MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL HABEAS CORPUS Nº 113646 PACTE: GLEYB FERREIRA DA CRUZ IMPTE: DOUGLAS DALTO MESSORA E OUTRO(A/S) IMPDO: PRESIDENTE DA COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO OPERAÇÕES VEGAS E MONTE CARLO RELATOR: EXMO. SR. MINISTRO DIAS TOFFOLI HABEAS CORPUS PREVENTIVO. COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO. OPERAÇÃO VEGAS E MOTECARLO. CONVOCAÇÃO DO PACIENTE PARA PRESTAR DEPOIMENTO. DIREITO AO SILÊNCIO. GARANTIA CONTRA A NÃO-AUTOINCRIMINAÇÃO. DIREITO DE SER ASSISTIDO POR ADVOGADO E DE NÃO SER OBRIGADO A ASSINAR TERMO DE COMPROMISSO DE DIZER A VERDADE. PRETENSÃO DEFERIDA EM SEDE LIMINAR. AUDIÊNCIA REALIZADA EM 30/05/12. DEPOIMENTO PRESTADO NA FORMA ASSEGURADA PELA MEDIDA ACAUTELADORA. PLEITOS PREJUDICADOS. PEDIDO DE VISTA DO INQUÉRITO PARLAMENTAR. PLEITO DEFERIDO. PERDA DO OBJETO. RENOVAÇÃO DE OITIVAS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO. INEXISTÊNCIA. OBTENÇÃO DE CÓPIA DO INQUÉRITO. SÚMULA VINCULANTE 14. DIREITO QUE DEVE SER ASSEGURADO À DEFESA. - Parecer pelo conhecimento parcial do pedido de habeas corpus, e, nessa extensão, pelo deferimento parcial da ordem, apenas para assegurar o direito de acesso e de obtenção de cópias dos elementos probatórios documentados na CPMI-Vegas. EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 2 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos em epígrafe, diz a V. Exa. o que segue: Trata-se de habeas corpus preventivo, com pedido de liminar, impetrado em benefício de Gleyb Ferreira da Cruz, contra ato do Presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito CPMI Vegas e Monte Carlo. Extrai-se dos autos, que a CPMI - Vegas e Monte Carlo, foi criada com o objetivo de investigar práticas criminosas do senhor Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, desvendadas pelas operações 'Vegas' e 'Monte Carlo', da Polícia Federal. Os impetrantes informam que o paciente foi convocado a se apresentar aos Membros da CPMI-Vegas e Monte Carlo, a fim de prestar depoimento, inicialmente marcado para o dia 22/05/2012, mas que acabou sendo adiado para o dia 30 de maio de 2012. Aduzem que o paciente é co-investigado em Persecução Penal (atualmente Ação Penal 0009272-09.2012.4.01.3500) denominada Operação Monte Carlo, que tramita perante a 11a Vara da Justiça Federal em Goiânia, Goiás, e hodiernamente espargida aos Tribunais com competência originária para processamento de investigados com foro por prerrogativa de função (...). Afirmam que o paciente não é mera testemunha, que pode ser convocado para prestar depoimento, sob compromisso legal, mas sim investigado, e nessa condição deve ter todos os direitos constitucionais respeitados.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 3 Requerem a concessão de medida liminar a fim de verem garantido o direito constitucional do paciente de permanecer em silêncio, de não ser obrigado a assinar temo de compromisso de dizer a verdade, de ser assistido por advogado e de se comunicar, livremente e em particular, com o mesmo, garantindo-se o direito contra a autoincriminação, além de não ser preso por desobediência ou falso testemunho, por exercitar estes direitos. Pretendem, ainda, o seguinte: f - ter acesso a todos os elementos de investigação colhidos até então, vistas e cópias integrais dos autos (sabidamente consistem de aproximadamente 50 volumes) do referido Inquérito Parlamentar, incluindo os depoimentos prestados por pessoas já ouvidas perante aquela douta Comissão (bem como seu áudio e vídeo integrais de toda a sessão, em mídia digital), que deverão ser franqueadas a algum dos advogados do Paciente, com prazo razoável para seu estudo, antes de sua oitiva perante a douta CMPI, tal como se extrai do Enunciado 14 da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal, somente podendo ser convocado a comparecer nessa Comissão o Paciente após ter tido acesso aos elementos que ora solicita com prazo mínimo de 10 dias contados retroativamente, suspendendo-se então a convocação do Paciente para o dia 22-05-2012; g - presenciar e acompanhar por sua defesa pessoal e/ou técnica - toda a produção de provas no curso da referida CPMI, eis o que dali derivar poderá ensejar restrição a seus direitos individuais (liberdade, inclusive), direta ou indiretamente; h direito a que se renovem as oitivas já realizadas sem a presença de seu defensor constituído (o Paciente nunca fora comunicado de que ocorreriam essas oitivas ou que existia essa investigação em curso), para que outras se realizem com a presença dos advogados do Paciente, eis deverá sua defesa técnica participar das oitivas e da colheita de qualquer elemento de prova, podendo reperguntar, requerer perícias e diligências e ainda indicar assistentes técnicos (fls. 16/17 da inicial). urgência acaso deferida. No mérito, postulam a confirmação da medida de
