APRESENTAÇÃO RELATÓRIO



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Transcrição:

APRESENTAÇÃO O presente RELATÓRIO materializa um dos Produtos relacionados ao Objetivo 4 do Plano Diretor do Observatório de Recursos Humanos SUS SES/SP, para o biênio 2004/2005, Estação de trabalho do Projeto Rede de Observatório de Recursos Humanos em Saúde, do Ministério da Saúde e da Organização Pan-americana de Saúde, Representação do Brasil. Com este Relatório Técnico, a Estação integrada pela Secretaria de Estado da Saúde/SP, pelo CEALAG/FCMSCSP e pela Fundação Getúlio Vargas/SP, inicia a apresentação e a discussão de dados, informações e evidências que propiciam reflexões sobre a identidade e as perspectivas para esse novo sujeito do trabalho em saúde que agora se apresenta em grandes cidades e em áreas metropolitanas, consolidando uma linha de trabalho já em desenvolvimento e que deverá ampliar-se nos próximos períodos. Nessa trajetória, a Estação cuida de contribuir para a compreensão e a conformação de identidades ocupacionais ou profissionais no interior de um projeto de relação Estado - Sociedade, em especial em relação aos agentes comunitários de saúde, de caracterizar seu perfil em áreas metropolitanas, suas concepções, perspectivas e necessidades, cumprindo a função da instituição acadêmica de apoiar a gestão dos diferentes níveis do SUS na concepção, implantação, monitoramento e avaliação de políticas públicas, no caso especial, dessa estratégia cuja proposta é a reordenação da atenção básica à saúde e, a partir desse nível, do sistema de saúde. Se por um lado, resguardadas as diferenças metodológicas, os estudos possuem semelhanças em seus processos e nos dados obtidos, o que nos permite tecer algumas importantes considerações sobre a trajetória do programa. Por outro lado, tendo em vista as especificidades e diferenças dos objetivos e enfoques metodológicos dos dois estudos, dos cenários e respectivos contextos, torna-se impossível a comparação entre as características das variáveis identificadas, nos dois momentos da Saúde da Família na cidade de São Paulo. Em um primeiro momento, desembarcando na megalópole São Paulo, no bojo de um projeto prioritário da Secretaria de Estado da Saúde em articulação com o Ministério da Saúde e com instituições, Organizações Sociais da Saúde, em três regiões da cidade (Leste, Norte e Sudeste) e para populações específicas, como um Projeto. O

QUALIS emergiu em contraposição à política oficial municipal para a saúde o Programa de Assistência à Saúde PAS. Em um segundo momento, um segundo estudo, em 2004, já o Programa de Saúde da Família implantado na cidade de São Paulo, envolvendo praticamente todas as regiões da cidade, com uma cobertura de quase 30% da população, como política pública municipal para a saúde, estratégia de organização da atenção básica à saúde no município. Nessa ocasião, o município de São Paulo já estava integrado ao Sistema Único de Saúde em regime de Gestão Plena do Sistema. As unidades de saúde estaduais e as equipes do Projeto QUALIS (218) foram sido municipalizadas entre 2001 e 2002. Entretanto, a diversidade de objetivos dos dois estudos o de 1999 e o de 2004 -, das metodologias específicas, do contingente de agentes participantes e o aproveitamento que, posteriormente, foi feito dos dados e informações, fazem com que, embora se tenha procurado buscar dados e selecionar variáveis que propiciassem informações análogas, as considerações aqui colocadas apresentam variados graus de aprofundamento, na dependência da variável ou da dimensão considerada em cada um dos produtos oriundos dos estudos referidos. O município de São Paulo, desde 2001, início de nova Gestão, definiu o Programa de Saúde da Família como estratégia de eleição para organização da Atenção Básica à Saúde e, além de confirmar o convênio com as 4 Instituições que já participavam do QUALIS, ampliou as parcerias com outras 8 Instituições também consideradas de excelência em ensino e assistência na área da saúde: Associação Saúde da Família, Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, Associação Comunitária Monte Azul, Instituto Adventista de Ensino, Centro de Estudos e Pesquisa Dr. João Amorim, Hospital Israelita Albert Einstein, Fundação Faculdade de Medicina da USP e Santa Casa de São Paulo. Em que pesem as dificuldades metodológicas para comparar os dois estudos realizados na medida em que as informações relativas tanto ao perfil profissional, como as entrevistas realizadas seguiram metodologias distintas, estabelecer este diálogo entre os dois relatórios parece ser da maior importância para as políticas públicas do setor, tanto por aquilo que eles mostram de diferente como pelos aspectos em que seus resultados se assemelham. Conforme a será relatado na metodologia, os questionários aplicados apresentam diferenças importantes em termos de extensão e aprofundamento dos temas

discutidos, ainda que sejam bastante semelhantes quanto aos objetos centrais das questões. Por outro lado, o que um instrumento pode gerar em termos de aprofundamento e discussão do tema com os entrevistados, o outro possibilita aplicação em larga escala e diversidade de respostas. Se por um lado, resguardadas as diferenças metodológicas, os estudos possuem semelhanças em seus processos e nos dados obtidos, o que nos permite tecer algumas importantes considerações sobre a trajetória do Programa e do seu sujeito privilegiado, o Agente Comunitário de Saúde. Por outro lado, tendo em vista as especificidades e diferenças dos objetivos e enfoques metodológicos dos dois estudos, dos cenários e respectivos contextos, torna-se impossível à comparação entre as características das variáveis identificadas, nos dois momentos da Saúde da Família na cidade de São Paulo. Uma melhor caracterização dos dois estudos torna-se necessária, em termos de: Natureza, cenário e objetivos 1º. Estudo: Uma pesquisa avaliativa da implantação do Programa QUALIS, inserida em um Projeto maior de avaliação do QUALIS, com financiamento da FAPESP (Jatene AD, Novaes HMD, Malik AM, Goldbaum M, Marsiglia RG, Silva JA, Seixas P. Novos modelos de Assistência à Saúde: Avaliação do Programa de Saúde da Família no Município de São Paulo. São Paulo: FAPESP; 2000), a qual tinha como objetivos: Tendo em vista a época em que foi realizada, a pesquisa de 1999 contemplou a participação de duas Instituições Parceiras: a Fundação Zerbini, com UBS nas regiões Sudeste e Norte da cidade, e a Casa de Saúde Santa Marcelina, com UBS na região Leste da cidade. Conforme já descrito, essas foram as parcerias que iniciaram o QUALIS, na cidade de São Paulo, através do convênio com a Secretaria de Estado da Saúde.

