PALAVRAS-CHAVE: Cidade. Identidade. Etinicidade. Estética. Extensão.



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Transcrição:

CIDADE E IDENTIDADE NEGRA: REFLETINDO SOBRE O PERTENCIMENTO ETNICORRACIAL EM ITUIUTABA-MG Adriene Soares Guimarães¹ Naiana Dias Pereira Silva² (Orientador) Cairo Mohamad Ibrahim Katrib ³ RESUMO: Este é fruto das reflexões tecidas com a temática cidade e identidade negra realizadas nos grupos de estudo do Programa de Educação Tutorial Pet (re) conectando Saberes, da Universidade Federal de Uberlândia, Campus Ituiutaba-MG, desencadeadas após a realização de uma ação de extensão em um bairro periférico do município de Ituiutaba. Como o Pet (Re) conectando Saberes tem como eixo central o trabalho com as ações afirmativas. Realizamos uma oficina de tranças e penteados afros como forma de sensibilizar a população para a valorização de suas heranças e pertenças identitárias, reforçando valores étnicos, trabalhados à medida em que o público nos procurava para participar da oficina. Nesse sentido, ao mesmo tempo que despertávamos nos participantes a necessidade de se refletir sobre sua etnicidade reforçávamos a valorização da estética negra. A ação nos serviu como laboratório para futuras reflexões do grupo acerca do tema identidade negra na cidade. Como forma de sensibilização usamos o trabalho com imagens por meio de painel com a imagem de uma personagem negra, da história infantil O cabelo de Lelê para que crianças e jovens pudessem colocar o rosto e se fotografar. O que apresentamos nesse texto é, justamente,uma análise dessa ação e os reflexos dela na formação do grupo e nas ações efetivadas com a comunidade local PALAVRAS-CHAVE: Cidade. Identidade. Etinicidade. Estética. Extensão. Introdução O presente artigo faz uma análise de uma atividade de extensão realizada pelo grupo de Educação Tutorial PET (Re) conectando Saberes, voltada para a comunidade local, ¹Graduanda do curso Serviço Social, bolsista Pet (Re) conectando Saberes FACIP/UFU - MEC/SESU/SECAD. adrienepetg@gmail.com ² Graduanda do curso Serviço Social, bolsista Pet (Re) conectando Saberes FACIP/UFU - MEC/SESU/SECAD. naianapetg@gmail.com ³Prof. Dr. Docente no curso de História da FACIP/UFU, tutor Pet (Re) conectando Saberes /MEC/SESU/SECAD. cairomohamad@gmail.com

abordando a temáica etnicorracial bem como os reflexos desta ação na formação do grupo. Para todas as atividades desenvolvidas pelo Pet (Re) conectando Saberes, da Universidade Federal de Uberlândia, Campus Ituiutaba-MG é feito um estudo da temática, do público-alvo com discussão teórico-metodológica com leitura de textos e debates. O grupo tem como foco discutir as questões raciais e seus impactos na vida acadêmica, social e cultural dos envolvidos. A ação que aqui vamos analisar desenvolvemos num dos bairros mais afastados de Ituiutaba-MG, por meio de oficinas de conscientização do pertencimento étnico, por meio de penteados afros. O Pet (Re) Conectando Saberes tem, então, como eixo central: desenvolver ações de extensão, ensino e pesquisa que favoreçam a ampliação de espaços de aprendizagem e diálogos com os grupos populares, numa perspectiva interdisciplinar, cujo foco é o redimensionamento da construção da cidadania consciente e da reflexão acerca das ações afirmativas de valorização das pertenças identitárias dos grupos populares. (PET, 2010). A atividade se concretizou com a feitura de tranças e penteados afros no sentido da valorização da estética negra e recuperação dos processos de reconhecimento da pertença e identidade negra. A prioridade do público foram as crianças, pois com elas é mais significativo abordar as questões do pertencimento e da etnicidade, pois não estão apegadas, ainda, ao padrão estético e ao pensamento eurocêntrico. Os penteados foram feitos pelos próprios petianos do grupo que, à medida em que eram feitas histórias eram contadas, destacando pontos relevantes acerca da valorização do negro e de sua estética ao longo da história do Brasil apresentada de forma lúdica por meio de painel ilustrativo que referendava a estética do cabelo crespo. A atividade foi desenvolvida sob tendas montadas na rua, a mesma se deu por meio de um convite da prefeitura, que organiza esse tipo de atividade em bairros carentes da cidade. O pet aceitou o convite e desenvolveu a atividade preferencialmente nas crianças por acreditar que o trabalho com a comunidade é fundante para a construção do individuo desde a infância. As crianças puderam ter contato com a temática racial por meio de atividades lúdicas voltadas para a valorização das questões afrodescendentes. Utilizamos para isso um painel com a imagem de uma personagem negra, da história infantil O cabelo de Lelê para que crianças e jovens pudessem colocar o rosto e fotografar. Durante a atividade apresentamos conceitos como negritude, pertencimento, beleza negra, dentre outros. Ouvimos depoimentos, pontos de vista sobre como cada um se percebia estética e fisicamente. a fim de despertar nos mesmos a valorização da beleza negra. 2

