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Transcrição:

www.spbancarios.com.br nº 106 setembro de 2005 CRISE POLÍTICA RICARDO BERZOINI FALA DA NECESSIDADE DE INVESTIGAR TUDO NEM PARECE BANCO OS LUCROS CONTINUAM EM ALTA, MAS A IMAGEM... CONTADORES DE HISTÓRIA TRADIÇÃO MILENAR QUE ENCANTA A CRIANÇADA SAI DA FRENTE Sem alarde da mídia, a polícia de São Paulo mata em confronto durante um ano mais que toda a polícia dos Estados Unidos

CARTAAOLEITOR Publicação mensal do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região Rua São Bento, 413, Centro, São Paulo, CEP 01011-100, (11) 3188-5200. www.spbancarios.com.br Telefones Sede: 3188-5200. Oeste: 3814-2583. Norte: 6979-7720. Leste: 6191-0494. Sul: 5641-6733. Paulista: 3284-7873. Osasco: 3682-3060. Centro: 3188-5295 Presidente Luiz Cláudio Marcolino Diretor de Imprensa Hugo Tome Aquino Diretoria Adozinda Praça de Almeida, Adriana Oliveira Magalhães, Aladim Takeyoshi Iastani, Alexandre de Almeida Bertazzo, Alexandro Tadeu do Livramento, Ana Paula da Silva, Ana Tércia Sanches, André Luis Rodrigues, Antonio Alves de Souza, Antônio Inácio Pereira Junior, Antonio Joaquim da Rocha, Antonio Saboia Barros Junior, Bruno Beneduce Padron, Camilo Fernandes dos Santos, Carlos Miguel Barreto Damarindo, Clarice Torquato Gomes da Silva, Claudio Luis de Souza, Cleuza Rosa da Silva, Daniel Santos Reis, Daniela Santana da Costa, Denis Helena Rivas, Edison José de Oliveira, Edson Carneiro da Silva, Edvaldo Rodrigues da Silva, Elaine Cutis Gonçalves, Elias Cardoso de Morais, Ernesto Shuji Izumi, Fabiola Bertosse de Lima, Flavio Ferraz Dutra, Flávio Monteiro Moraes, Irinaldo Venancio de Barros, Ivone Maria da Silva, Jackeline Machado, João de Oliveira, João Gomes da Silva, João Paulo da Silva, João Vaccari Neto, José do Egito Sombra, José Osmar Boldo, Jozivaldo da Costa Ximenes, Juarez Aparecido da Silva, Juvandia Moreira Leite, Karina Carla Pinchieri Prenholato, Leandro Barbosa da Silva, Leonardo Martins Pereira, Luiz Carlos Costa, Manoel Elidio Rosa, Marcelo Defani, Marcelo Gonçalves, Marcelo Peixoto de Araujo, Marcelo Pereira de Sá, Marco Antonio dos Santos, Marcos Antonio do Amaral, Marcos Roberto Leal Braga, Maria Cristina Castro, Maria Cristina Corral, Maria do Carmo Ferreira Lellis, Maria Helena Francisco, Maria Selma do Nascimento, Mario Luiz Raia, Marta Soares dos Santos, Mauro Gomes, Neiva Maria Ribeiro dos Santos, Nelson Ezidio Bião da Silva, Nelson Luis da Silva Nascimento, Onísio Paulo Machado, Osmar Rodrigues de Carvalho Junior, Paulo Roberto Salvador, Paulo Rogério Cavalcante Alves, Rafael Vieira de Matos, Raimundo Nonato Dantas de Oliveira, Raquel Kacelnikas, Ricardo Correa dos Santos, Ricardo de Almeida Sartori, Rita de Cassia Berlofa, Rogerio Castro Sampaio, Roseane Vaz Rodrigues, Rubens Blanes Filho, Sandra Regina Vieria da Silva, Tania Teixeira Balbino, Vagner Freitas de Moraes, Valdir Fernandes, Vera Lucia Marchioni, Walcir Previtale Bruno, Washington Batista Farias, William Mendes de Oliveira Diretores honorários Ana Maria Érnica, José Ricardo Sasseron, Maria da Glória Abdo, Sérgio Francisco da Silva Editores Maria Angélica Ferrasoli - MTb 17.299 Frédi Vasconcelos (interino) Vander Fornazieri - MTb 20.301 Impressão e CtP Bangraf (11) 6947-0265 Capa Foto de Jailton Garcia Tiragem 100 mil exemplares. Distribuição domiciliar gratuita aos associados VANDER FORNAZIERI FLOR NA MÃO E DINHEIRO NO BOLSO Os bancários também querem colher sua parte nos lucros que estão fazendo a alegria dos banqueiros Aestação em que a natureza se renova é também o momento de os bancários buscarem, na campanha salarial, mais salário, PLR, direitos. E de participar em busca de algo que dura o ano todo. Para isso a nova diretoria do Sindicato, que assumiu em julho, está criando diversos mecanismos para estimular ainda mais a interação com a categoria. Participação também estimulada pelo Ministério Público Democrático, que colabora para que as pessoas conheçam seus direitos, nem sempre respeitados. Como no caso da polícia paulista, que mata primeiro para perguntar depois, principalmente quando a vítima é pobre e mora na periferia. Tudo sem a devida apuração e atenção da mídia. Os mesmos veículos de comunicação que fazem seu papel de denunciar escândalos, mesmo que na pressa em condenar cometam erros e nem sempre revelem os interesses por trás de cada notícia. Mas cabe a todos, neste momento de grave crise política, exigir apurações e punições rigorosas para todos os envolvidos em irregularidades e crimes. Para que o país também possa se renovar e buscar justiça, principalmente a justiça social esquecida por séculos. A diretoria revista@spbancarios.com.br REVISTA DOS BANCÁRIOS 3

DESTAQUE CAMPANHA SALARIAL DOS BANCÁRIOS TOMA AS RUAS A campanha salarial deste ano começou com passeata pelas ruas do Centro em 11 de agosto, data em que foram entregues as reivindicações da categoria aos banqueiros da Fenaban. Na pauta estão as 100 cláusulas da convenção coletiva, entre as principais estão reajuste de 11,77% (5,69% de inflação projetada para o período e 5,75% de aumento real), PLR melhor, emprego, condições de trabalho e saúde. As reivindicações podem ser consultada no site do Sindicato, www.spbancarios.com.br Queremos nossa parte na lucratividade dos bancos e reconhecimento pelo esforço que fazemos todos os dias, afirma Juvandia Moreira Leite, secretária geral do Sindicato. Optamos neste ano por uma proposta que mescla aumento real e uma PLR melhor para todos, conclui. FOTOS: GERARDO LAZZARI Vamos conquistar essa primavera é o tema da campanha deste ano. Acima a passeata pelo Centro e a entrega da minuta de reivindicações à Fenaban 4 REVISTA DOS BANCÁRIOS

