III-054 ASPECTOS ARQUITETÔNICOS E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM EDIFÍCIOS COMERCIAIS, VISTO SOB A ANÁLISE MULTICRITÉRIO.



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Transcrição:

III-054 ASPECTOS ARQUITETÔNICOS E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM EDIFÍCIOS COMERCIAIS, VISTO SOB A ANÁLISE MULTICRITÉRIO. Dario de Andrade Prata Filho (1) Professor do Dep. de Engenharia Civil e Dep. de Urbanismo/UFF. Engenheiro, MSc em Engenharia de Drenagem (UFV); Esp. em Engenharia Sanitária e Ambiental; e, Ap. em Saúde e Meio Ambiente (ENSP/FIOCRUZ); At. em Tratamento de Esgotos por Processos Anaeróbios e Disposição Controlada no Solo (FINEP/ASSEMAE); At. em Análise de Projetos para Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (MS/FUNASA). Daniele dos Santos Vivas Sales Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, 7 período, Bolsista do CNPq, Escola de Arquitetura e Urbanismo, Centro Tecnológico, Universidade Federal Fluminense. João Carlos Correia Baptista Soares de Mello Engenheiro; MSc em Matemática (UFF); Doutorando em Pesquisa Operacional (UFRJ). Professor do Departamento de Engenharia de Produção do Centro Tecnológico da Universidade Federal Fluminense. Endereço para correspondência (1) : Universidade Federal Fluminense/Centro Tecnológico. Rua Passo da Pátria, 156 São Domingos Niterói-RJ CEP.: 24210-240 Brasil Tel.: 55 (21) 2717-9487 ou (21) 9679 7538. E-mail: dprt@ig.com.br RESUMO Vários estudos que envolvem o manejo de resíduos sólidos desde a geração até o destino final, têm sido realizado objetivando o equacionamento das variáveis que interferem no processo. Os efeitos ambientais indesejáveis que resultam de um gerenciamento inadequado podem ser minimizados utilizando-se a reciclagem, a redução e a reutilização de materiais como ações norteadoras. Muitos estabelecimentos comerciais em grandes centros urbanos, geram quantidades consideráveis de resíduos os quais não são devidamente gerenciados, parte devido a dificuldades logísticas resultantes de inadequabilidade arquitetônica da edificação e parte por falta de sistema de apoio a decisão que oriente a melhor alternativa de gerenciamento. O presente trabalho vem apresentar a influência dos aspectos arquitetônicos no gerenciamento de resíduos sólidos e vice-versa, em estabelecimentos do tipo edifícios comerciais. Foram analisados dois edifícios comerciais situados na cidade do Rio de Janeiro, identificando as principais restrições arquitetônicas e administrativas. Este estudo permitiu a elaboração de critérios de avaliação que foram utilizados por um Modelo Multicritério de ordenação das possíveis alternativas de gestão. Identificados os parâmetros que interferem na gestão de resíduos e satisfazendo os axiomas de Roy (ROY & BOYSSOU, 1993), obteve-se uma família coerente de critérios que serviram para elaboração de um modelo matemático de avaliação geral da gestão de resíduos, que foi originado da comparação de alternativas extremas para a atribuição dos pesos utilizando-se o Método MACBETH (BANA e COSTA & VASNICK, 1995). PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Resíduos Sólidos, Aspectos Arquitetônicos, Análise Multicritério. INTRODUÇÃO As ações que envolvem o manejo de resíduos sólidos, desde a geração até o destino final, têm sido abordadas em muitas pesquisas que objetivam o equacionamento das variáveis que interferem no processo de gestão. O gerenciamento de resíduos pode ser compreendido como um conjunto integrado de ações operacionais, normativas, financeiras e de planejamento que levam em consideração critérios ambientais, técnicos, sóciopolítico-econômicos, educacionais, culturais e estéticos, visando administrar de forma eficiente e eficaz as fases de geração, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final. A gestão dos resíduos sólidos deve objetivar a sustentabilidade sócio-econômica e ambiental dos processos desde a sua geração até a ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

disposição final de forma segura, considerando para tanto, ações como a reciclagem e reutilização de materiais, bem como mudanças nos padrões de consumo que permitam reduções na geração. Em qualquer modelo de gerenciamento de resíduos as ações prioritárias devem estar centradas em: a) Coletar e dar destino adequado a todo o resíduo gerado; b) Buscar formas apropriadas de segregação e tratamento dos resíduos, atendendo aos requisitos econômicos e ambientais; c) Investir em campanhas voltadas à sensibilização e conscientização das pessoas no sentido da manutenção da limpeza., visto que é mais fácil concentrar esforços para conservar um ambiente limpo e organizado, do que constantemente executar dispendiosas ações de limpeza, para a remoção dos resíduos descartados de forma inadequada; e d) Incentivar medidas que visem a redução da geração de resíduos. Alguns estabelecimentos comerciais geram uma grande quantidade de resíduos, os quais muitas vezes não recebem a devida atenção. Segundo a lei orgânica de alguns municípios, estes estabelecimentos são considerados grandes geradores conforme o seu volume de geração e, assim, tornam-se responsáveis por sua própria coleta e destinação final. Shoppings centers, centros comerciais, edifícios comerciais, entre outros, são considerados grandes geradores. Neste contexto, a melhoria do gerenciamento de resíduos sólidos, em todos os níveis, tem sido bastante valorizada no cenário