ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS SONDAGENS DE CAXIUANÃ DURANTE O EXPERIMENTO PECHULA.



Documentos relacionados
MECANISMOS FÍSICOS EM MÊS EXTREMO CHUVOSO NA CIDADE DE PETROLINA. PARTE 3: CARACTERÍSTICAS TERMODINÂMICAS E DO VENTO

Classificação Termodinâmica das Radiossondagens em Belém durante o experimento BARCA

Análise das condições atmosféricas durante evento extremo em Porto Alegre - RS

Análise Termodinâmica de Santarém Durante o Experimento BARCA

SPMSAT - APLICATIVO PARA ESTUDOS DE SISTEMAS PRECIPITANTES DE MESOESCALA UTILIZANDO IMAGENS DE SATÉLITE

INMET/CPTEC-INPE INFOCLIMA, Ano 13, Número 07 INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2006 Número 07

GERÊNCIA EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO GERAL E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA ESTUDO ESTATISTICO DA BRISA ILHA DE SANTA CATARINA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

MATERIAIS E METODOLOGIA

Análise de um evento de chuva intensa no litoral entre o PR e nordeste de SC

Estudo de caso de um sistema frontal atuante na cidade de Salvador, Bahia

CARACTERIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE MARECHAL DEODORO AL, NO PERÍODO DE 1978 A 2005.

SIMULAÇÃO DE ALTA RESOLUÇÃO DAS CIRCULAÇÕES LOCAIS NO LESTE DA AMAZÔNIA

INFLUÊNCIA DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL NA VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM MACAPÁ - BRASIL 1

Bacia Hidrográfica Precipitação Infiltração Escoamento

Elementos e fatores climáticos

ANÁLISE DE UMA LINHA DE INSTABILIDADE QUE ATUOU ENTRE SP E RJ EM 30 OUTUBRO DE 2010

Relações entre diferentes fases da monção na América do Sul

Estudo da ilha de calor urbana em cidade de porte médio na Região Equatorial

Eny da Rosa Barboza Natalia Fedorova Universidade Federal de Pelotas Centro de Pesquisas Meteorológicas

Caracterização da Variabilidade do Vento no Aeroporto Internacional de Fortaleza, Ceará. Parte 2: Análise da Velocidade

A atmosfera e sua dinâmica: o tempo e o clima

Análise sinótica associada a ocorrência de chuvas anômalas no Estado de SC durante o inverno de 2011

Tempo & Clima. podendo variar durante o mesmo dia. é o estudo médio do tempo, onde se refere. às características do

VARIAÇÃO DIÁRIA DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA EM BELÉM-PA EM UM ANO DE EL NIÑO(1997) Dimitrie Nechet (1); Vanda Maria Sales de Andrade

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Massas de Ar e Frentes

O MEIO AMBIENTE CLIMA E FORMAÇÕES VEGETAIS

Catástrofe climática ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro em 12/01/2011

A EXPANSÃO URBANA E A EVOLUÇÃO DO MICROLIMA DE MANAUS Diego Oliveira de Souza 1, Regina Célia dos Santos Alvalá 1

DEPARTAMENTO DE TREINAMENTO DIVISÃO BRASILEIRA

Saiba mais sobre a neve, chuva congelante e congelada! E a quantidade de neve acumulada na Serra Catarinense!

Exercícios Tipos de Chuvas e Circulação Atmosférica

Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (INFRAERO),

ESTUDO PRELIMINAR DA TURBULÊNCIA DO VENTO NO CENTRO DE LANÇAMENTO DE FOGUETES DE ALCÂNTARA ( CLA ) CORRÊA, C. S.* e FISCH, G.

3203 APERFEIÇOAMENTO DE UM MÉTODO DE PREVISÃO DE TEMPERATURAS MÁXIMAS PARA PELOTAS

PROGNÓSTICO DE VERÃO

Atmosfera e o Clima. Clique Professor. Ensino Médio

Relação entre a Precipitação Acumulada Mensal e Radiação de Onda Longa no Estado do Pará. (Dezembro/2009 a Abril/2010)

CARACTERÍSTICAS DE EPISÓDIOS DE RAJADAS DE VENTO NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE SALVADOR

Data: / / Analise as proposições sobre as massas de ar que atuam no Brasil, representadas no mapa pelos números arábicos.

