REFLEXÕES SOBRE A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL.



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Transcrição:

REFLEXÕES SOBRE A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL. Osmarilda dos Santos Pires de ARAÚJO Este artigo tem a finalidade de sistematizar algumas reflexões e contribuições sobre a psicopedagogia clinicam nas instituições de ensino tratando de temas importantes para a comunidade escolar tais como: a psicopedagogia no Brasil, as relações da saúde e o papel da escola. Trata-se de um conjunto de reflexões elaboradas a partir de uma experiência de estagio no sentido de contribuir com os educadores que diariamente lidam com alunos com dificuldades de aprendizagem que freqüenta as escolas estaduais na cidade de Dourados. Justificamos esse estudo por entender que ser um bom profissional na área da Psicopedagogia, significa ser capaz de aprender sempre e com amor, o que equivale a dizer que devemos estar abertos a aprender sobre todas as áreas em que iremos atuar, buscando constante aperfeiçoamento e novos conhecimentos. O objeto de nosso estudo foi uma Escola Estadual de Dourados /MS durante o período de maio a julho de 2005, particularmente os alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem. As atividades e observações foram realizadas em cinco sessões. Consideramos uma pesquisa de campo, acompanhada de estudo de caso. Utilizamos entrevista para a avaliação clinica envolvendo a mãe do aluno, caso do estudo. OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA A Psicopedagogia preocupa-se com o problema da aprendizagem, ocupando-se inicialmente com o processo como a mesma ocorre. Estuda as características da aprendizagem humana; como se aprende; como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produz as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratálas e preveni-las. O Psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a freqüência dos problemas de aprendizagem abordando as questões didático-metodológicos, bem como na formação e orientação dos professores, além de fazer aconselhamento aos pais. (BOSSA 2000, p. 21). CAMPOS DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA No âmbito clínico tem como tarefa a investigação e a intervenção para que compreenda o significado, a causa e a modalidade de aprendizagem do sujeito, com o intuito de sanar suas dificuldades. A marca diferencial entre o psicopedagogo e outros profissionais é que seu foco é o vetor da aprendizagem, assim como o neurologista prioriza o aspecto orgânico, o psicólogo a psique, o pedagogo o conteúdo escolar. A Psicopedagogia clínica procura compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e pedagógicos, que interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações que resgatem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da integração entre pais, professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam no universo educacional do aluno. No ensino público, uma das opções para a realização da atuação clínica seria o serviço público de atendimento, onde os psicopedagogos poderiam contribuir com uma visão mais integrada da aprendizagem. No âmbito institucional a Psicopedagogia assume um compromisso com a melhoria do ensino, atendendo, sobretudo aos problemas cruciais da educação no Brasil. Na escola o Psicopedagogo também utiliza instrumental especializado, sistema