mundial devido a sua importância na preservação da qualidade de vida e da sustentabilidade ambiental. PRATA FILHO et allii (2000) apresentam exemplos da interação entre arquitetura e manejo de resíduos sólidos que revelam dificuldades de gestão advindas da inexistência de um planejamento arquitetônico prévio, que leve em consideração questões tais como áreas de armazenagem adequadas, diâmetro dos tubos de queda, áreas de circulação interna e programação visual que instrua adequadamente os usuários do espaço no que se refere ao descarte dos resíduos sólidos. Um dos principais problemas que afetam a obtenção de um sistema de gestão mais adequado a ser aplicado em situações específicas, tal como o caso de um Edifício Comercial, é o fato de que o projeto da própria unidade é elaborado muitas vezes negligenciando as características dos resíduos que serão nela produzidos. Outro é a falta de um modelo de apoio à decisão que permita definir a melhor alternativa de gestão a ser aplicada naquelas unidades comerciais cujos projetos foram concebidos sem a devida consideração aos aspectos da edificação que seriam fundamentais para um melhor manejo dos resíduos sólidos. No uso de um modelo de apoio à decisão multicritério, existe um ou vários decisores que tomam a decisão baseados em um conjunto de objetivos a serem perseguidos e um conjunto de alternativas das quais uma será selecionada. Desta forma, um processo de decisão multicritério trabalha com termos como ator, objetivos, metas, critérios, atributos, restrições e suas relações. Em termos gerais, a análise multicritério sempre opera segundo um esquema seqüencial de fases, não estático nem linear que pressupõe realimentações, revisões e reformulações no decorrer do processo. As etapas básicas do processo são: definição das alternativas, ou seja, as ações potenciais a serem analisadas, formulação dos critérios de análise, avaliação das ações com base em cada critério e agregação final, utilizando um dos vários métodos multicritérios. Quando existem muitos atributos ou objetivos associados a uma alternativa, a função utilidade tem múltiplos argumentos. Essas funções são utilizadas para captar as preferências de um indivíduo para vários atributos ou objetivos das alternativas. Uma função utilidade é uma função matemática, que associa uma utilidade a cada alternativa, de forma que possa ser ordenada. Função ordinal de utilidade ordena as alternativas, mas não indica o grau de preferência de uma sobre a outra. Função cardinal de utilidade indica um ordenamento e um nível de preferência. Na prática, a escolha dos critérios depende também da informação disponível. Entretanto, é melhor basear a seleção de critérios muito mais pelas suas relevâncias no contexto, buscando desta forma compatibilizar as decisões com os planos e programas previstos e com as imposições legais e normativas. (BAASCH, 1995) Segundo Jacquet-Legrez, citado por BAASCH, 1995, os diferentes métodos multicritérios originaram-se a partir de vários horizontes: Teoria da Utilidade. Surgida no século XVIII com os primeiros trabalhos de Bernoulli, modelando preferências individuais para escolher entre alternativas com riscos; ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

Teoria do Bem Estar Social. Também do século XVIII, com os trabalhos do Marquês de Condorcet e Cavaleiro de Borda, interessado no problema de agregar as preferências dos indivíduos de forma ordenada, numa única ordem coletiva. Estes trabalhos levaram à pesquisa automática em procedimentos de agregação ou voto, como o Teorema da impossibilidade de Arrow. Alguns métodos originados deste campo de pesquisa utilizam programação linear e outros conceitos importantes na decisão multicritério, tais como incomparabilidade e ranking. Teoria do Mensuramento Psico-Sensitivo. Refere-se ao desenvolvimento de conceitos matemáticos para modelagem de julgamentos e apreciações humanas. Em 1956, foi introduzido a noção de semi ordem, a qual capacita a representação de situações, quando a situação de indiferença não é transitiva, devido ao fenômeno de limites assinalados. Pesquisa Operacional e Programação Matemática. São utilizadas para trabalhar a difícil questão de escolha de uma função-objetivo particular, deixando aspectos de preferências no conjunto de restrições. Outros métodos e conceitos importantes também foram desenvolvidos neste campo (solução eficiente, métodos interativos para encontrar uma solução compromisso eficiente, ótimos de Pareto e outros). Análise de Informações e Escalonamento. Métodos de regressão foram propostos para estimar os parâmetros de um modelo consistente com o ranking holístico de alternativas nos anos de 1981 e 1982. O presente trabalho visou analisar a influência dos aspectos arquitetônicos no gerenciamento de resíduos sólidos e vice-versa em estabelecimentos do tipo edifícios comerciais. Foram estudados os edifícios comerciais RB1 e Centro Empresarial Mourisco. Obteve-se dados que permitiram estruturar um modelo de avaliação de alternativas para gestão de resíduos sólidos nestes edifícios, usando-se a Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão (Multicriteria Decision Aid - MCDA), com objetivo de escolher a melhor alternativa de gerenciamento segundo critérios pré-estabelecidos, sob o ponto de vista da busca da melhor interação entre os aspectos da edificação e dos resíduos sólidos. OBJETIVOS Objetivos Gerais Diagnosticar o atual sistema de