Composição da atmosfera; Nitrogênio (78%); Oxigênio (21%); Outros Gases (1%)

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

ESTIMATIVAS DE FLUXOS CONVECTIVOS DE CALOR E UM1DAJ IE NO PERlODO INTENSIVO EM BAURU (SP)

COMPARAÇÃO DE MÉDIAS DIÁRIAS E MENSAIS DE TEMPERATURA DO AR OBTIDAS POR VÁRIOS MÉTODOS. (1) Departamento de Meteorologia da UFPa

OCORRÊNCIA DE INVERSÃO TÉRMICA NO PERFIL TOPOCLIMÁTICO DO PICO DA BANDEIRA, PARQUE NACIONAL DO ALTO CAPARAÓ, BRASIL.

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS DOS DIAS 04 a 09 DE JANEIRO DE 2011 ASSOCIADOS A PANCADAS DE CHUVA EM SANTA MARIA-RS

Respostas - Exercícios de rotação e translação

Simulação de Evento de Tempo Extremo no Estado de Alagoas com o Modelo Regional BRAMS

TESTES REFERENTES A PARTE 1 DA APOSTILA FUNDAMENTOS DA CORROSÃO INDIQUE SE AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR ESTÃO CERTAS OU ERRADAS

Maria Aurora Rabelo dos Santos (Departamento de Meteorologia-UFPa. C.P. 1611) Pedro Leite da Silva Dias (Departamento de Meteorologia-USP) RESUMO

HIDROLOGIA APLICADA Professor Responsável:LUIGI WALTER ANDRIGHI UniFOA

CAPÍTULO 7 PSICROMETRIA. - Dimensionamento de sistemas de acondicionamento térmico para animais e plantas

Geografia do Brasil - Profº Márcio Castelan

ESTUDO DE CASO DE UM EVENTO DE WALL CLOUD OCORRIDO EM VINHEDO-SP RESUMO

Massas de ar do Brasil Centros de ação Sistemas meteorológicos atuantes na América do Sul Breve explicação

RICARDO HALLAK E AUGUSTO JOSÉ PEREIRA FILHO

DIAS DE CÉU CLARO EM TOLEDO-PR. Flávio Rodrigues Soares 1

MASSAS DE AR E FRENTES

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

O Ar em volta da terra

INFLUÊNCIA DA RESOLUÇÃO HORIZONTAL NAS CONDIÇÕES INICIAIS E CONTORNO NAS PREVISÕES DE CHUVAS TROPICAIS

SOLUBILIDADE DOS GASES E TROCAS NA INTERFACE AR-MAR. Tópicos. Introdução. Vanessa Hatje. GASES: Importante nos ciclos biogeoquímicos

EFEITO DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA DO SUBMÉDIO DO VALE SÃO FRANCISCO

PARÂMETROS TÍPICOS PARA A OCORRÊNCIA DE NEVOEIRO DE RADIAÇÃO. Parte II: CARACTERÍSTICAS DO PERFIL VERTICAL. DURAÇÃO DO NEVOEIRO

b)condução.- O vapor d água e os aerossóis aquecidos, aquecerão por contato ou condução o restante da mistura do ar atmosférico, ou seja, o ar seco.

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

Pablo Oliveira, Otávio Acevedo, Osvaldo Moraes. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS

Palavras-chave: Simulação, Climatização, Ar condicionado, Edificações, Energia.