NOVA PROPOSTA DE PLR Cem por cento do salário mais o valor fixo de R$ 788 mais 5% do lucro líquido das empresas a ser distribuído linearmente entre os funcionários. Essa é a nova proposta de Participação nos Lucros e Resultados aprovada durante a 7ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro. A justificava é que nos últimos anos vem aumentando o lucro das empresas e caído o percentual desembolsado para os trabalhadores. Se em 1995 ou 1996 os bancos gastavam cerca de 12% de seu lucro líquido, no ano passado eles despenderam em média de 7% a 8%. Com a nova regra, voltariam a se aproximar dos percentuais distribuídos na década passada e aumentaria a remuneração de todos os bancários. CONQUISTAR A PRIMAVERA Na primeira manifestação da campanha salarial, os bancários tomaram as ruas e divulgaram o mote da campanha: Vamos conquistar essa primavera. Para a população foi lembrado também que Banqueiro não é flor que se cheire e distribuída carta aos clientes, que destacava:...não estamos satisfeitos com essa realidade, na qual uma política econômica beneficia banqueiros em detrimento dos demais segmentos da sociedade. Nós estamos ao lado do povo, solidários na luta pela diminuição dos juros, do desemprego, das tarifas bancárias e das filas nas agências. Você pode não perceber, NOSSA CAIXA PÁRA Paralisação de um dia foi recado para a direção do banco Cerca de trinta agências da Nossa Caixa pararam no dia 12 de agosto em São Paulo. Segundo a diretora do Sindicato Raquel Kacelnikas, a direção da Nossa Caixa quer atacar os nossos direitos. Tem uma postura burra na forma de direcionar seu projeto, valorizando quantidade em vez de qualidade nos resultados. mas a cada dia mais e mais bancários sofrem para prestar um atendimento digno aos clientes. Em contrapartida, os bancos oferecem a exploração e a pressão insuportável para cumprir metas igualmente insuportáveis. Por isso explora o bancário não pagando hora extra e quer apenas fazer número com o suor dos trabalhadores, diz. Nesta atividade, como na anteriores, a direção do banco, acionou a PM de Alckmin, que mostrou toda a sua truculência. Mesmo assim os bancários deram seu recado. GERARDO LAZZARI NEGOCIAÇÃO COM BANCOS FEDERAIS Para a discussão da pauta específica de reivindicações, os representantes dos empregados da Caixa Federal reuniram-se no dia 10 de agosto com a direção da Caixa Federal. Pelos bancários, participaram os membros do Comando Nacional, da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE-Caixa) e o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino. Foram entregues as reivindicações aprovadas pelo 21º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef), realizado em julho último. Para o presidente da CNB/CUT, Vagner Freitas, existe a necessidade de essas negociações produzirem resultados efetivos, uma vez que as discussões com a empresa, até aqui, não correspondem às expectativas das lideranças sindicais e, tampouco, às dos bancários da Caixa. A negociação específica com a direção do Banco do Brasil estava marcada para começar após o fechamento desta edição. FGTS: R$ 22 MILHÕES RECUPERADOS Mais de 5,5 mil pessoas já se beneficiaram da ação do FGTS que garante o pagamento integral das perdas inflacionárias dos planos Verão (42,72%) e Collor (44,8%). No total de onze lotes, a soma recuperada já atingiu a casa dos R$ 22 milhões. A conquista obtida pelo Sindicato na Justiça é histórica para a categoria. Para fazer a requisição é necessário preencher formulário e apresentar cópias do PIS, RG e das páginas da Carteira Profissional (nas quais constem foto,dados pessoais e registro dos empregadores de 1989, 1990 e 1993). É necessário marcar horário junto à Central de Atendimento Telefônico, pelo 3188-5200. Para saber mais acesse www.spbancarios.com.br Não tem direito à ação quem aderiu ao acordo de 2001 ou que já tenha recebido em ação individual. ASSEMBLÉIA EM SÃO PAULO Depois da discussão e aprovação em congressos estaduais em todo o país e na sétima Conferência Nacional dos Bancários, a minuta de reivindicações desta campanha salarial foi aprovada na quadra do Sindicato com a participação de cerca de 500 bancários. Fora as cláusulas econômicas, foi aprovada por ampla maioria a estratégia de negociação conjunta com bancos públicos e privados, deixando apenas os pontos específicos para negociações separadas. Bancários aprovam minuta que foi entregue aos banqueiros JAILTON GARCIA REVISTA DOS BANCÁRIOS 5

SINDICATO FOTOS: GERARDO LAZZARI ENERGIA RENOVADA Nova diretoria do Sindicato assume e dá início à campanha salarial Passeata pelas ruas do Centro no dia 11 de agosto: primeira atividade Na campanha salarial e em todos os momentos dos próximos três anos, a prioridade da diretoria que tomou posse em julho passado é aproximar-se cada vez mais do dia-a-dia do local de trabalho para ajudar a resolver problemas e fortalecer a categoria para novas conquistas. Para isso, conta com bancários de todos os bancos, distribuídos por todas as regionais do Sindicato. Além desse atendimento descentralizado, outra possibilidade de entrar em contato é por meio da página do Sindicato na internet (www.spbancarios.com.br), que foi reformulada e permite enviar mensagens a todos os diretores. Basta ir à página principal, clicar em seu banco e, depois, na foto do diretor, para dar o seu recado. Todas essas medidas são para facilitar o contato dos bancários com a diretoria, melhorar a interlocução com a categoria para podermos saber seus problemas, ajudar a resolvê-los e representar a todos da melhor maneira possível, afirma Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato. Esse contato é importante na busca de nosso principal objetivo, que é melhorar as condições de trabalho e organizar a categoria para a conquista de uma sociedade mais justa. O contato permanente também é importante neste momento de campanha salarial. Antes da definição das reivindicações, por exemplo, foi feita consulta à categoria para saber quais eram os principais pontos, como reajuste, proposta de PLR etc. E a idéia é continuar com essas enquetes em todos os momentos decisivos. Queremos que os bancários participem e conheçam cada passo das negociações. Por causa das limitações que muitos têm de tempo e deslocamento é necessário buscar novas formas de participação para conquistarmos resultados melhores, diz Marcolino. A nova diretoria mistura experiência com renovação: cerca de 30% participam pela primeira vez da entidade e praticamente metade são mulheres, que têm representação importante também na direção executiva. Há ainda bancários de todos os principais bancos públicos e privados. Desde a formação da chapa, o objetivo foi termos a mais ampla representação possível. Mas o Sindicato não é só seus diretores, é cada bancário em seu local de trabalho, nas atividades promovidas pela diretoria e nas lutas por novas conquistas e melhores condições de trabalho, que faz a diferença. Por isso queremos cada vez mais a participação de todos, conclui Luiz Cláudio Marcolino. 6 REVISTA DOS BANCÁRIOS

BANCÁRIOS DE TODOS OS BANCOS Veja quem faz parte da nova diretoria do Sindicato Diretoria executiva Presidente Luiz Cláudio Marcolino (Itaú) Secretária Geral Juvandia Moreira Leite (Bradesco) Secretária de Finanças Ivone Maria da Silva (Unibanco) Secretária de Organização e Suporte Administrativo Rita de Cássia Berlofa (Santander Banespa) Secretário de Imprensa e Comunicação Hugo Tomé Aquino (Banco do Brasil) Secretário de Formação Sindical André Luis Rodrigues (Itaú) Secretária de Estudos Sócio-Econômicos Ana Tércia Sanches (Itaú) Secretaria de Assuntos Jurídicos Individuais Antonio Saboia Barros Junior (Nossa Caixa) Secretário de Assuntos Jurídicos Coletivos Daniel Santos Reis (Unibanco) Secretário de Saúde e Condições de Trabalho Walcir Previtale Bruno (Bradesco) Secretário de Relações Sindicais e Sociais Paulo Roberto Salvador (Santander Banespa) Secretário Cultural Manoel Elidio Rosa (Unibanco) Banco do Brasil Cláudio Luis de Souza Ernesto Shuji Izumi Fabíola Bertosse de Lima José Ricardo Sasseron Leandro Barbosa da Silva Leonardo Martins Pereira Osmar Rodrigues de Carvalho Júnior Rafael Vieira de Matos William Mendes de Oliveira ABN Real Karina Carla P. Prenholato Marcelo Gonçalves Maria do Carmo Ferreira Lellis Roseane Vaz Rodrigues Caixa Federal Alexandro Tadeu do Livramento Denis Helena Rivas Edvaldo Rodrigues da Silva Jackeline Machado João Gomes da Silva Sérgio Francisco da Silva (Cons. Funcef) Banco Mercantil do Brasil Ana Paula da Silva Bradesco Adozinda Praça de Almeida Alexandre de Almeida Bertazzo Antonio Joaquim Rocha Edson Carneiro da Silva Elaine Cutis Gonçalves João Paulo da Silva Jozivaldo da Costa Ximenes Luiz Carlos Costa Marcelo Defani Marcelo Peixoto de Araújo Marcos Antonio do Amaral Marcos Roberto Leal Braga Maria Cristina Corral Neiva Maria Ribeiro dos Santos Ricardo Correa dos Santos Rubens Blanes Filho Sandra Regina Vieira da Silva Vagner Freitas (Pres. CNB-CUT) Unibanco Carlos Miguel B. Damarindo Clarice Torquato Elias Cardoso de Morais José do Egito Sombra Antonio Alves de Souza Mauro Gomes Nelson Ezidio Bião da Silva Rogério Castro Sampaio BankBoston Marco A. dos Santos HSBC Cleuza Rosa da Silva Nelson Luis da S. Nascimento Paulo Rogério Cavalcante Alves Valdir Fernandes Nossa Caixa Bruno B. Padron Irinaldo Venâncio de Barros Maria da Glória Abdo (honorária) Raquel Kacelnikas Ricardo de Almeida Sartori Tania Teixeira Balbino Washington Batista Farias Safra Flávio Monteiro Moraes Itaú Adriana Oliveira Magalhães Aladim Takeyoshi Iastani Antônio Inácio Pereira Junior Juarez Aparecido da Silva Maria Cristina Castro Maria Helena F. dos Santos Marta Soares dos Santos Onísio Paulo Machado Santander Banespa Ana Maria Érnica Camilo Fernandes dos Santos Daniela Santana da Costa Edison José de Oliveira Flavio Ferraz Dutra João Oliveira (Sec. Geral CUT-SP) João Vaccari Neto (Pres. Bancoop) José Osmar Boldo Marcelo Pereira de Sá Maria Selma do Nascimento Mario Luiz Raia Raimundo Nonato D. de Oliveira Rita de Cássia Berlofa Vera Lucia Marchioni JAILTON GARCIA REVISTA DOS BANCÁRIOS 7

