Tema: Epidemia da Dengue - Salientou a importância de uma política contínua de combate ao mosquito da dengue, trazendo uma analise histórica comparativa da política adotada a mais de 100 anos por Oswaldo Cruz. Data: 24/03/2011 Íntegra do discurso O SR. SAMUEL MALAFAIA Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, cidadãos e amigos que nos assistem pela TV Alerj em nosso Estado, este ano, nesta legislatura, não estou trabalhando em nenhuma Comissão porque faço parte da Mesa Diretora já fui Presidente de três Comissões da Casa, a Comissão de Saúde, a Comissão de Economia, Indústria e Comércio e a Comissão de Ciência e Tecnologia, no meu primeiro mandato, mas estou trazendo subsídios para as Comissões trabalharem, como fiz ontem, falando sobre saneamento. Hoje vou falar sobre a epidemia da dengue, que está assolando o nosso Estado, a nossa Cidade. É preciso que se forme uma equipe de choque. Alguma coisa tem que ser feita nos moldes do que foi feito no Alemão: tomaram aquela comunidade, onde estavam escondidos elementos perniciosos, numa ação muito bem feita. Dela participaram o Governo Federal, o Governo Estadual e o pessoal do município. Algo tem que ser feito no Estado, no Brasil, na nossa Cidade com essa mesma capacidade. Houve um homem ilustre que trabalhou na nossa Cidade: Oswaldo Cruz, que dá nome à Fundação em Manguinhos que promove pesquisas na área de saúde pública. Oswaldo Cruz foi pioneiro no estudo de moléstias tropicais. Ele foi nomeado pelo Presidente Rodrigues Alves em 1903, quando coordenou a campanha de erradicação da febre amarela e da varíola, que matava e assolava o Rio de Janeiro, decretando vacinação obrigatória, o que deu origem à Revolta da Vacina. Hoje o povo se revolta porque não tem vacina, não tem nada. Naquele tempo, revoltou-se porque estava obrigando a curar sua enfermidade. Hoje, revolta-se porque não há o cuidado à altura da responsabilidade imposta pelos governantes que temos escolhido para dirigir os nossos caminhos neste Estado e neste município. Vejamos o que Oswaldo Cruz fez, segundo o levantamento que eu fiz. É fácil, na internet, nos livros, tem tudo isso. Sr. Presidente, Oswaldo Cruz, há 110 anos passados, 1903, 100 anos vamos dizer, um século passado, o cabra visitou 14.772 prédios no Rio; extinguiu 2.328 focos de larvas; limpou 2.091 calhas e telhados; 17.744 ralos; 28.200 tinas, onde botavam a água; lavou milhares de caixas d água e sarjetas; retirou mais de 6 mil baldes de lixo dos quintais das casas.
Por que ele fez isso? Por que ele era bonzinho? Não. Porque ele era a autoridade instituída pelo Governo Federal para limpar a cidade de uma praga, a varíola era um mosquito também. Então, eles conseguiram há cem anos erradicar um mosquito e agora com toda a tecnologia, com todo o dinheiro que se tem, com toda a especialização de sanitaristas e médicos especializados em epidemia, não conseguimos, está morrendo gente. Um jornal de grande circulação veiculou uma notícia que nos deixou preocupados: os casos de dengue, desde a semana passada para cá, de quarta-feira passada até hoje, subiram 30% no Rio de Janeiro. Na quartafeira passada tinha 20.150 vítimas. Nesta semana, ontem, 26.258 vítimas. Em 2008, de janeiro a março, ocorreram 32 mil casos de dengue. Então, vejam bem V.Exas. que nos assistem, como a situação é tenebrosa, é importante. Eu não quero alarmar ninguém. Eu quero é alarmar mesmo e assustar os governantes, porque eles têm que cuidar da população. Têm que cuidar, para isso foram eleitos. Tem que se fazer uma guerra a esse mosquitinho. Esse mosquitinho safadinho está dando um baile em muita gente grande, deixando a população vulnerável. Hoje, aqui, estamos com um problema, o nosso diretor que comanda a Garagem está internado com dengue hemorrágica. As plaquetas dele foram lá... E quando a plaqueta desce muito, sofremos perigo de vida. E isso acontece no Rio de Janeiro de montão. Aqui eu tenho um levantamento de janeiro a março em que houve 18 óbitos, sendo três em São Gonçalo; seis no Rio de Janeiro; dois em Nova Iguaçu; dois em São João de Meriti; um em Duque de Caxias e um em Magé. Isso é o que foi notificado. É o levantamento daqueles que conseguiram chegar ao hospital e o médico atestar que morreram de dengue, porque eu acredito que seja ainda mais. Então, veja bem, essa mortalidade é muito triste. Na época que estamos vivendo, ninguém aqui pode dizer que está livre de receber uma picada desse mosquito, parar no hospital e até morrer. Você quer morrer assim? Então, é um caso de vida ou morte e a Comissão de Saúde tem que acionar, a Comissão de Saúde tem que sei lá... Eu não sou especialista em CPI. Nesta Casa tem colegas que fazem muitas CPIs, façam a CPI do Dengue, façam a CPI para buscar informações e fazer com que as autoridades façam uma ação igual àquela do Morro do Alemão, que era para caçar bandido. Essa talvez seja até mais difícil, para caçar mosquito; mas Oswaldo Cruz já fazia isso há 100 anos. Não há desculpa de não se fazer isso, tem que botar o bloco na rua. Não é só no Carnaval não! Não é só dar dinheiro para o Carnaval, não é só fazer auê no Carnaval, é fazer auê para matar o mosquito da dengue, para erradicar esse problema do Rio de Janeiro.