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM VASSOURAS - RJ

SITUAÇÕES SINÓTICAS ASSOCIADAS ÀS DIFERENÇAS NAS PROPRIEDADES ÓPTICAS DA ATMOSFERA EM AMBIENTE URBANO

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

Expansão Agrícola e Variabilidade Climática no Semi-Árido

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM ITAPERUNA - RJ

Rastreamento dos bloqueios ocorridos próximos à América do Sul em julho de 2008 e 2009 e sua influência sobre São Paulo e a região sul do Brasil

SIMULAÇÃO DE UM CASO DE EVENTO EXTREMO DE CHUVA NA CIDADE DE MANAUS-AM COM O MODELO WRF: O CASO 08 DE MARÇO DE 2008 (RESULTADOS PRELIMINARES)

ESTUDO DE CASO DE POSSÍVEL TORNADO NA SERRA GAÚCHA EM 21 DE JULHO DE 2010

VARIAÇÃO DA AMPLITUDE TÉRMICA EM ÁREAS DE CLIMA TROPICAL DE ALTITUDE, ESTUDO DO CASO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL, SP E SÃO PAULO, SP

10. ESTABILIDADE E INSTABILIDADE ATMOSFÉRICA

ESTUDO TEMPORAL DO PERFIL DE TEMPERATURA NO SOLO NA EACF DURANTE PERÍODO DE OCORRÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO ( )

Aquecimento Global: uma visão crítica sobre o movimento ambiental mais discutido de todos os tempos

Uma investigação da retroalimentação do enfraquecimento da circulação termohalina pela atmosfera

TORRES DE RESFRIAMENTO REFERVEDORES CONDENSADORES CALDEIRAS

A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS NO LESTE DO NORDESTE DO BRASIL UTILIZANDO O MODELO RAMS

VARIABILIDADE CLIMÁTICA PREJUDICA A PRODUÇÃO DA FRUTEIRA DE CAROÇO NO MUNICÍPIO DE VIDEIRA SC.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CCA Departamento de Solos e Engenharia Rural - DSER. Prof. Dr. Guttemberg Silvino

TEMA 3: Qual é o papel do desmatamento nas mudanças climáticas?

TELECONEXÕES E O PAPEL DAS CIRCULAÇÕES EM VÁRIOS NÍVEIS NO IMPACTO DE EL NIÑO SOBRE O BRASIL NA PRIMAVERA

ANÁLISE DA COBERTURA DE NUVENS E SUAS RELAÇÕES COM A DIVERGÊNCIA DO VENTO EM ALTOS NÍVEIS DURANTE O WETAMC/LBA

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA RIO DO SUL/SC

CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO, UM EXEMPLO DE INTERAÇÃO ENTRE A EACH-USP E O BAIRRO JARDIM KERALUX

SIMULAÇÃO DE SECAGEM DE MILHO E ARROZ EM BAIXAS TEMPERATURAS

DIFERENÇAS TÉRMICAS OCASIONADAS PELA ALTERAÇÃO DA PAISAGEM NATURAL EM UMA CIDADE DE PORTE MÉDIO - JUIZ DE FORA, MG.

NOÇÕES BÁSICAS DE METEOROLOGIA

Nome: N.º: endereço: data: Telefone: PARA QUEM CURSA O 9 Ọ ANO EM Disciplina: MaTeMÁTiCa

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA TEMPERATURA E DA UMIDADE RELATIVA DO AR EM DIFERENTES LOCAIS DA CIDADE DE MOSSORÓ-RN.

DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE TÉRMICA MÁSSICA DE UM SÓLIDO PELO MÉTODO DAS MISTURAS

Enchentes em Santa Catarina - setembro/2013

VISUALIZAÇÃO TRIDIMENSIONAL DE SISTEMAS FRONTAIS: ANÁLISE DO DIA 24 DE AGOSTO DE 2005.

