Perfil das pessoas mortas na cidade de São Paulo por policiais em serviço (2002-2011)



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Transcrição:

Perfil das pessoas mortas na cidade de São Paulo por policiais em serviço (2002-2011)

Sobre o estudo Objetivo: trazer mais elementos para o debate sobre letalidade policial na cidade de São Paulo; dialogar com a Polícia e a sociedade sobre estas informações Metodologia: análise descritiva das informações sobre pessoas mortas por policiais no exercício de sua atividade entre 2002 e 2011 Fonte: ProAim (Secretaria Municipal de Saúde) casos em que a causa de morte foi classificada como Intervenção legal Traumatismos infligidos pela polícia ou outros agentes da lei, incluindo militares em serviço, durante a prisão ou tentativa de prisão de transgressores da lei, ao reprimir tumultos, ao manter a ordem, e outra ação legal (Classificação Internacional de Doenças, CID-10)

Dados sobre mortalidade na cidade de São Paulo (Saúde) DECLARAÇÃO DE ÓBITO Circunstância (dia, mês, ano), causa da morte e perfil da pessoa: sexo, cor, idade, endereço, escolaridade Classificação internacional de doenças (CID 10) Grupos: agressão, lesão autoprovocada intencionalmente, acidente, evento de intenção não determinada, intervenção legal, operação de guerra PROAIM (Programa de Aprimoramento das Informações sobre Mortalidade) Checagem das informações para inserir no sistema do DATASUS. Nas mortes causadas por eventos de intenção não determinada, equipe vai ao IML e se for o caso, reclassifica algumas mortes como decorrentes de intervenção legal. Dados são então disponibilizados no site da Prefeitura de São Paulo

Dados sobre mortalidade na cidade de São Paulo (Saúde)

Letalidade policial na cidade de São Paulo (2002-2011) Duas fontes de informação para acompanhar o fenômeno: SSP/SP: pessoas mortas em confronto com policiais civis e militares em serviço Saúde: pessoas mortas em decorrência de intervenção legal Fonte: SSP/SP e ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Perfil dos mortos: sexo A imensa maioria era do sexo masculino; somente 5 eram mulheres Distribuição dos mortos pelas Polícias na cidade de São Paulo segundo sexo, 2002 a 2011 Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Para problematizar o dado A mortalidade de mulheres por armas de fogo na cidade é menor que a de homens: nesses 10 anos, 6% das pessoas mortas eram do sexo feminino Também é menor a proporção de mulheres cumprindo pena no Estado de São Paulo (dezembro 2011) Fonte: INFOPEN e ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Perfil dos mortos: cor Mais da metade (55%) dos mortos na década eram negros (soma de negros e pardos) Distribuição dos mortos pelas Polícias na cidade de São Paulo segundo cor, 2002 a 2011 Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Para problematizar o dado Há uma desproporcional vitimização de negros. Segundo o último censo do IBGE, em 2010 os negros representavam 38% da população da cidade de São Paulo. Naquele ano, 55% dos mortos pelas Polícias eram negros. Fonte: IBGE e ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Perfil dos mortos: faixa etária A grande maioria (80%) era jovem, com idades entre 15 e 29 anos. A faixa com o maior número de mortos a década é a de 20 a 24 anos. Distribuição dos mortos pela Polícia na cidade de São Paulo por faixa etária, 2002 a 2011 Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Para problematizar o dado O perfil de quem morreu por agressões cometidas com armas de fogo também revela uma alta vitimização dos jovens entre 15 e 29 anos (58%) porém menor do que nos casos de intervenção legal. Comparação da distribuição dos mortos por agressão com arma de fogo e mortos por intervenção legal na cidade de São Paulo segundo faixa etária, 2002 a 2011 Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Para problematizar o dado Comparando a distribuição dos jovens mortos por intervenção legal com o de jovens mortos por agressões com armas de fogo, no caso destas mortes as idades mais vitimadas são 21, 20 e 22 anos. No caso das intervenções legais, percebe-se uma concentração de pessoas com 18, 20 e 19 anos. Comparação da distribuição etária dos mortos por agressão com arma de fogo e mortos por intervenção legal na cidade de São Paulo, 2002 a 2011 Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Para problematizar o dado O grupo de 18 a 29 anos corresponde a pouco mais de 50% dos presos cumprindo pena no Estado de São Paulo (dezembro 2011), mas representa 65% dos mortos pelas Polícias em 2011. Fonte: INFOPEN e ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Evolução das mortes de jovens na cidade de São Paulo Entre 2002 e 2011, houve um significativo decréscimo das mortes de jovens por agressões com armas de fogo; essa tendência não se verificou em relação às mortes de jovens pelas Polícias. Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Perfil dos mortos: residência A maioria das pessoas mortas pelas Polícias (87%) residia em São Paulo; o restante morava em cidades vizinhas, como Guarulhos, Osasco e Diadema. Dentre os habitantes de São Paulo que morreram por intervenção legal, a maioria residia em distritos na periferia da cidade. Metade das pessoas mortas vivia em apenas 22 distritos de São Paulo sendo a maioria (à exceção do Jabaquara) localizados na periferia.

Perfil dos mortos: residência Os 10 distritos administrativos com o maior número de residentes mortos por intervenção legal entre 2002 e 2011: Sapopemba 54 Brasilândia 53 Cidade Tiradentes 39 Capão Redondo 36 Jaraguá 33 Cachoeirinha 31 Itaquera 31 Lajeado 30 Cidade Ademar 29 Cangaíba 28 Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz

Para problematizar o dado Fonte: ProAim, Elaboração: Instituto Sou da Paz