DINÂMICA MORFOLÓGICA NA FOZ DO RIO AMAZONAS ATRAVÉS DE ANÁLISES MULTITEMPORAIS DE IMAGENS DE SATÉLITE



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DINÂMICA MORFOLÓGICA NA FOZ DO RIO AMAZONAS ATRAVÉS DE ANÁLISES MULTITEMPORAIS DE IMAGENS DE SATÉLITE ODETE FÁTIMA MACHADO DA SILVEIRA 1 ; VALDENIRA FERREIRA DOS SANTOS 1 ; MARCOS HENRIQUE DE ABREU MARTINS 1 & CHARLES JÂNIO FERREIRA MONTEIRO 1 RESUMO As observações realizadas através do sensoriamento remoto no Distrito do Bailique, ao norte de Macapá, indicam que houve modificações significativas no sistema de drenagem regional, determinada pelos processos de erosão e acreção decorrentes do Sistema de Dispersão Amazônico. Essas modificações ocorrem em escala de tempo de década e são plenamente reconhecidas pelas comunidades que ali residem, tendo em vista a rapidez com que as mesmas interferiram nas suas vidas. Palavras Chave: Distrito do Bailique, erosão. RÉSUMÉ Les observacions pour téledetéccion metre em place au Distrito do Bailique, nord du Macapá, BR montré significatif modificacion sur le sisteme du drainage nes derriérre 27 années. Ces modificacion son t determinée pour les processes du erosion e deposicion decorrents du Sistéme du Dispersion Amazonienne. Elle sont plenamente reconue pour le populacion parce que rapidement interferon en sont vie. Mots Clés: Vilagge Bailique, erosion, INTRODUÇÃO A foz do Amazonas está inserida na região litorânea norte-brasileira, que, pela magnitude e complexidade de sua evolução, já seriam razões suficientes para que fosse pensada a sua conservação. A região foi dotada de outros atributos: localiza-se na região equatorial e é bordejada pelo Oceano Atlântico, que recebe cerca de 17% da água doce do mundo oriunda 1 Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá. Centro de Pesquisas Aquáticas-CEPAQ - Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro-GERCO Rodovia JK, Km 10, s/n Fazendinha- Macapá AP 68902-280 odete.silveira@iepa.ap.gov.br;valdeniraferreira@yahoo.com;mhamartins@bol.com.br; charlesjanio@uol.com.br

do rio Amazonas, o maior rio do planeta em volume de água e o segundo maior em volume de sedimentos contribuindo com cerca de 300 x 10 3 m 3 /s na época de cheia (Nittrouer et al. 1991). Esse fenômeno potencializa-se na porção oriental do Estado do Amapá, onde se localiza o Distrito do Bailique, que por sua vez abriga o Arquipélago do Bailique. Regida pela sazonalidade da descarga do Amazonas e pelos ventos alísios conforme os períodos de cheia e seca, a região ainda está submetida a um sistema de correntes que carreia sedimentos amazônicos até o Caribe, influenciando fortemente as interações terra-oceanoatmosfera. Essas características permitiram a instalação de ambientes transicionais de extrema importância, no qual a flora e a fauna se adaptaram e desenvolveram paisagens exuberantes e diversas, com funções ecológicas importantes. Este trabalho é parte dos resultados do Estudo de Criação da Unidade de Conservação Estadual da Foz do Rio Amazonas (UC), o qual foi efetuado através do Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal. Convênio 2000 cv 0071- MMA/SCA-GEA/DETUR-Implantação do PROECOTUR no Amapá/ Meta: Estudo de Criação da Unidade de Conservação da Foz do Rio Amazonas, através de acordo de cooperação técnica entre o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá-IEPA e o Departamento de Estado de Turismo DETUR/SEICOM, e teve como principal objetivo identificar, através da análise de imagens de radar e de satélite disponíveis no IEPA, as principais modificações ocorridas no Distrito do Bailique, nos últimos 27 anos dando um passo para o auxílio no entendimento da dinâmica da região, como subsídio a ações de gestão na área. METODOLOGIA A análise foi baseada em imagens de radar do Projeto Radam, de 1974 e dos satélites Landsat 5 (1992) e 7 (2000), o que permitiu a avaliação multitemporal qualitativa, isto é, a identificação das unidades geomorfológicas e dos processos ocorrentes. Como imagem base utilizou-se um mosaico dos anos de 1999 e 2000, geoferenciado a partir de pontos de GPS. A imagem foi processada utilizando técnicas de realce a fim de distinguir melhor as diferentes unidades geomorfológicas e o contato da 2