O Cabelo afro: herança e cultura étnica Essa ação de extensão foi imprescindível para a nossa formação acadêmica e profissional, pois a interação com a sociedade nos permitiu refletir sobre a importância da valorização da beleza negra como processo disparador do reconhecimento racial e rompimento com modelos estereotipados de beleza que não reconhecem as especificidades de cada sujeito e nem valoriza a sua etnicidade cultural e estética. Por meio das ações de extensão levamos conhecimento, cultura e lazer para a comunidade. Segundo os princípios de extensão do MEC. A EXTENSÃO entendida como prática acadêmica que interliga a Universidade nas suas atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da maioria da população, possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades sociais existentes. A nossa sociedade é cheia de valores europeizantes enraizados que trazemos desde nossa criação, e estes são impostos a nós sem que percebamos. Crescemos com visões de padronização estética e física que nos moldam a modelos de beleza pré-estabelecidos passados pela escola, religião, famílias, reproduzidos pelas mídias, entre outros. E infelizmente esses valores culturais e sociais trazem o negro como um ser inferior, o que o leva a ser tratado de forma indiferente pela sociedade. Não é preciso que os pais digam para seus filhos que o negro é bandido, que ele é burro, pobre e perigoso. Ao olhar para o negro grande parcela da população tem esse tipo de pensamento, basta acompanharmos as mídias, isso porque está embutido na cultura brasileira que ele deve pensar assim, o que muito nos admira, pois vivemos em um país multirracial. Não há conhecimento de outro país onde a miscigenação seja tão grande como é no Brasil. Sendo assim como pode um país com tantas raças fundida numa só, criar estereótipos a uma pequena parte desses mesmos irmão de sangue?, Irmãos de sangue sim, onde um ser humano totalmente afrodescendente pode nascer com a pele um pouco mais clara e olhos azuis ou verdes. Mas isso é o que acontece, e esses estereótipos negros estão ligados a esses conceitos. As representações da cultura nos são transmitidas e permitem estabelecermos um pertencimento a determinado grupo; a cultura social e histórica que nos é apresentada é branca, logo ela se torna nosso modelo estético de referência e me 3

parece difícil quebrar com essas imagens criadas uma vez que se ensina, desde muito cedo, a negar a si mesmo.( PAUST, 2011, p.4). A ação visou, portanto, desconstruir essas ideias impregnadas na sociedade. No sentido de incentivar a valorização do cabelo afro ou crespo, já que ele quando é usado contribui negativamente para discriminar e/ou estereotipar o negro e não para reconhecê-lo dentro de sua individualidade cultural ou racial. As vivências dos negros podem trazer traumas, preconceitos pela sua cor, seu cabelo, seu nariz, discriminações reproduzidas nos meios em que convive, como por exemplo, na escola. O que pode causar dificuldades em se reconhecer como negra/o. O cabelo que é algo tão importante para a estética humana, é a chave de apresentação da pessoa. Se tratando do cabelo crespo do negro ele pode ser penteado de várias formas. Vai da preferência da pessoa, tanto as mulheres quanto os homens encontram varias possibilidades de penteados. Desde o alisamento que facilita na hora de pentear, o black power e as tranças que podem ser feitos de formas diferentes e que já são costumes da sociedade. Os penteados demonstram um resgate da memória cultural dos negros. Por isso o alisamento é visto por membros do movimento negro como um processo que tira a identidade do negro(a), aderindo a um padrão estético europeu. O cabelo afro, crespo, é visto pelo movimento negro como um símbolo de orgulho e nunca de vergonha, e o alisamento seria um processo para aceitação social de uma sociedade eurocêntrica. Desse modo, Existe discordância quando a posição defendida por muitos de que a mulher negra quando não assume seu cabelo natural, os alisando, não esta se assumindo como negra, e, além disto, mantém um padrão de beleza ditado pelo europeu. Acredita-se que a mulher e o homem podem se ver como negro mais isso não impede que escolham a forma que quer ter sua imagem representada, pois nem todas as pessoas que assumem as tranças e cabelos black power têm consciência do porque fazem aquilo. (COLTINHO, 2006, p.6). Para o movimento negro alisar o cabelo é uma forma de desonrar a identidade negra, a estética e as características negras devem ser valorizadas de forma sincera. Porém alisar os cabelos não deixa as mulheres menos negras, quem tem consciência do seu pertencimento não vai se tornar mais branca por alisar seus cabelos. Alisar os cabelos pode ser uma opção por ser fácil de pentear. Ou simplesmente por que a pessoa gosta e sente melhor de cabelos lisos. O cabelo do negro, visto como ruim, é expressão do racismo e da desigualdade racial que recai sobre esse sujeito. Ver o cabelo do negro como ruim e do branco como bom expressa um conflito. Por isso, mudar o cabelo pode significar a tentativa do negro de sair do lugar da inferioridade ou a introjeção deste. Pode ainda representar um sentimento de autonomia, expresso nas formas ousadas e criativas de usar o cabelo. (GOMES, 2003.p.3). 4