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4 Medida liminar concedida, nos termos seguintes: (...) defiro em parte o pedido de liminar para assegurar ao paciente, que não está dispensado da obrigação de comparecer perante a CPMI em questão, direito de exercer o seu direito ao silêncio, incluído o privilégio contra a autoincriminação (art. 5º, inc. LXIII, da CF), excluída a possibilidade de ser submetido a qualquer medida privativa de liberdade ou restritiva de direitos em razão do exercício de tais prerrogativas processuais, e o direito de ser assistido por seus advogados e de comunicarse com eles durante a sua inquirição, garantido a estes todas as prerrogativas previstas na Lei nº 8.906/94. Em razão de o paciente estar sendo processado, como visto, em ação penal junto à 11ª Vara da Justiça Federal de Goiás (Processo nº 0009272-09.2012.4.01.3500), por crimes que integram o objeto daquela CPMI, ressalto que ele não pode ser obrigado a assinar termo ou firmar compromisso na condição de testemunha em relação aos respectivos fatos. Expeça-se o salvo-conduto. Prestadas as informações pela autoridade coatora, vieram os autos a esta Procuradoria Geral da República para elaboração de parecer. É o relatório. parte, ser parcialmente concedido. O writ comporta parcial conhecimento, devendo, nesta Colhe-se das informações prestadas pela autoridade coatora, que o paciente compareceu à 10ª Reunião da CPMI-Vegas, realizada em 30/05/12, e exerceu seu direito constitucional ao silêncio, respaldado pela liminar deferida nestes autos. Assim, encontram-se superados os pleitos que buscavam assegurar o direito ao silêncio, de não autoincriminação, de não
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 5 ser obrigado a assinar temo de compromisso, de ser assistido por advogado e de se comunicar, livremente e em particular, com o mesmo, além de não ser preso por desobediência ou falso testemunho, uma vez que o depoimento do paciente já se realizou com a integral observância destes direitos. De igual forma, encontra-se prejudicada a pretensão de acesso da defesa do paciente a todos os elementos colhidos bem como vistas do inquérito parlamentar, já que a própria impetração noticiou o deferimento do pedido pela autoridade coatora. Melhor sorte não socorre à impetração quanto ao requerimento de renovação das oitivas já realizadas sem a presença dos defensores constituídos pelo paciente, em razão de suposta ofensa ao princípio do contraditório. Isto porque, o inquérito parlamentar constitui procedimento investigatório pré-processual, não sendo o respeito ao contraditório requisito de sua validade. E outro não é o pensamento dessa Corte, bem ilustrado pela decisão do Ministro Joaquim Barbosa, no MS nº 25.508/DF-MC 1, afirmando que: a própria natureza do inquérito parlamentar, semelhante ao inquérito policial, afasta o contraditório como requisito de validade do procedimento. Por outro lado, consoante já registrado por essa relatoria, por ocasião do deferimento parcial da medida de urgência, necessário assegurar aos advogados do ora paciente a obtenção de cópia 1 MS nº 25.508/DF-MC, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de 23/09/05, p-57.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 6 integral dos documentos probatórios existentes em poder da CPMI-Vegas, de modo a garantir a plenitude de defesa. Nesse sentido, inclusive, é o teor da Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. De resto, descabe acolher a pretensão de acompanhamento de toda a produção de provas no curso da referida CPMI, pelas razões já expostas por essa relatoria, que não comportam qualquer outro adendo: Ademais, como se sabe, as reuniões da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito são públicas e podem ser acompanhadas por qualquer cidadão, inclusive pela internet, através do sítio eletrônico do Senado Federal. Aliás, os impetrantes demonstram conhecer esse fato, na medida em que juntam aos autos a agenda e o plano de trabalho da comissão. Por essa razão, nada há a deferir quanto ao requerimento presente ao item g do pedido formulado na inicial. Ante o exposto, opinamos pelo conhecimento parcial do pedido de habeas corpus, e, nessa extensão, pelo deferimento parcial da ordem, apenas para assegurar o direito de acesso e de obtenção de cópias pertinentes por parte do paciente aos elementos probatórios formalmente documentados na CPMI-Vegas. Brasília, 01 de outubro de 2012. MARIO JOSÉ GISI Subprocurador-Geral da República