2º. Estudo: O estudo de 2004, já na época de funcionamento do PSF como política pública municipal, foi concebido e o instrumento aplicado pela Coordenação da Atenção Básica e PSF da Secretaria Municipal de Saúde, em cooperação técnica com a UNESCO, no sentido da coleta de dados para a gestão do sistema e a gerência da estratégia. Os profissionais das equipes de saúde da família, inclusive os agentes comunitários de saúde, foram convidados a comparecer a um evento de capacitação e, nesse, foi-lhes apresentado um questionário para preenchimento. Após a coleta, os dados foram analisados pela Profa. Regina Marsiglia, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que elaborou documentos técnicos e os entregou à Secretaria Municipal de Saúde. Devidamente autorizados pela gerência municipal do Programa, esses documentos técnicos e os próprios questionários preenchidos constituem-se em fontes de dados para esse e para futuros Relatórios e Documentos Técnicos.

INTRODUÇÃO Os estudos sobre os Recursos Humanos na área da saúde são de interesse comum entre gestores dos serviços de saúde, pesquisadores da área, formadores de profissionais e trabalhadores de saúde. Nas duas últimas décadas, muitos trabalhos foram produzidos, a partir de diferentes abordagens, utilizando-se de diferentes perspectivas metodologias e instrumentos de coleta de informações, e já há acúmulo de conhecimentos e produção editorial sobre o tema, partindo-se de diferentes linhas conceituais, utilizando-se de diferentes metodologias de pesquisa, e da avaliação de diferentes experiências levadas a efeito pelos diversos níveis da administração em saúde. O mesmo ocorre com as experiências do Programa de Saúde da Família que, embora definido e implantado oficialmente no país só a partir de 1995, já contabiliza uma série de trabalhos de análise, seja em nível dos serviços de saúde, seja em nível da academia. Particular importância adquiriu, nos últimos anos, a preocupação com os Recursos Humanos no Programa de Saúde da Família, diante da inexistência de profissionais da área de saúde, em número e com perfil adequado para o exercício das funções e tarefas que são exigidas. A análise do perfil dos trabalhadores em atenção básica, particularmente nesse caso, no PSF, permite pensar como o mercado de trabalho em saúde acompanha as tendências mais gerais do mercado de trabalho em geral, bem como as relações sociais estabelecidas em seu interior. Ao final da década de 90, deparamo-nos com uma crescente terceirização e informalização do trabalho, fato que também ocorre na área da saúde. O Programa Saúde da Família (PSF), que vem sendo implantado pelo Ministério da Saúde desde 1995, em parceria com gestores estaduais e municipais, é uma estratégia de universalização da atenção básica e reorientação do Sistema de Saúde

no Brasil para ações de promoção, prevenção da saúde e assistência à saúde, de maneira integrada, em um território definido. A proposta, apresentada no documento do Ministério da Saúde, Saúde da Família: uma Estratégia para a Reorientação do Modelo Assistencial (1998), demonstra uma estreita articulação entre os princípios da Medicina de Família, Medicina Comunitária e Atenção Primária (JATENE et. alii., 1999). No Município de São Paulo, começou a ser implantado em 1996, através de uma ação conjunta entre o Ministério da Saúde, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo sob coordenação do Dr. José da Silva Guedes na administração do governo Mário Covas e duas organizações sociais sem fins lucrativos: a Casa de Saúde Santa Marcelina e a Fundação Zerbini, com a denominação de Qualidade Integral em Saúde (Programa QUALIS). Este fato se deu em virtude dos serviços de saúde do Município de São Paulo terem sido transformados em cooperativas de saúde, operados pelo setor privado, através do Plano de Assistência à Saúde (PAS), durante as Administrações Municipais dos Prefeitos Paulo Maluf e Celso Pita, de 1993 a 2000. Até o ano 2001, o QUALIS foi implantado em outras Unidades Básicas de Saúde (UBS), perfazendo 218 equipes distribuídas nas Zonas Leste, Norte e Sudeste do Município, em parceria com essas duas organizações, e estendido para a Zona Sul, através de novas parcerias, Associação Congregação Santa Catarina e Organização Santamarense de Educação e Cultura (UNISA). Além disso, a Secretaria de Estado resolveu iniciar um processo de implantação do chamado QUALIS Próprio, em que o Projeto começou a ser implantado, em algumas regiões, sem parcerias, com os próprios funcionários das Unidades Básicas de Saúde compondo as equipes de PSF. Apenas os agentes comunitários de saúde eram contratados pelas instituições parceiras, na medida da inexistência, no quadro de funcionários, dessa categoria ocupacional e da impossibilidade de contratá-los, a não ser por concurso público, o que inviabilizaria o cumprimento de vários requisitos essenciais ao desempenho das competências previstas para os agentes, no Programa.

A partir de 2001, com a municipalização da saúde, na Administração da Prefeita Marta Suplicy, do Dr. Eduardo Jorge Alves Martins Sobrinho, como Secretário Municipal da Saúde o Programa de Saúde da Família foi expandido sob coordenação do nível municipal, com contratação das equipes através de doze instituições parceiras da SMS/SP. I - PROGRAMA QUALIS NA CIDADE DE SÃO PAULO: SES/SP E PARCEIROS. (1996 a 2001) 1 Objetivo Geral da Pesquisa (1) Avaliar o Programa QUALIS como representante de um modelo de Reorganização da Assistência à Saúde no país e, a partir dessa avaliação, desenvolver instrumentos que possam ser utilizados para orientar a organização, a implantação e o monitoramento de projetos semelhantes. Objetivos Específicos 1. Avaliar os processos de definição estratégica e de implantação do Programa QUALIS. 2. Analisar as condições de vida, a situação de saúde e a utilização de serviços de saúde da população abrangida pelo Programa QUALIS. 3. Avaliar o trabalho desenvolvido pelos integrantes da equipe de saúde da família do Programa QUALIS e de aspectos específicos dessa prática, em especial, do médico de família e do agente comunitário de saúde. 1 Projeto de Pesquisa de caráter multicentríco de 1999-2000 (SES/SP, Faculdade de Medicina USP, Faculdade de Saúde Pública USP, Faculdade de Ciências Médicas, Fundação Getulio Vargas). Financiado inicialmente pela Fundação Zerbini e posteriormente pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP, contou com a coordenação do Prof. Drº. Adib Domingos Jatene e participação dos pesquisadores: Ana Maria Malik, Augusta Sato, C.L.César, Joana Azevedo da Silva, José Carlos Seixas, José da Silva Guedes, Lara Schesan Luis Gracindo Bastos, Maria H. Novaes, Maria Lucia Lebrão, Moisés Goldbam, Paulo Henrique Seixas, Regina Giffoni Marsiglia.

