DISCUTINDO IDENTIDADE A PARTIR DO FILME CRASH NO LIMITE 1



Documentos relacionados
A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

A DIVERSIDADE CULTURAL: Um desafio na educação infantil

O DOGMATISMO VINCULADO ÀS DROGAS RESUMO

JUSTIFICATIVA DA INICIATIVA

Desafiando o preconceito: convivendo com as diferenças. Ana Flávia Crispim Lima Luan Frederico Paiva da Silva

Preconceito juízo pré-concebido atitude discriminatória

PALAVRAS-CHAVE: Lei /2003. Diversidade Etnicorracial. Práticas Pedagógicas.

O FUTURO SE FAZ COM A CONSCIENTIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS

Top Guia In.Fra: Perguntas para fazer ao seu fornecedor de CFTV

A EDUCAÇÃO QUILOMBOLA

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

RELAÇÕES RACIAIS E EDUCAÇÃO: VOZES DO SILÊNCIO

CONSTITUINDO REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: CONTRIBUIÇÕES DO PIBID PARA O TRABALHO COM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

convicções religiosas...

AS INTERFACES ENTRE A PSICOLOGIA E A DIVERSIDADE SEXUAL: UM DESAFIO ATUAL 1

Construção, desconstrução e reconstrução do ídolo: discurso, imaginário e mídia

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Educação escolar indígena: diagnósticos, políticas públicas e projetos UNIDADE 2

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E MOVIMENTOS SOCIAIS - PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

Mental Universidade Presidente Antônio Carlos ISSN (Versión impresa): BRASIL

6. Considerações Finais

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

TUDO O QUE APRENDEMOS É BOM

A Ética no discurso da Comunicação Pública

coleção Conversas #15 - NOVEMBRO eg o. m r e é r q Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

PESQUISA EDUCAÇÃO FINANCEIRA. Orçamento Pessoal e Conhecimentos Financeiros

Releitura da Árvore Vermelha - MONDRIAN. Escola Municipal Santa Maria Muriaé Minas Gerais

INTEGRAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E TÉCNICO: PERCEPÇÕES DE ALUNOS DO IFPA (CAMPUS CASTANHAL/PA) Ana Maria Raiol da Costa UFPA Agência Financiadora: SEDUC/PA

coleção Conversas #11 - agosto n a h u e s Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 (de autoria do Senador Pedro Simon)

CRIANÇAS NA UNIVERSIDADE: EXPERIÊNCIA DO CURSO DE INGLÊS DO PROJETO MENINAS DA VILA

CRISTO E SCHOPENHAUER: DO AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO À COMPAIXÃO COMO FUNDAMENTO DA MORAL MODERNA

ATIVIDADE: DIA DA FAMÍLIA NA ESCOLA

Escola e a promoção da igualdade étnico-racial: estratégias e possibilidades UNIDADE 4

Autor(es) PAULA CRISTINA MARSON. Co-Autor(es) FERNANDA TORQUETTI WINGETER LIMA THAIS MELEGA TOMÉ. Orientador(es) LEDA R.

O COORDENADOR PEDAGÓGICO E AS REUNIÕES PEDAGÓGICAS POSSIBILIDADES E CAMINHOS

Introdução. instituição. 1 Dados publicados no livro Lugar de Palavra (2003) e registro posterior no banco de dados da

9 o Ano CIRMEN /3/ :27:44-9º ANO-B1-Lie-Proj. Inter.149.Rub-Márcia

Orientadora: Profª Drª Telma Ferraz Leal. 1 Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

A MEMÓRIA DISCURSIVA DE IMIGRANTE NO ESPAÇO ESCOLAR DE FRONTEIRA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Pró-Reitoria de Graduação Diretoria de Processos Seletivos 2ª ETAPA

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

Desnaturalização e estranhamento: experiência do PIBID em Sociologia. Anabelly Brederodes Cássio Tavares


AS CONTRIBUIÇÕES DO SUJEITO PESQUISADOR NAS AULAS DE LEITURA: CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DAS IMAGENS

Redes Sociais na Era da Conectividade ( The good, the bad and the ugly )

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

O USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A UTILIZAÇÃO DO CINEMA COMO FONTE HISTÓRICA Leandro Batista de Araujo* RESUMO: Atualmente constata-se a importância

EDUCAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE

Estratégia de escuta psicanalítica aos imigrantes e refugiados: uma oficina de português