BANCOS ESPELHO, ESPELHO MEU... Para melhorar a imagem, os bancos realmente precisam parar de parecer bancos. Precisam mesmo ouvir mais a sociedade. E, para isso, nem precisam fazer mais que o possível Por Paulo Donizetti de Souza OProcon de São Paulo acaba de conseguir sensibilizar a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a participar de uma Câmara Técnica de Consumo para discutir como melhorar o atendimento aos clientes e usuários. O banco Itaú, aos 60 anos, descobriu que pode ser bom ouvir você. O Real garante que é possível fazer mais que o possível. Alguma coisa estranha está acontecendo. Será que o sistema bancário brasileiro um dos mais sólidos, confiáveis, modernos, rentáveis e antipáticos do mundo resolveu se dispor, enfim, a discutir a relação? Afinal, o setor nunca foi visto com bons olhos pela sociedade. Um dos pontos mais altos dessa disposição à autocrítica pode ser visto na recente estratégia de marketing do Unibanco: nem parece banco. O diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Paulo Sérgio Quartiermeister, vê na estratégia ousadia e bom senso. O banco não só está construindo uma nova identidade visual, buscando melhorar e humanizar sua aparência, como está assumindo compromissos e desafios. Fala em taxas menores, em prazo de cinco dias para ressarcir um segurado, comenta. É ousado porque, se não entregar o que promete, pode se dar mal. E tem bom senso porque encara o fato de a imagem dos bancos não ser das melhores. As pessoas pagam para não ir a banco. Na sociedade, banco é uma coisa negativa, 8 REVISTA DOS BANCÁRIOS

avalia Quartiermeister, que também é professor de gestão de marcas na ESPM. E para cuidar das imagens e das marcas, haja maquiagem. O mundo dos negócios avalia, de acordo com um estudo da empresa de consultoria inglesa Interbrand, especializada em marcas, que somente a marca do Itaú vale cerca de 1,3 bilhão de dólares. A do Bradesco, 856 milhões. Do Banco do Brasil, 600 milhões. Unibanco, 235 milhões. Banco Real, 187 milhões de dólares. A reportagem da RdB tentou ouvir a direção do Unibanco sobre a abrangência da estratégia, mas não obteve retorno. Segundo entrevista com o diretor de pessoas e comunicação corporativa, Marcos Caetano, publicada no site da revista Meio&Mensagem, as pesquisas mostram que os consumidores têm percepções negativas com relação aos bancos: Achamos que era hora de encarar isso de frente. Em vez de falar de coisas distantes da realidade do usuário, vamos falar de problemas e assumir o compromisso de resolvê-los. Já em matéria de O Estado de S.Paulo, no final de maio, o diretor explica que o desafio constituído após pesquisas sobre as principais queixas junto a 2 mil clientes da instituição é liderar toda a categoria a uma nova postura. Isso só pode ser feito se admitirmos que os bancos têm problemas e assumirmos o desafio de resolvê-los. Missão impossível As queixas apuradas pela pesquisa do Unibanco burocracia, tarifas pesadas, juros altos, atendimento melhor para quem tem dinheiro e péssimo para quem tem pouco podem também ser encontradas nas listas de reclamações do Procon, que destaca ainda, nesse rol, problemas com as transações efetuadas por meios eletrônicos e o envio de cartões sem solicitação do cliente. De acordo com o chefe de gabinete do Procon-SP, Vinícius Zwarg, os bancos são o segundo segmento mais reclamado, só perdem para telefonia. A sociedade está mudando, as leis vão se aprimorando, mas o setor bancário apresenta muito pouca mobilidade e concorrência praticamente não há. E as pessoas estão mudando em termos de consciência de seus direitos e de educação para o consumo, acredita Zwarg. Para ele, o ranço da sociedade em relação ao sistema financeiro decorre, em parte, também do fato de que nem tudo que acontece no setor, apesar de legal, é bem visto, como os altos lucros e as altas tarifas. O Brasil não tem política de crédito, as pessoas têm medo de tomar crédito e os bancos, por exemplo, ganham muito com os juros. Nem sempre quem está sufocado pelo cheque especial é orientado pelo banco sobre como diminuir ou eliminar seu endividamento. O chefe de gabinete do Procon lembra que os bancos ainda mantêm ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Fedeal para não ter de responder ao Código de Defesa do Consumidor, mas considera que essa tese está começando a ser superada na prática. A própria disposição da Febraban em participar da Câmara Técnica que discutirá co- insaciáveis A imagem dos bancos deixa a desejar, mas seus números são uma beleza (em R$ milhões). Em vários deles as receitas com tarifas superam as despesas com pessoal. No Itaú a relação chega a inacreditáveis 196%. 2000 2004 1º sem 2005* BRADESCO Receita Tarifas 2.480 4.170 3.400 Rec/desp. pessoal 108,2% 99,2% 140% Lucro 1.740 3.060 2,621 Rentabilidade 21,5% 20,1% 34,9% ITAÚ Receita Tarifas 2.172 6.165 3.645 Rec/desp. pessoal 158,3% 185,7% 196% Lucro 1.830 3.775 2.475 Rentabilidade 25,6% 27,0% 35% UNIBANCO Receita Tarifas 910 1.559 1.560 Rec/desp. pessoal 114,0% 104,6% 170% Lucro 739 1.283 854 Rentabilidade 13,4% 15,8% 21,4% BANESPA Receita Tarifas 469 1.270 778 Rec/desp.pessoal 20,6% 95,5% Lucro 2.085 1.750 878 Rentabilidade 2,5% 30,7% 32,4% BANCO DO BRASIL Receita Tarifas 3.434 6.114 4.085 Rec/desp. pessoal 61,4% 87,0% 119,6% Lucro 974 3.024 1.979 Rentabilidade 12,2% 21,4% 29,6% REAL Receita Tarifas 803 1.593 Rec/desp. pessoal 69,9% 95,7% Lucro 257 625 404 Rentabilidade 5,5% 7,3% HSBC Receita Tarifas 837 1.370 Rec/desp. pessoal 83,5% 99,9% Lucro 205 426 435 Rentabilidade 21,5% 18,3% NOSSA CAIXA Receita Tarifas 203 436 Rec/desp. pessoal 26,4% 36,7% Lucro 190 358 379 Rentabilidade 16,8% 16,6% 38,2% * De acordo com resultados divulgados até 15/08 REVISTA DOS BANCÁRIOS 9