Manter o cabelo natural ou aderir as tranças é outra opção, e hoje cada vez mais aceita pela sociedade. O cabelo afro tem ganhado espaço na sociedade. É fácil perceber isso até mesmo nas atrizes negras das novelas, que usam seus cabelos blacks naturalmente. Durante os anos 1960, os negros que trabalhavam ativamente para criticar, desafiar e alterar o racismo branco, sinalavam a obsessão dos negros com o cabelo liso como um reflexo da mentalidade colonizada. Foi nesse momento em que os penteados afros, principalmente o black, entraram na moda como um símbolo de resistência cultural à opressão racista e fora considerado uma celebração da condição de negro(a). (HOOKS, 2005, p.2). Alisar os cabelos pode ser entendido como uma tentativa de se branquear, se pertencer ao grupo dominante da sociedade, de ser uma pessoa mais aceitável. No Brasil o padrão de beleza é europeu, e os negros viam em seus cabelos uma marca da inferioridade. A estética corporal tem contado muito nas relações sociais. Os estereótipos do ser humano são vistos como uma forma de aceitação ou não pela sociedade. Infelizmente o padrão estético branco e burguês ainda tem prevalecido em um país como nosso misto em raças e culturas. O movimento negro, dentre outras manifestações vem se utilizado da valorização do padrão estético para fazer com que o negro tenha orgulho de sua raça. Este não é um trabalho fácil já que a maioria da população não se assume como negra. (COLTINHO, 2006, p.7). Acreditamos que esse padrão estético esteja mudando. A construção da identidade negra tem se fortalecido por meio do movimento negro. As negras que conhecemos vêem assumindo seus cabelos afros e se sentindo mais aceitas na sociedade. A ação que discorremos neste trabalho foca as crianças por esse motivo, são elas que serão as futuras mulheres negras da nossa sociedade, e elas precisam crescer conscientes que, a forma como decidirem usar seus cabelos não seja um problema, que ele pode ser usado pela forma na qual elas preferirem, e que ninguém tem o direito de julgar, condenar ou inferiorizar seus estereótipos, que o cabelo crespo, afro, é um cabelo único, rico, e que ele pode ser alisado se for da vontade dela, isso não vai fazer ela menos negra, ser negra não é um problema. O Brasil vem observando ao longo dos anos um crescimento da valorização de uma estética negra. Com ela podemos verificar uma maior aceitação da sociedade diante de um modelo de se vestir e adotar os cabelos que difere do padrão europeu. (COLTINHO, 2006, p.7). Essa aceitação não é somente por parte dos brancos, muita das vezes essa não aceitação vem dos próprios negros, onde a percepção que eles têm de si mesmo difere da percepção do 5