Sr. Deputado Márcio Panisset, Presidente da Comissão de Saúde, V.Exa. precisa tomar uma providência. Deputado Nilton Salomão, Deputada Claise Zito, Deputada Enfermeira Rejane, nossa Deputada que tem se saído muito bem nos seus pronunciamentos, e o Deputado Pedro Fernandes, que eu vi passar por aqui, e se não me engano é da Comissão de Saúde, vocês precisam tomar uma providência. Aqui, minha gente, precisamos entender, o Parlamento sempre foi muito dividido, estigmatizado em posição e situação. Ora bolas, você pode ser da posição, se for da base do Governo, mas se vê que alguma coisa está degringolando, temos que ajudar. Como é que vamos ajudar? Elogiando? Não. Nós temos que falar, nós temos que usar a Comissão - eu respeito muito o trabalho das Comissões desta Casa -, nós temos que chamar a autoridade de Saúde aqui na responsabilidade para dar explicação, temos que movimentar a nossa Comissão de Saúde para tentar ajudar ao Governo a resolver esse problema catastrófico, que está matando gente, que está entrando nas nossas famílias. Tem aqui uma senhora indignada que perdeu sua filha - quando li isso até chorei -, perdeu a sua filhinha de um ano e nove meses, que foi para o hospital e deram-lhe o diagnóstico de garganta inflamada. Meu Deus do céu! Aqui tem médico! Tem que se fazer um treinamento para os médicos dos hospitais para eles saberem os sintomas e dizerem logo que a pessoa está com dengue, colocá-la no soro para sua hidratação a fim de que ela recupere as plaquetas. O SR. PEDRO FERNANDES Um aparte, Deputado? Pois não, Deputado Pedro Fernandes. O SR. PEDRO FERNANDES Primeiro, dizer que as últimas duas reuniões da Comissão de Saúde, eu falo aqui em nome do Presidente, sou Vice-Presidente da Comissão, até estive presente, mas como estava em reunião administrativa com o Presidente Paulo Melo, as duas últimas reuniões não puderam acontecer. Mas é uma praxe da Comissão e do Presidente, Deputado Márcio Panisset, acatar; claro, todas as ideias são sempre muito bem-vindas para a reunião. Tenho a certeza de que o Presidente vai acatar a ideia de V.Exa. Temos o maior prazer em discutir este tema. Convido V.Exa. para a próxima reunião da Comissão de Saúde, na terça-feira. Eu, pessoalmente, vou conversar agora com o nosso Presidente, para colocar em pauta, inclusive, vou convidar o pessoal do Corpo de Bombeiros para falar um pouco sobre isso, saber como esta Casa pode ajudar, porque uma coisa eu reconheço: o Governo do Estado, de dois anos para cá, ele ampliou as suas atividades e o seu trabalho em relação à prevenção da dengue de uma forma indiscutível. Nunca se trabalhou tanto em prevenção de dengue neste Estado como se trabalhou de dois anos para cá. Agora, muita coisa precisa melhorar, muitas parcerias precisam ser feitas. Hoje, por coincidência, passei a manhã inteira trabalhando em relação à questão de dengue lá na minha região, lá na Zona Norte da cidade. Dois dias atrás, na minha própria casa, eu que me considero uma pessoa esclarecida e acompanho o trabalho, sou esclarecido em relação a esse trabalho de dengue,