Sete pecados capitais para a imagem dos bancos ORGULHO INVEJA GULA 1Os onze maiores ban-2assisticos do país, que haros nadarem de braçada Bradesco cresceu apenas aos bancos brasilei-3a base de correntistas do viam somado lucros de aguçou o apetite dos estrangeiros nos últimos anos. O meses deste ano em re- 6,5% nos primeiros seis R$ 1,3 bilhão em 1994, encerraram 2004 com HSBC terminou o século 20, lação ao primeiro semestre de 2004. Apesar dis- R$ 16,3 bilhões. No primeiro semestre deste 205 milhões no Brasil, fechou so, as receitas de servi- em 2000, com lucro de R$ ano, Bradesco, Itaú e 2004 com R$ 426 milhões e ços e tarifas cresceram Unibanco já alcançaram 73% do lucro de todo o ano passado. Com resultados assim, por que iriam ouvir o que a sociedade pensa sobre sua imagem? o primeiro semestre deste ano em R$ 453 milhões. O Real ABN Amro, com R$ 257 milhões, R$ 625 milhões e R$ 404 milhões, respectivamente. E ainda teve quem acreditasse que a chegada dos estrangeiros quatro vezes mais: 27%. Os R$ 3,4 bilhões cobrados dos clientes bancaram em quase uma vez e meia todas as despesas com pessoal (entre as quais se incluem as com seria bom para tra- indenizações pelas mi- zer alguma concorrência ao lhares de demissões). setor. 10 REVISTA DOS BANCÁRIOS

mo melhorar essa relação de consumo já é um sinal de amadurecimento. No entanto, na opinião do presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, novidades nas campanhas publicitárias ou em produtos não bastam: a imagem dos bancos está longe de mudar. Segundo Rodrigues, o preço dos produtos bancários é muito elevado. Nos empréstimos, os consumidores chegam a pagar em um mês toda inflação de um ano inteiro. Além disso, as receitas de serviços ganham cada dia mais peso no ganho total dos bancos. Em 1994, essas receitas, que incluem as tarifas bancárias, representavam 4% do faturamento total. Hoje, esse número saltou para 20%. Isso representa, em média, mais de 110% da folha de pagamento dos bancos. Juros altos O Tesouro Nacional também é uma fonte gorda de recursos. Só para lembrar, o governo anterior iniciou em janeiro de 1999 com a taxa Selic a 25% ao ano e chegou ao pico de 45% em março daquele ano; atravessou os dois anos seguintes oscilando de 15,5% a 19%; e passou o bastão na casa dos 25%. Já na atual gestão, bateu em 26,5% entre março e junho de 2003, chegou a ficar em 16% de abril a agosto do ano passado e em 19,75% até agosto último. É assim que os ganhos de tesouraria chegam a compor, em alguns casos, até um terço dos ganhos dos bancos. Negociando com títulos públicos, acabam botando menos dinheiro na economia do país. E pouco dinheiro é sinônimo de dinheiro caro. Acho que aí está um dos grandes fatores que provocam a indignação da sociedade em relação aos bancos. Eles cobram juros muito altos. O spread bancário médio no Brasil em 2004 era duas vezes maior que o da Argentina, três vezes maior que o da Rússia e nove vezes o dos Estados Unidos, diz o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino. As operações são legais, mas o setor produtivo e mesmo as pessoas físicas se sentem roubados. Por isso o lucro no setor financeiro tem impacto ruim na percepção da sociedade. O Sindicato manifestou interesse em participar da Câmara Técnica de Consumo junto com a Febraban. O chefe de gabinete do Procon, Vinícius Zwarg, disse que a participação da entidade não foi vista como primordial no momento, já que não envolverá questões trabalhistas, mas de relação de consumo. Já para o presidente do Sindicato, os bancários vivem o cotidiano das agências e teriam muito a contribuir para melhorar a relação dos bancos com os consumidores. O problema é que os trabalhadores são tratados pelos bancos como máquinas de cumprir metas, não como personagens vitais para a melhoria da qualidade do atendimento, protesta. A reportagem da RDB tentou ouvir a Febraban, mas não houve retorno. Por mais que os bancos tenham investido em tecnologias alternativas fora das agências (internet, telefone, terminais eletrônicos etc.), a solução preferida dos consumidores é o atendimento pessoal, e isso não é só aqui, é um fenômeno internacional. Os bancos não vão melhorar sua imagem se não contratarem mais gente, diz. Pesquisa da empresa KPMG feita em 54 países detectou que lugar de fechar negócio é na agência. Tanto é que o HSBC, pioneiro no funcionamento de agências das 9h às 18h no Brasil, já fala em abrir também aos sábados. O Sindicato dos Bancários sempre defendeu a abertura de agências por um tempo maior, para melhorar a vida do cliente, com dois turnos de trabalho, para gerar empregos no setor. Mas, aos sábados, não. O fim do trabalho aos sábados foi conquistado pela categoria há mais de 40 anos e não seria moderno andar tão para trás. Os bancos podem perfeitamente respeitar a jornada de 6 horas, pagar melhores salários, distribuir melhor seus resultados e ainda oferecer mais e melhores empregos. Para isso, nem precisam fazer mais que o possível. Negociando com os títulos públicos, os bancos acabam botando menos dinheiro na economia do país. E pouco dinheiro é dinheiro caro LUXÚRIA IRA AVAREZA PREGUIÇA 4A perspectiva de inflação5pesquisas (que muitos6o volume de dinheiro co-7alocado pelos bancos à raria do Banespa, ou se- operações com tesou- está um pouco acima de bancos fazem e não divulgam) revelam que a disposição da sociedade ja, com títulos do Gover- 5% AO ANO. A taxa média de juros do cheque especial cobrada pelos ban- melhores. Estão até faresponde, no Brasil, a nal de 2004 a 51% dos sua imagem não é das por meio do crédito corno, correspondiam no ficos em junho ficou em zendo os bancos cederem um pouco no pecado de emergentes a desen- das operações de crédito 28% do PIB. Nos países seus ativos, contra 21,9% 8,25%. AO MÊS. Ou 148% ao ano. A possibilidade de 1, o orgulho. O Unibanco, volvidos, passa de 80% ao setor privado. O Grupo Santander gostou da endividamento-sem-fim por exemplo, decidiu: será melhor porque não 5.578 municípios. Des- privatização, mas conti- do PIB. O Brasil tem de um cidadão que se enrola no especial é grande. mais parecerá banco. tes, 1.759 não têm nem nua chegado em ancorar Porém, nem sempre os Mas com lucros de R$ 854 um único posto de dinheiro no Tesouro Nacional. bancos o orientam a sair dessa situação. Já para quem aplicou num fundo de investimento, o banco pagou pouco mais de 1% no mês; na poupança, milhões no semestre (aumento de 47%), receita com tarifas de R$ 1,56 bilhão, bancando 170% dos gastos com pessoal... parece banco, sim. atendimento, nem uma agência. Afinal, por que alguma das cerca de 180 instituições financeiras moveria uma palha para tentar proporcionar renda A Nossa Caixa, en- tão, nem se fala: escorou mais de 68% dos ativos nos títulos públicos. No tempo do Banespa banco público, banco públi- 0,8%. O negócio é bom. onde ela é escassa? co era outra coisa. REVISTA DOS BANCÁRIOS 11

