A INFLUÊNCIA DA TÉCNICA DE MOBILIZAÇÃO NEURAL NA DOR E INCAPACIDADE FUNCIONAL DA HÉRNIA DE DISCO LOMBAR: ESTUDO DE CASO



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Transcrição:

1 Artigo publicado na Revista Terapia Manual / Volume 8, Número 35/ Fev - 2010 Relato de caso A INFLUÊNCIA DA TÉCNICA DE MOBILIZAÇÃO NEURAL NA DOR E INCAPACIDADE FUNCIONAL DA HÉRNIA DE DISCO LOMBAR: ESTUDO DE CASO THE INFLUENCE OF THE TECHNIQUE OF NEURAL MOBILIZATION IN THE PAIN AND THE FUNCTIONAL INCAPACITY OF THE HERNIATED LUMBAR DISC: CASE STUDY. Eduardo Monnerat*, João Santos Pereira** *Fisioterapeuta (UNESA), Mestrando do Programa Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana (UCB-RJ), Professor do Núcleo de Extensão da UNESA-RJ, **Doutor em Neurologia pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), UERJ/UCB Correspondência: Dr. Eduardo Monnerat Rua: Carlos Vasconcelos, 76 Apt. 408 Tijuca Rio de Janeiro RJ CEP- 20521-050 Tel: 21 26568-6783 E-mail: eduardomonnerat@pop.com.br

2 Resumo: A hérnia de disco ocorre pela ruptura do anel fibroso, em conseqüência do deslocamento do núcleo intervertebral. A mobilização neural é um valioso recurso terapêutico para as diversas disfunções do sistema músculo-esquelético, sendo que a técnica ainda é pouco explorada pelos profissionais da área da saúde no Brasil. O objetivo deste estudo foi Verificar a influência da técnica de mobilização neural sobre a dor e incapacidade funcional na hérnia de disco lombar póstero-lateral. Participaram deste estudo três indivíduos com diagnóstico de hérnia de disco lombar póstero-lateral, confirmada por Ressonância Magnética Nuclear. Os indivíduos foram submetidos ao tratamento por quatro semanas, com três sessões semanais durante 20 minutos cada. Para avaliação do efeito terapêutico utilizou-se a Escala de Dor e Incapacidade Funcional. Ao se compararem os resultados obtidos antes e após a utilização da técnica, evidenciou-se melhora da sintomatologia dolorosa e da capacidade funcional. Embora preliminar, através deste estudo demonstrou que a técnica de mobilização neural pode ser uma excelente alternativa terapêutica conservadora na recuperação da hérnia de disco lombar póstero-lateral. Palavras chaves: Mobilização neural, hérnia discal, dor Abstract: The herniated disc occurs by the rupture of the annulus fibrosus, in consequence of the displacement of the intervertebral nucleus. The neural mobilization is a valuable therapeutic ploy for the many dysfunctions of the muscle skeletal system, but the technique remains underexploited by the professionals of the health area in Brazil. The objective of this study was verify the influence of the neural mobilization technique over the pain and the functional incapacity in the posterolateral lumbar herniation. Three individuals with posterolateral lumbar herniation diagnosis participated of this study. The individuals had been submitted to the treatment for four weeks, with three weeks sessions of 20 minutes. For evaluation of the therapeutic effect it was used the Dor s Scale and Functional Incapacity. Comparing the obtained results before and after the utilization of the technique, it was evidenced the painful symptomatology and the functional capacity improvements. Although preliminary, this study demonstrated that the technique of the neural mobilization can be an excellent conservative therapeutic alternative in the recuperation of the posterolateral lumbar herniation. Key words: Neural mobilization, herniated disc, pain