linha de costa com o oceano. Posteriormente, essa carta foi validada em campo, sofrendo ou não as correções necessárias. Localização da Área A área está localizada no Distrito de Bailique, na porção ocidental da foz do Amazonas, entre as coordenadas geográficas 49º 42 04 W e 50º 23 45 W e 01º 22 39 N e 00º43 00 N. As principais ilhas que compõem o Arquipélago de Bailique são: Bailique, Brigue, Curuá, Faustino, Franco, Marinheiro, Meio e Parazinho (Figura 1). AMAPÁ Figura 01: Mapa de localização. (Fonte: Silveira et al. 2002). A DINÂMICA COSTEIRA E SUA INFLUÊNCIA NAS MODIFICAÇÕES ANALISADAS O processo de construção recente da planície costeira amapaense está diretamente ligado ao Sistema de Dispersão Amazônico e às variações do nível do mar durante o Período Quaternário atuantes sobre um relevo construído desde tempos geológicos mais antigos, que vem sendo remodelado desde a separação do Gondwana. Com a separação dos continentes, instalaram-se globalmente os sistemas de correntes, que movem as massas oceânicas. Pela configuração do relevo e das forças globais atuantes (Coriolis) a corrente atlântica dividiu-se em duas correntes principais: a corrente sul-equatorial e a Corrente Costeira Norte Brasileira (CCNB) (Figura 02). Essa corrente atravessa todo o litoral norte. Ao chegar na foz do rio Amazonas, ela recebe toda a água e os sedimentos trazidos pelo rio em seu curso desde os Andes(as quantidades são astronômicas). A CCNB, então, 3

carrega esses sedimentos por toda a costa norte, auxiliada pelos ventos alísios, que sopram sazonalmente. Figura 02: Figura esquemática mostrando o fluxo dos sedimentos do Amazonas, direção preferencial dos ventos alísios e a CCNB. (Nittrouer, 1996) A rede de drenagem As observações realizadas através do sensoriamento remoto na planície costeira indicam que houve modificações significativas no sistema de drenagem regional. Essas mudanças são reconhecidas através da presença abundante de paleofeições já citadas por outros autores (Pinto, 1930; Borges, J. 1934; Boaventura & Narita 1974; Mendes, 1994), tais como: paleocanais entulhados, lagos residuais, extensas áreas de colmatação, etc. Através da análise de mapas antigos e de sua comparação com os sensores atuais, juntamente com uma nova leitura dos documentos históricos existentes. Silveira, em 1998, reconstruiu a paleorede de drenagem da região, a qual contrasta sobremaneira da rede atual, tanto nas dimensões das drenagens individualmente, quanto no número de drenagens importantes as quais foram desativadas e tantas outras geradas. O mapa de Cavalcante (1896), deve ter sido uma das bases de comparação no trabalho de Pinto (1930), em função das modificações apontadas no texto desse último 4

autor, mesmo levando em conta que o maior ou menor detalhamento das cartas pode ser o resultado dos diferentes objetivos (navegação, comércio, político e etc...). A verdade é que a Ilha de Bailique já havia sido cartografada por Alexandrino (1798), conforme a Figura 03. A identificação dessas modificações é relevante no diagnóstico das transformações ocorridas na planície costeira, especialmente à luz dos novos sensores disponíveis. A Figura 04 mostra essas modificações. Figura 03: Cartografia da Ilha Bailique em Alexandrino (1798). (Comissão Demarcadora de Limites, in Silveira (1998). Ilha Bailique 5

Cavalcante (1896) Braz de Aguiar (1923) Landsat 5 1992 A B C A Figura 04: As cartas acima não mantêm proporcionalidade de escalas, sendo que a escala original de A e B é de 1: 1.000.000, enquanto que C possui uma escala original de 1: 100.000. Porém, é perceptível, em todas elas, a mudança ocorrida regionalmente no período de 96 anos. Os números 1) Ilha Vitória, 2) Região do Sucuriju; 3) Ilha do Bailique; 4) Ilhas Brigue e Faustino; 5) Ilha do Curuá. A carta A, de Cavalcante (1896) registra a configuração da foz do rio Araguari e as ilhas que iniciavam o processo de construção do Arquipélago do Bailique. A carta B, de Braz de Aguiar, 1923, mostra o processo de anexação da Ilha Vitória ao continente e o aumento considerável da área das ilhas que estão formando o Arquipélago. Em C, a imagem Landsat TM-5 de 1992, mostra a configuração da região naquele momento. Fonte de A e B. In: Silveira (1998). 6

