MACHADO, Marina Marcondes.



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Transcrição:

MACHADO, Marina Marcondes. Nuvem de Teatralidade: dramaturgias do espaço da Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Professora Adjunta 2. Pesquisadora das relações entre infância e cena contemporânea. RESUMO Esta comunicação tematiza o trabalho conduzido pela autora com 12 alunos da graduação em Teatro, durante um semestre, que resultou em um acontecimento teatral nas duas enfermarias de Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Nuvem de Teatralidade foi concebido na metodologia work in process junto aos alunos e levou para as crianças, acompanhantes e profissionais da saúde pequenas cenas resultantes de pesquisa dramatúrgica sobre cotidiano, vida e morte. PALAVRAS-CHAVE: Criação dramatúrgica; metodologia work in process; teatro em espaços não-convencionais. ABSTRACT This presentation chronicles the process and results of the author s one semester research among 12 Theater Graduation students from Federal University of Minas Gerais. Nuvem de Teatralidade (Cloud of Theatricality) was performed in the University Hospital based upon the work in process methodology: short scenes that revealed the dramaturgic research made about daily life, living and dying, to a public composed by children, parents and health professionals. KEY-WORDS: Dramaturgic creation; work in process; theater in non-conventional spaces. RESUMO Esta comunicação tematiza o trabalho conduzido pela autora com 12 alunos da graduação em Teatro, durante um semestre, que resultou em um acontecimento teatral nas duas enfermarias de Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Nuvem de Teatralidade foi concebido na metodologia work in process junto aos alunos e levou para as crianças, acompanhantes e profissionais da saúde pequenas cenas resultantes de pesquisa dramatúrgica sobre cotidiano, vida e morte. PALAVRAS-CHAVE: Criação dramatúrgica; metodologia work in process; teatro em espaços não-convencionais. ABSTRACT

This presentation chronicles the process and results of the author s one semester research among 12 Theater Graduation students from Federal University of Minas Gerais. Nuvem de Teatralidade (Cloud of Theatricality) was performed in the University Hospital based upon the work in process methodology: short scenes that revealed the dramaturgic research made about daily life, living and dying, to a public composed by children, parents and health professionals. KEY-WORDS: Dramaturgic creation; work in process; theater in non-conventional spaces. Introdução Em outubro de 2013 recebi uma carta convite da enfermeira Viviane Rosado, que trabalha na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital das Clínicas da UFMG, Belo Horizonte. A carta solicitava uma parceria comigo e com alunos do curso de Teatro, para concretizar a encenação de uma dramaturgia escrita por Viviane, intitulada Xô, Bactéria. Em janeiro do ano seguinte, criei o projeto Alô, Vida?! como resposta à demanda de Viviane. Projetei trabalhar dramaturgicamente com alunos de Estágio, que poderiam apresentar cenas curtas nas enfermarias do Hospital; pensei que aprender a planejar e desenhar toda a situação, incluindo uma visita diagnóstica nas Enfermarias da Pediatria e reflexões avaliativas do processo, seria suficientemente desafiador e interessante para todos. Fase diagnóstica Este foi um momento breve mas importante, de introdução dos alunos à temática existencial nascimento, vida e morte, bem como preparação de estudos sobre a importância do brincar na infância, e o contexto de hospitalização. Meu foco para nossa contrapartida ao convite de Viviane estava balizada na capacidade imaginativa: considerando que as crianças e jovens provavelmente estariam com suas corporalidades comprometidas por soros e inúmeras outras restrições, o convite a eles, como espectadores, estaria no compartilhar imaginativo sem ignorar a demanda da enfermeira Viviane: diminuição do risco de infecções. Esta fase incluiu uma visita dos alunos, sob minha supervisão, às Enfermarias de Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Criação das cenas Foi próprio da criação das cenas a assunção da fragilidade do trabalho, pois seria impossível ensaiar no espaço do hospital por exemplo. Ou seja, as cenas haveriam de acontecer no auge de seu frescor e efemeridade. Foi preciso convencer os alunos que, nestas circunstâncias, o foco do ator está no trabalho em processo (metodologia work in process), ou no processo de trabalho, e, nesta chave, é imprescindível abandonar as noções de certo ou errado. Por coincidência, as cenas seis cenas, criadas em duplas, em um grupo de 12 alunos duravam cerca de três minutos cada uma. O desafio dos alunos para suas criações possuia algo em comum: o único objeto de cena seria um frasco de álcool gel. Mas nosso