gestão de resíduos sólidos em dois edifícios comerciais situados no Centro do Rio de Janeiro, identificando as principais restrições arquitetônicas e administrativas; Com base no diagnóstico efetuado, elaborar critérios de avaliação que sirvam para um modelo multicritério. Este modelo pretende ordenar os vários tipos de gestão existentes e assim estabelecer metas plausíveis para todas as unidades observadas. Objetivos Específicos Entrevistar os responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos nas edificações estudadas, visando identificar a dinâmica de evolução do processo de gestão ao longo do tempo; Identificar os principais aspectos arquitetônicos, administrativos e equipamentos que interferem na gestão de resíduos; Identificar que parâmetros são importantes na gestão dos resíduos. Esses parâmetros, desde que satisfaçam aos axiomas de Roy, (ROY e BOUYSSOU, 1993) formam uma família coerente de critérios que servem para a elaboração do modelo matemático de avaliação geral da gestão de resíduos. Este modelo parte da comparação de alternativas para atribuição dos pesos, fazendo uso do método MACBETH (BANA e COSTA & VANSNICK, 1995). MATERIAIS E MÉTODOS Foi estudada uma amostra constituída de dois edifícios comerciais localizados na Cidade do Rio de Janeiro. O Edifício RB1, situado no Centro da cidade e o Centro Empresarial Mourisco, situado no bairro de Botafogo. A primeira etapa consistiu do levantamento primário das condições em que tem sido feito o gerenciamento dos resíduos sólidos nestes estabelecimentos. Utilizou-se para isto a tomada de opiniões e de preferências dos principais responsáveis pelo gerenciamento do mesmo, bem como o registro fotográfico que ilustrou o processo e suas carências, no que se refere à interação dos aspectos arquitetônicos e o gerenciamento dos ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

resíduos. Esta fase foi considerada como aquela em que se identificou problemas e potencialidades, sendo essencial para a estruturação do Modelo Multicritério. Da fase de diagnóstico, foram identificadas possíveis alternativas de gestão, observando-se as dificuldades e facilidades de cada uma. A seguir, uma família coerente de critérios foi estabelecida, responsável pela avaliação das alternativas. Os critérios foram usados em um modelo aditivo, cujos pesos foram obtidos pelo método MACBETH. Com o modelo matemático assim construído tornou-se possível identificar as alternativas de gestão que melhor poderão atender às preferências dos decisores, considerando os múltiplos aspectos conflitantes envolvidos. No presente trabalho, os critérios foram avaliados qualitativamente, sendo utilizado o método MACBETH para construir suas funções utilidade. RESULTADOS E DISCUSSÕES As entrevistas com os responsáveis pelo manejo de resíduos nas unidades estudadas, possibilitaram o conhecimento dos aspectos relevantes referentes à dinâmica de evolução do processo de gestão, desde a inauguração do empreendimento. Estes resultados estão apresentados nos itens que se seguem. Aspectos gerais de gestão no edifício RB1 Localizado no número 01 da Avenida Rio Branco, Centro do Rio de Janeiro, o Edifício RB1 constitui-se num centro comercial de destaque na paisagem da Praça Mauá, cuja imponente arquitetura permite sua visualização até mesmo do outro lado da Baía de Guanabara (Figura 01). Sua localização privilegiada e os serviços oferecidos pelo condomínio atraem muitos escritórios de grandes empresas do ramo da informática, saúde, advocacia, petróleo e telecomunicações. Restaurantes, academia, modernos auditórios e sistema de segurança são algumas das facilidades oferecidas. O edifício conta ainda com dois elevadores panorâmicos, os quais proporcionam uma bela vista da Baía de Guanabara e dão acesso a um terraço com restaurante. Figura 01: Edifício RB1. O edifício foi inaugurado em 1990. Ocupa uma área que pertencia no passado ao Mosteiro de São Bento, sítio de grande importância histórica na fundação da cidade. Conta com trinta e três andares distribuídos em dezoito ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

andares-tipo, nove andares de garagem e três andares de serviço. Os andares-tipo abrigam cento e vinte salas dentre as quais três são ambulatórios de assistência médica. Existem ainda, cinco lojas no andar térreo, sendo que três são utilizados como restaurantes. Um outro restaurante localiza-se no nível da primeira garagem, além de um quinto restaurante situado no nível da décima garagem. A área total construída é de 70 000 m². Caracterização dos resíduos gerados Em função de o edifício ser de uso predominantemente comercial, a maior parte dos resíduos gerados são do tipo papel e papelão. Plásticos e vidros são gerados em menor quantidade. Os materiais inorgânicos contribuem, portanto, com cerca de 90% do total, segundo dados da administração. Os 10% restantes referemse à parcela de orgânicos oriundos dos cinco restaurantes. Os resíduos provenientes dos ambulatórios são devidamente descartados pelos próprios, obedecendo às normas específicas definidas pela Secretaria de Saúde. Na Tabela 01 está a produção de resíduos reciclados no período de dezembro de 2001 a junho de 2002. Tabela 01: Quantidade de resíduos inorgânicos gerados no Edifício RB1 Mês/ano Tipo de Resíduo Gerado Total (kg) Papel Misto (kg) Papel Branco (kg) Latas (kg) Cartuchos (un) dez/ 01 (de 22 a 31/12) 1501 498 4 0 2003 jan/02 2519 1032 53 0 3604 fev/02 