O uso de tecnologia digital na educação musical Rafael Salgado Ribeiro PETE Educação com Tecnologia salgaado@gmail.com Comunicação Oral Introdução O presente trabalho visa a apresentar algumas possibilidades de utilização de objetos de aprendizagem no ensino de música. Objetos de aprendizagem podem ser definidos como qualquer recurso digital que pode ser reutilizado para assistir à aprendizagem e distribuídos pela rede, sob demanda, seja este pequeno ou grande (Wiley, 2000). Esse trabalho visa a explorar alguns objetos de aprendizagem e sugerir algumas possíveis aplicações no cotidiano escolar. Educopédia A Educopédia é uma plataforma online, digital e colaborativa de aulas digitais onde alunos e professores podem acessar conteúdos digitais interativos em qualquer lugar e a qualquer hora (Educopédia, 2012), Nela, podemos encontrar aulas digitais sobre as mais variadas disciplinas. A Educopédia é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e conta com uma série de professores produtores dos conteúdos digitais, responsáveis por criar as aulas. É um recurso bastante interessante para localizar objetos de aprendizagem, já que está catalogada por tema e por série/ano. Ressalta-se, entretanto, que a divisão de conteúdos por série/ano segue o currículo estabelecido pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro; posto isso, diferenças no currículo podem fazer com que alguns conteúdos sejam encontrados em diferentes anos.
Microsoft Songsmith O Microsoft Songsmith é resultado de uma pesquisa do departamento de pesquisa e desenvolvimento da Microsoft, o Microsoft Reseach. Seu funcionamento é bastante simples, como explicado pelo site do projeto: Songsmith gera acompanhamento musical para combinar com a voz de um cantor. Apenas escolha um estilo musical, cante no microfone do seu PC e o Songsmith irá criar o acompanhamento para você. (Microsoft Research, acesso em 15 de março de 2015.) O software utiliza modelos matemáticos para prever, a partir das notas cantadas, quais os acordes que soarão mais harmônicos. É possível, além disso, alternar entre vários estilos musicais e instrumentações. O software é gratuito e pode ser obtido no site do Microsoft Research. Buscando uma análise mais aprofundada da aplicabilidade do Songsmith, desenvolvemos duas oficinas voltadas para professores, aplicadas, respectivamente, em 2013 e 2014. Nessas duas oficinas, contamos com professores que tinham formação musical e professores que se consideravam entusiastas. Os pontos que traremos a seguir foram discutidos em conjunto com os participantes dessas oficinas. Partimos, em um primeiro momento, das sugestões de utilização propostos no site do Microsoft Research: Songsmith é uma ótima forma de encorajar os alunos a serem criativos[...] Além disso, Songsmith pode ajudar a ensinar conceitos musicais que algumas vezes são difíceis, particularmente como acordes são utilizados na música popular e como melodia e harmonia se encaixam. No primeiro contato com o software, os participantes das oficinas foram convidados a explorar para encontrar de que formas esses conceitos enumerados pelo Microsoft Research poderiam ser trabalhados. Logo no início, os professores levantaram como facilidades do recurso a interface explicativa e a facilidade de uso. Como ponto negativo, a primeira etapa de configuração é um pouco longa, de forma que o tempo levado entre abrir o software pela primeira vez e deixa-lo pronto para gravação pode ser grande o suficiente para desestimular o aluno. Ainda assim, foi sugerido que mesmo essa parte de configuração do software pode ser um momento de aprendizagem para o aluno, onde ele deve aplicar os conceitos de andamento,
compasso e outros. Além disso, é possível utilizar essas configurações para que os alunos possam explorar esses conceitos. Outro ponto negativo foi o fato de a interface estar em inglês. Figura 1 - Seleção de andamento Após a configuração da música, basta clicar sobre o botão de gravar e começar a cantar. O software irá criar todo o acompanhamento. A partir da música gravada, conseguimos trabalhar vários conceitos. O trabalho com timbres O Microsoft Songsmith permite que cada instrumento da orquestração criada seja alterado, excluído e tenha seu volume alterado. Isso abre possibilidades para o trabalho com timbres, já que cada aspecto dos instrumentos pode ser modificado. Figura 2 - Configuração dos instrumentos