E NTREVISTA RICARDO BERZOINI A SAÍDA É INVESTIGAR TUDO O deputado e ex-presidente do Sindicato, Ricardo Berzoini, assume missão das mais difíceis: dirigir a secretaria geral do PT neste momento de crise Por Renato Rovai Oex-presidente do Sindicato, Ricardo Berzoini, tem nova missão difícil pela frente. Quando Lula assumiu o governo, foi convidado para o Ministério da Previdência para coordenar a reforma do setor. Foi um processo duro e desgastante, em que teve de contrariar interesses de diferentes setores, dos mais poderosos aos mais coorporativos. Na seqüência, foi para o Ministério do Trabalho, que também tinha e ainda tem reformas a ser realizadas e cujos projetos entregou prontos para o Congresso. Decidido a disputar novo mandato de deputado federal, comunicou o fato ao presidente, que determinou que todos os candidatos deveriam sair na última reforma ministerial. Não só em abril de 2006, como exige a lei eleitoral. Mal reassumiu o mandato de deputado, a direção do PT viu-se envolvida numa enorme crise ética. Seu nome passou a ser cogitado para a executiva do partido, indo para a secretaria geral. No cargo, está enfrentando talvez o maior desafio de todos os de sua carreira política. O partido que ajudou, como tantos outros militantes, a criar, é hoje acusado de realizar um esquema de operações financeiras ilegais. Nesta entrevista exclusiva para a Revista dos Bancários, Berzoini avalia a crise e aponta o que imagina necessário para superá-la, tanto do ponto de vista partidário como para a vida política do País. Revista dos Bancários Como o senhor está analisando o atual momento político? Ricardo Berzoini Com extrema preocupação. O povo brasileiro não esperava um escândalo dessas proporções no primeiro governo de origem popular da nossa história. O futuro do PT e o apreço pela democracia por parte de boa parcela do povo brasileiro dependem da forma como vamos superar essa crise. O governo Lula tem muitas realizações a mostrar e só poderá fazê-lo se superar de maneira digna essa turbulência. RdB O que o senhor achou do depoimento do publicitário Duda Mendonça em relação a remessas de dinheiro ao exterior para pagamento de campanha? Berzoini Primeiro é necessário apurar para verificar se o que ele disse é verdade inteira, parcial ou mentira. Não podemos prejulgar a veracidade do que ele declarou à CPI, porque ele também tem interesses jurídicos e financeiros. Em segundo lugar, se confirmado, é algo bastante grave. Agrava bastante a situação de ex-dirigentes do PT e de quem mais combinou de fazer esse tipo de eventual ilegalidade. A crise atinge proporções muito elevadas, mas a melhor maneira de resolvermos isso dentro da democracia é apoiar integralmente as apurações pelas CPIs, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Precisamos ter tranqüilidade, não açodamento no julgamento do que foi praticado. O tempo correto é o de conclusão das CPIs. A partir dessa conclusão a tipificação de cada crime e a responsabilização jurídica e política de todos os envolvidos. RdB Em relação ao pronunciamento do presidente em que ele diz que foi traído, mas sem dizer quem traiu, o que o senhor acha? Berzoini Acho que tem um erro de forma, que foi o fato de ele ler um discurso escrito em lugar de falar espontaneamente. Num discurso transmitido pela TV, olhar diretamente para o telespectador passa mais credibilidade. Mas acho que o discurso avançou, pois o presidente reconhece erros, pede desculpas e diz que foi traído. Falta agora apurar ou o próprio presidente dizer, se souber, quem traiu. 12 REVISTA DOS BANCÁRIOS

GERARDO LAZZARI REVISTA DOS BANCÁRIOS 13

Defendemos as investigações e não podemos aceitar que se crie de forma artificial o clima de radicalização 14 REVISTA DOS BANCÁRIOS RdB O senhor vê alguma possibilidade de um processo de impeachment do presidente da República? Enxerga alguma tentativa de golpe de setores da oposição? Berzoini Alguns setores da oposição e da mídia estão tentando criar um ambiente propício ao impedimento do presidente Lula, e o Brasil tem uma sociedade muito dependente da mediação de grandes meios de comunicação. Nós defendemos as investigações e não podemos em hipótese alguma aceitar que se crie de forma artificial o clima de radicalização. RdB Qual é a saída para o PT e para o governo? Berzoini A saída para o PT e para o País é investigar com tranqüilidade e responsabilizar quem errou. Por exemplo, deputados ou dirigentes partidários que tenham recebido qualquer menção de haver recebido recursos ilegais provenientes dos empréstimos do Marcos Valério devem começar explicando o que fizeram com o dinheiro. Até porque aqueles que destinaram o dinheiro para campanha cometeram uma irregularidade eleitoral, mas não cometeram nenhum atentado contra a ética política do ponto de vista do enriquecimento ilícito, do ponto de vista de criar uma estrutura à margem da estrutura partidária. Agora, as pessoas que organizaram esse megaesquema têm outra responsabilidade do ponto de vista partidário e legal. Quero dizer claramente que, no momento em que falo, estou tratando dos senhores Delubio Soares e Marcos Valério, que, pelo que consta, organizaram um esquema ilegal e absolutamente suprapartidário. Nesse sentido, a CPI terá todo espaço e apoio do PT para ir até o fim e responsabilizar quem organizou esse mecanismo. RdB A reforma política é realmente tão necessária quanto alguns têm insistido? Berzoini É necessária uma reforma política para que não se repita daqui a alguns anos um escândalo dessas proporções. As campanhas estão muito caras e longas, e a presença dos chamados marqueteirios fazendo a mediação entre os candidatos e a opinião publica é uma distorção que precisa ser corrigida. Isso aumenta muito o custo e faz com que as lideranças políticas fiquem reféns de esquemas de marketing. A meu ver, de imediato, para as próximas eleições, deve-se adotar as seguintes mudanças: redução de tempo de campanha, que deve ser de dois meses, com um mês de TV e rádio; proibição de qualquer artifício publicitário na TV e rádio, permitir simplesmente que o candidato converse com o eleitor; proibir showmício e propaganda de rua, exceto em imóveis particulares; além disso, aprovar a fidelidade partidária e o financiamento público de campanha. RdB O governo tem buscado uma aproximação com o movimento social nesses últimos dias. Isso é positivo? Por que não foi feito antes e o governo priorizou apenas interlocução com o Congresso? Berzoini Em relação aos movimentos sociais, que são, de fato, a origem genética do PT, acho que neste governo sempre houve grande diálogo e proximidade. E isso é muito positivo, mas a verdade é que esse é um governo eleito por 53 milhões de brasileiros, mas que não tem maioria parlamentar, que, de certa forma, não recebeu essa maioria parlamentar no processo eleitoral. Portanto o governo buscou uma estratégia de composição no Congresso Nacional com outras forças. O governo atua na medida do possível, porém o importante agora é saber como trabalhar o aspecto programático para garantir a interlocução e ampliá-la no que for possível com esses setores originários do PT. RdB Houve avanços na área social? Berzoini É preciso registrar que a política macroeconômica, muitas vezes criticada de forma dura e da qual eu também sou crítico em certos aspectos, é, em muito, responsável pela estabilidade econômica. Na área de política social e distribuição de renda, obtivemos aumento real do salário mínimo, temos uma gestão mais estratégica do Fundo de Garantia e geramos mais de 3,1 milhões de empregos com carteira assinada em apenas 30 meses, quase 12 vezes mais que o governo anterior gerou por mês em média. Além de termos feito o Bolsa Família atingir 7,1 milhões de pessoas no momento em que falo com você. Isso melhora a vida das pessoas, isso gera e distribui renda e tem a ver com o programa e os compromissos da esquerda brasileira. Mas, evidentemente, a rigidez da política monetária, que obriga a uma redução orçamentária, leva a uma insuficiência na área social em alguns setores, nos incomoda e também incomoda nossos aliados históricos do movimento social. Até porque no nosso governo o setor financeiro continua lucrando mais do que deve e isso acaba gerando certo constrangimento na militância. Eu, durante a minha campanha para deputado federal, sempre registrei que este seria um governo duro, que avançaríamos em alguns aspectos, mas que em outros acabaríamos obtendo pouco sucesso. Isso tem a ver com a herança que recebemos, que era de fato maldita, mas também tem a ver com a composição política possível para garantir governabilidade. RdB Sua previsão, porém, nada tinha a ver com a atual crise. Berzoini De maneira alguma, nunca imaginei que iríamos viver algo parecido. Imaginei outras crises, mas não essa. Mas vamos superá-la, confio, como já superamos outras. Decidi encarar o desafio de assumir a secretaria geral do PT num momento em que saía do Ministério do Trabalho e estava com o objetivo de tão-somente voltar à vida parlamentar e me dedicar a percorrer o país para debater com os bancários, por exemplo, propostas para o Brasil. Só aceitei assumir a secretaria geral do PT porque me foi dada, como sempre no PT, autonomia total para tocá-la. Sei da dureza da missão, mas ficar assistindo às coisas acontecerem de camarote não faz