4. Avaliar os resultados obtidos pelo Programa QUALIS sobre a incidência, prevalência, gravidade, evolução e mortalidade de problemas de saúde considerados prioritários. 5. Desenvolver metodologia e indicadores para avaliação de efetividade e de custo - efetividade de intervenções selecionadas, implantadas pelo QUALIS. 6. Avaliar a relação custo - efetividade obtida no Programa QUALIS para procedimentos adotados no cuidado de problemas de saúde considerados prioritários. O Projeto foi subdivido em três subprojetos: Sub-Projeto 1 - Avaliação da Implantação do Programa QUALIS, cujos resultados preliminares constam deste relatório. Sub-Projeto 2 - Caracterização da População Coberta pelo Programa QUALIS e Estudo de Morbidade Referida e de Utilização de Serviços de saúde Sub-Projeto 3 - Avaliação de Resultados do Programa QUALIS. Metodologia Buscou-se, no projeto de pesquisa construir um conjunto complementar de pesquisas avaliativas, com objetivos e metodologias consistentes internamente (validade interna), e capazes de construírem, por referência à complexidade e às especificidades do programa estudado e do seu contexto, uma sólida validade externa. Tendo em vista o objeto, suas especificidades e as necessárias abordagens, os desenhos metodológicos definidos foram diversos, aí incluídos tanto os de natureza mais quantitativa, quanto os mais qualitativos, e ainda a combinação de enfoques e métodos. As questões suscitadas em relação aos Programas de Saúde da Família são muito diversificadas, e por essa razão procuramos formulá-las de modo a permitir o entendimento dessa complexidade e a produzir conhecimentos, entre eles, indicadores relacionados com aspectos que possam apoiar processos decisórios, em temos de gestão de programas e serviços de saúde. Na avaliação da implantação (1ª fase) privilegiou-se a análise do grau de implantação, o estudo da relação existente entre os objetivos da intervenção e os

meios empregados, e o estudo das relações entre o contexto, as variações na implantação e os efeitos produzidos pela intervenção. É bastante extensa, nos dias atuais, a literatura específica sobre abordagens, dimensões e métodos analíticos quantitativos e qualitativos, inclusive sobre a elaboração de instrumentos de coleta de dados (Quivy & Van Campenhoudt, 1998; Marconi & Lakatos, 1988; Ferreira e Amado, 1996; Queiróz, 1991; Contandriopoulos et al., 1994; Minayo (org), 1994). As fontes e os mecanismos de coleta de dados para essa apreensão são também inúmeros e variados. Cenários da Pesquisa A pesquisa foi desenvolvida nas 3 regiões do município de S. Paulo, onde o Programa QUALIS está implantado: Itaquera onde a articulação do setor público Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde e a parceria com o setor privado no caso, uma Organização Social, a Casa de Saúde Santa Marcelina viabilizou o início do Projeto: a implantação do QUALIS I, em abril de 1996, para uma população de cerca de 120.000 habitantes, mediante trinta e quatro equipes de saúde da família atuando na comunidade e em dose unidades básicas de saúde, em trabalho articulado com um hospital, a Casa de Saúde Santa Marcelina, para 23.000 famílias cadastradas. Vila Nova Cachoeirinha (Zona Norte) e Parque São Lucas / Sapopemba (Zona Sudeste) o QUALIS II viabilizado mediante a articulação da Secretaria de Estado da Saúde com o Incor/HC-FMUSP e a parceria com a Fundação Zerbini, a partir de 1997, cobrindo até o início da pesquisa, cerca de 148.000 habitantes. O Distrito de Vila Nova Cachoeirinha conta com uma população de 140.819 habitantes. Até outubro de 1998, foram implantadas vinte e duas equipes de saúde da família, em cinco Unidades, incluindo um ambulatório de especialidades, que atendiam 13.277 famílias, já cadastradas (Relatório QUALIS março a junho, 1998). Na Zona Sudeste, o Distrito Parque São Lucas tem 144.587 habitantes e o distrito de Sapopemba, 254.842 habitantes. Até outubro de 1998, estavam em atuação quinze equipes, em quatro unidades de saúde da família, atendendo 6.700 famílias cadastradas. Estava prevista a ampliação, na zona sudeste, através da implantação de mais vinte e duas equipes e

seis novas unidades básicas que se encontravam em construção, em reforma, ou em negociação. Fontes de Dados O Sub-Projeto I sobre o qual nos detivemos nesta análise, utilizou-se do levantamento de dados secundários e primários, de natureza qualitativa e quantitativa. 1. Dados secundários, a partir de: levantamento bibliográfico; documentos vários, com especial atenção àqueles que contenham informações sobre o Programa, sobre as competências dos profissionais, sobre o treinamento a que foram submetidos, entre outros aspectos; relatórios diversos; dados de produção; 2. Dados Primários, a partir de: 171 entrevistas com vários tipos de agentes e profissionais envolvidos nos Programas QUALIS nos diversos níveis, bem como lideranças das comunidades locais: formuladores do Programa QUALIS, pessoas que participaram da concepção do Programa, estando ou não, no momento atual, a ele vinculado; gestores principais/ centrais dos QUALIS I e II; gestores/coordenadores técnicos de áreas e regiões dos QUALIS; gestores/dirigentes da SES de nível central e dos Núcleos que têm atuação junto ao QUALIS; gerentes de Unidades de Saúde da Família; profissionais das Equipes de Saúde da Família; médicos Especialistas; profissionais das Equipes de Saúde Bucal e líderes comunitários das regiões onde se encontravam as unidades selecionadas para estudo. As entrevistas tiveram a intenção de compreender as características do Projeto, obter informações dos responsáveis diretos pela implantação, viabilização e manutenção/funcionamento do Projeto e dos agentes direta ou indiretamente responsáveis pela sua realização. Os roteiros dessas entrevistas, com algumas perguntas específicas para cada tipo de entrevistado, no geral recobriram, os aspectos históricos e de implantação do Projeto, desde a concepção, as motivações, o referencial, as grandes definições políticoinstitucionais, passando pelos seus objetivos, as intervenções, os recursos, o financiamento, pelo gerenciamento, pela escolha das regiões e pelo processo de implantação/expansão em cada uma delas, até as particularidades e mesmo os aspectos que cercam o dia-a-dia de suas etapas de realização, as facilidades, as