Transcrição:

ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS SONDAGENS DE CAXIUANÃ DURANTE O EXPERIMENTO PECHULA. Dayana Castilho de Souza 1, Maria Aurora Santos da Mota 2, Júlia Clarinda Paiva Cohen 3 RESUMO Os dados utilizados neste estudo foram coletados durante o Experimento Período Chuvoso no Leste da Amazônia (PeChuLA), realizado no período de 08/04/02 à 22/04/02 na Estação Científica Ferreira Pena em Caxiuanã - PA (01 42 30 S, 051 31 45 W). Nessa pesquisa as sondagens foram classificadas verificando as características termodinâmicas da atmosfera em associação com a precipitação ocorrida e a diferença entre os perfis de (θ e ) e (θ es ), conforme Betts (1974) e posteriormente adaptada para Belém por Ribeiro e Mota (1994). Na maioria dos horários do experimento não ocorreu precipitação. No dia 21 de abril as 15 HL ocorreu a máxima precipitação (14,4 mm), a qual representou 24,6 % da precipitação total ocorrida durante o período da campanha. Na análise da série de 28 sondagens foi observado que 42,9 % das sondagens estão classificadas no Regime Convectivo I (Seco), 53,6 % no Regime Convectivo II (Convecção Diurna) somente uma sondagem está classificada no Regime Convectivo IV (Distúrbio) e não houve nenhuma sondagem classificada no Regime Convectivo III (Convecção Elevada). Então a estrutura termodinâmica da atmosfera variou de acordo com a atividade convectiva presente, com os perfis verticais de ( θ e ) e ( θ es ) variando conforme o tipo de nuvens convectivas presentes. ABSTRACT The research made the thermodynamic classification of soundings from Amazonian East Rainy Period Experiment (PeChuLA) in Caxiuanã, Brazil (1 42 30 S, 51 31 45 W). It was analyzed for the period 8 April 2002 through 19 April 2002. In this research was used the method of Betts (1974) and after adapted by Ribeiro e Mota (1994), what the soundings are classified according the atmosphere thermodynamic characteristic in association with the precipitation that happened in the period. Most of hours there are not precipitation and the greater value was of 14,4 mm. In general the atmosphere was stable with 42, 9 % of soundings classified in the convective regime I (dry), 53,6 % in the convective regime II (diurnal convection), 3,6 % in the convective regime IV (disturbed), (enhanced convection) and there is not any sounding classified in the convective regime III (enhanced convection). Palavra Chave: Radiossondagens, Amazônia, Termodinâmica. TP1 Aluna de Graduação do Curso de Meteorologia e Bolsista de Iniciação Científica: dayanacastilhos@gmail.com. 2 Professor Adjunto - Departamento de Meteorologia - CG - UFPa email: aurora@ufpa.br. 3 Professor Adjunto - Departamento de Meteorologia - CG - UFPa email: jcpcohen@ufpa.br

INTRODUÇÃO Na Amazônia, a característica da nebulosidade é de nuvem cumuliforme resultante, principalmente, da liberação de calor latente, uma vez que existe grande quantidade de umidade e calor sendo transportado verticalmente na atmosfera. Devido ao estado turbulento da atmosfera, essas nuvens cumulus, muitas vezes se desenvolvem atingindo a tropopausa formando assim as nuvens cumulonimbus. O desenvolvimento, o movimento e o declínio dessas nuvens constituem um importante elo na manutenção da circulação geral atmosfera (Riehl, 1979). Ou seja, as nuvens cumulus fornecem o calor necessário para movimentar a circulação de grande escala e as perturbações de grande escala produzem a convergência essencial para alimentar a convecção cumulonimbus. A estrutura termodinâmica da atmosfera apresenta, geralmente, um ciclo diurno bem definido com aquecimento durante o dia e resfriamento durante a noite e madrugada, o qual está associado à transferência de energia proveniente da radiação solar e da quantidade de água presente na atmosfera (Betts, 1973). Em região tropical, essa estrutura é muito influenciada pelo alto teor de umidade contido na atmosfera tanto que em dias chuvosos a mesma é mais fria que nos dias secos (Riehl et al, 1973, Betts, 1974). Betts (1974) sugere que atmosfera pode ser classificada conforme a atividade convectiva presente e Aspliden (1976) mostrou que a atmosfera tropical pode ser classificada em modos usando a análise da variação vertical da temperatura potencial equivalente. O objetivo do trabalho é fazer a classificação termodinâmica das sondagens de Caxiuanã, durante o período chuvoso conforme proposto por Betts (1974). MATERIAIS E MÉTODOS Os dados utilizados neste estudo foram coletados durante o Experimento Período Chuvoso no Leste da Amazônia (PeChuLA), realizado no período de 08/04/02 à 22/04/02 na Estação Científica Ferreira Pena em Caxiuanã (01 42 30 S, 051 31 45 W), que é uma reserva florestal localizada no leste do Estado do Pará no município de Melgaço (Figura 1).