encontrei na minha própria casa um foco de dengue e, a partir daí, saí para ajudar a conscientizar as pessoas. Às vezes, temos muita vontade de criticar, mas nos esquecemos de olhar às vezes para o nosso próprio umbigo, e eu fui prova disso, que na minha própria casa tinha o foco e tratei de correr e resolver. Não vou me alongar muito para não tomar o tempo de V.Exa. Mas agradeço. Quero dizer que a Comissão de Saúde está à disposição e, com certeza, vai acatar a solicitação de V.Exa., vamos debater, convidar as pessoas para ver como esta Casa, de certa forma, pode contribuir para a melhoria dos trabalhos. Obrigado. O SR. SAMUEL MALAFAIA Obrigado, Deputado Pedro Fernandes. Pois não, Deputado José Luiz Nanci, concedo a V.Exa. o aparte. O DR. JOSÉ LUIZ NANCI Obrigado. Exmo. Deputado, sendo eu médico, não ia aparteá-lo, porque hoje a minha fala seria sobre dengue, ontem foi sobre dengue, e o senhor pode ter certeza que na terça-feira vai ser sobre dengue, porque o dengue, ele mata. E nós vivemos em um país e em um Estado que é endêmico, e para pular para uma epidemia, como já pulou rápido, em um piscar de olhos acontece. Nós temos que estar atentos. Então, temos que chamar as autoridades da Saúde para estarem atentos e obedientes dia a dia. Não se brinca com esse mosquito. Obrigado. O SR. SAMUEL MALAFAIA Obrigado, Deputado. O Estado precisa invadir alguns locais. Eu não sei como fazer isso. Não sei se a Comissão de Saúde pode fazer isso. Porque aqui no jornal O Globo aparece uma fotografia de um foco de mosquito Aedes Aegypti em uma casa fechada em Anchieta. Tem aqui uma piscina fechada. O Governo tem que ter algum dispositivo. O Governo pode fazer um decreto, uma Lei do Governo estadual permitindo as prefeituras invadir as casas fechadas. O caboco não está lá, tem uma piscina cheia de água podre, um monte de lixo gerando o mosquito, matando gente, o camarada está fora. Tem que invadir! Isso é economia de guerra! Ou acaba com isso ou vai morrer gente. Tem que acabar! O mal menor é a invasão desse domicílio. O Governo também precisa fiscalizar onde se colocam pneus. Descobriram um lugar cheio de pneus velhos acumulando água. Locais onde têm carros. Indo para Macaé ou para Campos, vêem-se as patrulhas rodoviárias cheias de carros velhos encostados, que não são retirados. Os guindastes não retiram para um setor. Aqueles carros são focos de mosquitos. Tem que ter uma ação muito forte do Governo Estadual, do município, do Governo Federal para tratar com seriedade essa epidemia, que está matando gente, sem dizer qual é o endereço.
A próxima vítima, Presidente, pode ser o senhor. A próxima vítima pode ser qualquer um de nós. E, na nossa família, nós não queremos perder nossos entes queridos. Deputado Paulo Ramos, o senhor também não está imunizado; pode ser atacado por esse mosquitinho. Se as autoridades quiserem maquiar os índices, como tem no jornal O Globo hoje, querendo dizer que não é epidemia, que algumas cidades têm que ser analisadas em bloco, isso aí... Vamos parar de perder tempo, Sr. Prefeito! Vamos parar de perder tempo, Sr. Governador! Mudem as suas assessorias! Eu sei que os senhores foram muito bem avaliados e eleitos. Eu sei que os senhores estão com vontade de acertar, mas tem assessor aí que não está lhes dando as informações corretas; está fazendo os senhores errarem. Sr. Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Sr. Governador atuem com mais energia, como vocês fizeram lá no Alemão, porque isso está roubando vidas que são preciosas. É uma epidemia. Estamos saindo do verão. Imaginem quando este voltar. Se os senhores forem inteligentes, vão fazer de tudo para nos atender. E aqui não tem nada de oposição, situação, base, antibase. Aqui é um representante do povo, representante do povo, falando sobre os direitos fundamentais do cidadão e, entre eles, está o direito de ter saúde, o qual é garantido pelos nossos impostos. Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Roberto Henriques) Obrigado, Deputado Samuel Malafaia.