outro, onde muitos indivíduos que se consideram brancos são vistos como negros aos olhos das outras pessoas e vice versa. Muito se ouve dizer a expressão negro de alma branca, expressão criada pelo escritor Monteiro Lobato, ao descrever sua personagem negra Tia Anastácia (de Emília) e que desde então foi tão amplamente divulgada pelos quatros cantos do Brasil, tentando fazer com que o negro seja menos negro, que tenha a pele negra mas que sua essência, sua alma seja branca, e muitos negros repetiam esse ditado acreditando mesmo isso ser possível. Mas o contexto vem mudando muito e os que tinham dificuldade em se assumir, se ver como negro e aderir aos padrões estéticos negros hoje se sentem mais a vontade na hora de vestir uma roupa com estampa afro, ou de assumir seus cabelos crespos e altos. Produtos são destinados especificamente a população negra, para o cabelo afro, o que pode ser criticado pelo ganho do capitalismo por estar lucrando com isso, mas não deixa de colaborar quando analisado do ponto de visualidade, o negro passa a ser visto em lugares onde só existiam cabelos lisos, como na maioria dos frascos de shampoo. Após as conquistas dos movimentos e manifestações negras, tendo como objetivo a igualdade e luta contra o preconceito e discriminação contra o negro, verificasse a ampliação de um mercado direcionado aos negros que vai atrair muitos investimentos e capital. (COLTINHO, 2006, p.8). Não é o caso aqui discutir os ganhos do capital com os investimentos na estética negra, mas a aceitação dessa estética pela sociedade, para que a construção da identidade seja positiva e não distorcida. A não negação do corpo. A aceitação pela individualidade de cada um. O meio em que crescemos deve ser livre de preconceitos. Dever ser um lugar onde as diferenças sejam respeitadas. Para que não sejam colocadas como privilégios de uns sobre os outros. Considerações Finais Partindo do pressuposto de que a ação teve resultados positivos ela será aplicada novamente em posteriores ações nos bairros. Levamos enriquecimento cultural, pertencimento e aceitação sobre a identidade, valorização da estética negra na desconstrução dos estereótipos negativos. Levando também principalmente conhecimento sobre a origem afro e todas os impactos que ela tem causado principalmente nos dias atuais, e que muitos acreditam ser moda ou qualquer outra coisa do gênero mas que na verdade não passa de tradições afrodescendentes, que já está em nosso meios a milhares e milhares de anos só não está 6

conhecida da grande massa da população ou que até tem conhecimento mas a trata com indiferença e não aceitação. Esta ação teve duração de quatro horas e foi aplicada por todos integrantes do grupo. Trabalhar diretamente com a população negra e carente faz nos perceber de que essa população assume seus cabelos, pode ate ser que a maioria deles não saibam do valor identitário que carregam e da riqueza cultural do grupo a qual pertencem. Mas levar essa atividade é um dos caminhos para essa conscientização. Para a valorização da identidade negra. Para a auto valorização. Para reprodução dos estereótipos, mas de forma positiva. As crianças devem crescer se sentindo bem com seu cabelo, sem se importar com chacotas e piadinhas que infelizmente estão longe de serem esquecidas pela população brasileira. As mulheres negras, os negros em geral devem não devem se sentir inferiorizados pela sua cor, seus cabelos, ou por qualquer outra característica que o difere do padrão eurocêntrico da sociedade. Caminhamos para a mudança desse padrão estético. Uma mudança também no sentido de se usar como queira usar. Sendo uma negra que goste de alisar os seus cabelos, o que importa é se sentir bem. A sociedade precisa entender isso, que somos diferentes, mas cada um deve ser respeitado com sua diferença. Quem disse que ser branco do cabelo liso e dos olhos claros é ser bonito e que ser preta do cabelo cacheado é ser feio? Quem te ensinou a pensar assim? Deste modo trabalhar com o cabelo afro é trabalhar com o individuo e como o mundo que o cerca, pois o cabelo vai ser visto, vai ser aceito ou não, elogiado ou criticado. Ao trabalhar os penteados afros temos a tentativa de ampliar o olhar de quem usa o penteado e de quem o vê. Como uma forma de valorizar a cultura e a identidade dos negros, pois o cabelo afro é um padrão estético rico e antigo. A oficina de tranças e penteados afros foi realizada portanto como forma de sensibilizar a população para a valorização de suas heranças e pertenças identitárias, reforçando valores étnicos. Referencias: COUTINHO,Cassi Ladi Reis. O PADRÃO ESTÉTICO DO NEGRO EM SALVADOR (1980-2005). 2006. Disponível em: < http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_iii/cassi_ladi_reis.pdf>. Acesso em: 06 set. 2014. GOMES, Nilma Lino. Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. 2003. Disponível em: < http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/10/corpo-ecabelo-como-s%c3%admbolos-da-identidade-negra.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2014. 7

HOOKS, Bell. Alisando o Nosso Cabelo. 2005. Disponível em: < http://criola.org.br/mais/bell%20hooks%20-%20alisando%20nosso%20cabelo.pdf>. Acesso em: 02 set. 2014. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Programa de Educação Tutorial - PET(Re) Conectando Saberes, Fazeres e Práticas. Disponível em <http://www.petreconectando.facip.ufu.br/inicio> acesso em: 01 set. 2013. PAUST, Letícia Martins. O RECONHECIMENTO DA CORPOREIDADE E ESTÉTICA NEGRA: EXPERIÊNCIAS A PARTIR DO COTIDIANO DA ESCOLA. 2011. Disponível em: < http://jne.unifra.br/artigos/4772.pdf>. Acesso em: 07 set. 2014. Princípios da Extensão, segundo MEC: Secretaria de Educação Superior. Plano Nacional de Extensão. 1999-2001. Disponível em:<http://www.emaj.ufsc.br/principiosextensao.pdf>. Acesso em: 01 set. 2014. 8