parte da minha personalidade. O PT é um partido de 830 mil filiados, mas, além disso, há milhões de pessoas que confiam e confiaram em nós. Assumi a secretaria geral porque tenho compromisso de vida e de história com os rumos do PT e vou lutar para que volte a ser o que sempre foi: um instrumento político para a transformação da sociedade brasileira e uma referência internacional. RdB Em que setor social o senhor acha que o governo poderia ter investido mais e por algum motivo ainda está devendo? Berzoini Um setor em que estamos devendo é o da habitação popular. Para isso estamos elaborando um programa que forneça capacitação e recursos para financiar os demais insumos. Imagino um programa que vincularia a capacitação nacional na construção civil com noções de cidadania e construções em mutirão, tendo como objetivo a construção de 1,5 milhão de habitações populares. Dá tempo, neste governo, de começar. Mas a principal marca deste programa é que ataca o déficit habitacional com geração de emprego e capacitação de mão-de-obra. A idéia é que as pessoas que vão construir as casas sejam formadas profissionalmente para poder tocar a vida depois. RdB O senhor é uma das lideranças sindicais mais importantes da década de 90. Como analisa o atual momento do sindicalismo brasileiro e o que imagina deva ser a prioridade dos trabalhadores nos próximos anos, já que neste momento o senhor pode tratar desse tema com mais tranqüilidade por não estar mais no ministério? Berzoini As centrais sindicais, a CUT em especial, por sua abrangência, devem atualizar seu projeto organizativo. A estrutura sindical envelheceu muito nos últimos dez anos. A representatividade caiu, com raras exceções. Além disso, é preciso estabelecer metas claras de participação na renda nacional e na geração de emprego. É decisiva a capacidade de interferir nas negociações coletivas de forma articulada, pois o capital se desloca com velocidade cada vez maior, entre países e dentro do território nacional. RdB Para os bancários, que balanço pode ser feito de seu mandato como deputado e como ministro da Previdência e do Trabalho? Berzoini Primeiro, volto agora como deputado com a perspectiva de retomar as bandeira que sempre defendi no Parlamento, a transparência nas relações econômicas do país, a defesa dos trabalhadores e de um sistema financeiro mais justo, que proporcione mais crédito e de melhor qualidade para a produção e o consumo. Além de outros temas que sempre defendo na minha vida. Em relação ao trabalho nos ministérios fizemos, com todas as limitações que nosso governo sempre enfrentou, um trabalho sério de combate à corrupção. No caso da Previdência, realizar uma reforma necessária para o país, restaurando o teto do INSS para o valor acima de mil dólares, que é importante para o sistema, estabelecendo novas regras para o pagamento de benefícios e buscando combater as fraudes e a sonegação. No Trabalho, o melhor desempenho que tivemos foi na articulação das decisões de governo em relação ao emprego. Sempre defendemos que o Ministério esteja presente em todas as decisões para enfocar a geração de emprego, seja a decisão sobre uma norma, seja sua ação de fiscalização, seja nas empresas estatais em relação a investimentos e também na gestão do Fundo de Garantia e do FAT. Acho que esse foi o destaque, encerramos 30 meses de governo com a geração de 3,1 milhões de empregos, um recorde que valoriza o governo Lula, especialmente, e particularmente o que fizemos no Ministério do Trabalho. RdB Quais são as chances de o presidente Lula se reeleger? E se ele for candidato, por que a sociedade brasileira deveria lhe dar o voto e qual deveria ser a bandeira de um segundo mandato? Berzoini As chances são boas, pois as pesquisas demonstram que há reconhecimento do esforço que o governo fez para superar a tragédia financeira que o governo do PSDB/PFL promoveu. No início de 2003, o risco de hiperinflação e crise cambial era enorme, o que exigiu grande sacrifício do governo e do povo. O País foi reorganizado e cresceu fortemente em 2004. Em 2005, o crescimento continua e o emprego já alcança mais de 3,1 milhões em 30 meses. E, como já disse, os programas sociais deslancharam. Mas ainda há grandes desafios que o governo poderá superar com um segundo mandato. Parece-me que a grande bandeira deve ser a da redução da pobreza, os investimentos em infra-estrutura e a continuidade do crescimento dos empregos. O Brasil pode crescer vinte anos seguidos se completar um processo de democratização da economia, pela expansão do crédito e o apoio às exportações, com a ampliação da base de consumo interno e o apoio à economia solidária e ao microcrédito. RdB O senhor acha que a crise não pode contaminar a economia, mas ao mesmo tempo é crítico de parte dela, principalmente dos juros altos. No caso dos bancos, estamos começando a campanha salarial e vendo novamente recordes atrás de recordes de lucratividade. Berzoini O que disse foi que não podemos deixar contaminar o bom desempenho da economia. Temos um crescimento econômico com várias origens. Uma parte é a gestão fiscal equilibrada por parte do governo, mas defendo que a política econômica do governo erra quando exagera. Exagera no superávit primário, na taxa de juros, isso faz com que o Brasil cresça menos do que poderia crescer. Defendo uma política econômica austera, responsável, com critérios fiscais exeqüíveis e acho que nosso governo peca pelo excesso. Tem praticado juros mais altos que precisava e superávit primário alto demais. Colaborou Frédi Vasconcelos É necessária uma reforma política para que não se repita daqui a alguns anos um escândalo dessas proporções FOTOS: GERARDO LAZZARI REVISTA DOS BANCÁRIOS 15

