O COLAPSO DAS EXPORTAÇÕES PARANAENSES DE MADEIRA DE 2005 A 2010



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Transcrição:

O COLAPSO DAS EXPORTAÇÕES PARANAENSES DE MADEIRA DE 2005 A 2010 INTRODUÇÃO João Guilherme Duda Luiz Fernando Veloso Rafael Paula Soares de Melo O presente texto interpreta o declínio das vendas externas da indústria madeireira paranaense no intervalo de tempo compreendido entre 2005 e 2010. Ao longo do artigo, são destacados o significado da demanda externa para a economia estadual, a reestruturação setorial verificada entre 1995 e 2003, as vendas externas e o faturamento industrial, as razões da rota cadente e as perspectivas. 1. A importância das exportações de madeira na economia paranaense O grupo madeiras e manufaturas de madeira é o 4º item da pauta de exportações paranaenses 1, atrás dos complexos soja, carnes e materiais de transportes. Tal posição decorre de um ciclo de recuperação observado entre os anos de 1995 e 2005, sendo escopo do presente estudo a sua decadência a partir de então. É de se notar que os três primeiros itens da pauta de exportação do estado do Paraná têm a sua produção em regiões que ao final do século XX se consolidaram como pólos de elevado desenvolvimento humano (regiões norte, oeste e metropolitana de Curitiba). Enquanto, por outro lado, a indústria madeireira, na virada deste século, trouxe algum dinamismo às regiões que há décadas estavam estagnadas ou sequer haviam experimentado ciclos de desenvolvimento. Não se olvida que o segundo planalto foi o cenário de três (tropas, mate e araucária) dos quatro ciclos econômicos que configuraram a economia paranaense e que desde a metade do século passado remanesceu como coadjuvante em meio ao destaque da industrialização curitibana e à pujança agrícola do norte e do oeste do estado. A recuperação da indústria madeireira exportadora nesta ocasião de produtos de madeira reflorestada de pinus, com incentivos fiscais federais nas décadas de 70 e 80 2 teve como seu principal cenário a combalida região do segundo planalto e da sua transição para o terceiro, com destaque para os pólos de Ponta Grossa, Guarapuava, Palmas, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, União da Vitória, Lapa e Irati. Merece também especial destaque a silvicultura ( agricultura de árvores ) no Vale do Ribeira, que após alguma melhora de sua infraestrutura, representada pela pavimentação das 1 Segundo o IPARDES, até o ano de 2006, os produtos de madeira ocuparam a terceira posição, à frente do complexo carne. 2 Com especial destaque ao Decreto-Lei Federal nº 1134/1971. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 1

rodovias PR-092 de Rio Branco do Sul a Cerro Azul e BR-476, de Bocaiúva do Sul a Adrianópolis, passou a ser a principal região fornecedora da indústria madeireira instalada na região metropolitana de Curitiba. Mais do que beneficiar regiões menos desenvolvidas do estado, o setor madeireiro emprega também intensa mão de obra de baixa qualificação, vez que em regra se desenvolve em topografias acidentadas, inviáveis à mecanização de um modo geral, justamente por isso deixadas de lado pela agricultura e aproveitadas para os longos ciclos produtivos da silvicultura. No uso do solo paranaense, a silvicultura ocupa a área quase insignificante de 2% do território do estado 3. Cerca de 85% da produção industrial madeireira local 4 tem como matéria-prima o pinus sp., cujas características de fibras longas, madeira clara, mole e leve o tornam um sucedâneo da Araucaria angustifolia, que com essa substituição, pôde ter a sua importância econômica quase anulada, viabilizando a preservação. O restante da produção é quase toda baseada no Eucaliptus sp. e na Mimosa scabrela (bracatinga). Não apenas pelo fato de ocupar relativamente pouca área, pode-se se assegurar que o pinus sp. não compete com a produção de alimentos, vez que suas características fisiológicas (baixa exigência de nutrientes, umidade ou solos profundos), associadas ao seu longo ciclo produtivo, incentivam a sua implantação principalmente nas antigas áreas de pastagens degradadas de pecuária extensiva do segundo planalto e do Vale do Ribeira, caracterizadas também pela baixa densidade demográfica. Ainda no aspecto ambiental, cumpre ressaltar que a silvicultura, ao contrário da pecuária extensiva, tem maior disposição a respeitar e preservar zonas de reserva legal e preservação permanente 5, haja vista que é atividade em regra desenvolvida em grande escala e sujeita a severa fiscalização, sem se mencionar que nasceu no estado como atividade financiada pela União e por isso regulada e fiscalizada pelo IBAMA (na época ainda Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBDF). Apenas como exemplo, segundo o IPARDES, a produção total da silvicultura nos municípios do litoral do estado, zona de especial interesse ambiental, é igual a zero. Destarte, resta inequívoca a importância da produção madeireira paranaense em seus aspectos sociais, econômicos e ambientais, sendo mister a análise da sua recente decadência, em especial na sua parcela exportadora. 3 Cálculo obtido a partir da estimativa de 800 mil hectares de florestas plantadas no Estado vide ABRAF (Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas). Anuário Estatístico 2007, ano base 2006. p. 22. 4 Idem. p. 20. 5 Vide Lei 4.771/1995 (Código Florestal). Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 2