O CONTO AFRICANO NA SALA DE AULA: PROPOSTA EDUCATIVA DOS SABERES AFRICANOS E LITERÁRIOS NA SALA DE AULA

AS INQUIETAÇÕES OCASIONADAS NA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN NA REDE REGULAR DE ENSINO

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

ED WILSON ARAÚJO, THAÍSA BUENO, MARCO ANTÔNIO GEHLEN e LUCAS SANTIGO ARRAES REINO

PROGRAMA: GRAVIDEZ SAUDÁVEL, PARTO HUMANIZADO

EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO

Mestre em Educação pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e Professora Assistente na Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus BA).

Gestão diária da pobreza ou inclusão social sustentável?

CO 33: Uma História da Formação de Professores de Matemática a partir do PIBID de Matemática da UFRN-Natal

A IMPORTANCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NA AULA DE GEOGRAFIA

REPRESENTAÇÕES DE AFETIVIDADE DOS PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Deise Vera Ritter 1 ; Sônia Fernandes 2

Considerações sobre o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência

SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO

AS BONECAS ABAYOMI E AS NOVAS SENSIBILIDADES HISTÓRICAS: POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO ANTI-RACISTA

CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN X

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2004

Disciplina Corpo Humano e Saúde: Uma Visão Integrada - Módulo 3

Profa. Dra. Ana Maria Klein UNESP/São José do Rio Preto

*Doutora em Lingüística (UNICAMP), Professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

1. Preconceito e discriminação, 14 Homofobia, 17

Conceitos trabalhados na disciplina, textos de apoio da biblioteca e elementos da disciplina.

Atividades lúdicas na educação o Caminho de tijolos amarelos do aprendizado.

PSICODIAGNÓSTICO: FERRAMENTA DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA¹

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

como a arte pode mudar a vida?

DITADURA, EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: REFLEXÕES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Paulo Freire. A escola é

Gênero no processo. construindo cidadania

INDISCIPLINA ESCOLAR E A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: UMA ANÁLISE SOB AS ÓTICAS MORAL E INSTITUCIONAL

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio

PRAZER NA LEITURA: UMA QUESTÃO DE APRESENTAÇÃO / DESPERTANDO O PRAZER NA LEITURA EM JOVENS DO ENSINO MÉDIO

Professora Verônica Ferreira

Resenha / Critial Review Movimentos Sociais e Redes de Mobilizações Civis no Brasil Contemporâneo

RESUMO. Palavras-chave: Educação matemática, Matemática financeira, Pedagogia Histórico-Crítica

OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

DataSenado. Secretaria de Transparência DataSenado. Março de 2013

A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS PERTINENTES NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

20 Anos de Tradição Carinho, Amor e Educação.

Palavras-chave: Formação continuada de professores, cinema, extensão universitária.

Profª. Maria Ivone Grilo

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Transcrição:

1 DISCUTINDO IDENTIDADE A PARTIR DO FILME CRASH NO LIMITE 1 Rosicleide Henrique da Silva UEPB 2 E-mail: rose_netsr@hotmail.com Resumo O objetivo desse artigo é evidenciar sobre identidades presentes na cultura norteamericana através do filme Crash No limite. Através da seleção de algumas cenas e personagens deste filme, identificaremos as complexas relações entre brancos e negros na sociedade estadunidense. Nossa análise mostra que nenhuma cultura se faz de forma homogênea, pois a partir do momento em que nos apropriamos de costumes, crenças e códigos em geral pertencentes a um determinado grupo social, estamos ao mesmo tempo construindo nossas identidades. Dessa forma, a valorização da memória de diferentes grupos culturais, notadamente a africana, é importante para o reconhecimento e a perpetuação dos valores que nos formam. A fundamentação teórica deste trabalho está baseada em autores como Andrews (2007) e Molar (2012). Palavras-chave: Crash No limite. Identidade. Negros. 1. INTRODUÇÃO Crash No Limite é um filme estadunidense e alemão de 2004, dirigido por Paul Haggis. Estreou no festival de cinema de Toronto em 2004 e foi lançado internacionalmente em 2005. O filme fala de preconceito em vários segmentos e, sobre as tensões raciais e sociais em Los Angeles, demonstrando o retrato de uma sociedade marcada pelo preconceito evidenciadas numa realidade diversa entre negros, brancos, mulçumanos, latinos, pobres e ricos. Trata-se de um drama urbano que desenha os inconstantes encontros entre personagens pertencentes a 1 O presente trabalho não trata das questões raciais dentro da cultura brasileira, mas está focado nas relações entre brancos e negros norte-americanos, onde será discutido as questões de Identidades a partir de cenas do filme. 2 Graduada em História pela Universidade Federal de Campina Grande-PB ( 2011). Especialista em História do Brasil e da Paraíba pela Faculdade Integrada de Patos- FIP (2013). Aluna do Curso de Especialização em Fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Mestranda em História pelo Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande-PB (PPGH-UFCG), vinculada à linha de Pesquisa I Cultura e Cidades. É professora da Rede Pública de Ensino no Estado da Paraíba desde 2008.