específico de avaliação e estratégias capazes de atender aos alunos em sua individualidade e de auxiliá-los em sua produção escolar e para além dela, colocando-os em contato com suas reações diante da tarefa e dos vínculos com o objeto do conhecimento. Dessa forma, resgata positivamente o ato de aprender. Cabe ainda, ao Psicopedagogo assessorar a escola, alertando-a para o papel que lhe compete, seja reestruturando a atuação da própria instituição junto a alunos e professores, seja ainda redimensionando o processo de aquisição e incorporação do conhecimento dentro do espaço escolar, seja encaminhando alunos para outros profissionais. (BOSSA, 2000). RELATO DO ESTUDO DE CASO A partir das situações descritas no caderno de campo e, também após a análise dos dados foi organizada a caracterização do problema-aprendizagem através dos seguintes instrumentos do processo diagnóstico: Anamnese, Desenho da Famíliia e do Par Educativo, Desenho Livre, Teste do Faz de Conta, Ditados, leituras e jogos. Para isso foram utilizadas cinco sessões. DA ANAMNESE A anamnese trata do aluno Marcos (nome fictício), da 2ª série da escola em estudo.a entrevista com mãe aconteceu na sala da diretora da escola na qual A mãe relatou o seguinte: Dos quatro filhos que possui Marcos é o caçula e mora com os pais e os irmãos. Sua gestação não foi muito tranqüila, pois a mãe passou muito nervoso devido as constantes brigas entre o casal porque o pai era envolvido com drogas. Marcos nasceu de parto normal em um hospital local, após uma gestação de 9 meses completos. Chorou logo que nasceu e não necessitou de nenhum atendimento especial. Pesou 3.850 quilos e mediu 52 cm. A mãe sentiu o bebê se mexer mais menos no 4º mês de gravidez. Marcos não possui nenhuma reação alérgica. Não tem bronquite nem asma. Não tem problemas auditivos. Quanto aos problemas visuais a mãe não sabe se tem, pois ela nunca observou e a criança nunca reclamou. Sua saúde é boa, porém é muito nervoso. Quando contrariado grita, joga objetos que encontra pela frente e é difícil controlá-lo. Além do tratamento médico cujo medicamento indicado é o Tegretol 1 faz acompanhamento psicológico e fonoaudiológico. Marcos foi amamentado até aos oito meses de idade. Hoje sua alimentação é normal e não necessita de auxílio para se alimentar. Seu sono já foi muito agitado, falava, brigava e chorava enquanto dormia mas hoje devido ao medicamento que toma dorme mais tranqüilo. Sendo que ainda fala às vezes enquanto dorme. Não é sonâmbulo nem range os dentes. Dorme com os irmãos em quarto separado dos pais. Era um bebê muito esperto e sorridente. Firmou a cabeça no 5º mês, sentou-se aos 7 meses, aos oito engatinhou e aos dez meses andou sozinho. Quanto ao controle dos esfíncteres não tem controle do vesical noturno até hoje molha a cama todas as noites. A mãe o faz colocar os lençóis molhados no varal todas as manhãs antes de ir para a escola. Marcos é lento e se distrai na realização de qualquer tarefa. Exemplo: arrumar a cama. Não necessita de auxílio para realizar atividades como: tomar banho, se vestir, calçar e dar nós nos tênis e sapatos. Escreve e realiza qualquer tarefa com a mão direita, pois assim foi ensinado. Em casa todos são destros. Este paciente não rói as unhas nem chupa dedos. Nunca apresentou nenhum tique nem manias. Aprendeu a andar de bicicleta aos seis anos de idade. Marcos é uma criança como qualquer criança da sua idade, gosta muito de brincar, 1 Medicamento indicado para epilepsia: crises parciais complexas ou simples.

principalmente de jogar bola. Segundo a mãe se a família permitir ele passa o tempo todo na rua atrás da bola e só o pai, que já bateu muito mas não bate mais, consegue dar um pouco de limite. Segundo a orientação médica, diz a mãe, esta criança não pode jogar bola por muito tempo sem descanso, deve jogar um pouco e descansar para não desmaiar, porém a família tem dificuldade em conscientizá-lo. Seu relacionamento com os colegas não é muito bom porque Marcos se desentende com eles por qualquer motivo e na maioria das vezes é agressivo. Iniciou seus estudos aos sete anos de idade, cursou a 1ª série passando para a 2ª, série em que permanece até hoje pelo terceiro ano consecutivo. Hoje se encontra com 11 anos. Não gosta de estudar de manhã mas não houve outro jeito, já que a mãe não encontrou vaga no período vespertino. Devido às constantes agressões aos colegas e por ser considerado pela escola um aluno indisciplinado, já freqüentou três escolas diferentes. Isso se deu porque de acordo com a fala da mãe a coordenação das escolas as quais freqüentou a aconselhou a mudar de escola, pois assim Marcos poderia melhorar seu comportamento. Quanto à linguagem 2 essa criança usou suas primeiras palavras com significado com um ano e oito meses e hoje se comunica muito bem. Gosta de fazer amigos compatíveis com a sua idade, porém agride as crianças menores com as quais brinca.de acordo com a mãe a medida disciplinar mais utilizada pelos pais é impedi-lo de sair de casa, já que é o que mais gosta de fazer. Sob o ponto de vista emocional a mãe apontou que Marcos é muito emotivo chora facilmente e se penaliza com o sofrimento das pessoas. Importante a contraposição de relatos. Em posterior contato com a professora o relato quanto ao aluno foi o seguinte: Marcos é ótimo em matemática, soma, subtrai, multiplica e divide. Durante esta aula não incomoda ninguém. Na aula de português ele se transforma, pois não sabe ler nem escrever. O mesmo acontece com as demais disciplinas que requer leitura. Ainda, segundo a queixa da professora, Marcos nega que tenha agredido alguém quando lhe chamam a atenção. Por isso na hora do intervalo os funcionários e até mesmo as professoras, mesmo das outras séries, tem que cuidar para que Marcos não agrida tanto das crianças com as quais brinca. Durante a anamnese percebeu-se claramente que a mãe ocultou algumas informações importantes para a formulação da hipótese diagnóstica. A família não dá a importância devida à dificuldade enfrentada por Marcos. Não auxilia nas atividades de casa. Se apega muito à questão do problema que o médico diz que ele tem e se acomodam achando que só o médico e a escola tem o dever de ajudá-lo a resolver seu problema de aprendizagem. Talvez Marcos esteja rotulado pela dificuldade de aprendizagem. É provável que tenha havido uma falha na alfabetização. Acredita-se que após a realização de todas as sessões com 2 Alem do relato acerca da linguagem, foi declarado pela mãe sobre as atividades diárias dessa criança as quais entendemos ser importantes relatá-las: Acorda e vai ao banheiro Toma café Coloca os lençóis do xixi no varal Vai para a escola Volta da escola, almoça e sai para brincar. A renda familiar de Marcos é baixa. Sendo a profissão do pai, pintor de parede e a profissão da mãe empregada doméstica. A queixa apresentada pela mãe é a seguinte: Marcos não sabe ler nem escrever É irrequieto e agressivo. Onde ele está ninguém fica sossegado. Agride de alguma forma (bate, puxa cabelo, cutuca, passa o pé na frente). Todas as crianças que estão a sua volta.