dificuldades, as expectativas, inclusive a natureza de participação e atuação de cada um dos envolvidos. Para os profissionais das equipes de saúde da família, além desses dados, procurou-se também conhecer suas histórias de vida e as específicas trajetórias por eles percorridas desde a apresentação para a função, a seleção, o processo de treinamento, até a integração no trabalho e na equipe (Silva et al., 1986). Em relação especificamente aos médicos e aos agentes comunitários de saúde, desenvolveu-se um aprofundamento metodológico, motivado pela introdução desses dois tipos de agentes nessa comunidade complexa. Além da ênfase que o próprio programa dispensa os médicos e agentes comunitários, considerou-se que os demais membros da equipe de saúde da família já têm mais estabelecidas as suas possibilidades de atuação, em meio urbano. As entrevistas com dirigentes de organizações e associações de moradores e da observações de reuniões nas comunidades, inclusive com as organizações sociais lá existentes. A dimensão da participação da comunidade, bem como o posicionamento da população da área de abrangência do QUALIS sobre a implantação do Projeto foi identificada através de informações obtidas por meio desses mecanismos. A caracterização dessa dimensão será complementada com as informações advindas do desenvolvimento do Sub-Projeto II. 3. Quarenta e oito observações do trabalho diário dos agentes envolvidos diretamente na prática do Programa QUALIS durante uma semana: a. de 38 agentes comunitários de saúde em todas suas atividades no interior das unidades do QUALIS, nas ruas da área de abrangência dos projetos, nas atividades de grupo e junto à comunidade e, especialmente nas atividades de visitas domiciliares ; b. de 10 equipes de saúde da família em seu funcionamento no interior da unidade; a identificação e o estudo dos processos concretos de trabalho das equipes foram necessários para articular o que foi definido como objetivo estratégico com a realização da implantação. Ainda em relação à prática profissional, na medida do entendimento de que o trabalho realizado pelos diferentes agentes depende tanto das competências profissionais definidas e fomentadas, como de suas características

socioculturais prévias, essas também se traduzindo em concepções e representações referentes ao próprio trabalho, tornou-se importante a obtenção de dados diretos capazes de viabilizar a compreensão dessas dimensões e também da população envolvida e de outros interessados. Trabalho de Campo O preparo para o trabalho de campo foi realizado em oito fases: 1) recrutamento, seleção e treinamento de entrevistadores e observadores; 2) elaboração dos instrumentos e roteiros de entrevistas e observações do trabalho das equipes e do agente comunitário; 3) levantamento de documentos, literatura e informações sobre os PSF e Programa QUALIS; 4) entendimento com financiadores, gestores e coordenadores dos Programas QUALIS tendo em vista a marcação de entrevistas; 5) visita às três regiões onde estão implantados os Programas QUALIS visando colher informações que caracterizassem as áreas de abrangência; 6) definição dos critérios - a partir de discussão conjunta entre os pesquisadores e os coordenadores regionais - para a seleção das unidades a serem pesquisadas e, conseqüentemente, da equipes cujo trabalho seria observado e cujos profissionais seriam entrevistados; 7) a partir dos critérios estabelecidos (tabela 1), a indicação das unidades e das equipes foi feita pelas coordenações regionais do QUALIS ( leste, norte e sudeste), enquanto aquelas que melhor representavam ou melhor atendiam as principais condições de operação do Programa; 8) contato com as direções das unidades indicadas: na região Sudeste: Jardim Guairacá, Vila Renato e Unidade Pastoral, na região Norte: Vila Espanhola, Hilza Hutzler e Vila Penteado; na região Leste: Vila Guilhermina, Jardim Copa, Jardim Fanganielo e Dom Angélico. Tabela 1. Entrevistas no Programa QUALIS. Cidade de São Paulo, 1999. Previstas Realizadas a- Formuladores da Proposta 08 08 b- Gestores, Coordenadores Técnicos do QUALIS 11 11

c- Diretores da SES relacionados com o QUALIS 10 10 d- Diretores de Unidades 10 10 e- Médicos de Família 10 09 f- Enfermeiros de Família 10 10 g- Auxiliares de Enfermagem 14 14 h- Agentes Comunitários de Saúde 40 40 i- Dentistas 06 06 j- Técnico de Higiene Dental 04 04 k- Atendentes de Consultório Dentário 06 06 l- Médicos Especialistas 12 12 m- Líderes de Comunidade 30 23 TOTAL 171 163 II PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA - PSF NA CIDADE DE SÃO PAULO: SMS/SP, (2001 2005). Em 2004, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, na gestão do Dr. Gonzalo Vecina Neto, através do Departamento de Atenção Básica à Saúde e Programa de Saúde da Família, coordenado, na ocasião, pela Dra. Joana Azevedo da Silva,

