A r t i g o s Materiais e Técnicas com Wanderley de Almeida Cesar Jr. Entendendo a química dos cimentos e adesivos: você está cimentando suas peças estéticas corretamente? Quando inicio um novo artigo, desejo sinceramente que ele colabore para o crescimento do profissional e sua prática clínica. Eu entendo que a qualidade do profissional está relacionada a sua habilidade clínica, porém, o diferencial está no embasamento científico de seus procedimentos. Conhecimento esse que somente é conseguido pelo estudo constante das evidências científicas que acompanham a introdução dos novos materiais e técnicas. O meu objetivo específico neste artigo é descrever brevemente e destacar as pesquisas atuais que poderão mudar alguns conceitos e protocolos clínicos, e deste modo, prevenir algumas falhas que se observam quando se realizam cimentações adesivas, tais como, pinos estéticos, inlays, onlays, facetas etc. Já aconteceu na remoção de um provisório, você deslocar o pino estético com o cimento resinoso e toda a reconstrução de resina que você fez unida a ele? (Fig.1 e Fig. 2). Quando há o deslocamento de alguma peça que foi cimentada com cimento resinoso, geralmente culpamos o material, porém, é interessante fazer o seguinte questionamento: Será que o meu protocolo clínico está embasado em pesquisas atuais? A atenção a estas questões surgidas na prática clínica, podem diferenciar o profissional e fazer com que este, obtenha êxito em seus procedimentos. Considero extremamente frustrante quando o profissional remove sua própria reconstrução com pino na moldagem ou unido a um provisório. A revista americana de pesquisa clínica Clinical Research Associate publicou uma nota na qual muitos dentistas escreveram contando que quando cimentavam pinos estéticos de fibra ou cerâmica com cimentos resinosos e adesivos simplificados - frasco único - (Fig. 3), estes pinos unidos ao cimento resinoso se soltavam do conduto. E como remanescente dentro do conduto, observava-se somente a delgada camada de adesivo. No que se refere à cimentação de pinos estéticos intra-radiculares que requer uma união adequada entre o pino e o cimento, o adesivo e a dentina e adesivo com o cimento resinoso, pesquisas tem sido realizadas 1 e neste sentido, tem-se observado que o problema está na união entre o adesivo e o cimento (Fig. 4). Para entendermos como cimentar corretamente nossas peças devemos conhecer a classificação dos sistemas adesivos disponíveis (Fig. 5). Conhecendo essa classificação e reconhecendo efetivamente qual deles utilizamos para cimentar nossas peças estéticas, podemos entender como este problema de incompatibilidade entre o adesivo simplificado e o cimento resinoso ocorre. Ao se aplicar o adesivo simplificado sobre a dentina e realizar a fotopolimerização, a camada superficial do adesivo não se polimeriza, pois, está em contato com o oxigênio. Sabe-se que os adesivos simplificados ou de frasco único sejam eles convencionais ou autocondicionantes tem ácidos em sua composição e desta maneira, a camada que não se polimeriza e que entrará em contato com o cimento resinoso(químico ou dual) no momento da cimentação terá características ácidas. No outro elo da corrente, ou seja, o cimento resinoso químico ou dual em sua composição contém aminas terciárias básicas que tem atração molecular por elementos ácidos e que comumente reage internamente com seu próprio peróxido, deflagrando a polimerização (sistema peróxido amina). Quando o cimento que foi aplicado na peça se encontra com o adesivo que foi aplicado na dentina, as aminas terciárias contidas no cimento reagem com os ácidos contidos na superfície do adesivo simplificado e deste modo, o cimento não polimeriza naquela interface. A acidez do adesivo consome as aminas terciárias do cimento as quais são as responsáveis pela efetiva polimerização do cimento resinoso. Levando essa importante informação para a clínica entendemos que os adesivos simplificados (Fig. 3) não são indicados para cimentação de peças indiretas, pois tem incompatibilidade com os cimentos resinosos 2,3. Outra observação extremamente importante é com relação a silanização da peça. Ative o silano (misturar frascoa + frascob) para silanização de sua peça no dia anterior ou com algumas horas de antecedência, pois, a reação química é demorada. Feche a mistura em um recipiente para não evaporar. Se estiver utilizando um silano pré-ativado (frasco único), não fique com o produto mais do que três meses no consultório e quando comprar, verifique o lote e a data de validade para saber quando ele foi ativado (na fábrica), pois, os silanos de frasco único reagem e se deterioram dentro do frasco com muita facilidade, formando oligô-
meros (polímeros de baixa massa molar) e que não tem efetividade de silanização. Se você já tem no consultório o adesivo simplificado de frasco único e quer aproveitá-lo nas cimentações, adquira um adesivo hidrofóbico para esmalte que não contem monômeros ácidos para passar sobre ele. Pode ser o frasco 3 do Scoth Bond Multi Pourpose (3M), o D/E Resin do All Bond (Bisco) (Fig.6), Magic Bond da Vigodent, o adesivo (frasco 2) do PAAMA (SDI,) o adesivo (Frasco 2) do Optibond (Kerr) etc. O objetivo é que antes da cimentação da sua peça, esse procedimento irá isolar a camada ácida do adesivo simplificado hirofílico sobreposto, impedindo a incompatibilidade e a falha no processo adesivo. Toda forma adicional para aumentar a adesividade e retenção deve ser utilizada, em núcleos de preenchimento por exemplo, os novos pinos de fibra de vidro White Post DC da FGM, possuem dupla conicidade aumentando a área ficcional e transmitem luz com o objetivo de otimizar a polimerização em áreas profundas do conduto radicular (Fig. 21). Fig. 1: Núcleo de preenchimento realizado com pino de fibra de vidro, cimentação com cimento resinoso dual e adesivo simplificado. O cimento unido ao pino se soltou do conduto. radicular. Este é um dos eventos que podem ocorrer quando há incompatibilidade química entre o cimento e o adesivo simplificado. Fig. 2: DICA CLÍNICA: Para cimentar pinos estéticos, inlays, onlays, facetas, utilize: Na peça : Ácido fluorídrico a 10% (ex. Cond AC porcelana FGM) e silano, ativando um dia antes, ou utilize um silano novo e depois aplique adesivo hidrofóbico contido no kit dos adesivos de 3 passos(fig 6) e fotopolimerize. No dente: Após condicionamento, aplique adesivos de 3 passos (Fig-6) ex: All Bond 2, Optibond, Scohth Bond Multi Poupose etc. Primeiro aplique o primer sobre a dentina, evapore o solvente adequadamente com um leve jato de ar por 30s. Aplique o adesivo hidrofóbico do próprio sistema e fotopolimerize. Conduto vazio, o cimento resinoso ficou unido ao pino. Fig. 3: Aplique o cimento resinoso e cimente a peça. Adesivos simplificados: Prime e Bond (Dentsply), Optibond Solo (Kerr), Single Bond (3M), One Step (Bisco).