3 Introdução: A hérnia de disco (HD), de maneira geral, ocorre por um processo onde há ruptura do anel fibroso, em conseqüência do deslocamento do núcleo intervertebral. Acometendo cerca de 2 a 3% da população mundial, com prevalência de 48% em homens e de 2,5% em mulheres com idades superiores a 35 anos 1. Além da predisposição genética e dos aspectos antropológicos, diversos fatores de risco têm sido relacionados para ocasionar esta disfunção, tais como hábitos de carregar peso, dirigir, fumar, condutas posturais inadequadas, assim como o próprio processo natural de envelhecimento 2, e os distúrbios emocionais podem exercer grande influencia no limiar da dor. A hérnia discal lombar (HDL) entre L4-L5 e L5 S1 é a região de mais freqüente de acometimento 3. Nos últimos vinte anos, muitos fisioterapeutas com formação orientada à ortopedia, voltaram-se para o sistema nervoso (SN) buscando respostas para os mecanismos subjacentes a sinais e sintomas e melhores tratamentos para indivíduos com disfunções do tecido neural. Um tratamento baseado na mobilização do sistema nervoso foi desenvolvido e continua evoluindo, baseado em observações clínicas e pesquisas experimentais 4. Embora a técnica de mobilização neural não seja amplamente conhecida, a idéia de utilizar um tratamento mecânico para o tecido neural não é recente. Os princípios e métodos do alongamento neural já existem desde 1800, tendo sido progressivamente aperfeiçoados tanto na teoria, quanto em sua aplicação clínica 5. Quando ocorre um alongamento neural, os vasos sanguíneos são estrangulados comprometendo assim o fluxo intraneural e deteriorando a função nervosa. Se este alongamento for discreto, além dos limites de proteção por breve período, a função nervosa tende a voltar rapidamente ao normal. Entretanto, se a tensão sobre o nervo for severa ou sustentada por longo período de tempo, as alterações na função nervosa serão permanentes 6. O termo alongamento neural não deve ser utilizado, pois o alongamento do nervo poderá irritar e ocasionar dor. Em uma disfunção do tecido neural, é comum que a microcirculação no nervo esteja anormal e, portanto, um alongamento mínimo poderá comprometer o fluxo circulatório e reduzir a função nervosa. Por estas razões é imprudente tratar o tronco nervoso danificado ou comprimido com técnicas de alongamento 7,8. Com o desenvolvimento de pesquisas na área de reabilitação, o número de recursos de terapêuticos conservadores para tratamento da hérnia discal (HD) aumentaram. Técnicas pouco utilizadas ou empregadas apenas em casos especiais começaram a se desenvolver. A Osteopatia, a Quiropraxia, a Reeducação Postural Global, a Mobilização Neural, as Técnicas de Mobilização Articular, a Hidroterapia e o Pilates, foram englobados à terapêutica conservadora da fisioterapia convencional contra a sintomatologia álgica e funcional da coluna lombar. Embora tenha havido grande evolução dessas técnicas, o repouso e o tratamento medicamentoso com utilização de analgésicos, antiflamatórios e relaxantes musculares, ainda são imprescindíveis no tratamento da hérnia de disco lombar (HDL), principalmente na fase aguda. O procedimento cirúrgico, em muitos casos, poderá ser outra opção terapêutica. Nos quadros de hérnias de disco de grande volume e síndrome da cauda eqüina, pode ocorrer compressão da medula espinhal e das raízes nervosas, com surgimento de muitas vezes como urgência. As demais indicações seriam por resposta inadequada ao tratamento conservador e episódios de dor recorrentes, que limitem a atividade diária do paciente de forma importante 1,3. Em estudos realizados em indivíduos submetidos à cirurgia e indivíduos submetidos ao tratamento conservador, chegou-se a conclusão que: o grupo que foi submetido ao tratamento