a criança será possível detectar a real necessidade de Marcos. Relato das sessões: Num primeiro contato Marcos se apresentou um pouco desconfiado, reticente e curioso com o que iriam fazer com ele..marcos demonstrou muita tristeza em seu olhar, quase não sorri, e quando o faz força um pouco, ou seja, tenta sorrir. Durante toda a sessão não quis conversar, apenas respondia o que era perguntado, talvez porque não conhecia a estagiária estava um pouco tímido, algo que poderá ser vencido nas próximas sessões. Ao falar sobre o desenho livre deixou claro que possui um bom vínculo com a família quando relatou que debaixo das árvores que há no fundo do quintal eles fazem churrasco no final de semana e toda a família participa. Em um segundo contato a estagiária teve a certeza de que a mãe de Marcos realmente ocultou algumas informações, pois agora que se conheceram melhor ele se sentiu mais à vontade para relatar tudo que relatou hoje Algo bastante positivo foi o fato de Marcos estar mais à vontade durante a realização desta sessão, se mostrando colaborador e ajudando a estagiária a guardar o material utilizado para a realização das atividades. Ficou bastante claro a dificuldade de Marcos em relação a escrita e a leitura. Consegue escrever seu nome e nome de seus irmãos de forma memorizada. Demonstra repúdio ao se falar em escrita e leitura. Nos demais encontros foi possível aplicar vários testes durante a sessão porque Marcos estava com pressa, queria fazer tudo rápido, nem quis colorir os desenhos. Percebeu-se que ele já não tinha a mesma paciência das sessões anteriores. Estava ansioso. Talvez tivesse alimentado a esperança de que num passe de mágica o seu problema de aprendizagem fosse resolvido. O que infelizmente não é possível. Com relação ao Desenho do Par Educativo, Marcos demonstra ter um bom vínculo com sua professora e percebe que os elementos de aprendizagem estão presentes nesse desenho. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA QUEIXA DA INSTITUIÇÃO Com base na principal queixa da instituição que é a falta de motivação por parte das professoras para sanar os problemas de aprendizagem dos seus alunos, a equipe estagiária foi em busca de material de pesquisa e reflexão para a fundamentação teórica. MOTIVANDO A APRENDIZAGEM Aprender é adquirir novas atitudes. Tudo o que fazemos tem um objetivo ou um motivo.motivo é tudo que nos move, para determinado fim, ou seja, motivo é a força interior que leva o homem a agir. Na escola tradicional os alunos prestavam atenção, estudavam, só para saber, ter cultura, decorando tudo. Já na escola nova ou renovada, a motivação é que passa a ser o centro do processo de aprendizagem. Motivação é algo que leva os alunos a agirem por vontade própria: ela inflama a imaginação, excita e põe em evidência as fontes de energia intelectual, inspiram o aluno a ter vontade de agir, de progredir. Em suma motivar é despertar o interesse e o esforço do aluno. É fazer o estudante desejar aprender aquilo que ele precisa aprender. Para a didática renovada a motivação é de fundamental importância porque: - aprendizagem exige esforço, - esforço exige interesse; e interesse é um estado emocional, um desejo, uma atração do indivíduo para o objeto. Motivação é a soma do motivo com o incentivo. Incentivo é o processo externo que vai despertar o motivo no indivíduo. Incentivo é ação de fora para dentro. Motivo é reação, neste caso de dentro para fora.