Fig. 6: Fig. 4: Adesivo de 3 passos All Bond 2 (Bisco), Indicado para cimentações e resturações diretas em compósito. Casos Clínicos Fig. 7: União entre dentina-adesivo simplificado, adesivo simplificado-cimento, cimento-peça de cerâmica silanizada. São observados bolhas, delaminação do adesivo falha na polimerização do cimento na interface entre o adesivo simplificado e o cimento. Microscopia Eletrônica de Varredura Dr. Byong Suh. Fig. 5: Fratura de um pré-molar: optou-se por reconstituir o elemento com uma Overlay em cerâmica cimentada pela técnica adesiva. Como retenção adicional foi utilizado a embocadura do conduto radicular. Fig. 8: Classificação atual dos adesivos dentinários com as considerações a respeito de cimentações indiretas. Overlay em cerâmica: TPD, Juliana A. Sas
Fig. 9: Peça após silanização e aplicação do adesivo hidrofóbico: D/E Resin (All Bond 2) Fig. 10: A peça foi cimentada com o cimento resinoso Duolink (Bisco) Fig. 12: Após a remoção dos excessos com sonda, fio dental, limpeza e acabamento nas margens com Lixas de acabamento proximal e sistema Práxis da TDV. Fig. 13: Vista vestibular do caso finalizado. Caso Clínico 2 Fig. 11: Fig. 14: Cimentação da peça, o fio dental já estava em posição previamente para facilitar a remoção dos excessos de cimento. Resina desgastada, com deterioração e infiltração generalizada.
Fig. 17: Fig. 15: Aplicação do silano da Dentsply o qual foi ativado anteriormente através da mistura primer e ativador para posterior aplicação do adesivo hidrofóbico(magic BondVigodent). Fig. 18: Aplicação do ácido fosfórico a 37%, feito isso é importante executar corretamente os passos de hibridização dentinária: 1) Lavar o ácido pelo dobro do tempo do condicionamento, 2) secar a cavidade com papel absorvente, 3) aplicar o primer e secar levemente por 30s, 4) aplicar o adesivo hidrofóbico sobre o primer lembrando que esta técnica cobre e elimina a acidez do primer que é incompatível com os cimentos. 5)Fotopolimerize. Fig. 16: A peça foi cimentada com o cimento resinoso Dual Cement da Vigodent Fig. 19: Aplicação de ácido fluorídrico na peça. Cimentação
Fig. 20: Prof.Dr. Wanderley de Almeida César Jr. Onlay em cerâmica: TPD Juliana A. Sas Fig. 21: Especialista em Dentística - FOB USP Mestre em Dentística FORP USP Doutorando em Química de Polímeros e Compósitos DQI - UEM Membro da SBOE Sociedade Brasileira de Odontologia Estética Coordenador do curso de aperfeiçoamento em odontologia estética do Odons Maringá PR. e-mail wanderleyjr@odons.com.br REFERÊNCIAS: White Post DC (FGM), pinos desenvolvidos com características morfológicas e opticas auxiliares no processo de retenção ao conduto radicular. Termino esse artigo com um pensamento do Roberto Shinyashiki, faça aquilo que sua alma pede. Viva sua verdade. Não tenha vergonha de ser quem você verdadeiramente é. Que Deus abençoe todos vocês e até a próxima edição. 1 - CARVALHO R.M. Et.al. Adhesive permeability affects coupling of resin cements that utilize self-etching primers to dentine. Journal of Dentistry (2004) 32, 55-65. 2 - MAK,Y.F. Et al. Micro-tensile bond testing of resin cements to dentin and an indirect resin composite. Dent. Materials 18(2002) 609-621. 3 - FOXTON R.M. Et. al. Adhesion to root canal dentine using one and two-step adhesives whith dual-cure composite core material. Journal of Oral Rehabilitation (2005) 32, 97-104.