aplicou, com a ajuda de seu próprio grupo de funcionários 2, um questionário para integrantes das Equipes de Saúde da Família, que estavam alocadas em 198 Unidades Básicas de Saúde do município, sendo 89 que operavam exclusivamente com PSF e, 109, em que coexistiam os dois modelos: Unidade Básica de Saúde e Programa de Saúde da Família 3. Na ocasião, o município de São Paulo possuía 670 Equipes de Saúde da Família e 114 Equipes de PACS, contanto com 668 médicos, 792 enfermeiros, 1.448 auxiliares de enfermagem e 4.688 agentes comunitários de saúde, em um total de 7596 trabalhadores (em 2006 há 818 equipes de saúde da Saúde no município de São Paulo). A coleta de dados foi realizada em duas etapas. A primeira etapa ocorreu durante eventos de capacitação, realizados pela Secretaria Municipal de Saúde, com os profissionais do PSF. Em cada evento, os questionários foram distribuídos no início e recolhidos ao final. Após esta primeira etapa de coleta, em função do baixo percentual de respostas dos profissionais médicos e enfermeiros, foi realizada uma segunda etapa de coleta de dados. Na segunda etapa, foram definidas as UBS a serem visitadas. Foram utilizados dois critérios para definição dessas Unidades: que não houvesse nenhuma resposta de qualquer das categorias profissionais, ou que contasse com quatro, ou mais, profissionais médicos que não tivessem respondido ao questionário. Com base nestes critérios, foi elaborado um mapa por região e por Coordenadoria de Saúde, com as UBS a serem visitadas. A visita às Unidades, para aplicação dos questionários, foi realizada por técnicos da Coordenadoria de Atenção Básica e Programa de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde com a colaboração de técnicos das Instituições Parceiras Casa de Saúde Santa Marcelina e Fundação Zerbini, durante o mês de setembro de 2004. Foram 2 Contou com a participação da Mestranda da Fundação Getúlio Vargas, Claudia Valentina de Arruda Campos, da médica Maria Inês Taduni e da Enfermeira Vilma Rodrigues Venâncio da Casa de Saúde Santa Marcelina, e da Cirurgiã-Dentista Maria Carolina F. Manganini da Fundação Zerbini. 3 Analise do material coletado se deu através de consultoria para UNESCO (2005), coordenado por Professora Regina M. G. Marsiglia e a equipe de pesquisadores: Joana Azevedo, Paulo H. Seixas, Cássio Silveira, Nivaldo Carneiro Jr., Denise Renoud Amaral, Wladimir Soldman, Marisa Marcke e Francies Oliveira.

visitadas 62 UBS. Os questionários foram entregues diretamente aos profissionais do PSF e coletados pela equipe da Secretaria, em uma urna lacrada, de forma a garantir, como na etapa anterior, o sigilo das informações. Foram respondidos, no total, 4.752 questionários, entre todos os integrantes das equipes. O instrumento mostrou-se adequado para as finalidades a que se propôs, já que os trabalhadores de todos os níveis do PSF responderam às questões sem dificuldades, atestando o cuidado com que foi elaborado, o pré-teste realizado e a orientação para o preenchimento, efetivado pela equipe de Atenção Básica e PSF da SMS/SP. Tabela 2. Distribuição dos componentes das Equipes de Saúde da Família por Instituição Parceira. SMS/SP, 2004. Instituições Parceiras Nº. de Componentes nas Equipes de Saúde da Família Nº. de Entrevistados % de Entrevistados Casa de Saúde Santa Marcelina Associação Saúde da Família Universidade Federal de S.P. Associação Congregação Santa Catarina Associação Comunitária Monte Azul Instituto Adventista de Ensino Centro de Estudos Drº João Amorim 1810 1090 60,2 870 576 66,2 782 506 64,7 638 458 71,8 672 417 62,1 510 335 65,7 561 318 56,7 Fundação Zerbini 510 309 60,6 Fundação Faculdade de Medicina Hospital Israelita Albert Einstein Organização Santamarense de Organização 307 225 73,3 480 217 45,2 309 204 66,0

e Cultura Santa Casa de São Paulo 147 87 59,2 TOTAL 7596 4752 62,6 Sem informação 10 0,13 AS INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DA SMS/SP NO PSF Mapa 1 - Distribuição das Subprefeituras por Instituições Parceiras, no PSF/SMS/SP, 2005

1. Associação Comunitária Monte Azul

A Associação Comunitária Monte Azul é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, que tem uma tradição de trabalhos sócio-comunitários na região Sul, particularmente no Distrito Administrativo Jardim Ângela, área de extrema pobreza e exclusão social. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua na região Sul, emprega 672 (9%) trabalhadores no Saúde da Família 476 ACS, 87 auxiliares de enfermagem, 65 enfermeiros e 44 médicos. Desses, 417 (8,8%) responderam o questionário dessa pesquisa. 2. Associação Congregação Santa Catarina A Associação Congregação Santa Catarina é uma Instituição de caráter religiosa e filantrópica, embora tenha um Hospital ligado ao Sistema Supletivo de Assistência Médica, a Associação é sem fins lucrativos e é caracterizada como Organização Social em Saúde, gerenciando um hospital público em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo na região Sul. Também, com a SES implantou antes do 2001 o PSF na região Sul QUALIS. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua na região Sul, empregando 638 (8%) trabalhadores no Saúde da Família 349 ACS, 144 auxiliares de enfermagem, 73 enfermeiros e 72 médicos. Desses, 458 (9,7%) responderam o questionário dessa pesquisa. 3. Associação Saúde da Família A Associação Saúde da Família é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos que mantém parceria com a Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF. Tem a Associação inserção em duas Coordenadorias Regionais de Saúde Norte e Sudeste. Com 870 (12%) trabalhadores inseridos no PSF, ocupa a segunda posição no conjunto das demais parceiras.em número de profissionais contratados 531 ACS, 184 auxiliares de enfermagem, 92 enfermeiros e 63 médicos. Desses, 576 (12,1%) responderam o questionário dessa pesquisa. 4. Casa de Saúde Santa Marcelina