2395 1335 14 0 3744 mar/02 2928 1398 30 0 4356 abr/02 2725 1316 46 0 4087 mai/02 1358 1040 26 0 2424 jun/02 (de 01 a 22/06) 1454 870 30 0 2354 Histórico do manejo dos resíduos no edifício O prédio foi desenhado preconizando a solução do transporte interno de resíduos utilizando-se exclusivamente o tubo de queda com acesso nos diversos pavimentos. Este tubo de queda atendia ao transporte de inorgânicos do tipo papéis, plásticos, etc., sendo o papelão coletado separadamente no pavimento. Pelo tubo de queda eram transportadas também as pequenas quantidades de orgânicos gerados nas salas. Na parte inferior do tubo de queda, existia um compactador, o qual não cumpria adequadamente sua função, visto que alguns papéis, por serem muito leves, não caíam diretamente em seu compartimento de compactação, dificultando o trabalho. Além disso, eram freqüentes os casos de obstrução do tubo com papéis soltos. A solução adotada há doze anos, foi abolir o tubo de queda e passar a fazer a coleta nos andares através de carrinhos contentores por funcionários de uma empresa de conservação e limpeza. Como não existiam elevadores de serviço, eram utilizados os elevadores sociais em horários noturnos, para o transporte vertical interno. Este fato exigiu a adoção de sistemas de proteção do próprio elevador, adaptando-o ao transporte de lixo. Estas soluções contribuíram para elevar o custo geral da administração no item relativo ao manejo de resíduos. Solucionada a sistemática de coleta nos andares, apresentou-se o problema de área para armazenagem até a expedição. O espaço escolhido foi o que abrigava o compactador, o qual recebia os resíduos através do tubo de queda. Neste local, contentores abertos para armazenagem passaram a exalar maus odores além de provocar a proliferação de vetores e dificultar o trânsito de pessoas e materiais na expedição. A reciclagem como solução A falta de um espaço apropriado para a armazenagem dos resíduos até a expedição, levou a administração, há cerca de cinco anos, a cogitar da possibilidade de separação dos recicláveis. Há dois anos, iniciou-se o programa de reciclagem. Para tanto, foi improvisado um local no oitavo andar de garagem que permaneceu sendo utilizado por pouco mais de um ano. Neste espaço se fazia a separação, o enfardamento e o armazenamento temporário dos resíduos coletados. Para desenvolver a proposta da reciclagem, o condomínio passou a contar com a parceria de uma empresa de conservação e limpeza denominada CONSERVICE. Esta empresa é responsável por todo o manejo dos ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

resíduos, desde a coleta nos andares, triagem, acondicionamento e enfardamento até a comercialização dos recicláveis, além da administração dos recursos captados. Ao condomínio cabe, apenas, prover o local e as condições adequadas, além dos equipamentos adequados e sua manutenção. Os recursos gerados pela reciclagem, conforme a Tabela 02, são divididos igualmente entre o condomínio e a empresa. A parte que cabe à empresa é dividida entre os funcionários que participam da reciclagem. Esta divisão é feita uma ou duas vezes ao ano como bonificação pelos serviços prestados. Os 50% pertencentes ao condomínio são destinados a um fundo que promove, em todo fim do ano, uma festa de confraternização para os funcionários do próprio condomínio e demais prestadores de serviço, inclusive da empresa. Cabe ressaltar que o montante de recursos obtidos com a comercialização dos recicláveis não é utilizado, pelo condomínio, para pagamentos à CONSERVICE. A empresa tem um contrato com o condomínio baseado em um valor fixo mensal pelos serviços prestados. Tabela 02: Receita mensal obtida com os resíduos inorgânicos gerados no Edifício RB1 Mês/ano Tipo de Resíduo Gerado Total (R$) Papel Misto (R$) Papel Branco (R$) Latas (R$) Cartuchos (R$) dez/ 01 (de 22 a 31/12) 75,05 74,70 8,00 0 157,75 jan/02 125,95 154,80 106,00 0 333,50 fev/02 119,75 200,25 28,00 0 348,00 mar/02 146,40 209,70 60,00 0 416,10 abr/02 136,25 197,40 92,00 0 425,65 mai/02 67,90 156,00 52,00 0 275,90 jun/02 (de 01 a 22/06) 72,70 130,50 60,00 0 263,20 A reciclagem trouxe grandes benefícios ao edifício, já que reduziu consideravelmente o montante de resíduos armazenados para expedição e conseqüentemente o espaço necessário para este fim. A redução obtida possibilitou a utilização do espaço onde funcionava o almoxarifado. Este local está situado no térreo, abaixo da rampa que dá acesso ao primeiro andar de garagem, contíguo ao antigo espaço onde ficava o compactador que recebia os resíduos pelo tubo de queda. A nova localização facilitou o manejo dos resíduos nas áreas de processamento, armazenagem e de expedição, permitindo maior proximidade entre estas. Além disso conseguiu-se exclusividade de uso do local apenas para enfardamento e armazenamento temporário de recicláveis. Por outro lado, ainda hoje apresenta muitos problemas do ponto de vista arquitetônico, tais como pé-direito muito baixo, portas de dimensões inadequadas, ventilação e iluminação forçadas, inexistência de comunicação entre o elevador utilizado para transporte interno dos resíduos e a área de processamento, o que obriga o carrinho-contentor usado para a coleta, a circular pela calçada frontal à portaria principal do prédio, conforme esquema apresentado na Figura 02, causando desconforto estético aos usuários do edifício. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6