2 diferentes etnias que lutam para superar seus medos, enquanto suas vidas, assumindo as múltiplas identidades culturais. Estudar as identidades culturais dos Estados Unidos a partir de personagens presentes no filme Crash- No Limite está embasado na ideia apresentada por Andrews (2007) 3 de que [...] pesquisadores de dentro têm uma longa história de aproveitarem-se das importações intelectuais do mundo de fora. Parece inegável que este processo de intercâmbio foi enormemente benéfico para ambos os grupos, os brasileiros e os estrangeiros [...] o motivo principal dos pesquisadores americanos virem ao Brasil é quase sempre não o conhecimento da situação racial brasileira, mas a melhor compreensão da situação racial dos Estados Unidos. Paradoxalmente, vimos ao Brasil numa tentativa de olhá-lo de dentro; mas o que realmente estamos fazendo é sair dos Estados Unidos para tentar olhá-lo de fora (ANDREWS, 2007: 30). Em outras palavras, estudar a formação das identidades culturas norteamericana se apresenta como uma tentativa de entender melhor o que se passa em nossa própria cultura. Nesse sentido, objetivamos através da seleção de algumas cenas e personagens deste filme, evidenciar a formação dessas identidades e suas complexas relações entre brancos e negros na sociedade estadunidense. 2. METODOLOGIA Tratar de identidade presente no filme Crash- No Limite está relacionada à ideia de alteridade, ou seja, significa percorrer caminhos paralelos, uma vez que o sujeito contemporâneo ao adquirir novas identidades culturais também se destaca pela diferenciação em relação ao outro. Nesse sentido, compreendemos que, a partir desta condição mutável da identidade, que ora é identidade e ora poderá configurar-se em alteridade, não há papéis específicos e pré-determinados. Assim, isso permite perceber que tal debate constitui num importante paradigma em que os sujeitos possam tanto assumir quanto negar posturas, tanto escolher quanto negar ser, de acordo com o contexto e o momento histórico no qual estão inseridos. Os conceitos de identidade e alteridade são definidos no texto de Molar (2012) 4 como noções em construção em um mundo contemporâneo complexo e 3 ANDREWS, George Reid. O Olhar estrangeiro: Americanos e Brasileiros. In: Brasil, um país de negros? / organizado por Jeferson Bacelar e Carlos Caroso. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pallas; Salvador, BA: CEAO, 2007. Pág. 30

3 fragmentado. O autor aponta que noções de alteridade e interdisciplinaridade devem servir para o aprimoramento individual e social diante das complexidades do mundo. Portanto, a noção de alteridade surge como uma necessidade do mundo moderno para que possamos respeitar e saber conviver com as diferenças. Nesse sentido a alteridade é se colocar no lugar do outro, é o reconhecer-se no outro, ainda que existam diferenças, dando-se ênfase ao respeito às diferenças e não negá-las. É preciso compreender que as identidades estão ligadas ao contexto. A cultura, a política e o tempo histórico são formadores de identidades, visto que elas são produzidas pelas relações sociais, sejam elas justas ou não. O que existe são pessoas diferentes, com suas determinadas identidades em seus diferentes contextos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De modo bastante interessante, o filme Crash trabalha a complexidade do ser humano, revelando seus limites, suas contradições e suas diferentes atitudes quando sujeito a um determinado momento ou situação histórica. A fictícia cidade de Los Angeles em Crash é o espaço da desigualdade e sintetiza os dramas de personalidade, os problemas de consciência e a impessoalidade. Nela a individualidade se dissolve em meio à multidão, cuja dinâmica reduz a contradição social e o crime a uma questão racial ou cultural. Crash - No Limite discute o preconceito e discriminação contra negros, mulçumanos e pobres a partir da personagem Jean Cabot que ganha destaque na interpretação de Sandra Bullock. Esta é rica, branca, casada com um promotor da Califórnia que, logo no inicio do filme, tem seu carro de luxo roubado por dois assaltantes negros. Assim, depois desse ocorrido, as estórias de preconceito, violência, intolerância, abuso sexual, começam a entrecurzar no filme. O filme trata de várias estórias dentro de um mesmo contexto, estórias essas que estão interligadas e que ocorrem num curto espaço de tempo de 36 horas. Dentre as cenas do filme analisaremos a que se passa entre um policial branco racista (Matt Dillon) e um casal de negros bem sucedidos, que ao receberem ordem de parar seu carro são revistados pelo policial. No entanto, não é meramente uma 4 MOLAR, Jonathan de Oliveira. Alteridade: uma noção em construção. In: Identidade e Pluralidade Cultural. Coletânea de textos didáticos (Orgs.) FREIRE et. al. Campina Grande: SEE/PB Gráfica União, 2012. Pág. 43.