A Casa de Saúde Santa Marcelina é uma instituição de caráter religiosa e filantrópica com longa tradição na prestação de serviços de saúde em convênio com o Poder público. Atua na região Leste do município de São Paulo há quarenta anos, gerenciando uma rede de serviços de saúde nos três níveis da atenção, isto é, primário, secundário e terciário. Também é parceira da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES) na qualidade de Organização Social em Saúde, gerenciando Hospitais. Foi uma das pioneiras na implantação do PSF em conjunto com a SES QUALIS. Desenvolve programas de formação de recursos humanos em saúde na modalidade de residência médica e atualmente com a experiência do programa multiprofissional para o PSF, em convênio com o Ministério da Saúde. A parceria com o Poder público municipal, através da Secretaria Municipal da Saúde, começa a partir de 2001 para a ampliação e implantação do PSF. No momento da pesquisa, a Casa de Saúde Santa Marcelina tinha um total de 1.810 (24%) profissionais trabalhando no Saúde da Família, o maior contingente de membros do Programa municipal 1.030 ACS, 399 auxiliares de enfermagem, 204 enfermeiros e 177 médicos. Desses, 1.090 (23%) responderam o questionário dessa pesquisa. Essa Instituição só está presente na região da Coordenadoria Regional de Saúde Leste. 5. Centro de Estudos E Pesquisa Dr. João Amorim CEJAM O CEJAM é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, atuando na prestação de serviços educacionais. Parceiro da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua na região Sul, emprega 561 (7%) trabalhadores no Saúde da Família 341 ACS, 114 auxiliares de enfermagem, 60 enfermeiros e 46 médicos. Desses, 318 (6,7%) responderam o questionário dessa pesquisa. 6. Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é uma instituição sem fins lucrativos, atuando na prestação de serviços educacionais e de saúde Hospital das Clínicas. Recentemente foi qualificada como Organização Social em Saúde pela SES, passando a gerir um hospital na região Sudeste. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua só

na região Centro-Oeste, empregando 307 (4%) trabalhadores no Saúde da Família 194 ACS, 54 auxiliares de enfermagem, 31 enfermeiros e 28 médicos. Desses, 225 (4,7%) responderam o questionário dessa pesquisa. 7. Fundação Zerbini A Fundação Zerbini é uma instituição sem fins lucrativos, atuando na prestação de serviços de saúde. Tem o Instituto do Coração (Incor) como exemplar hospital que ajuda a gerenciar junto com a SES e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É pioneira, junto com a Casa de Saúde Santa Marcelina, na implantação do PSF nas regiões Sudeste (Sapopemba) e Norte (Freguesia do Ó/Brasilândia), em parceria com a SES QUALIS. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua nas regiões Norte e Sudeste, empregando 510 (7%) trabalhadores no Saúde da Família 290 ACS, 110 auxiliares de enfermagem, 55 enfermeiros e 55 médicos. Desses, 309 (6,5%) responderam o questionário dessa pesquisa. 8. Hospital Israelita Albert Einstein O Hospital Albert Einstein é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, atuando na prestação de serviços de saúde, com importante inserção no Sistema Supletivo de Assistência Médica, mas desenvolve ações comunitárias na região na qual está inserido Sul. Tem programa de educação, na área de Enfermagem. Parceiro da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua só na região Sul, empregando 480 (6%) trabalhadores no Saúde da Família 365 ACS, 54 auxiliares de enfermagem, 34 enfermeiros e 27 médicos. Desses, 217 (4,6%) responderam o questionário dessa pesquisa. 9. Instituto Adventista de Ensino O Instituto Adventista de Ensino instituição sem fins lucrativos, atuando na prestação de serviços educacionais e comunitários na região Sul há longo tempo. Parceiro da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua na região Sul, emprega 510 (7%) trabalhadores no Saúde da Família 359 ACS, 66 auxiliares de enfermagem, 49 enfermeiros e 36 médicos. Desses, 335 (7,1%) responderam o questionário dessa pesquisa.

10. Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo A Irmandade da Santa Casa de São Paulo é uma Instituição filantrópica, secular, com longa tradição na prestação de serviços de saúde e educacionais na área médica, em particular. Tem parcerias com o Poder público nos vários níveis de governo. É qualificada com Organização Social em Saúde pela SES, gerenciando um hospital na região de Guarulhos. O Hospital da Santa Casa de São Paulo é de alta complexidade e os serviços que ele presta é referência universitária e tem uma inserção importante nas regiões Centro e Norte de São Paulo. Nesta, a Santa Casa também possui dois serviços hospitalares Hospital São Luiz Gonzaga e o Hospital Geriátrico D. Pedro. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua só nas regiões Norte e Centro-Oeste, empregando 147 (2%) trabalhadores no Saúde da Família 91 ACS, 29 auxiliares de enfermagem, 15 enfermeiros e 12 médicos. Desses, 87 (1,8%) responderam o questionário dessa pesquisa. 11. Organização Santamarense de Educação E Cultura UNISA A UNISA (Universidade Santo Amaro) tem como mantenedora a Organização Santamarense de Educação e Cultura, que é sem fins lucrativos, atuando na prestação de serviços educacionais e de saúde. É qualificada como Organização Social em Saúde pela SES, gerenciando um hospital público estadual na região Sul. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua só na região Sul, empregando 309 (4%) trabalhadores no Saúde da Família 171 ACS, 70 auxiliares de enfermagem, 35 enfermeiros e 33 médicos. Desses, 204 (4,3%) responderam o questionário dessa pesquisa. 12. Universidade Federal de São Paulo UNIFESP A UNIFESP é uma Instituição que se caracteriza com universitária, pública, que presta serviços de saúde de alta complexidade e desenvolve programas de ensino na área da saúde graduação e pós-graduação. Tem programa de residência médica em Medicina de Família e Comunidade. Parceira da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo para a implantação do PSF, atua em três regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste -, empregando 782 (10%) trabalhadores no Saúde da