DIAGNÓSTICO INSTITUCIONAL 3 Durante a entrevista, a diretora expôs alguns problemas enfrentados pela instituição: o primeiro deles é justamente sobre o que as funcionárias haviam colocado inicialmente, sobre o fechamento da escola, sob a justificativa, por parte do governo, que a instituição conta com poucos alunos e o compromisso com as séries iniciais é, segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de inteira responsabilidade do município. E o Estado deve se empenhar com o que lhe é devido, ou seja, o Ensino Médio. A outra queixa está relacionada à indisciplina dos alunos. Muitos deles foram expulsos mais de uma vez por outras escolas e trazem suas frustrações e problemas de casa para a escola. Em meio a tudo isso ainda há a falta de compromisso por parte de uma das coordenadoras que não participa das atividades em que ela deveria liderar tais como: planejamento de trabalho, assessoria pedagógica, organização de festas, etc. Sempre que solicitada se afasta alegando problemas de saúde. Os professores também foram mencionados, pois ministram aulas muito ultrapassadas, monótonas e sem nenhuma criatividade, causando total desinteresse e conseqüentemente a indisciplina. Assim perdem o controle da situação e transferem os problemas para a coordenação, que transfere para a família, e esta para o aluno. A observação tem por objetivo conhecer melhor a estrutura física e funcional da escola em todos os seus aspectos. Realizou-se a pesquisa documental buscando os fatos históricos da instituição. Foi elaborada a partir de documentos de criação da escola: Proposta Pedagógica, Regimento Escolar, Acompanhamento Controle e Avaliação do Processo Educacional. CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo da premissa que o estágio supervisionado é um momento de estudo, prática e reflexão sobre as informações obtidas durante o curso, considero que o mesmo foi uma oportunidade de aprendizagem, crescimento pessoal e profissional.todas as etapas foram realizadas com bastante interesse, porém com algumas dificuldades considerando que os professores orientadores estão distantes e apesar dos seus esforços não podiam estar presentes sempre que necessitávamos. A realização do estágio aliada ao conhecimento teórico que obtivemos ao longo do curso, nos proporcionou conhecimentos que nos levam a reconhecer e valorizar o trabalho do Psicopedagogo. Porém este universo é muito vasto, há necessidade de se buscar ainda, muito mais conhecimento nessa área. Estando em contato direto com a criança durante o processo ensino-aprendizagem, o professor percebe de imediato o aluno que apresenta dificuldades para ler, ou trocas ortográficas, ou lentidão para realizar as atividades escolares, e no processo reeducativo contribuirá com o Psicopedagogo para o sucesso da intervenção. Esta forma de trabalho conjunta, envolvendo o professor o Psicopedagogo e a família trará ao aluno, a sensação e a certeza de que conseguirá superar os obstáculos já que, está sendo apoiado por pessoas nas quais ele confia e que, em contrapartida confiam nele. Encerro este trabalho com a consciência de que pouco ou quase nada sei do universo da Psicopedagogia, mas muito desejo sinto de prosseguir em busca de novas conquistas na área. 3 Foram instrumentos para diagnósticos da instituição: Visitas na escola, Entrevista com os funcionários,observação em sala de aula,observação da Estrutura funcional e física da escola, Questionários para os professores, Carta à comunidade

REFERÊNCIAS BARBOSA, L.M.S., A História da Pisicopedagogia contou também com Visca. Disponível em www.pisicopedagogia.pro.br, acessado em 25/7/2005. BOSSA, Nadia Aparecida. A Pisicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da Prática. Pág 67 ano 2000.,A Escola Necessária para o presente com vista ao futuro. Disponível em www.pisicopedagogia.pro.br, acessado em 17/7/2005.,A Dificuldades de Aprendizagem: O que são, Como trata-las?.porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000. PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. VISCA, J. Clínica psicopedagógica: Epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.. Pisicopedagogia: Novas Contribuições; Organização e Tradução Andréa Morais, Maria Izabel Guimarães Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.. El Diagnostico: Operatorio em la Practica Pisicopedagogica. Bueno Aires, Ag. Serv, G., 1995.. Técnicas Proyetivas Pisicopedagogicas. Bueno Aires, Ag. Serv, G., 1995. SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar de aprendizagem. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. WEISS, Maria Lúcia Leme. Psicopedagogia clínica: Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.