Figura 02: Planta baixa do pavimento térreo do Edifício RB1. Dinâmica atual da coleta e destinação final O lixo gerado nas salas é acondicionado em sacos plásticos e depositado nas lixeiras do corredor. A partir das 20h20min, tem início o trabalho de coleta nos andares, o qual estende-se até às 6h00min do dia seguinte. O carrinho-contentor desce pelo elevador e dirige-se à área de pré-processamento (abaixo da rampa da garagem), onde os resíduos serão separados e enfardados para comercialização. Não há preocupação com a separação dos resíduos nos pontos de geração. A separação efetuada, aqui designada de separação relativa, refere-se a separação em orgânicos e inorgânicos, que acontece informalmente. A maior parte dos orgânicos é gerada nos restaurantes, os quais são responsáveis pela coleta de seus resíduos. Os inorgânicos são basicamente gerados nas salas. Mesmo assim, ainda existe a possibilidade de algum resíduo orgânico proveniente das salas, como por exemplo, restos de alimento. Geralmente, este lixo é específico da copa, sendo pouco misturado com o papel ou papelão. Quanto a outros resíduos como restos de materiais utilizados em obras civis, são armazenados em contentores apropriados até sua remoção. Os resíduos orgânicos são direcionados a um compactador estacionário e retirados por outra empresa, denominada KOLETA, a qual também é responsável pela retirada de entulho de obras. O condomínio não interfere nos procedimentos referentes ao manejo dos resíduos adotados pelos restaurantes. A interferência se dá, apenas, no controle da qualidade do equipamento utilizado para armazenagem, já que podem interferir na qualidade do serviço de coleta executado. Considerações sobre a gestão de resíduos no RB1 Diante dos problemas destacados pela administração do edifício, percebe-se a falta de estudos mais detalhados sobre a melhor forma de gerenciamento de resíduos sólidos neste tipo de estabelecimento. A inexistência de bibliografia adequada sobre o tema, leva muitos arquitetos a não pensar nas questões que envolvem o manejo de resíduos, na fase de projeto destes tipos de edifícios comerciais, ou ainda, induz o dimensionamento incorreto dos componentes arquitetônicos necessários para tal. As dificuldades de gestão de resíduos no RB1 são em grande parte, devidas à falhas de concepção do projeto do edifício. Por não ter sido devidamente considerado importante um gerenciamento adequado dos resíduos gerados na edificação, optou-se pela adoção de uma solução inadequada para o transporte através de tubos de queda diretamente ao compactador. Aspectos gerais de gestão no Centro Empresarial Mourisco ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7

O Centro Empresarial Mourisco localiza-se na Praia de Botafogo, num dos mais belos cartões postais da cidade composto pelo Pão de Açúcar e pela Baía de Guanabara. O partido arquitetônico adotado em fachadacortina, desperta a atenção na paisagem (Figura 03). Figura 03: Centro Empresarial Mourisco De características sofisticadas, o Centro Empresarial Mourisco abriga a presidência de uma grande empresa de telefonia celular, além de empresas de escritórios inteligentes, editoras e bancos. Não há consultórios médicos, odontológicos ou laboratórios de análises clínicas. Apenas funciona uma enfermaria, pertencente a uma empresa, para atendimento de seus funcionários. Apesar de dificuldades iniciais no devido acondicionamento dos resíduos de saúde, este tem sido, atualmente, corretamente separado. O Centro Empresarial foi inaugurado em 1999, sendo formado por duas torres denominadas Pão de Açúcar e Corcovado, que abrigam 8 andares. O andar térreo é constituído de um grande pátio central que articula as duas torres. Possui lojas e restaurantes além da recepção para as salas e a administração do edifício. Conta ainda com dois andares de garagem, sendo um no mesmo nível do térreo e outro no subsolo. A entrada/saída deste estacionamento serve à área de serviço do prédio, por onde são feitas a carga e descarga de produtos, bem como os serviços de coleta. No nível térreo, próximo a entrada e saída do estacionamento, fica a área destinada ao manejo dos resíduos gerados na edificação. É proibido qualquer movimento de resíduos ou carga pelo térreo antes das 19h00min. O edifício possui quatro elevadores. Um dos elevadores que chegam ao subsolo é destinado às tarefas de serviços gerais, funcionando como elevador social quando necessário. Caracterização dos resíduos gerados De acordo com os usos praticados na edificação, percebe-se que a maior parte dos resíduos gerados é composta de elementos que podem ser reciclados, do tipo papel, papelão, plástico PET, latas de alumínio e ferro. Em outubro e novembro de 2001, foram reciclados 6 959 e 6 626 kg de resíduos, respectivamente. Os resíduos não aproveitados na reciclagem são, em sua maioria, os orgânicos gerados pelos restaurantes. A produção de resíduos nos andares durante o período de novembro de 2001 a fevereiro de 2002 esta apresentada na Tabela 03. Os resíduos gerados nos restaurantes são também coletados diariamente e chegam a cerca de 1000 L/dia. A geração nos finais de ano é sempre maior pois há troca de mobiliário e equipamentos das empresas, bem como o aumento da circulação de mercadorias em geral. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8