Figura 1 Localização Geográfica de Caxiuanã - PA Durante o período do experimento foram lançadas diariamente 4 radiossondas, sempre que possível, nos seguintes horários sinóticos: 00, 06, 12 e 18 UTC, utilizando o sistema VÄISÄLA RS 80 15 G, o que totalizou 28 sondagens. Também foi coletada a precipitação ocorrida de dez em dez minutos. Para fazer a classificação das sondagens foram calculadas a temperatura potencial equivalente (θ e ) e temperatura potencial equivalente saturada (θ es ), utilizando as equações propostas por Betts (1973), e posteriormente modificadas por Bolton (1980). 3,376 θ = exp 0,00254 (1 + 0,81 10 3 e θ r x r) T L θ es = θ exp( 2,64rs / TK ) onde, T L - temperatura absoluta no nível de condensação por levantamento. TK = temperatura do ar em (K). r- razão de mistura saturada. r - razão de mistura saturada. s As sondagens foram classificadas verificando as características termodinâmicas da atmosfera em associação com a precipitação ocorrida e a diferença entre os perfis de (θ e ) e (θ es ), conforme Betts (1974) e posteriormente adaptada para Belém por Ribeiro e Mota (1994). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 2 apresenta a variação temporal da precipitação ocorrida em Caxiuanã durante o período chuvoso, pode ser verificado que na maioria dos horários do experimento, a precipitação foi inferior a 2 mm, onde aproximadamente 57 % dos horários não ocorreu precipitação. No dia 21 de

abril as 15 HL ocorreu a máxima precipitação (14,4 mm) que representou 24,6 % da precipitação total ocorrida durante o período da campanha. Outra característica que pode ser observada é que a maioria das precipitações ocorreram no período da tarde e noite entre 15:00 e 21:00 HL, o que caracteriza a forte atividade convectiva na região. Variação Temporal da Precipitação em Caxiuanã periodo Chuvoso PRP (mm) 16 14 12 10 8 6 4 2 0 PRP 8/4/2002-3 8/4/2002-15 9/4/2002-3 9/4/2002-15 10/4/2002-3 10/4/2002-15 11/4/2002-3 11/4/2002-15 12/4/2002-3 12/4/2002-15 13/4/2002-3 16/4/2002-9 16/4/2002-21 17/4/2002-9 17/4/2002-21 18/4/2002-9 18/4/2002-21 19/4/2002-9 19/4/2002-21 20/4/2002-9 20/4/2002-21 21/4/2002-9 21/4/2002-21 22/4/2002-9 22/4/2002-21 Data e Hora Local Figura 2 - Variação Temporal da Precipitação corrida em Caxiuanã durante o experimento PeChuLA. A tabela 1 apresenta a classificação dos regimes convectivos e chuva ocorrida durante o período estudado. Na análise da série de 28 sondagens foi observado que 42,9 % das sondagens estão classificadas no Regime Convectivo I (Seco), 53,6 % no Regime Convectivo II (Convecção Diurna ), somente uma sondagem está classificada no Regime Convectivo IV (Distúrbio) e não houve nenhuma sondagem classificada no Regime Convectivo III (Convecção Elevada). Tabela 1 - Classificação das sondagens de Caxiuanã de acordo com os regimes convectivos durante o experimento PeChuLA. Regime Convectivo Precipitação (mm) Número de. dias Número de Sondagens I Seco <0,3 5 12 II Convecção Diurna 0,3 1,2 4 15 III Convecção Elevada 1,2 5,0 0 0 IV - Distúrbio > 5,0 1 1 Na análise do perfil vertical da temperatura potencial equivalente (θ e ) e temperatura potencial equivalente saturada (θ es ) para a época chuvosa (Figura 3), se verifica que no Regime I (Seco), as

