A palavra é eficiência



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Transcrição:

A palavra é eficiência A redução de juros está no radar da indústria global de seguros. Compensar negócios mal precificados com ganhos financeiros já não é mais possível em um cenário de taxas em queda. O desafio está posto e a lição de casa ainda não terminou Kelly Lubiato A décima redução seguida dos juros evidencia ainda mais a necessidade de as seguradoras fazerem na prática o que sabem melhor: subscrever e precificar riscos. Com a taxa básica da economia (Selic) em níveis bem abaixo dos padrões habituais, as companhias não poderão, segundo especialistas, compensar negócios mal desenhados com ganhos financeiros das aplicações de suas reservas técnicas. Isso porque o retorno das aplicações tradicionais, como renda fixa e DI, segue em queda acompanhando a tendência de juros baixos da economia brasileira. Para compensar a queda das receitas financeiras, as seguradoras terão de reforçar o lado operacional do negócio. Afinal, por mais que as companhias de seguros estejam diversificando os seus investimentos, o perfil conservador deste público, que representa uma fatia relevante dos investidores institucionais do mundo financeiro, o limitará de ir mais longe. É fato que muitas 46

seguradoras antevendo este cenário já fazem, desde o ano passado quando começou o ciclo de cortes nos juros básicos, a sua lição de casa. Aumentaram a fatia de investimentos em fundos de crédito privado, que investem em papéis de dívida corporativa e em opções mais arriscadas, mas com rentabilidade mais atrativa como os multimercados que apostam em vários mercados como ações, moedas, juros. Também aproveitaram a oportunidade que lhes foi dada para comprar letras financeiras (títulos de bancos) para melhor remunerarem seus ativos. No Grupo BB Mapfre, por exemplo, as letras financeiras já representam 4,3% dos ativos totais da companhia, totalizando R$ 322 milhões. Já a SulAmérica aumentou em cinco pontos porcentuais a parcela investida em títulos privados, para 23%. Para a Superintendência de Seguros Privados (Susep), o cenário atual é preocupante, além de desafiador. A preocupação com a queda dos juros é ainda maior para as empresas de vida e previdência privada aberta que têm produtos, como o PGBL e o VGBL, cuja rentabilidade poderá oscilar neste período. Esse é um assunto que as empresas terão de administrar, avalia Luciano Portal Santanna, superintendente da autarquia. Mais do que nunca, a eficiência e a boa qualidade na administração dos recursos passa a ser uma prioridade para as companhias, segundo ele. Isso porque até então, na opinião do superintendente da Susep, as empresas estavam muito confortáveis, pois viviam um período de estabilidade da economia, inflação não tão alta e juros elevados que facilitavam a administração de recursos. Com a queda da taxa de juros, as seguradoras terão um desafio maior em termos de aplicação, observa ele. Neste contexto, a Susep conversa com o Ministério da Fazenda para promover algumas mudanças na lei que regulamenta a política de investimentos das companhias seguradoras e de previdência privada aberta a partir de uma demanda da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). O objetivo do debate atual é permitir que essas empresas tenham mais alternativas para diversificarem os seus investimentos. Dentre os temas que estão na pauta da autarquia está a possibilidade de as seguradoras passarem a investir em fundos de índice (ETF, na sigla em inglês). Tratamse de carteiras compostas por ações de diversas empresas, que acompanham o movimento dos principais índices da bolsa de valores. No Brasil, esses fundos existem apenas no âmbito da renda variável. Mas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu recentemente audiência pública para alterar as normas que regulam os ETFs e permitir a negociação de fundos baseados em índices de renda fixa, que podem ser compostos por títulos públicos ou privados. Segundo Santanna, a previsão da Susep é de que ainda este ano sejam divulgadas mudanças na regra que disciplina os investimentos das seguradoras. Toda esta diversificação faz parte do jogo atual. Mas, mesmo que suas equipes de gestão de ativos sejam eficazes na escolha das melhores opções de investimento, ainda assim a eficiência operacional das seguradoras será colocada à prova. É desejável que o resultado das operações de seguros tenha mais evidência que o financeiro. Diante do processo de queda de juros é uma tendência natural que a parte financeira contribua menos. Esse é o outro lado da moeda do contexto atual. A sociedade toda está tendo que se adaptar. Não seria diferente para as seguradoras, avalia Aloisio Villeth Lemos, da Ágora Corretora de Valores. No segundo trimestre deste ano, os resultados de algumas seguradoras já foi impactado pelo cenário atual. Bradesco Seguros e SulAmérica, por exemplo, tiveram seu lucro líquido atingido em meio à queda da Selic. O ganho financeiro tanto de uma como da outra caiu mais de 25% no período. Para os próximos trimestres, analistas do mercado esperam a continuidade da pressão sobre a lucratividade das seguradoras em meio ao cenário de juros baixos e da menor contribuição do resultado financeiro. Para a agência de classificação de riscos Fitch Ratings, o setor de seguros deve apresentar uma ligeira, embora não significativa, queda na lucratividade, que tem sido caracterizada por uma média de 3,0% de retorno sobre os ativos (ROA) A Susep está preocupada em facilitar a aplicação dos recursos por parte das seguradoras. Elas têm de ter mais opções. A renda variável é um caminho natural Luciano Portal Santanna, Susep 47