Tabela 03: Quantidade de resíduos coletados nos pavimentos Centro Empresarial Mourisco Mês/ano Quantidade coletada (m 3 ) Nov/01 201 Dez/01 197 Jan/02 219 Fev/02 184 Histórico do manejo dos resíduos no edifício e a atual dinâmica da coleta e destinação final Assim como o Edifício RB1, no Centro Empresarial Mourisco existe um sistema de tubo de queda para resíduos sólidos que nunca chegou a funcionar, já que foi implantado um programa de reciclagem de resíduos desde o início do funcionamento do edifício. Atualmente os resíduos gerados nos andares são depositados temporariamente nos antigos compartimentos de acesso ao tubo de queda, até a coleta manual efetuada por funcionários do condomínio. As coletas nos andares são diárias e em horário pré-fixados: às 6h30min, 13h45min e 17h30min. A média de coleta em cada um destes horários é de 3m 3, o que totaliza aproximadamente 9m 3 diários de resíduos coletados. No horário da coleta, os funcionários dirigem-se aos pavimentos e retiram os resíduos acondicionados em sacos plásticos depositados nos compartimentos de acesso ao tubo de queda, colocando-os diretamente no elevador de serviço. Após a coleta em todos os andares, o elevador desce até o subsolo e os sacos de lixo são retirados utilizando-se carrinhos-contentores, cuja capacidade é de 250 L. Os carrinhos são encaminhados até o espaço destinado à triagem e ao armazenamento temporário, seguindo pela rampa que dá acesso ao estacionamento no subsolo. Depois de efetuada a triagem por um funcionário da Empresa MARIA PIA, responsável por todo o processo de reciclagem, os resíduos ficam armazenados em contentores identificados com o nome do produto, conforme ilustra a Figura 03, até que a empresa execute a coleta externa. A freqüência da coleta externa varia de acordo com o volume gerado, isto é, só é realizada quando o contentor estiver cheio. Figura 03: Contentores para recicláveis no Centro Empresarial Mourisco. Os resíduos gerados pelos restaurantes são retirados por seus próprios funcionários, através de um acesso exclusivo destes com o subsolo. Às 16h00min, são recolhidos por carrinhos-contentores e levados a um contentor com capacidade de 1m 3, o qual fica estacionado na lateral do prédio. A Empresa SANTA CECÍLIA, que é responsável pela remoção dos resíduos não aproveitados na reciclagem, bem como os orgânicos, realiza a coleta com freqüência diária por volta das 5h30min. O valor arrecadado com a reciclagem é utilizado para o pagamento do funcionário responsável pela triagem, que é de R$540,00 incluindo encargos trabalhistas. Este é um valor fixo mensal a ser coberto pelo condomínio no caso dos recursos arrecadados com a reciclagem não atingirem este valor. Além desta quantia, é pago à ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9

empresa MARIA PIA um valor referente à consultoria prestada no programa de reciclagem. A receita mensal obtida com a comercialização dos resíduos recicláveis gerados no Centro Empresarial Mourisco é apresentada na Tabela 04. Tabela 04: Receita mensal obtida com resíduos inorgânicos gerados no Centro Empresarial Mourisco Mês/Ano Total (R$) Valor fixo mensal (R$) Valor da consultoria (R$) Total líquido(r$) out/01 544,38 540,00 1,31 3,05 nov/02 557,04 540,00 5,22 11,82 Atualmente o programa de reciclagem é vantajoso apenas porque cobre os custos do serviço de destinação final de parte dos resíduos, aliviando custos adicionais para o condomínio. Aspectos arquitetônicos Conforme os dados fornecidos e da entrevista com os responsáveis pela coleta observa-se que a instalação de tubo de queda parece ter sido um equívoco. A sua não utilização, aponta para o fato de não ser esta a melhor solução para o transporte interno dos resíduos sólidos, quando se pretende a recuperação de materiais para reciclagem. Um dos problemas apontados pela administração foi a falta de um segundo elevador que vá até o subsolo, pois no caso de um usuário do edifício necessitar descer até o subsolo, deverá esperar muito tempo até que este esteja disponível no andar chamado. Segundo a administração todos os quatro elevadores deveriam ir até o subsolo. Outro problema apontado foi a má localização da área de triagem e armazenagem no térreo. De acordo com a administração, este deveria localizar-se também no subsolo, evitando o esforço de alguns funcionários em subir a rampa, bastante inclinada, que dá acesso do subsolo até o térreo, empurrando um carrinho contentor de 250 L. A localização do espaço destinado a atividade de triagem e armazenagem do lixo no térreo provoca outros transtornos, já que em situações de chuva o mesmo trabalho deve continuar sendo efetuado. Se este espaço estivesse no subsolo, facilitaria a retirada dos recicláveis pela empresa MARIA PIA, que desceria com seu caminhão até este nível, evitando conflitos desnecessários entre a entrada do estacionamento e retirada do lixo. No entanto, este espaço demonstra uma preocupação direcionada para sua implantação e função, desde a fase de projeto arquitetônico. Como pontos positivos, pode-se citar a boa ventilação, efetuada através de elementos de concreto vazados do tipo cobogó. Além disso, piso e paredes possuem revestimento cerâmico que facilita a limpeza, a qual deve ser constante. Existe, ainda, um adequado sistema de sprinklers para controle de incêndio. Verificou-se, também, a existência de espaços de apoio, tais como banheiros, cozinha, copa, vestiário e salas de apoio operacional, não só para o pessoal envolvido nas atividades relacionadas ao manejo dos resíduos, mas também para as outras atividades executadas no