CIDADANIA DIREITO DE SABER Ministério Público Democrático ajuda a entender funcionamento da Justiça e trabalha para que mulheres e comunidades carentes busquem seus direitos Por Cida de Oliveira Democratizar o acesso de toda a população brasileira à Justiça e à plena cidadania. Foi pensando nisso que, há 14 anos, promotores e procuradores de justiça criaram o Ministério Público Democrático (MPD). A organização não-governamental sem fins lucrativos, no entanto, está muito longe de ser um canal de reclamação ou balcão de atendimento ou encaminhamento gratuito de questões jurídicas para pessoas que não podem arcar com o custo de um advogado. É, na realidade, voltada para o desenvolvimento de programas e projetos para a conscientização da sociedade sobre as funções do Ministério Público e direitos humanos. O MPD foi criado numa época em que havia muita pressão para que as portas do Judiciário não fossem abertas para a imprensa, lembra o procurador de Justiça Airton Florentino de Barros, presidente e um dos fundadores da entidade. A idéia foi não só democratizar o entendimento da linguagem própria da lei, inacessível para a maioria, mas também divulgar informações do Judiciário como um todo. Na prática, essa vocação político-educativa da ONG está pautada por várias iniciativas. Algumas delas ainda pendentes. É o caso da proposta de criação de uma lei que introduz o estudo de direitos humanos como disciplina obrigatória no currículo do ensino médio. Por enquanto, a idéia está sendo apresentada a diversas entidades da área, como a Ordem dos Advogados do Brasil, em busca de apoio. O ideal é que a disciplina se torne obrigatória em âmbito federal, explica o presidente. Mas se for introduzida por alguns Estados, já é um bom começo. Outras, no entanto, caminham a passos largos para se tornarem realidade. Atualmente, a diretoria do MPD está se articulando com representante dos ministérios públicos de todos os países da América Latina. O objetivo é a criação de confederação inspirada no Medel, Magistrados Europeus para a Democracia e as Liberdades, com sede em Roma. A entidade congrega juízes e promotores dos países da Europa em defesa da manutenção dos direitos. Em muitos países latino-americanos, como o Chile, por exemplo, os ministérios públicos estão vinculados diretamente aos governos e, por isso, são subservientes a eles. Precisamos ajudar essas instituições a se tornarem independentes, diz o presidente. O Medel, aliás, deu total apoio ao MPD em junho do ano passado. Na ocasião, estava sendo muito discutida a redução de poderes de investigação do Ministério Público no Brasil. MULTIPLICADORA A advogada Lenira repassa suas experiências no Promotoras Populares Comunicação Para levar à sociedade o debate de questões relacionadas à justiça, a entidade conta com vários canais de comunicação. Um deles é o programa de tevê Trocando Idéias, exibido semanalmente, em rede nacional, pela TV Comunitária da Cidade de São Paulo e pela TV Justiça, ambos canais por assinatura. Este ano, a atração completa quatro anos no ar. O conteúdo é formado essencialmente por entrevistas e debates sobre temas ligados à Justiça e à cidadania, sempre mostrando diferentes pontos de vista de membros do Ministério Público, da sociedade civil, de profissionais especializados, representantes de organizações não-governamentais e até do público, através de links montados nas ruas para ouvir a opinião das pessoas. Outro ramo é a revista MPD Dialógico, publicação bimestral lançada no início de 2004. O site da entidade, aliás, também merece uma visita: nele é possível acessar as principais notícias relacionadas a temas como direitos humanos, discriminação racial e justiça, entre outros. Além de suas ações diretas, a ONG atua também em parceria com muitas outras entidades. Seus integrantes fornecem noções da Constituição, da Justiça e, principalmente, de cidadania por meio de palestras, oficinas e até fóruns de debates solicitados pelas organizações atendidas pela Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. O CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo, e Fórum em Defesa da Vida Contra a Violência, do Jardim Ângela, ambos localizados em bairros violentos da zona sul da capital, também são parceiros. O 16 REVISTA DOS BANCÁRIOS

GERARDO LAZZARI MPD atua diretamente na coordenação de cursos de formação de orientadores jurídicos populares do CDHEP. São programas nos quais são ministradas aulas para pessoas das comunidades, que aprendem noções básicas de direito e atuam como multiplicadores nas localidades onde atuam ou residem. O Fórum, composto de 250 entidades da sociedade civil e de movimentos populares, participa do debate de diversos temas relacionados à defesa da cidadania e combate à violência. Ao lado do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública e da Associação Juízes para a Democracia, eles participam ativamente do curso para formação de promotoras legais populares da União de Mulheres de São Paulo, que tem apoio de diversas outras associações e sindicatos. Em conjunto, as três entidades coordenam o curso de capacitação de mulheres para que elas reconheçam os seus direitos e saibam como atuar na vida pública, explica a promotora Elaine Caravelas, diretora do MPD. E esse projeto já está fazendo escola. No começo de agosto foi aberto oficialmente o curso Mulher Cidadã, parceria entre a Subprefeitura da Mooca, Ordem dos Advogados do Brasil (seccional Tatuapé), e a Universidade São Judas. A advogada Lenira Domingues Ferreira, orientadora social da subprefeitura, conta que a idéia foi inspirada no Promotoras Populares, que ela cursou no ano passado. Nosso objetivo é o mesmo: capacitar mulheres para o acesso à justiça e cidadania e torná-las multiplicadoras nos locais onde moram, trabalham ou atuam, diz. As aulas do curso gratuito recém-aberto acontecem nas dependências da Universidade São Judas, na Mooca, toda segunda-feira, das 9 às 11 horas, e são ministradas voluntariamente por advogados, juízes, promotores e dirigentes dos principais movimentos sociais. Começou com 67 alunas e muitas outras já procuraram a organização do curso para se matricularem. O período letivo será encerrado no final de novembro. Lenira destaca que a participação no projeto Promotoras Legais Populares foi fundamental também para o aprimoramento do que trabalho social que faz há mais de quinze anos. É muito rico poder trocar experiências com mulheres com as mais diversas formações profissionais, operárias, donas de casa, líderes comunitárias, que têm em comum o desejo de aprender mais para compartilhar, diz. REVISTA DOS BANCÁRIOS 17

CAPA Homicídios cometidos por policiais no Estado de São Paulo alcançam números alarmantes e intimidam, principalmente, os mais pobres Por Glauco Faria POLÍCIA QUE REPRODUÇÃO: AGÊNCIA ESTADO SEM SENTIDO Flávio Santana com a noiva: atirar primeiro, investigar depois MATA Quando o leitor ler esta matéria, provavelmente já saberá o resultado do julgamento dos cinco policiais militares que assassinaram Flávio Santana, em fevereiro de 2004. A morte do dentista, negro, aos 28 anos, é apenas um dos casos mais notórios, mas está longe de ser uma exceção no dia-a-dia da polícia paulista. Um mês antes, outra ocorrência policial chamou a atenção de todos. Em São José dos Campos, o estudante e ajudante-geral Ednilson da Silva, de 21 anos, foi morto com um tiro de submetralhadora na boca, disparado por policial militar. O motivo: o rapaz era gago e surdo de um dos ouvidos e não teria conseguido responder às perguntas do soldado, que alegou que o disparo foi acidental e que a vítima teria tentado resistir à prisão. Homicídios praticados por policiais se tornaram algo corriqueiro no Estado de São Paulo. Somente no ano passado, foram 739 casos qualificados como resistência seguida de morte. Para ter idéia do que significam esses números, nos Estados Unidos, entre 1998 e 2002, a média de mortes foi de 341, menos da metade das ocorrências só em São Paulo. Mas por que a polícia paulista mata tanto? Alguns dados ajudam a chegar perto das raízes dessa violência que, em geral, é dirigida a um segmento específico da sociedade. A violência policial tem raça (75% são negros), sexo (a maioria são homens) e idade (entre 18 e 25 anos), explica Frederico dos Santos, secretário-executivo do Centro Santo Dias de Direitos Humanos. Pessoas de classe baixa e negras são alvos de abordagens exageradas e até de assassi- 18 REVISTA DOS BANCÁRIOS

TIRO PELAS COSTAS A PM paulista tem armamento e viaturas modernas. Falta inteligência MÁRCIO FERNANDES/FOLHA IMAGEM natos todos os dias, relata Francisco José Taddei Cembranelli, promotor que está atuando no caso da morte de Flávio Santana. A maioria não tem como se defender, como se justificar para os policiais nem quem as defenda naquele momento. Então, sobra apenas a versão trazida por eles, nada existe que a derrube. Na ocasião da morte do dentista, os policiais que estiveram na ação mostraram alguns dos vícios que corroem a corporação. A cena do crime foi alterada para que passasse a impressão de ter havido um tiroteio, e não uma execução, mas o pai de Flávio não aceitou a versão e conseguiu desmontar a farsa. Ele sabia o filho que criou e fez com que a verdade viesse à tona, conta o promotor. Há outros casos em que existe reação por parte da família, mas isso nem sempre é suficiente. No episódio de Flávio Santana, tínhamos uma testemunha presencial que visualizou a execução e a orquestração da PM, completa. Se não fosse por ela, é provável que ficássemos com duas versões antagônicas por meses ou anos até. A polícia de São Paulo é estruturalmente violenta e sofre ciclos de pico dessa tradição. Os dados chocam mesmo nos momentos de queda, em que a situação está mais controlada, aponta o deputado Renato Simões (PT). As estatísticass a respeito da violência praticada por policiais levaram à elaboração de um requerimento para que fosse aberta uma CPI sobre a violência policial. A comissão não foi instalada, assim como outras 56 pedidas na Assembléia Legislativa desde o início do governo Geraldo Alckmin. Se parte da polícia é historicamente violenta, algumas medidas adotadas pelo governador e por seu secretário de Segurança Pública, Saulo Abreu de Castro Filho, contribuíram para que a situação se agravasse. A Polícia Militar age rigorosamente de acordo com o comando. Dados da PM no fim da década de 90 mostram que, a partir do momento em que se adotou o acompanhamento psicológico para policiais que participassem de ações com vítimas, o número de mortes causadas pela famigerada resistência seguida de morte caiu vertiginosamente, explica o deputado estadual Ítalo Cardoso (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. O atendimento psicológico a que Cardoso se refere era feito pelo Programa de Acompanhamento de Policiais Militares Envolvidos em Ocorrência de Alto Risco REVISTA DOS BANCÁRIOS 19