Se as modificações operadas em quase um século são significativas, aquelas ocorridas nos últimos 27 anos impressionam não só pela magnitude, mas pela velocidade com que ocorreram (Silveira, 2002). As próprias comunidades relatam as profundas modificações na paisagem e no padrão de circulação na região ocorridas nesse período. Os processos mais significativos são a erosão e a deposição de sedimentos. A erosão é mais facilmente percebida na porção sul da Ilha do Curuá, no período entre 1974 e 1992, enquanto que a deposição foi mais acentuada na ilha do Bailique, no mesmo período, com recorrência de menor extensão entre 1992 e 200 (Silveira, 2002) (Figura 05). O assoreamento, a migração de canais e o crescimento de bancos que põem em risco a navegação ocorrem por todo o arquipélago. A observação de extensa área de acreção a partir da imagem de radar do ano de 1974 e das imagens de satélite impressiona, porém as cartas batimétricas têm mostrado a sua existência nas últimas décadas, o que sugere um processo progressivo de acreção. 7

Figura 05: Modificações ocorridas durante os últimos 27 anos na região. A linha laranja mostra a configuração da linha de costa em 1974; a azul, em 1992; a vermelha em 2000, a amarela representa a acreção de bancos, registrada na imagem do ano de 2000. Fonte: Silveira (2002). Fotos:Acervo GERCO. 8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRINO, P. 1749. Mapa da desembocadura do Rio Amazonas. Doação n o 256. Acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi. BOAVENTURA, F.M.C. & NARITA, C. 1974. Geomorfologia da Folha NA/NB-22-Macapá. In: BRASIL. Projeto RADAM. Folha NA/NB-22-Macapá; geologia, geomorfologia, solos, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro (Levantamento dos Recursos Naturais, 6). BORGES, J. 1934. Lagos Duas Bocas e Novo - Amapá. Rio de Janeiro, Serviço Geológico e Mineralógico do Departamento Nacional da Produção Mineral. 23p. Boletim, 87. BRAZ de AGUIAR, 1923. Carta Geográfica do Território Federal do Amapá. Belém, Comissão Demarcadora de Limites (Acervo Mapoteca #855a). CAVALCANTE, M.F.A.B. 1896. Comission brèsilienne d exploration du Haut Araguary. Mapa Geográfico. Acervo do Museu de Mineralogia do Centro de Geociências/UFPA. MENDES, A.C. 1994. Estudo Sedimentológico e Estratigráfico dos Sedimentos Holocênicos da costa do Amapá-Setor entre a Ilha de Maracá e o Cabo Orange. Belém, Universidade Federal do Pará. Centro de Geociências. 274p. Tese (Mestrado) - Curso de Pós-Graudação em Geologia e Geoquímica, Centro de Geociências, UFPA. PINTO, J.O. 1930. Hydrographia do Amazonas e seus afluentes. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional. v.1. NITTROUER, C.A., DeMASTER, D.J., FIGUEIREDO, A. G. & RINE, J.M. 1991. AMASSEDS: An Interdisciplinary Investigation of a Complex Coastal Environment. In: Pororoca: The Big Roar at the Mouth of the Amazon. Compilation of Publications. P. 761-765. NITTROUER, C.A.; KUEHL, S.A.; FIGUEIREDO, A.G.; ALLISON, M.A.; SOMMERFIELD, C.R.; RINE, J.M.; GARIA JR, L.E.C. & SILVEIRA, O.F.M. 1996. The geological record preserved by Amazon shelf sedimentation. Continental Shelf Research, 16(5/6):817-841. SILVEIRA, O. F. M. A planície costeira do Amapá: dinâmica de ambiente costeiro influenciado por grandes fontes fluviais quaternárias. 1998. 215 p. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Pará, Belém. SILVEIRA, O. F. M. Dinâmica Geomorfológica no Distrito do Bailique. Relatório Técnico. Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal. Convênio 2000 cv 0071 MMA/SCA GEA/DETUR Implantação do PROECOTUR no Amapá/Meta: Estudo de Criação da Unidade de Conservação da Foz do rio Amazonas. 15 9

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