edifício. Cabe destacar a existência de ligação exclusiva dos restaurantes com o subsolo, facilitando não só a retirada de resíduos de seu interior como a entrada de produtos. ALTERNATIVAS E CRITÉRIOS A identificação dos parâmetros relevantes ao gerenciamento dos resíduos tornou-se imprescindível na fase de estabelecimento das alternativas de gestão. Dentre estes parâmetros estão a caracterização e estimativa da quantidade de resíduos a serem gerados na edificação, o dimensionamento da área necessária para armazenagem temporária nos pavimentos. Outros aspectos tão importantes quanto os citados anteriormente referem-se aos equipamentos para processamento, armazenagem e para facilitar a dinâmica do transporte interno. É mister a definição de áreas apropriadas para armazenagem temporária, processamento e expedição, além de áreas para apoio de pessoal, capacitação da equipe de trabalho, e parcerias com empresas com comprovada competência na atividade. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 10

O reconhecimento desses parâmetros proporcionou a identificação das principais variáveis envolvidas no processo de gestão, tornando possível, juntamente com a análise dos dados obtidos com as administrações de cada edifício, assumir o papel de decisor necessário à aplicação do Método MACBETH de apoio a decisão. A partir dessas premissas, foi possível estabelecer as seguintes alternativas: Coleta diferenciada e transporte por elevador; Coleta diferenciada com transporte por elevador dos inorgânicos e por tubo de queda dos orgânicos; Coleta convencional com transporte por elevador; Coleta convencional com transporte por tubo de queda; Coleta seletiva absoluta com transporte por elevador. A seguir, estabeleceu-se uma família coerente de critérios para a avaliação das alternativas propostas. Os critérios adotados foram os seguintes: Manejo na Geração; Manejo na Coleta e no Transporte; Manejo no Processamento e Armazenagem; Geração de Receita. Com base nesses critérios utilizou-se o módulo SCORES do Método MACBETH para avaliar par a par cada alternativa, registrando as preferências do decisor, o qual permitiu atribuir notas a cada uma destas. A seguir, o decisor comparou as alternativas, informando qual a mais atrativa numa escala ordinal (0= indiferente, 1= muito fraca, 2= fraca, 3= moderada, 4= forte, 5= muito forte e 6= extrema). O próprio programa fez a análise de coerência cardinal e semântica, sugerindo correções em caso de incoerência. Foi possível, ainda, ao decisor ajustar graficamente o valor das notas atribuídas, dentro dos intervalos de coerência permitidos. Em seguida, procedeu-se à atribuição de pesos aos critérios, usando o módulo WEIGHTS do MACBETH, que atua de modo semelhante ao anterior, através de comparações indiretas considerando alternativas fictícias que representam cada um dos critérios. Foi ainda introduzida uma alternativa correspondente a um critério artificial, com a pior nota em todos os critérios, com a finalidade de evitar que um critério real tivesse peso nulo, o que violaria um dos pressupostos dos axiomas de Roy referente à exaustão. Tendo as notas de cada alternativa relativas a cada critério, foram agregadas a uma única através de uma soma ponderada. Os resultados estão apresentados na Tabela 05. Tabela 05: Ordenação por pontuação dos resultados obtidos através do método MACBETH. Critérios de Avaliação Alternativa Manejo na Manejo no Manejo na Geração de Coleta e Processamento e Geração Receita Transporte Armazenagem Total Coleta diferenciada com transporte misto (elevador + tubo de queda) 68,00 47,30 80,00 72,80 6746,00 Coleta diferenciada com transporte por elevador 68,00 40,80 65,00 72,80 6050,00 Coleta seletiva com transporte por elevador 0,00 0,00 100,00 100,00 5845,00 Coleta convencional com transporte por tubo de queda Coleta convencional com transporte por elevador 100,00 100,00 0,00 0,00 4195,00 100 73,6 6,7 0 3650,00 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 11

Quanto ao critério manejo na geração, a alternativa que envolve coleta seletiva com transporte por elevador apresentou a menor pontuação, predominantemente em função de ser mais trabalhosa a separação dos materiais na geração, do que propriamente o transporte via elevador. As alternativas coleta diferenciada com transporte misto (elevador + tubo de queda) e coleta diferenciada com transporte por elevador receberam avaliação intermediária (68 pontos) em função da separação relativa ser mais simples do que a separação absoluta (separação de cada material especificamente). A coleta convencional com transporte por tubo de queda ou por elevador recebeu pontuação máxima em relação a esse critério, pois esta não exige esforços direcionados à separação de materiais na geração. Já quanto ao critério manejo na coleta e transporte, a coleta seletiva com transporte por elevador recebeu a mais baixa pontuação devido às dificuldades de transporte de materiais separadamente. Entre as alternativas coleta diferenciada com transporte misto e coleta diferenciada com transporte por elevador, a primeira recebeu maior pontuação devido à facilidade do transporte por tubo de queda dos resíduos orgânicos, minimizando o uso de carrinhos contentores. Quanto às alternativas coleta convencional com transporte por tubo de queda e coleta convencional com transporte por elevador, a primeira obteve nota 100,00 enquanto a segunda obteve nota 73,60, devido às facilidades