4 cirúrgico estava melhor após o segmento de um ano. Entretanto, essa significância se dissipa, tornando-se semelhante após 4 anos e igual a 10 anos 9. Após um ano da intervenção cirúrgica para HDL e estenose foramidal do segmento lombar, 17 indivíduos foram avaliados. Os resultados mostram que as evoluções dos indivíduos não podem ser consideradas satisfatórias, pois a evolução é lenta, e os pacientes apresentaram ao final de um ano disfunção mecânica e dor residual 10. A intervenção precoce da fisioterapia contribuiu para melhorar e estado funcional e reduzir a dor em pacientes nos dois primeiros meses após o procedimento cirúrgico de hérnia de disco lombar 11. Observando estes conceitos, desenvolveu-se este estudo com objetivo de demonstrar a influência da mobilização neural na melhora da intensidade da dor e incapacidade funcional e comparando-se os resultados obtidos entre os indivíduos com hérnia de disco lombar (HDL) póstero-lateral que participaram desta pesquisa. Relato de Caso: Participaram deste estudo três indivíduos, voluntários, com diagnóstico de HDL pósterolateral confirmado por Ressonância Magnética Nuclear, sendo um do sexo masculino e dois do sexo feminino, com moderado comprometimento pela HDL. Ao longo da pesquisa, os mesmos não poderiam realizar outro tipo de tratamento, ou utilizar alnagésicos, antiflamatórios ou relaxantes musculares. Os participantes foram avaliados e tratados na Clínica Bom Pastor de Fisioterapia no Rio de Janeiro, e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo obedeceu a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para estudo em seres humanos. Após a realização da anamnese, aplicou-se a Escala Analógica de Dor e de Incapacidade Funcional (EADIF) 12, que consta de 27 perguntas pontuando de 0 a 4 quanto a intensidade da dor durante a realização de atividades diárias, onde: 0 = nenhuma dor; 1= pouca dor; 2 = dor razoável; 3 = muita dor; porém suportável e 4 = dor insuportável. O somatório das pontuações totaliza 108 pontos, utilizando-se como padrão a média aritmética das pontuações, ou seja, o total de pontos dividido pelo número de perguntas, para graduar o comprometimento funcional. Assim quanto maior a pontuação e a média, mais intensas serão a incapacidade e a intensidade da dor. Após 4 semanas de tratamento utilizando a técnica de Mobilização Neural, com três sessões semanais e duração de vinte minutos, foi reaplicada a EADIF, com objetivo de se compararem os resultados obtidos antes e após o tratamento. O procedimento foi realizado em cinco etapas em uma série de movimentos passivos e oscilatórios durante 40 segundos em três séries. O indivíduo permaneceu em decúbito dorsal com a cabeça apoiada sobre um pequeno travesseiro e o terapeuta se posicionou ao lado do membro acometido do paciente, ficando o contralateral flexionado. O programa constou de cinco etapas: Etapa 1: movimentos oscilatórios de flexão do quadril com o joelho também flexionado; Etapa 2: movimentos oscilatórios de flexão do quadril com o joelho extendido; Etapa 3: movimentos oscilatórios de flexão do quadril com o joelho extendido associado com planti-flexão do pé e extensão (a volta) com dorsi-flexão do pé; Etapa 4: movimentos oscilatórios de flexão- plantar e dorsi- flexão com o quadril flexionado e o joelho extendido;