nos últimos três anos (2,7% em 2011). A explicação para a menor lucratividade está nos números, uma vez que a receita financeira é parte do resultado das companhias de seguros. De acordo com o economista e corretor Gustavo Cunha Mello, da Correcta Seguros, a receita financeira de todo o mercado de seguros equivale a 42% do EBITDA (medida utilizada para calcular o lucro da empresa antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e cerca de 12% da receita de prêmios emitidos. Com a queda dos juros, esses indicadores são impactados e, consequentemente, o lucro das seguradoras também é pressionado para baixo. E é por trazer reflexos tão relevantes na estrutura do sistema financeiro que a queda dos juros é considerada por especialistas do setor uma das principais preocupações no mercado global de seguros. Se antes a pressão para corte de despesas e controle da sinistralidade já exigiam dedicação por parte das seguradoras, no cenário atual, essas questões ganham ainda mais relevância, principalmente, em tempos em que o índice de roubo e furto de automóveis está em patamares elevados e a frequência do seguro saúde também segue alta. Este ambiente já fez com que o mercado promovesse uma série gradual de reajustes nos prêmios desde o ano passado. Em 2012, não foi diferente. No seguro de automóvel, por exemplo, alguns especialistas acreditam que os preços estejam 20% mais caros quando comparados ao ano anterior. Novos aumentos não são descartados, ainda que pese uma concorrência mais acirrada no setor de seguros. É óbvio que para manter o lucro líquido, considerando a queda nos juros, haverá uma compensação, atenta Mello, da Correcta. Ele explica que no primeiro semestre, as seguradoras perderam apenas 1% da receita financeira em comparação com os seis primeiros meses de 2011. Mas, se nada for feito, essa perda deve subir no segundo semestre, pois a queda dos juros continua, conforme o especialista. Por isso, Mello acredita que um reajuste de 2% nos prêmios é bem razoável para este segundo semestre. Repassar preço não será tão fácil Mas repassar o custo para o consumidor no cenário atual já não é tão simples assim. Além de os segurados estarem hoje bem mais conscientes do que num passado recente, atento à oferta do mercado, pesa ainda o fato de a concorrência entre as seguradoras estar bastante aquecida. A expectativa de Arthur Farme d Amoed Neto, vice-presidente de controle e de Relações com Investidores da SulAmérica, e também do mercado é que as seguradoras busquem alguma Gustavo Cunha Mello, da Correcta Seguros racionalidade de preços e políticas de subscrição de risco adequadas ao ambiente atual de juros baixos. O cenário atual está mais seletivo. É um desafio crescer com rentabilidade, destaca ele. Os bancos com atuação no segmento de seguros, por exemplo, se debruçam cada vez mais nas oportunidades deste setor em busca de novas receitas para compensar a queda dos ganhos nas taxas e tarifas. No Bradesco, por exemplo, a meta de crescimento este ano foi revista diante do bom desempenho que vem tendo o braço de seguros. O objetivo é que a seguradora do Bradesco, que já alcançou uma participação de 31% no resultado do banco, apresente crescimento de 15% a Vão se destacar as seguradoras que estiverem bem equiparadas do lado técnico, com custos baixos e grande investimento em tecnologia da informação para reforçar a estrutura operacional Arthur Farme d Amoed Neto, SulAmérica 48