desafio maior era executar a encomenda inicial da enfermeira Viviane com vitalidade, frescor, criatividade e rigor. Transcrevo aqui trechos dos relatórios das alunas Juliene Lellis dos Santos e Letícia Cangussu Coui, sobre os preparativos da criação: Jéssica e eu assistimos a alguns vídeos em que as mãos eram o foco da cena, vimos também mímicas, jogos de palhaços e a triangulação ator/encenação/plateia, sempre com a intenção de trazer o tema sem ser o teatrinho da mão suja, mas dizer da eficácia da higienização. Conversamos sobre alguns pacientes que nunca saíram do hospital e que seria o primeiro contato com o teatro, foi uma longa jornada, pois ao mesmo tempo em que queríamos colocar o máximo de informações na cena, víamos a necessidade de teatralizar o tema para que não fosse mais um assunto chato e, mais uma vez, vinha o questionamento: como tornar a cena interessante? (Juliene) A formação de minha dupla deu-se na aula em que deveríamos começar a planejar a cena. Conversamos sobre o que queríamos ou deveríamos fazer, qual era o objetivo e mensagem a ser transmitida. Ao levantar estes questionamentos, percebemos que não havíamos compreendido o que era para ser feito, e solicitamos junto a outras duplas maiores esclarecimentos à professora. Nossa ânsia era de que nossas perguntas fossem respondidas com instruções objetivas e bem direcionadas sobre o que e como fazer, mas o que obtivemos foi liberdade de criação e subjetividade para despertar a imaginação. Neste momento senti-me enrijecida neste último aspecto e estagnada diante de propostas diferentes de teatro. Hoje entendo que a resposta não poderia ter sido melhor oferecida, ao invés de esperar por instruções passo-a-passo como é de costume no curso de Licenciatura. (Letícia) Experiência vivida nas enfermarias de Pediatria: foco na recepção A recepção das seis pequenas cenas foi excelente. Se na primeira sequência os alunos se mostraram tensos e cheios de dúvidas, na segunda sequência estavam intensos e esvaziados de espectativas: o que permitiu alto grau de troca, espontaneidade e alegria. Como a ementa da disciplina Estágio II concentra-se no ato de planejar, dei foco a esta ação, durante as quinze semanas de convivência com os alunos; disse a aluna Gislaine da Silva Reis em seu relatório final: No meu percurso de criação com meu parceiro, começamos conversando sobre o material que tínhamos, e planejamos nossas ações para a criação. Definimos com que tipo de material iríamos trabalhar, para depois começarmos. Mais uma vez o planejamento se mostrou essencial: só conseguimos improvisar nossa cena porque tínhamos planejado uma estrutura. Essa observação me faz pensar que, no ensino do teatro, se desejo que meus alunos produzam alguma cena é necessário que eu lhes ofereça uma bagagem, um material com que possam trabalhar. Também alguns dos alunos revelaram um amadurecimento adquirido ao longo do semestre, como presente nos relatos de Dinalva Andrade Martins e de Jéssica Ribas: O Estágio II nos colocou diante de outra realidade que não a da sala de aula de teatro, onde todos estão ali para receber a ação teatral, obrigados ou não. O espaço do hospital é diferente, nos possibilita outro tipo de diálogo, [lugar] onde as pessoas estão vivendo uma situação difícil. Mas precisam de carinho, cuidado e penso que através da nuvem de teatralidade tivemos a oportunidade de levar para aquelas pessoas a um outro contexto, de cenas delicadas e que causaram reflexão. Esta experiência nos impos o desafio de realizar uma intervenção interessante em outro espaço, experimentar novas possibilidades de teatro. E assim me proporcionou