4 revista, mas acaba sendo um pretexto para o policial branco apalpar a mulher de maneira desrespeitosa. Na cena fica claro o desconforto e a humilhação sofrida pela negra, ainda mais quando seu marido, um diretor de televisão, se mantém impassivo ante o fato, pedindo, posteriormente, desculpas ao policial pelo comportamento que o fez ser abordado, o que o levou a parar seu veículo. Ao longo da trama, outra cena será protagonizada pelo policial branco racista e a negra. Trata-se de um acidente automobilistico, onde a negra(chris) terá sua vida salva pelo dito policial racista. No entanto, essa cena demostra o quanto complexa são os seres humanos, as multiplas identidades que assumimos, haja vista que de posição racista, arrogante, ele é evidenciado, posteriormente, como um personagem dual, ou seja, de racista e arrogante, passa a herói da trama. Ao evidenciarmos a questão da alteridade e identidade, compreendemos, nesse contexto da sociedade, que a identidade cultural de cada individuo se apresenta de forma mutável e isso, às vezes, pode se tornar algo problemático porque esses indivíduos constituem identidades múltiplas, ocasionando diferentes processos de identificação dos indivíduos em sociedade. Nesse sentido, na linha do pensamento de Molar(2003) 5, as identidades são fluídas, pois a globalização age de maneira paradoxal, ao mesmo tempo uniformizando e diferenciando grupos culturais e individuos no panorama social. 4. CONCLUSÃO Crash- No Limite vai além dos clichês maniqueístas: o espectador se reconhece nos personagens representados, despertando nele a percepção de como a loucura provocada pela estressante agitação da sociedade moderna nos impede de enxergarmos as imperfeições ao nosso redor e a desumanização dos indivíduos. Os personagens são preconceituosos, vítimas e atores de alguma violência racial, dependendo da situação, demonstrando que todos são várias pessoas em um mesmo dia, ou seja, os personagens do filme são indivíduos comuns, vulneráveis, com virtudes e defeitos em igual proporção. Assim, pessoas que num momento têm atitudes desprezíveis podem, em outro, agir de maneira nobre e altruísta. De igual 5 MOLAR, Jonathan de Oliveira. Alteridade: Uma noção em construção. IN: Identidade e Pluralidade Cultural. Coletânea de textos didáticos. 2012. (pág.39).

5 forma, uma pessoa boa e amável pode, dependendo da circunstância de exposição ao preconceito, cometer um crime hediondo. 5. REFERÊNCIAS ANDREWS, George Reid. O Olhar estrangeiro: Americanos e Brasileiros. In: Brasil, um país de negros? / organizado por Jeferson Bacelar e Carlos Caroso. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pallas; Salvador, BA: CEAO, 2007. CRASH NO LIMITE. Produtor: Paul Haggis, Bobby Moresco, Cathy Schulman; Estúdio: Lions Gate Entertainment; Ano: 2005; 1 DVD. MOLAR, Jonathan de Oliveira. Alteridade: uma noção em construção. In: Identidade e Pluralidade Cultural. Coletânea de textos didáticos (Orgs.) FREIRE et. al. Campina Grande: SEE/PB Gráfica União, 2012:37-47.