdf>. Acesso em: 13 de setembro de 2015. MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ONU. Organização das Nações Unidas. Resolução nº 45/111, de 14 de Dezembro de 1990. Princípios básicos relativos ao tratamento de reclusos. 1990. <http://www.gddc.pt/direitoshumanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dhaj-pcjp-15.html>. Acesso em: 02 de junho de 2015. OTTOBONI, Mário. Vamos matar o criminoso?: Método APAC. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2006.