2. Reorganização e ascensão da indústria madeireira paranaense: 1995-2003 Desde os anos 60, a indústria baseada na exploração do Pinheiro do Paraná enfrentou constante restrição e retração resultante do estrangulamento do suprimento de matéria-prima, bem como das constantes pressões pela preservação da Araucária. Este período coincide com a implementação de dois fatores-chave que resultaram no renascimento da indústria madeireira local na virada do século. A partir do final dos anos 60, consolida-se na Universidade Federal do Paraná o curso de Engenharia Florestal, habilitando o estado tecnologicamente a produzir madeira plantada silvicultura. Por outro lado, no mesmo período, o governo militar, por meio do IBDF e do FISET (Fundo de Investimentos Setoriais), implementa a política de incentivos fiscais, pelo qual parte do imposto de renda de pessoa jurídica devido poderia ser convertido em quotas de projetos de reflorestamento. O Paraná ingressa na década de 90 com privilegiado estoque de matéria-prima e tecnologia para a indústria, com uma taxa de câmbio que de um lado sepultava a antiga indústria baseada na exportação de pinheiros nativos e permitia a importação de maquinário para o aproveitamento do pinus sp., cujos desbastes para manejo colocavam o produto a preço irrisório para nova indústria. Neste contexto, contribuía a política estadual de atração de investimentos estrangeiros em projetos industriais, a preocupação com o aprimoramento da infraestrutura (anel de integração e conclusão da duplicação da BR 376), enquanto o Porto de Paranaguá e o Instituto Ambiental do Paraná não eram apontados pelo empresariado, como passaram a ser a partir de 2003, como órgãos sob ingerência política e causas de dificuldade de comercialização da produção e inibição de investimentos, respectivamente. Neste período (1995-2003), por exemplo, no setor de painéis, implantaram-se as indústrias multinacionais de MDF e OSB em Piên (Tafisa), Jaguariaíva (Lois Dreyfus) e Ponta Grossa (Masisa); enquanto eram adquiridos por empresas estrangeiras importantes ativos florestais antes pertencentes às locais Placas do Paraná (Lois Dreyfus), Trombini e Manasa (Brazil Timber). Na virada do século (1999-2003), organiza-se, com novas empresas ou conversão de antigos exploradores de pinheiro do paraná, a indústria local de compensados de pinus, com especial destaque para a cidade de Palmas. No setor de madeira serrada, o mesmo ocorre, com destaque aos polos formados em Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Ponta Grossa, Vale do Ribeira, Guarapuava e Curitiba, para o aproveitamento de excedentes florestais de indústrias de celulose ou de projetos incentivados. A liberação do câmbio em 1999, coincidente com a conjuntura política local, inaugura uma era de crescimento exponencial das exportações e dos investimentos industriais e florestais, que encontra o seu ápice no ano de 2004, iniciando a decadência e o atual colapso cujas análise e causas são objeto deste artigo. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 3