Dessa forma, é possível ouvir a mesma música acompanhada por piano, guitarra e bateria ou por um quarteto de cordas. Indo além, é possível fazer o download de mais instrumentos na web. O ponto negativo do software é que, dependendo do estilo, algumas faixas (tracks) são limitadas. O ensino de harmonia No que se refere ao ensino de conceitos de harmonia, o software tem muito a colaborar. Existem dois controles deslizantes que possibilitam alterar a harmonia da música, a saber: Happy: altera a frequência de acordes maiores e menores. Quando mais o controle está para a direita, mais acordes maiores e vice-versa; Jazzy: altera a frequência de aparecimento de sétimas e nonas nos acordes. Figura 3 - Controles deslizantes "Happy" e "Jazzy" Além desses dois controles, é possível também alterar cada acorde individualmente. Dessa forma, o trabalho com harmonia torna-se rico, possibilitando inúmeras atividades, como trabalho com cadências, exploração de harmonia funcional, ritmo harmônico e outros. Figura 4 - Interface do software Songsmith e a experiência estética É consenso entre educadores musicais que o ensino de música deve passar pelo fazer musical. Podemos citar como exemplo a importância dada por Murray
Schafer para a execução e improvisação e a proposta de Keith Swanwick que a educação musical deve passar pela experiência estética. Partimos desse referencial teórico, mais especificamente dos três princípios da educação musical propostos por Swanwick (considerar a música como discurso, considerar o discurso musical dos alunos e fluência no início e no final), analisamos o Songsmith. O software pode vir a ser um grande aliado para o professor de música, dado suas possibilidades de criar, recriar, e compartilhar as músicas. Assim, os alunos vivenciam o fazer musical, como proposto por Schafer, bem como passam pela experiência estética de cantar, de se ouvir cantando, além de ouvir a apresentação dos colegas de classe. Além disso, possibilidades de compartilhamento dessas gravações, como YouTube, SoundCloud e outros permitem aos alunos disponibilizarem suas criações online para qualquer pessoa que possua um dispositivo conectado à internet. É, portanto, uma forma de levar a experiência estética para fora dos muros da escola, fornecendo aos alunos ferramentas que permitam a criação, a correção daquilo que não ficou a contento (o que pode-se chamar de auto regulação da aprendizagem) e o compartilhamento dos resultados obtidos. Conclusão Apesar de ser um recurso bastante interessante, o Songsmith por si só não cobre todas as etapas do currículo de música. Entretanto, pode ser um grande aliado no ensino de música, especialmente nas escolas onde os recursos de instrumentos musicais são escassos. Dessa forma, podemos dizer que os objetos de aprendizagem, como os softwares e plataformas apresentados aqui são recursos que abrem possibilidades aos professores e alunos, e permitem que atividades variadas sejam desenvolvidas. Bibliografia BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: arte. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1997. 130p FONTERRADA, M T O. De tramas e fios: Um ensaio sobre música e educação. São Paulo, SP: UNESP, 2005. 345p. Microsoft Research. Microsoft Songsmith. 2009. Disponível na URL: <http://research.microsoft.com/en-us/um/redmond/projects/songsmith/index.html>. Acesso em 13 de mar de 2015 Partners in Learning Network. Disponível em <www.pil-network.com>. Scesso em 13 de mar de 2015. SHAFER, M. O ouvido pensante. 1. ed. São Paulo: Ed. Unesp. 1991. 408 p SWANWICK, K. Ensinando Música Musicalmente. Ed. Moderna, 2003. 345p
. A basis for music education. Londres: Routledge. 1979. WILEY, D. A. Conecting learning objects to instructional theory: A definition, a methaphor anda a taxonomy. The Instructional Use of Learning Objets. Wiley, D. (Ed.) 2001. Disponível na URL: <http://www.reusabilility.org/read/chapters/wiley.doc>. 2001. Acesso em 13 de mar de 2015.