(Proar), criado em 1995 pelo governador Mario Covas. O programa previa seis meses de reciclagem dos policiais que se envolvessem em confronto. A finalidade era combater o estresse causado por esse tipo de situação e diminuir o A questionável atuação do comando da segurança, que incentiva as ações truculentas, acaba afastando ainda mais a população dos policiais, que são encarados com medo e desconfiança uso de armas de fogo nas ações. O programa conseguiu avanços em seu primeiro ano, os homicídios praticados por policiais diminuíram de 592 em 1995 para 368 em 1996. No entanto, a forte resistência de diversos setores da corporação e a linha dura adotada pelo governo Alckmin levaram à desativação do programa. Outro ponto negativo que pode ter contribuído para o aumento nos números da violência policial foi a desestruturação da Comissão de Controle do Índice de Letalidade por Armas de Fogo, um grupo multidisciplinar que, junto com a PM, estabelecia parâmetros para o treinamento e acompanhamento de crimes cometidos com armas de fogo. A idéia era combater a concepção de que se atira para matar, mas o governo retirou o apoio oficial a essa iniciativa, lamenta Renato Simões. Há um problema grave de segurança pública que se chama Saulo de Abreu, acusa Frederico dos Santos. À frente da Secretaria de Segurança há três anos e meio, sabe-se comprovadamente por entidades de direitos humanos, pelo Ministério Público, que, desde sua posse, os índices de violência e homicídio vêm aumentando, bem como o número de envolvidos em casos de corrupção e extorsão, complementa. Saulo prefere apresentar números de quantas pessoas foram mortas. No ano passado, perto de 50% morreram com tiro nas costas e mais de 30% na cabeça. Isso mostra a impossibilidade de reação, concorda Ítalo Cardoso. Um dos episódios ocorridos no início da gestão do secretário dá uma dimensão de como Abreu age. O governo estadual, paralisado por uma onda de seqüestros e fugas de presídios, resolveu dar uma satisfação à opinião pública com um espetáculo pirotécnico de violência. Em maio de 2003, no pedágio da rodovia que liga a Castelo Branco a Sorocaba, doze pessoas foram executadas em uma ação que ainda pode resultar em condenação de Abreu na Justiça Federal. A Operação Castelinho teve a participação do Gradi (Grupo de Repressão a Análise dos Delitos e Intolerância) que, de acordo com o Ministério Público, recrutava presos para participarem de ações policiais. Tanto no massacre do Castelinho quanto na chacina da Favela do Coruja (seis pessoas mortas em fevereiro) fica clara a participação da PM em ações de extermínio. No caso Castelinho, o comando da polícia, inclusive do secretário, levou o Gradi a participar da ação, denuncia. A questionável atuação do comando da segurança no Estado, que incentiva as ações truculentas da polícia, acaba afastando ainda mais a população dos policiais, que são encarados com medo e desconfiança. Não podemos correr o risco de colocar a culpa só nos policiais e tratá-los como se fossem bandidos. Isso só agrava o clima de insegurança, defende o padre Juarez Pedro Castro, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos. Ele acaba sendo um produto do meio, já que não possui condições dignas de salário. Isso não justifica o erro, mas temos que entender os fatores que facilitam a corrupção, alerta. Na prática, a situação dos policiais pou- MÃO DE FERRO Saulo e Alckmin: aumento da violência e CPI engavetada LUIZ CARLOS MURAUSKAS/FOLHA IMAGEM 20 REVISTA DOS BANCÁRIOS

FILME DE TERROR Os bandidos são violentos e a polícia reage com mais violência: a cidade dá o cenário e a população o sangue. Aqui, nas escadarias da estação Patriarca do Metrô ANTÔNIO GAUDÉRIO/FOLHA IMAGEM co mudou nos últimos anos. É o que afirma Gilberto Cintra Barra, vice-presidente da Associação de Cabos e Soldados de São Paulo. Nossa reivindicação histórica é a salarial. Estamos tentando conversar com o governador para obter um reajuste decente desta vez, afirma. Segundo Cintra, os baixos salários levam a categoria a apelar para os famosos bicos na área de segurança, o que estressa ainda mais o policial. Somos contra o bico, que é contra a lei, porém sabemos que 90% da PM faz. O dado é informal, mas você pode colocar (sic) porque temos certeza dele. Reação da sociedade Os constantes abusos praticados por policias levaram diversos setores da sociedade a reagir. Os lugares mais atingidos, aqueles localizados na região periférica das cidades paulistas, já se organizam para combater a violência policial. As regiões pobres já sofrem com violências, desde a falta de saneamento básico, passando pela própria moradia e ausência de direitos elementares. Além de todas elas, vai lá a polícia para dar sua contribuição, lastima Frederico dos Santos. O Estado se faz ausente em todas as áreas. A única parte que chega, pra arrebentar (sic), é a polícia, denuncia. Frederico e o Centro Santo Dias prestam assistência jurídica para moradores do Parque Novo Mundo, local que constantemente apresenta casos de abuso policial. De tanto sofrerem com a violência, os moradores começaram um trabalho interno para enfrentar a questão e depois nos procuraram, lembra. A atitude acabou gerando outros frutos. Essa experiência rendeu uma reportagem em nosso jornal interno e algumas lideranças de um outro bairro, o Jardim Pantanal, leram e entraram em contato conosco, recorda. Além da assistência jurídica, o centro Santo Dias também dá o que Frederico chama de apoio político. Isso é o mais importante, o que dá mais resultados. É a organização popular que dá visibilidade para o que está acontecendo no bairro, junto de um trabalho de educação em direitos humanos, para que a população saiba sobre os seus direitos e a quem recorrer quando acontecem determinadas violações, conta. No Parque Novo Mundo conseguimos realizar audiências públicas em que estiveram, além da população Os lugares mais atingidos, na periferia da cidade, já se organizam para combater a violência policial local, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a Ouvidoria, a Corregedoria de Polícia, o Ministério Público e outras entidades. Assim, conseguimos alguns avanços, como o afastamento de determinados policiais, anima-se. Segundo ele, a comunidade atingiu uma organização tal que não permite mais que a polícia invada casas ou pare pessoas no meio da rua para a famosa averiguação. A polícia não precisa ser letal para ser eficiente, defende o ouvidor da Polícia paulista Antônio Tanuri Filho. Estamos em uma sociedade de classes e obviamente os mais pobres vão ser os mais atingidos por esse tipo de violência. Mas, se a população se organiza, conseguimos afastar esses maus policiais e coibir essas ações, explica. Na própria Ouvidoria, estamos dando mais atenção a denúncias que vêm de entidades de classe como ONGs, sindicatos e sociedades de bairro. Precisamos aprofundar essa integração, defende. Colaborou Anselmo Massad REVISTA DOS BANCÁRIOS 21