proporcionadas pelo transporte através do tubo de queda. A alternativa coleta seletiva com transporte por elevador recebeu a maior nota no critério manejo no processamento e armazenagem, devido à facilidade de processar e armazenar os resíduos que já vêm separados. Gradativamente a pontuação eleva-se quando comparamos as alternativas referentes à coleta convencional com transporte por tubo de queda, coleta convencional com transporte por elevador, coleta diferenciada com transporte por elevador e coleta diferenciada com transporte misto, devido às facilidades de se processar e armazenar materiais cada vez mais bem separados na geração. No critério geração de receita, a alternativa coleta seletiva com transporte por elevador, recebeu pontuação máxima, já que a separação adequada de todos os tipos de resíduos permite alcançar maiores valores de comercialização. Qualquer alternativa de coleta convencional leva a uma menor geração de receita, devido a dificuldades de separação e redução da qualidade do material a ser comercializado. As alternativas de coleta diferenciada são mais promissoras na geração de rendas se comparados à coleta convencional, porém um pouco menos eficientes que a coleta seletiva. O resultado das somas ponderadas obtidas com as pontuações em cada critério, possibilitou a ordenação das alternativas de acordo com as preferências relatadas durante a aplicação do método. Neste sentido, a aplicação da alternativa coleta diferenciada com transporte misto mostrou-se mais adequada, contemplando todas as atuais variáveis envolvidas no gerenciamento dos resíduos dessas unidades. CONCLUSÕES A análise das duas unidades estudadas possibilitou a observação da existência de dificuldades na atual gestão de resíduos sólidos, as quais se apresentam como conseqüência de opções não devidamente consideradas na fase de concepção do projeto da edificação. Exemplos disso são a falta de elevadores de serviços, espaços para pré-processamento e armazenagem adequados, rampas com inclinações não planejadas para esta atividade, bem como localizações de dependências que não contribuem para a simplificação do trabalho. Mostrou-se imprescindível a implantação de salas de apoio operacional para atividades de gerenciamento de resíduos sólidos, tais como escritórios para a gerência do sistema, controle administrativo e operacional, além de vestiários, banheiros e copas/cozinhas para os funcionários envolvidos na coleta. Percebe-se a necessidade de uma eficiente troca de informações entre usuários e projetistas, que permita a definição de um programa de necessidades capaz de antever os requisitos mínimos necessários ao bom gerenciamento dos resíduos sólidos na unidade. Isto diminui sensivelmente os custos de re-trabalho nas fases de execução do projeto e minimiza as intervenções posteriores à sua inauguração, na busca de readequação e otimização de uso do espaço disponível. No que se refere à administração, um bom gerenciamento também inclui uma cuidadosa escolha das empresas parceiras na coleta interna e externa, bem como a agregação de pessoal capacitado para o manejo interno dos ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 12

resíduos. Do contrário, torna-se freqüente o acúmulo indesejado de resíduos nos pontos internos de coleta, nos contentores e áreas de armazenagem transitória, provocando desconfortos de ordem estética e sanitária. A opção por um sistema de gestão de resíduos sólidos que melhor se adapte à unidade comercial, deve também incluir a definição do conjunto de equipamentos apropriados aos serviços de manejo interno dos resíduos, que possam contribuir para a redução dos custos estéticos, ambientais e sanitários deste processo. Uma das maiores questões ligadas ao manejo dos resíduos sólidos é o dimensionamento da quantidade a ser gerada na unidade. É necessária a definição de uma metodologia consistente de dimensionamento que leve a um valor confiável. Do contrário, os dimensionamentos dos aspectos arquitetônicos envolvidos no gerenciamento dos resíduos sólidos, ficam prejudicados. Analisados os fatores que influenciam na gestão dos resíduos sólidos em edifícios comerciais, foi possível estabelecer a ordenação das alternativas de gestão, objetivando contribuir para minimizar os efeitos negativos da negligência em relação a esses fatores envolvidos no gerenciamento dos resíduos sólidos na fase de projeto, sendo que no presente estudo a melhor alternativa de gestão, segundo o método MACBETH, foi a coleta diferenciada com transporte de resíduos orgânicos via tubo de queda e inorgânicos via elevador. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BANA e COSTA, C.A., VANSNICK, J.C. Uma nova abordagem ao problema da construção de uma função de valor cardinal: MACBETH, Investigação Operacional, 15, pp. 15-35. 1995. 2. ROY, B., BOUYSSOU, D. Aide multicritère à la décision: méthods et cas. Economica, Paris, 1993. 3. PRATA FILHO, D. A; MACHADO, A V. M. e IMBELLONI, R. S. Gestão de resíduos sólidos em centros comerciais. In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,27, Porto Alegre, RS, 28-32, nov., 2000. Programa & Resumos. Rio de Janeiro, ABES, Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, 27, 2000. CD-ROM. 4. BAASCH, S. S. N. Um sistema de suporte multicriterio aplicado na gestão dos resíduos sólidos nos municípios catarinenses. Florianópolis. PPGEP-UFSC. 1995. 68p. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 13