3. Exportações de madeira e do faturamento das maiores indústrias paranaenses As exportações de produtos paranaenses de madeira encontrou seu ápice no ano de 2004 e a partir de então enfrenta significativa e contínua retração, conforme se vê da tabela abaixo 6 : Tabela 1 Participação de Produtos de Madeira no Total das Exportações do Paraná 2003-2009. Ano Total US$ FOB % sobre total das exportações do PR 2003 827.325.136 9,21 2004 1.250.729.982 12,58 2005 1.181.662.411 11,10 2006 1.131.527.600 10,60 2007 1.127.029.001 8,43 2008 908.925.596 5,69 2009 566.824.935 4,75 FONTE: Secretaria de Comércio Exterior (Aliceweb) Além da queda em valores brutos, percebe-se uma sensível diminuição da participação dos produtos de madeira nas exportações do estado do Paraná, podendo concluir que a crise financeira mundial de 2008 teve grande influência neste quadro, uma vez que, houve acentuada queda da demanda externa. Outrossim, na esteira de fenômeno generalizado 7 na reconformação da economia paranaense, denota-se a degradação da importância relativa da indústria paranaense de controle local, passando a predominar indústrias madeireiras de controle estrangeiro, voltadas ao mercado interno. Segundo o Anuário Exame do Agronégócio de 2004 (p. 62), no ano ápice da indústria madeireira paranaense, 9 entre as 10 maiores empresas exportadoras de madeira do Brasil eram paranaenses, sendo apenas uma delas de capital estrangeiro (Masisa, com sede em Ponta Grossa). A maior dentre as empresas paranaenses exportadoras de madeira, segundo este ranking, era a Indústria de Compensados Guararapes, com sede em Palmas PR, que já no Anuário do Agronegócio de 2005 (p.68) caiu, na lista que considerou todos os segmentos do agronegócio, da 208ª para a 246ª posição, com faturamento apurado de R$ 251 milhões. Os dados de faturamento das empresas do ano de 2008 publicados pela revista Exame demonstram a tendência da indústria paranaense local: a mudança de orientação da produção 6 Dados obtidos da Secretaria de Comércio Exterior (Aliceweb), usando-se o item 44 da NCM. 7 LOURENÇO, Gilmar Mendes. Economia Paranaense: fatores de mudanças e entraves ao desenvolvimento. Curitiba, 2007. O autor trata, no capítulo 1, da dificuldade industrial brasileira em se adaptar à variação cambial via ganhos de produtividade. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 4

de madeira compensada (plywood) para exportação à produção de MDF (Medium Density Fiberboard) em vistas do mercado interno. Neste sentido, são destaques nas publicações a empresa local Berneck Aglomerados, que já se dedicava precipuamente ao mercado interno, produzindo placas de MDP (Medium Density Particleboard) e inaugurou uma planta de MDF em Araucária, com projeto de uma segunda em Curitibanos-SC; e a Placas do Paraná, atualmente sob o controle da gigante chilena Arauco, que conta com uma planta de MDP em Curitiba, inaugurou uma de MDF em Jaguariaíva e em 2009 adquiriu a maior indústria do Paraná de MDF, a Tafisa, antes sob controle do grupo português Sonae. No ranking das 500 maiores do agronegócio de 2008 8 a Placas ocupa a posição 122, com R$ 586 milhões de faturamento; seguida pela Berneck (posição 166, faturamento de R$ 402,90 milhões); Sudati (posição 257, faturamento R$230,70 milhões); e Guararapes (posição 315, faturamento R$ 159,50 milhões). Denota-se ainda um movimento de concentração, em especial pela atuação do Grupo Arauco, que além da aquisição das empresas Placas do Paraná e Tafisa, fez importantes aquisições de terras e florestas nas regiões do Norte Pioneiro e Vale do Ribeira, com atenção especial à aquisição dos ativos florestais da antiga Impacel de Arapoti, constituída pelo grupo Bamerindus e atualmente sob o controle da finlandesa Stora-Enso 9. No entanto, esses movimentos não significam formação de capital fixo no Paraná, vez que há apenas a alteração de titularidade de ativos já existentes. Com exceção da nova planta da Berneck em Araucária, não houve investimentos significativos. Merece atenção o fato de as empresas Guararapes e Sudati terem implantado fábricas de painéis de MDF em Santa Catarina 10 (Municípios de Caçador e Octacílio Costa respectivamente). A Berneck tem planos de constituição de uma segunda fábrica em Curitibanos, também em Santa Catarina. De outro lado, a chilena Masisa alienou sua fábrica de OSB (Oriented Strand Board) em Ponta Grossa e realiza significativos investimentos em fábrica de MDF no Rio Grande do Sul. 8 Fonte: Portal da Revista Exame. Disponível em <http://portalexame.abril.com.br/>, acesso em 18 abr 2010. Foram desconsideradas empresas dedicadas ao segmento de papel e celulose. 9 Pesquisa realizada pelos autores junto à base de dados da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça ( atos de concentração ). 10 Informações disponíveis em <http://www.sudati.com.br> e <http://www.compensadosguararapes.com.br>, acesso em 18 abr 2010. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 5