5 Etapa 5: Flexão de quadril com adução e rotação interna associados a movimentos oscilatórios de flexão- plantar e dorsi- flexão, sendo que a flexão do quadril de aproximadamente 45 graus em todas as etapas do tratamento. Durante o estudo indivíduos não poderiam utilizar analgésicos, antiflamatórios ou relaxantes musculares. Os resultados das avaliações obtidos neste estudo estão resumidos na tabela 1. No quadro 1 são demonstrados os itens que ainda mostraram comprometimento álgico, porém evidenciando menor intensidade de dor e incapacidade funcional após a técnica de mobilização neural. Discussão: No contexto da terapia, a mobilização neural tem experimentado um grande desenvolvimento, particularmente nos últimos 35 anos, desde Gregory Grieve, Alf Breig e Goffrey Maitland. Em estudos na década de 70 comentou-se pela primeira vez na literatura fisioterápica, a noção de sensibilização dos tecidos neurais como fator-chave na produção de sintomas dolorosos. As possibilidades dos tecidos neurais inflamados podem ocasionar testes neurodinâmicos anormais, não necessariamente devido à compressão pela HD 5. Em 1995 o termo neurodinâmica foi proposto por Shacklock, pois sugere a inclusão da fisiologia, patofisiologia e patomecânica do tratamento do sistema nervoso 13. Atualmente estudiosos como Butler, Shacklock, Elvey e Hall vêem trabalhando na divulgação da técnica de mobilização neural pelo mundo. Na busca de melhores resultados e respostas relativas a mecanismos que ocasionam os sinais e sintomas encontrados na hérnia discal, muitos fisioterapeutas ortopédicos dirigiram sua atenção para o tecido nervoso, no entanto, jamais se deve esquecer que a fáscia, as articulações e os músculos estão conectados ao sistema nervoso, que possui uma fisiologia e uma mecânica complexa 5. A mobilização neural pode ser usada como método diagnóstico e terapêutico, contribuindo assim para diminuição do quadro sintomático. A técnica é indicada em todas as condições que apresentem comprometimento mecânico/ fisiológico do sistema nervoso. Tem por objetivo melhorar a neurodinâmica, restabelecer o fluxo axoplasmático, e a homeostasia dos tecidos nervosos 6,14. Verifica-se tal comprometimento através de testes específicos para cada nervo periférico. Demonstrou-se redução das dores sentidas nos pés e no membro superior após quatro semanas de aplicação da técnica de mobilização neural em indivíduo com Seringomielia 15. Estudo na síndrome do escrivão observou que a técnica de mobilização neural para o nervo mediano reduziu a dor e melhorou a coordenação destes pacientes 16. Estudo realizado em 7 indivíduos com lombociatalgia mostrou que após 10 sessões realizadas (3 vezes por semana), ocorreu melhora significativa dos sintomas dolorosos e da sensibilidade, assim como aumento da mobilidade na coluna lombar 17 A técnica de mobilização neural foi capaz de melhorar a cervicobraquialgia, observando- se aumento da mobilidade nas articulações da coluna cervical e do ombro, assim com redução dos sintomas dolorosos 18. Estudo em mulheres sem aparentes disfunções do tecido neural demonstrou que a técnica de Mobilização Neural era capaz de promover um aumento significativo do ângulo de flexão do quadril 19. Hall 20 acrescenta que é

6 necessário a eliminação da dor e a recuperação completa do arco de movimento (ADM) para que o paciente tenha alta. Até o momento poucos trabalhos mostraram a influência da técnica mobilização neural na hérnia de disco lombar. Neste estudo observou-se melhora significativa dos três indivíduos estudados com hérnia de disco lombar póstero lateral, avaliados através da EADIF e tratados com a técnica de mobilização neural. Embora as alterações na sintomatologia dolorosa e na capacidade funcional não tenham sido total (100%) após a técnica de mobilização neural, ocorreu nos questionamentos 8,23,25 e 26 significativa redução do quadro álgico e melhora da capacidade funcional em relação ao paciente. A paciente 2 apresentou melhora total (100%) da sintomatologia dolorosa e da capacidade funcional em todos questionamentos realizados após as sessões da técnica de mobilização neural. Já o paciente 3, embora não tenha tido melhora total (100%) na questão 11, e qualquer alteração nos resultados das questões 25 e 26, observou-se uma boa evolução na sintomatologia dolorosa e na capacidade funcional.um fator importante foi de que dois indivíduos com idade avançada que participaram do estudo tiveram boa resposta ao tratamento. Conclusão: Este estudo de caso preliminar demonstrou que a técnica de mobilização neural pode ser eficaz no tratamento da HDL por apresentar boa resposta terapêutica na regressão dos sintomas dolorosos e incapacidade funcional. Estudos comparativos com a fisioterapia convencional e com outras técnicas fisioterápicas na busca evidenciar os resultados encontrados deverão ser realizados.