Família 491 ACS, 137 auxiliares de enfermagem, 79 enfermeiros e 75 médicos. Desses, 506 (10,7%) responderam o questionário dessa pesquisa. Instrumentos Utilizados na Pesquisa: A metodologia foi complexa, pois articulou três tipos de instrumentos de coleta de dados: em primeiro lugar, um questionário de caráter diretivo e pré-codificado; em seguida uma escala de opiniões para medir a satisfação do entrevistado, e por fim, questões abertas que exploram as razões da satisfação, das escolhas profissionais e pelo PSF, planos para futuro e sugestões para o PSF. Abordou cinco tópicos através de 45 perguntas, sendo as 22 iniciais fechadas e précodificadas, as 17 seguintes destinadas a construção de uma escala de opinião (com 5 graduações cada uma e 1 para o entrevistado concluir sobre seu grau de satisfação), e as 6 perguntas finais apresentadas, como questões abertas, para o entrevistado justificar suas opiniões e decisões profissionais. As 22 perguntas fechadas e pré-codificadas permitiram obter informações sobre: 1. Localização das Unidades de Saúde em que os entrevistados trabalham (3 perguntas): nome, instituição parceira, subprefeitura coordenadoria de saúde; 2. Dados pessoais do entrevistado (8 perguntas): sexo, idade, estado civil, número de filhos, local de nascimento, escola cursada (pública/privada), tempo de formado, formação após a graduação (as duas últimas aplicadas apenas aos médicos e enfermeiros das equipes); 3. Local de Moradia e Transporte para o Trabalho no PSF (3 perguntas): para obter informações sobre a moradia do entrevistado (região, meio de transporte usado para chegar ao trabalho, tempo gasto para chegar ao trabalho); 4. O trabalho no PSF (6 perguntas): tempo de trabalho, forma de contratação, cursos freqüentados, trabalho em outras unidades do PSF (se alguma fora do município de São Paulo) em quantos locais trabalha atualmente; 5. Experiência Profissional Anterior (2 perguntas): se já teve e em que tipo de instituição de saúde;

Plano de Análise dos Dados: Cabe ressaltar que, no momento da análise dos dados, (Consultoria UNESCO 2005) a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo foi dividida cinco Coordenadorias Regionais de Saúde, abrangendo a área de mais de uma Subprefeitura, que passaram a existir a partir de 2005, na Administração do Prefeito José Serra, sendo Secretário Municipal de Saúde, Dr. Cláudio Lotemberg, e Coordenadora de Atenção Básica, Dra. Maria da Glória Zenha Wieliczka. São elas: Coordenadoria Regional de Saúde Norte, Coordenadoria Regional de Saúde Leste, Coordenadoria Regional de Saúde Centro- Oeste, Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste e Coordenadoria Regional de Saúde Sul.

MÉDICOS EM SAÚDE DA FAMILÍA NA CIDADE DE SÃO PAULO Dr. Paulo Henrique D Angelo Seixas 1 INTRODUÇÃO Este relatório tem como propósito apresentar uma descrição dos dados coletados junto aos médicos atuando no PSF no município de São Paulo em dois períodos distintos: primeiramente será apresentada a descrição do material coletado no ano de 1999, que traçou o perfil do conjunto de profissionais vinculados ao Programa QUALIS (Qualidade Integral em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo) no município de São Paulo e entrevistou 9 médicos das diferentes regiões da cidade (norte, leste e sudeste) onde atuavam os parceiros da SES naquele momento (Casa se Saúde Santa Marcelina e Fundação Zerbini); em seguida será apresentado outro levantamento, de 2004, realizado junto aos trabalhadores do Programa de Saúde da Família (Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo), que traçou novamente o perfil destes profissionais e levantou informações sobre a percepção e os sentidos atribuídos pelos médicos ao trabalho em atenção básica dentro da estratégia de saúde da família. Os instrumentos de entrevista, de forma geral, foram estruturados com roteiros de perguntas que procuraram levantar informações sobre os seguintes elementos que levassem ao entendimento das percepções e concepções dos trabalhadores: objetivos a serem atingidos pela estratégia de saúde da família; trabalho em equipe e atribuições dos componentes da equipe; motivos razões para trabalhar no QUALIS e no PSF; capacitação para o trabalho; condições de trabalho percebidas; dificuldades encontradas no trabalho; e, satisfação da população quanto ao programa. Na primeira pesquisa (QUALIS, 1999), os entrevistados responderam a um roteiro semi-estruturado de perguntas e as informações foram gravadas em fita magnética, tendo sido posteriormente submetidas à transcrição. Já na pesquisa realizada junto aos médicos do PSF, o instrumento de coleta de dados estava composto pelas seguintes técnicas: um questionário com perguntas objetivas sobre informações sóciodemográficas, uma escala de satisfação sobre determinados itens relacionados ao trabalho e um questionário com um conjunto de nove perguntas abertas que versavam sobre condições de trabalho e perspectivas futuras em relação ao trabalho. 1 Coordenador de DRH da SES/SP e docente da FCMSCSP.

Apesar da diferença nas técnicas empregadas, as informações coletadas permitiram apreender o perfil profissional dos médicos nas equipes de saúde da família, bem como seus anseios, expectativas, dificuldades e visão do futuro em relação ao seu trabalho, permitindo identificar, como o devido cuidado metodológico, as transformações ocorridas ao longo deste período e como conseqüência, como evoluíram as questões para as políticas públicas na implantação desta estratégia no município de São Paulo na última década. Em ambos os estudos a questão/ motivação inicial ao trabalhar com os médicos de família foi o de conhecer quem eram estes profissionais que se dispunham a vir trabalhar em um projeto com uma proposta tão diferenciada em relação às práticas vigentes, tanto em relação àquelas desenvolvidas no setor privado, como às já tradicionalmente desenvolvidas na própria atenção básica no setor público, tendo em vista as seguintes proposições do PSF para o médico de família: no plano individual - reintegração da prática clínica, perda da proteção institucional, recuperação do vínculo com a clientela e das dimensões psico-afetiva e social da prática; no plano coletivo - objeto de ação sobre a comunidade e sobre a família, incorporação da epidemiologia e do planejamento, normatização de práticas; no plano institucional de trabalho - a ação conjunta com outros agentes, a dimensão do trabalho em equipe, a autonomia reconstruída e remediatizada. Assim, identificava-se a necessidade de um rearranjo de práticas, rearranjo de objetos de trabalho, incorporação de novos conhecimentos, atitudes e habilidades. A partir do profissional que se tem hoje. Esta reorganização do trabalho se desenvolve de diferentes formas: trabalho em tempo integral, delimitação da área de atuação e adscrição de clientela, cadastramento das famílias e utilização de um sistema de informações previamente estruturado, dirigido ao diagnóstico de saúde desta população, a ao acompanhamento regular de suas atividades da equipe, incorporação na equipe de vários agentes da comunidade, redução das intermediações entre médico e comunidade atendida pela simplificação radical da equipe assistencial.