4. Razões do declínio das exportações da indústria madeireira paranaense Evidentemente, como todos os demais produtos, a madeira sofre restrição de competividade em vista da apreciação do real. Anote-se que em maio de 2004, ano de melhor resultado, a cotação do dólar ultrapassou R$ 3,20; enquanto que em agosto de 2008 atingiu o mínimo de R$ 1,56. Contudo, a variável cambial não afetou os demais itens da pauta de exportação paranaense, sendo necessário identificar quais as peculiaridades deste setor. Deve ser descartada também, para fins de comparação, a questão tributária, vez que a demora na devolução de créditos tributários decorrentes da exportação e não compensados em conta gráfica é problema que afeta igualmente outros segmentos exportadores. Em primeiro lugar, é importante destacar que os complexos soja e carne foram agraciados pela alta generalizada de commodities no mercado internacional, o que em certa medida neutralizou o impacto do câmbio na queda dos preços em Real. De outro lado, a madeira enfrentou fenômeno inverso, visto que seu principal consumidor indústria da construção dos Estados Unidos enfrentou notória desaceleração a partir de 2007. Ademais, o mercado interno, embora seja demanda final parcialmente concorrente, visto que procura produtos diferentes de madeira, absorveu parte da produção e evitou queda significativa dos preços da matéria-prima da indústria (toras de madeira 11 ) reduzindo ainda mais a competitividade das exportadoras. Outrossim, o aumento da demanda interna por produtos de madeira (distintos dos exportados), em especial por painéis reconstituídos (MDF e MDP), reorientou os investimentos, reduzindo em médio prazo a capacidade produtiva dos produtos tipicamente exportados (madeira laminada e compensada ou serrada e beneficiada). O ambiente institucional parece ser significativo, vez que a formação bruta de capital no setor em Estados vizinhos, embora carente de dados estatísticos, deduz-se mais significativa, com os investimentos, especialmente de capitais paranaenses, em novas plantas industriais. Embora ainda não se tenham produzidos textos qualificando e quantificando o problema, deduz-se com base nos dados da imprensa paranaense no período a insatisfação do empresariado com a administração do Porto de Paranaguá e com a concessão de licenças no Instituto Ambiental do Paraná. Deveras, neste recente período, a indústria madeireira restou associada a termos como monocultura de espécie invasora e ao impacto (meramente) visual da exploração das árvores que plantou e replanta. 11 Silviconsult. Radar Silviconsult e Boletim de Preços. Disponível em <http://www.silviconsult.com.br>, acesso em 18 abr 2010. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 6

