Brasília, 01 de abril de 2008. Senhor Presidente, Senhores Deputados e Senhoras Deputadas Quero dar como lido o poema DEMÔNIOS CAÍDOS de autoria de meu amigo Paulo Roberto Miranda que trata da situação em que se encontra, atualmente, o Sistema Carcerário no país. Juntos temos participado de diligências pelo país afora e constatado tais problemas transformados em versos. DEMÔNIOS CAÍDOS Paulo Roberto Miranda Deus! Ó Deus! Onde estais que não respondes? Castro Alves É logo ali meu irmão! Acerca de 50 quilômetros do Alvorada, Uma cerca de arame farpado no cerrado separa o bem e o mal Separa as luzes e os neons da escuridão De um lado, a cidade que reluz: Valparaíso Do outro, o inferno, a ignomínia, a prisão Que esconde nas entranhas o crime, a dor, a aflição Lá dentro assaltantes, traficantes, homicidas, misturados Doentes, aidéticos, epiléticos, tuberculosos, flagelados Meu Deus! Estão presos em gaiolas, pendurados! Mãos e pernas fora das celas, a nos pedir socorro Quem vai lá ouve os gemidos, o ranger de dentes Quem vai lá ouve os pedidos de clemência, o choro... Você já foi à cadeia de Valparaíso, meu irmão? **
Você imagina o que é superlotação? Você conhece o zoológico de seres humanos em Goiás? É um depósito bizarro, surreal, perverso e desumano Somente superado em dor, fedor, desgraça e degradação Pela cadeia de Contagem, perto de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais Você já foi a alguma cadeia na Bahia, nega? Não? Então vá! Lá não tem vatapá, não tem água limpa, nem colchão. Lá se dorme no chão! Lá não tem preso famoso, não tem Fernandinho Beira-Mar As cadeias podres do Brasil... Ai meu Deus! Onde já se viu! Não tem preso bacana, com soberba e capital, como o juiz Nicolau Que por ser velho e velhaco tem prisão domiciliar Os demônios caídos do Brasil, os pobres endiabrados Que não tem poder, não tem dinheiro e advogados São espremidos nas celas aos montes, asfixiados Mais de 30 em cada uma, de 12 a 20 metros quadrados Nunca se deitam tranqüilos nem podem ficar sentados Não tem ventilação nas masmorras, muito menos ventilador Os demônios caídos do Brasil estão no inferno, mais de 40 graus de calor Estão sem trabalho, sem remédios, sem dentista, sem pudor Humilhados, ofendidos, violentados como um dia violentaram Mas onde estão os outros bandidos, os ladrões engravatados? Os espertos de colarinho branco, onde estão? Às vezes condecorados, com medalha, com mandato e o voto do povão Onde estão os bicheiros e os doleiros? Os sonegadores de impostos, os corruptos embusteiros? Os refinados banqueiros agiotas de gravata borboleta, onde estão? Esses tais não freqüentam pardieiros Esses têm diploma de doutor e conceituados advogados **
Nunca são algemados nem passeiam em camburão Você já foi ao presídio da Papuda, gatinha? Ou sua mãe só deixa você ir a missa e a festinha? Você já foi à cadeia de Planaltina de Goiás, (em Brasilinha) rapaz? Já ouviu falar do agente carcerário Ferrabrás? Você acha que a liberdade é uma calça jeans, azul e desbotada? E que preso é realmente animal e só merece levar porrada? Você aí, ô bacana!, que gosta de queimar um fuminho Você aí, ô menina!, que se amarra numa cocaína Já conhecem a prisão de Formosa, ao lado de planaltina? Lá não tem formosura nenhuma, nem pescaria em lagoa P ra não virar boneca, ou p ra poder ficar numa boa Lá em Fortaleza, princesa!, capital do ceará No Instituto Penal Paulo Sarasate A bóia do pessoal vem num saco transparente Como uma lavagem p ra porcos, literalmente a boiar Lá na Casa de Custódia José Ribamar Leite, em Teresina Calorosa capital do Piauí, terra do poeta Torquato Neto, da cajuína e do buriti Os presos entraram na porrada, foram escondidos da imprensa e de uma CPI Porque esses bichos enjaulados foram todos descobertos quando já iam fugir Lá em Belém do Pará, Jesus Cristo! Sabe qual foi a solução, Já que presídio decente é caro e não dá voto ao cidadão? Nos 40 graus de calor as presas ficam encarceradas em containers Aquelas caixonas de zinco, que servem de carrocerias p ra caminhão Lá em São Luís do Maranhão, terra do poeta Gonçalves Dias Terra de tristes lendas e oligarquias **
Onde Ana Janssen maltratava e torturava suas peças, no tempo da escravidão Existe ainda um presídio-buraco, em que o teto é de grade, um verdadeiro alçapão Que p ra ser galé de navio negreiro Só falta o açoite, as correntes que amarravam os pés no porão Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam, como lá... Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá! Meu Deus! Mas isso é igual ao horror dos campos de concentração! Mas lá em Pirapozinho, perto de Presidente Prudente No presídio feminino, Dr. Juiz, conseguiram abolir o calor As presas abraçam os filhinhos de colo por entre as grades É medida preventiva contra qualquer espécie de amor! Mas me responda, presidente! Se um presidiário normal Castigado, humilhado, torturado Por todos nós vilipendiado Maltratado mais que animal É preso municipal, estadual ou federal? Você que fez a lei, deputado ou senador! Já foi ali na invasão do Itapuã, ali na periferia? Já visitou Águas Lindas e sua delegacia? O senhor já esteve no Caje, lugar de menor infeliz, seu juiz? Quem deixa passar a maconha para os bandidos, delegado? Já provou a desgraça humana, você que quer ser vingado? Você lembra dos 111 mortos por PMs no Carandirú, presídio lá de São Paulo? **
Se lembra dos meninos mortos na igreja da Candelária, por PMs do Rio de Janeiro? Se lembra dos 23 presos mortos de Ponte Nova, incendiados na prisão? E dos 8 desgraçados de Rio Piracicaba, queimados na passagem do Ano Bom? O rio de Piracicaba vai jogar água p ra fora Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora DR. TALMIR Deputado Federal PV/SP **