7 Referências: 1. Negrelli WF. Hérnia Discal: Procedimentos de Tratamento. Acta Ortopédica. Brasileira 2001; 7(4): 39-45 2. Turek SL. Ortopedia: princípios e sua aplicação. 3 ed. São Paulo: Manole; 2000 3. Herbert S, Xavier R. Ortopedia e Traumatologia: princípios e prática. 3 ed. São Paulo: Artmed; 2003; 4 Junior HFO, Teixeira AH. Mobilização do sistema nervoso: avaliação e tratamento. Fisioterapia em Movimento 2007; 20 (3): 41-53 5. Kostopoulos D. Treatment of carpal tunnel syndrome: a review of the non-surgical approaches with emphasis in neural mobilization. Journal of bodywork and movement therapies 2004 8 (2): 1 7 6. Butler DS. Mobilização do Sistema Nervoso. 1 ed. São Paulo: Manole; 2003. 7. Shacklock M. Neurodinâmica clínica: uma nova abordagem do tratamento da dor e da disfunção músculo-esquelética. 1 ed. Rio de Janeiro: Elvesier; 2006. 8. Hall TM, Elvey RL. Nerve trunk pain: physical diagnosis and treatment. Manual Therapy 1999 4 ( 2): 63-73 9 Brown DE, Neumann RD. Segredos em ortopedia. 1 ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2003 10. Masselli MR, Fregonesi CEPT, Faria CRS, Bezerra MIS, Junges D, Nishioka TH. Índice de Oswestry após cirurgia para descompressão de Raízes nervosas. Fisioterapia em Movimento 2007; 20 (1): 115-122 11. Johnston, C, Paglioli, EB, Pagliori, EB. Escore funcional e de dor após cirurgia lombar e fisioterapia precoce. Scientia Medica 2006; 16 (4): 151-56 12. Monnerat E, Pereira JS. Validação e confiabilidade de um questionário para lombalgia. Fitness e Performance Journal 2009; 8 (1): 45-8 13. Shacklock M. Neurodynamics. Physiotherapy 1995; 81(1): 9-16.

8 14. Butler DS. Adverse mechanical tension in the nervous system: a model for assessment and treatment. Australian Journal of Physiotherapy 1989; 35 (4): 227-238. 15. Guelfi MD. A influência da mobilização do sistema nervoso em um indivíduo com Seringomielia. Terapia Manual 2004; 2 (8): 158-161. 16. Santos VR. A influência da mobilização do sistema nervoso na câimbra do escrivão. Terapia Manual 2004; 2(8): 166-171. 17. Boing M. Analise da eficácia da técnica de mobilização neural para pacientes com lombociatalgia. Monografia do Curso de Graduação de Fisioterapia. Cascavel- PR: UNIOESTE; 2004. 14 Cowell M, Phillips DR. Effectiveness of manipulative physioterapy for the treatment of a neurogenic cervicobrachial pain syndrome: a single case study experimental design. Manual Therapy 2004; Mar 7(1): 31-38; 15. Smaniotto ICG, Fonteque MA. A Influência da Mobilização Neural do Sistema Nervoso na Amplitude de Movimento da Flexão do Quadril. Revista Terapia Manual 2004; Mar 2 (4): 154-57. 20. Hall TM, Elvey RL. In Donatelli RA, Wooden MJ. Orthopaedic Physical Therapy. 3 ed. Philadelphia; Churchill Livingstone; 2001.

9 Anexos: Tabela 1: Somatório e média da avaliação dos indivíduos antes e após as sessões de mobilização neural em relação ao sexo e a idade (n = 3) Paciente Sexo Idade Pontuação total Pontuação média Antes Após Antes Após 1 Fem 78 80 6 2.96 0,22 2 Fem 78 49 0 1.81 0 3 Masc. 41 27 3 1 0,11 Média 65.66 52 3 1.92 0.11 Quadro 1: Itens da Escala Analógica de Dor e Incapacidade Funcional (EADIF) que evidenciam comprometimento após o tratamento pela técnica de mobilização neural. Pacientes Itens Questões 1 2 3 A D A D A D 8. Ao caminhar em terreno inclinado você sente dor? 4 2 - - - - 11.Você sente dor para pegar objetos no chão? - - - - 2 1 23.Você sente dor ao permanecer em pé por mais de uma hora? 4 1 - - - - 25. Você sente dor ao carregar objeto (s) cujo peso é superior a 3 Kg? 4 1 - - 1 1 26. Você sente dor em mudanças bruscas de temperatura? 3 1 - - 1 1 27 A dor aparece durante a sua atividade profissional? 4 1 - - - - A= antes; D= depois