Não pode ser olvidado que é um setor de mão de obra relativamente intensiva, que foi impactado pelos aumentos do salário mínimo, inclusive aquele determinado pela legislação estadual, e pela intensa atuação do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho no sentido de implementar nas áreas de silvicultura a Norma Regulamentadora nº 35 12. 5. Perspectivas setoriais À luz da série de problemas apresentados, mas sob o tempero do realismo de que não se espera uma atuação radical do Governo Federal na questão cambial, cumpre apresentar fatores que podem contribuir com a reestruturação da exportação da indústria madeireira. Em entrevista, o Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente assim sintetizou o ano de 2009 e as demandas políticas decorrentes: Uma conjugação de fatores provocou uma redução gigantesca da base produtiva em volumes produzidos, demissões em massa e fechamento de empresas. Entre estes fatores destaco a excessiva carga de impostos agregada a cada fase do processo produtivo; a alta carga de tributos trabalhistas em um setor que concentra muita mão de obra e disputa mercado com produtores de países com cargas muito menores de impostos e com infraestrutura de exportação muito melhor do que o governo brasileiro disponibiliza aos empresários. Para reverter a situação não podemos esperar a recuperação dos mercados externos, ou um novo boom do setor construtivo de países como os Estados Unidos (...) outra solução é a criação de mercado interno, diminuindo a dependência da exportações. Para tanto, o governo deve mudar a política do Sistema Nacional de Habitação, voltando a permitir o financiamento de casas de madeira. (CAMILOTTI, 2009. p.57) Deveras, a indústria madeireira encontra preconceito por parte do público em geral e de alguns segmentos políticos e ambientais por conta do desconhecimento acerca da sua produção florestal; principalmente do consumidor brasileiro, que ignora o avanço tecnológico da indústria local no beneficiamento de madeiras não consideradas nobres, que vem suprindo o exigente mercado americano. O preconceito com as construções em madeira é expresso pelo próprio governo federal, que se recusa em financiá-las, via Caixa Econômica Federal. Indo além, a tecnologia de engenharia civil e arquitetura nacionais encontra-se em estado primitivo, deixando de lado produto renovável, para privilegiar materiais que redundam o processo de mineração de produtos não renováveis e de alto impacto ambiental (cimento, cal, tijolos, areia, vidro, minério de ferro e derivados de petróleo). Assim, se por um lado, no passado, o financiamento de projetos de reflorestamento e investimento na formação de profissionais engenharia aptos a produzir madeira foi determinante; de outro passo, no momento, o financiamento de casas e a formação de 12 Dispõe sobre exigências de alojamento, transporte e alimentação de trabalhadores. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 7

engenheiros que usem madeira mostra-se essencial à recuperação e ao crescimento sustentável deste essencial setor produtivo do Estado do Paraná. Por fim, evidentemente, são indispensáveis as políticas públicas que beneficiam de maneira geral a exportação e a produção, ao manejaram regras racionais de regulação ambiental e trabalhista; assim como um bom equilíbrio entre carga tributária e infraestrutura disponibilizada. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A exploração da atividade madeireira, desde o final do século XIX, estimulava grandes expectativas com relação ao seu crescimento e sua participação nas exportações paranaenses. A partir deste período, com o crescimento da economia brasileira, devida principalmente ao café e a crescente demanda europeia por carnes, trigo e outros artigos, ampliou o mercado de madeira para construções, incentivando assim, a exploração desta atividade, que no período entre guerras se tornou a maior atividade tanto interna quanto exportadora do Paraná. Um das grandes possíveis causas para essa queda observada após 2004 pode ser encontrada na cotação de R$ 3,20 para o dólar, que depois desceu da barreira de R$ 2,00 reais até atingir R$ 1,56 na mínima do ano de 2008. A curiosidade é que ao contrário dos outros itens da pauta de exportação, como a carne e a soja, que se defrontaram com uma aceleração dos preços das commodities, a madeira, que tinha como seu principal comprador o mercados de construção dos EUA, que passara por uma notória desaceleração econômica a partir de 2007, sofreu, também, a partir deste momento, vendo as suas exportações caírem nominalmente mais de 50%. Sendo inconteste a sua relevância econômico-social para o Paraná, em especial justamente nas suas regiões menos avançadas, revelam-se necessárias políticas públicas (não cambiais) que permitam a competitividade externa e incrementem a demanda interna, libertando o setor das suas características cíclicas inibidoras de maiores investimentos. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 8

REFERÊNCIAS ABRAF Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas. Anuário Estatístico 2007, ano base 2006. Disponível em <http://www.abraflor.org.br/estatisticas.asp>. Acesso 28 maio 2010. CAMILOTTI, Antônio Rubes. In Revista Referência, a.xi, n.98. IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Anuário Estatístico 2007-2008. Disponível em <http://www.ipardes.gov.br/anuario_2008/index.html>. Acesso 28 maio 2010. LOURENÇO, Gilmar Mendes. Economia Paranaense: fatores de mudanças e entraves ao desenvolvimento. Curitiba, 2007. Ministério da Justiça. Secretaria de Direito Econômico. Disponível em <http://portal.mj.gov.br/main.asp?view={00ef9692-90ce-434d-8527-8f5b44a93562}>. Acesso 27 maio 2010. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso 18 maio 2010. Revista Exame. Disponível em <http://portalexame.abril.com.br/>. Acesso 18 abr 2010. SILVICONSULT. Radar Silviconsult e Boletim de Preços. Disponível em <www.silviconsult.com.br>. Acesso 18 abr 2010. Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.3, n. 8, outubro 2010 9