Carlos Alberto Landim, do BB Mapfre 19% no exercício de 2012. Seu principal concorrente, o Itaú Unibanco, também está de olho na expansão da indústria de seguros. Embora a parceria com a Porto Seguro, que completou três anos em agosto último, ainda não tenha alavancado a venda de seguros na rede de agências do banco, na última reunião com analistas e investidores que participou, o presidente executivo do banco, Roberto Setubal, deixou claro seu interesse no segmento. Segundo ele, em meio ao novo cenário da economia brasileira, o Itaú deve ter mudanças importantes no mix de receitas até 2015. Com isso, os segmentos de seguros, as operações da Redecard, que faz o credenciamento de lojistas, e serviços bancários devem ganhar peso e elevar a participação na receita do banco, de 33% no ano passado para 40% em 2015. E se no âmbito dos produtos bancários, a concorrência entre bancos privados e públicos cresce, no mercado de seguros não poderia ser diferente. O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, tem comentado, em entrevistas à imprensa, a vontade de expandir a atuação da seguradora do banco, que tem presença mais forte em seguro residencial, fruto da grande expertise da instituição do financiamento de imóveis, e também em seguros de vida. Já o Banco do Brasil começa a colher os frutos da reestruturação que fez na área de seguros, que resultou em venda de carteiras e uma associação com a Mapfre Seguros, em 2010. O processo de integração entre as seguradoras do Grupo BB Mapfre foi praticamente 50 concluído no primeiro semestre deste ano e a companhia passa agora pela fase de consolidação. Para operar em alguns mercados, é preciso ter volume, por isso, a parceria entre BB e Mapfre teve uma busca por eficiência operacional importante. O caminho da associação com outra empresa é uma alternativa para ter eficiência operacional e maior escala, analisa Carlos Alberto Landim, diretor de controladoria e planejamento do BB Mafre. Também deve aumentar a busca, conforme especialistas, por maior expertise em mercados de nicho, como riscos aeronáuticos, por exemplo. Até mesmo porque nos segmentos onde a concorrência é muita acirrada, o repasse de preços ao consumidor é uma tarefa um tanto quanto árdua. Entretanto, nos segmentos que não despertam a cobiça das seguradoras, há oportunidades para crescer, ainda que esta aposta signifique adotar critérios mais duros na aceitação riscos. Mello, da Correcta, lembra que explorar nichos é uma oportunidade de não só seguradoras, mas também corretores de seguros fidelizarem o seu cliente. Isso porque à medida que a companhia aceita riscos que as demais concorrentes não aceitam, podem criar expertise em determinadas áreas e ainda aproveitar para fazer outros seguros de um mesmo cliente. O risco só é ruim quando é mal gerenciado, destaca Mello. Até mesmo porque a concorrência não cresce apenas nos segmentos de varejo, como automóvel, saúde e vida e de corporate (empresas). O setor de grandes riscos também está bem disputado pelas seguradoras que, em busca de participação no mercado, aderem à briga de preços e taxas. A cada nova concorrência por um contrato, mais um capítulo de concorrência acirrada é escrito na história do mercado. Principalmente, se o que está em jogo são os contratos de obras de infraestrutura ligados aos grandes jogos mundiais. Isso porque além de serem grandes apólices, esses negócios trazem embutido um forte apelo de marketing que, conforme especialistas, muitas vezes pode ser tão ou mais relevante que o ganho em tal operação. Por ser o país da demanda, com uma economia estável, uma sociedade ávida por consumo e com carências relevantes na área de infraestrutura, portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, cada vez mais, o Brasil chama atenção de grupos internacionais. E não poderia ser diferente com a indústria de seguros e resseguros. Novas companhias desembarcam aqui. Em resseguradoras, dentre locais, admitidas e locais, já são quase 100 empresas. E este número segue crescendo, já que mais empresas, como a Allianz, ainda aguardam a autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para atuar como uma resseguradora no Brasil. Quem também prepara a sua estreia no setor de seguros e resseguros é o banco de investimento BTG Pactual. Embora ainda não tenha data marcada, o pedido para constituir uma seguradora, com capital social de R$ 50 milhões, e uma resseguradora local (com sede no Brasil), com capital de R$ 100 milhões, já está nas mãos da Susep. O foco do BTG é atuar em seguro garantia para aproveitar as grandes obras de infraestrutura. Tanto a seguradora do BTG como a resseguradora serão comandadas por André Marino Gregori, ex-presidente da Fator Seguradora, especializada em seguros de garantia, conforme informações da Susep. Para os corretores de seguros, conforme especialistas ouvidos pela Apólice, o cenário de juros baixos também evidencia ainda mais a importância da figura do consultor. Isso porque, diante de preços mais altos, os corretores de seguros são o profissional mais bem posicionado para orientar os consumidores na hora de escolher a seguradora ideal, com os serviços e coberturas necessários para proteger o patrimônio e a vida da sua família. Mas, é preciso também ficar atento, segundo Mello, da Correcta, no quanto este cenário pode colocar em jogo a comissão dos corretores de seguros. De acordo com ele, algumas seguradoras estão passando o preço do seguro mais alto sem a comissão do corretor, para deixar a cargo deste profissional o desconto para o cliente. Em uma situação como essa, o corretor tem de resistir às pressões, valorizando o seu trabalho e contribuindo para a sustentabilidade do mercado.