Entendendo-se que o trabalho realizado pelos diferentes agentes depende tanto das competências profissionais definidas e fomentadas, como de suas características socioculturais prévias, essas também se traduzindo em concepções e representações referentes ao próprio trabalho, é importante a obtenção de dados diretos capazes de viabilizar a compreensão dessas dimensões. Assim, ainda que muito provavelmente tais questões não estivessem colocadas desta forma na mente e nos corações daqueles médicos quando vieram trabalhar no QUALIS, conhecer qual seu perfil sóciodemográfico e profissional, suas experiências anteriores, origem, formações, e principalmente, expectativas e representações sobre esta nova prática, bem como sobre as formas relatadas de organizar seu trabalho para fazer frente àqueles desafios, seriam aspectos fundamentais para criticar e orientar as políticas públicas de implantação desta proposta de reorganização da atenção básica no país em particular em grande centros urbanos, para além do discurso ideal frequentemente apresentados pelos gestores. O estudo QUALIS compreendeu a utilização de dois momentos um dirigido a traçar o perfil dos médicos de família em atividade em 1999, pareando-os depois com os dados referentes a pesquisa Perfil dos Médicos no Brasil, realizada pelo MS/ENSP/FIOCRUZ para o município de São Paulo em 1995. Um segundo momento foi a realização de uma entrevista com 9 médicos de diferentes equipes escolhidas, atuando em cada uma das regiões em que estavam presentes os parceiros da SES na condução do programa Fundação Zerbini e Casa de Saúde Santa Marcelina. 1.1 - O PERFIL DOS MÉDICOS DO QUALIS - 1999 Nesta etapa do trabalho, estaremos apresentando os resultados referentes ao perfil identificado dos médicos de família em atividade até Julho de 1999, em ambas as parcerias existentes com a Secretaria Estadual de Saúde, para o gerenciamento dos Programas QUALIS. Assim, os dados apresentam o perfil dos profissionais do QUALIS Santa Marcelina do QUALIS Zerbini separadamente. Metodologia

As informações foram colhidas tomando-se por base os currículos apresentados para o processo seletivo dos profissionais. Tal procedimento tornou o processo um pouco mais demorado do que o previsto inicialmente, na medida em que parte destes currículos não estavam disponíveis e tiveram que ser solicitados aos próprios profissionais. Algumas informações foram colhidas da ficha cadastral do profissional no órgão de recursos humanos da instituição, quando não havia a disponibilidade do currículo. Foram considerados os médicos de família em atividade no QUALIS; tempo de trabalho no QUALIS; sexo, idade, estado civil, local de nascimento, região e escola de graduação médica, especialidade médica, tipo de especialização e experiência profissional (anos de formado). Paralelamente, estes dados foram organizados de forma a permitir a comparação com os dados referentes a uma recente pesquisa realizada nacionalmente pelo Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira e Fundação Osvaldo Cruz, que resultou no Perfil dos Médicos no Brasil. Os dados foram então comparados com o perfil dos médicos encontrado na época 1995, no município de São Paulo. Resultados Dos 162 médicos que estavam, ou já haviam trabalhado no Programa QUALIS foram analisados os dados referentes a 73 (94%) dos 77 médicos de família em atividade em Julho de 1999. Um primeiro dado que se pode observar é que o tempo médio de permanência dos profissionais em atividade é igual no QUALIS Santa Marcelina e no QUALIS Zerbini, mas o tempo de trabalho daqueles que foram desligados é maior no QUALIS Santa Marcelina., o que poderia sugerir uma rotatividade maior no QUALIS Zerbini. Esta observação entretanto não pode ser realizada na medida em que o tempo de contratação das equipes é diferente para os dois projetos, e portanto a rotatividade só poderia ser analisada, tomando-se cada posto de trabalho, ou Unidade de Saúde da Família individualmente. Isto não foi realizado em função dificuldades para a obtenção das informações.

Em termos de distribuição por sexo, a participação tende a ser equivalente, indicando uma identificação com a proposta não diferenciada em termos de gênero. Por outro lado, comparado-se com o total dos médicos em atividade na capital, a participação feminina é evidentemente superior 50% no QUALIS e 35% na capital. No nosso entender, isto reflete, principalmente, o processo de feminização da profissão como um todo, em anos recentes, na medida em que a faixa etária dos participantes do projeto se concentra em indivíduos mais jovens. No que diz respeito à faixa etária, cerca de 70% dos médicos do QUALIS tem até 39 anos, com uma forte concentração na faixa de 30 a 34 anos. É uma população consideravelmente mais jovem que a dos médicos em atividade na capital 52% tem até 39 anos. Entretanto, o que se observa não é uma concentração dos profissionais do QUALIS no início de carreira, mas tratam-se de profissionais jovens, porém com alguma experiência profissional prévia Isto pode ser confirmado também pela análise do tempo de formado dos participantes. No QUALIS, cerca de 75% dos profissionais tem de 5 a 24 anos de formado, o que é exatamente igual a concentração nesta faixa do conjunto dos profissionais da capital. Entretanto, para o conjunto do QUALIS, a participação de profissionais com faixas etárias mais avançadas (acima de 40 anos) ou maior tempo de profissão (acima de 25 anos de formado), é significativamente menor que na capital (cerca de 30% e 7%, respectivamente, no QUALIS, contra 48% e 19% na capital). O que pode significar que, ainda que o QUALIS possa estar se apresentando como um opção profissional para início de carreira de alguns segmentos médicos recémformados (até 4 anos de formados - 20% dos profissionais do QUALIS, contra 9% na capital), esta não tem sido a regra para a incorporação dos profissionais, na medida em que uma certa experiência crítica sobre a prática e eventualmente uma certa qualificação profissional podem ser desejáveis. Ao mesmo tempo, parece evidente, que o QUALIS, dado o envolvimento que exige por parte dos profissionais, ou a faixa de remuneração oferecida, não tem sido capaz de atrair aqueles com maior tempo de profissão, ou eventualmente já aposentados, com maior disponibilidade de tempo, conforme previam algumas expectativas iniciais. Por outro lado, o QUALIS tem, frente à origem dos profissionais e ao seu local de graduação, uma composição menos concentrada, em termos de participação percentual, que a do conjunto dos profissionais que atuam na capital. Assim, enquanto 45% dos profissionais que atuam na capital são formados pelas Faculdades de