sondagens estão muito estáveis com o nível de condensação por levantamento (NCL) em torno de 675 hpa (base da nuvem). Para o regime II (Convecção Diurna), o perfil atmosférico se apresenta mais úmido que o anterior com NCL em aproximadamente 675 hpa e NE em 250 hpa. Tanto o regime I quanto o regime II estão caracterizados no modo I da classificação de Aspliden (1976) significando convecção extremamente desfavorecida, com possibilidade de ocorrência somente de nuvens cumulus humilis. A única sondagem classificada no Regime IV (Convecção Distúrbio) apresenta as curvas de θ e e θ es muito próximas já que θ e fica com valor bastante alto na situação de distúrbio. Segundo Aspliden (1976) os valores de θ e são maiores ou iguais à 335 K, o que caracteriza o modo VI de convecção úmida profunda, com nuvem cumuloninbus e chuva pesada. A sondagem também apresenta grande instabilidade, (área positiva muito grande) com o NCL em torno de 950 hpa e NE em torno de 190 hpa. 150 250 Pressão (hpa) 350 450 550 650 θe θes 750 850 950 326,0 336,0 346,0 356,0 366,0 Temperatura Potencial Equivalente e Temperatura Potencial Equivalente Saturada (K) Seco Convecção Diurna Distúrbio Figura 3 - Perfil vertical de temperatura potencial equivalente (θ e ) e temperatura potencial equivalente saturada (θ es ) de Caxiuanã para os três regimes convectivos: seco, convecção diurna e distúrbio.

CONCLUSÃO Durante o período do experimento foi verificado que a maioria da precipitação ocorreu no período da tarde e noite entre 15:00 e 21:00 HL caracterizando a forte atividade convectiva na região. A maior precipitação foi de 14,4 mm representando 24,6 % da precipitação total ocorrida durante o período da campanha. Na análise da temperatura potencial equivalente ( θ e ) e temperatura potencial equivalente saturada ( θ es ) foi observado que na maior parte do experimento a atmosfera esteve estável. Na classificação das sondagens 42,9 % estão no Regime Convectivo I (Seco), 53,6 % no Regime Convectivo II (Convecção Diurna), não houve nenhum dia classificado no regime convectivo III (Convecção Elevada) e 3,6% das sondagens classificadas no Regime Convectivo IV (Distúrbio). Então a estrutura termodinâmica da atmosfera variou de acordo com a atividade convectiva presente, com os perfis verticais de ( θ e ) e ( θ es ) variando conforme o tipo de nuvens convectivas existentes. AGRADECIMENTOS Esta pesquisa foi financiada pelo CNPq/Instituto do Milênio e pela SECTAM/PRONEX. A autora agradece ao PIBIC/CNPq pela bolsa de iniciação científica concedida; os autores agradecem a todos os participantes do Experimento PeChuLA. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aspliden, CI. A classification of the structure of the tropical atmosphere and related energy fluxes. Journal of Applied Meteorology, v. 15, p. 692-697, July 1976. Betts, A.K. Thermodynamic classification of tropical convective soundings, Mon. Wea. Rev., v. 102, p. 760-764, 1974. Betts, A.K. Non-precipitating cumulus convection and its parameterization, Quart. J. R. Met. Soc., v. 99, p. 178-196, 1973. Bolton, D. The computation of equivalent potential temperature, Mon. Wea. Rev., v. 108, p. 1046-1053, 1980. Ribeiro, J.B.M. e MOTA, M.A.S. - Classificação termodinâmica para atmosfera de Belém-PA para o ano de 1987. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Meteorologia e II Congresso Latino- Americano e Ibérico de Meteorologia, 1994, p. 272-275. Riehl, H, L. Cruz, M. Mata, e C. Muster. Precipitation Characteristics during the Venezuelan Rainy Season; Quart. J. Roy. Meteor. Soc., 1973, 99, 746 757. Riehl, H, L. Climate and weather in the tropics. Academic Press Inc., New York, 1979