sensibilidade maior para trabalhar, devido à experiência em loco. (Dinalva) ( ) descobri novas formas de teatro. Vi que fazer teatro vai além de ocupar o espaço, se alongar, improvisar; que basta um gesto imaginativo compartilhado para o teatro estar posto. Tive a ainda tenho dúvidas quanto a vir a dar aulas de teatro um dia. Mas, tendo passado por essas experiências, e conhecendo de perto o que ouvi logo no primeiro semestre do curso por meio da professora Bya Braga, de que não existe Teatro mas Teatros, penso que há uma possibilidade cada vez maior de aderir à docência. ( ) (Jéssica) Desdobramentos futuros Diante do imenso esforço, e poderíamos até mesmo dizer sofrimento e angústia dos alunos, diante do desafio proposto, considero que a continuidade do trabalho haveria de ser algo mantido em continuidade, durante um semestre no mínimo, com a comunidade hospitalar. Penso em dois caminhos: o engajamento dos alunos do curso de teatro da UFMG com o projeto de Brinquedoteca (desativada por falta de adultos condutores) e/ou a criação de oficinas de teatro para pacientes e acompanhantes, juntos. Como condutora do processo, percebo a necessidade premente de provocar nos alunos participantes reflexão sobre: as especificidades do teatro voltado para crianças; concepções de infância; bem como conscientização de seus estereótipos e dificuldades pessoais no contato com a criança doente. No corredor de uma das enfermarias do Hospital das Clínicas da UFMG, há uma imagem tocante: um menino Jesus na cruz. Considerei a imagem de imensa eficácia simbólica, pensando inclusive que a comunidade católica é predominante na cidade de Belo Horizonte. Já os alunos, em sua grande maioria, acharam a imagem inadequada, de mau gosto e até mesmo inaceitável Como enriquecer o imaginário dos jovens alunos estudantes de teatro, na direção de diálogos entre seu trabalho criativo e a realidade cotidiana do Hospital? Pretendo ser capaz de responder a este dilema por meio do próprio o work in process, trabalho em processo, que concretizará sua continuidade entre o segundo semestre de 2014 e primeiro semestre de 2015, agora com foco nas brinquedotecas existentes nas enfermarias da Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG. As relações entre o brincar imaginativo e o fazer teatral são parte de minhas preocupações e indagações como pesquisadora há diversos anos, e hoje amplio este percurso com um mergulho no estudo das dramaturgias do espaço: a espacialidade de um hospital público e sua contundente teatralidade é algo extremamente interessante e passível de um tipo de acolhimento, recepção e aprendizagem únicas para jovens estudantes de teatro e futuros artistasprofessores. Referências Bibliográficas BARBIER, R. A Pesquisa-Ação. Brasília: Liber Livro, 2007. BARBOSA, J. G.; HESS, R. O diário de pesquisa. O estudante universitário e seu processo formativo. Brasília: Liber Livro, 2010. BATISTA, Cleide Vitor Mussini. O lugar do brincar no hospital: o faz de conta. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2007/anaisevento/arquivos/ci-203-

12.pdf Último acesso em 07/01/2014. FREITAS, L. H. O teatro no hospital: arte (e prazer?) no espaço da dor. Revista O Percevejo. Vol.1. Fascículo 2. Julho-dezembro 2009. Rio de Janeiro: UNIRIO. BOURRIAUD, N. Estética Relacional. São Paulo: Martins Fontes, 2009. GRAÑA, R. B. e OUTEIRAL, J. Donald W. Winnicott / Estudos. Porto Alegre: Armed, 1991. OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus, 1980. ROCHA, G. & TOSTA, S. P. Antropologia & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.