(prof. Albino Ferragini)



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Transcrição:

MECANISMOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 1 (prof. Albino Ferragini) 1. INTERESSES DIFUSOS O art. 1 o da Lei 7. 347, de 24.7.85 preconiza a defesa do meio ambiente, do consumidor ou de qualquer outro interesse difuso ou coletivo e a defesa da ordem econômica e da economia popular. Em alguns casos pode haver ainda a proteção de interesses individuais homogêneos relacionados a esses mesmos valores especificados (CDC, art. 81, III). São três as espécies de interesses a serem tutelados: difusos, coletivos e individuais homogêneos, que estariam dentro do gênero interesses metaindividuais. Os incisos do parágrafo do art. 81 do CDC trazem a definição legal das três espécies de interesses, distinguindo-os, segundo sua origem. Esse dispositivo, por estar contido no Título III do CDC, tem aplicação geral a qualquer ação civil pública, mesmo que não se trate de relação de consumo (CDC, art. 117 e art. 21 da LACP): Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em Juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

2 Interesses difusos A definição legal: interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato (CDC, par. único, I). Características: indeterminação do sujeito e indivisibilidade do objeto. A indivisibilidade está no bem da vida a que se visa e não na causa de pedir. O objeto (ou bem jurídico) é indivisível, na medida em que não é possível proteger um indivíduo sem que essa tutela atinja automaticamente os demais membros da comunidade que se encontram na mesma situação: ou atinge a todos ou não atinge ninguém. Exemplo: o meio-ambiente sadio (tutelado no art. 225 da CF) não pertence a uma pessoa determinada, mas a toda a coletividade. No campo da relação de consumo, basta uma prática enganosa (par. do art. 37 do CDC), para que todos os potenciais consumidores possam ser atingidos ; proibição de comercialização de determinado produto que alto grau de nocividade (CDC, art. 10). Interesses coletivos O CDC dá o conceito: II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base. A indeterminação do sujeito neste caso é relativa, porque passível de afetação d a um grupo, categoria ou classe, cuja relação jurídica é permanente e preexiste à lesão ou ameaça de lesão. Interesses individuais homogêneos São os interesses de grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos divisíveis, de origem comum, normalmente oriundos das mesmas circunstâncias de fato. Mas, em sentido lato, os interesses individuais homogêneos não deixam de ser também interesses coletivos.

3 Tanto os interesses individuais homogêneos como os difusos originam-se de circunstâncias de fato; entretanto são indetermináveis os titulares de interesses difusops, e o objeto do interesse é indivisível; nos individuais homogêneos, os titulares são determinados ou determináveis, e o dano ou a responsabilidade se caracterizam por sua extensão divisível ou individualmente variável entre os integrantes do grupo. Hugo Nigro Mazzilli 1 dá o exemplo: Compradores de veículos produzidos com o mesmo defeito de série: há uma relação jurídica comum subjacente entre os compradores, mas o que os liga no prejuízo sofrido não é a relação jurídica em si (como por ex; ação coletiva para combater cláusula abusiva em contrato de adesão), mas é o fato de comprarem carros do mesmo lote produzido com defeito em série, sendo que cada integrante do grupo tem direito divisível à reparação devida. Interesses Grupos Divisibilidade Origem Difusos Indeterminável Indivisíveis Situação de fato Coletivos Determinável Indivisíveis Relação jurídica Ind. Homogêneos Determinável Divisíveis Origem comum II. PROTEÇÃO JUDICIAL DO MEIO AMBIENTE 1. INTRODUÇÃO A proteção judicial do meio ambiental é feita pelo Estado que está obrigado a prestar a tutela jurisdicional sempre que exercido o direito constitucional de ação pelos seus juridiscionados, como dispõe o art. 5 o, XXXV, da Constituição Federal, que consagrou o princípio da inafastabilidade da jurisdição. 1 A defesa dos interesses difusos em juízo. 13 a ed. SP: Saraiva, p. 50

2. PODER JUDICIÁRIO 4 É o Poder Judiciário, um dos três Poderes do Estado Brasileiro, que tem por finalidade dirimir conflitos com base no sistema legal, visando evitar ameaças ou lesões a direitos (CF, art. 2 o c.c. art. 5 o, XXXV) e assegurar um mínimo de coexistência pacífica entre os membros da sociedade. A estrutura organizacional do Poder Judiciário está prevista no art. 92 e seguintes da CF. 3. O MINISTÉRIO PÚBLICO A CF de 1988 estabeleceu um sistema de atribuições amplo para o Ministério Público em matéria de proteção ambiental, trazendo seu perfil no artigo127, dispor que O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. A organização constitucional do MP no Brasil não encontra paralelo em nenhum outro país. O nível de independência e autonomia que foi deferido ao MP pelo constituinte é absoluto. O Ministério Público e seus integrantes só se encontram submetidos à lei e à própria consciência 2. Em razão de suas atribuições constitucionais, decorrem as funções institucionais, cujas atribuições e instrumentos de atuação encontram-se elencados no artigo 129, da CF: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 2 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6 a ed.rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, p. 645

5 (Dispositivo regulamentado pela LC nº 75, de 20.05.1993, e Lei nº 8.625, de 12.06.1993). I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruílos, na forma da lei complementar respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. 1º. A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.

6 2º. As funções de Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação. Dentre as diversas funções institucionais encontram-se o exercício da ação civil pública e do inquérito civil, instrumentos de grande valia na proteção ambiental. No Direito brasileiro temos cinco ações civis públicas típicas disciplinadas em lei: a) 7.347/85 (ACP); b) 7.853/89 (integração social do deficiente físico); c) 7.913/89 (responsabilidade por danos causados aos investidores no mercado de valores mobiliários); d) 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente); e e) 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor. 5. PRINCIPAIS MEIOS JUDICIAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 5.1. Introdução O princípio da inafastabilidade da jurisdição civil apresenta dois sistemas de tutela processual: um destinado às lides individuais, onde os interesses são individuais, divisíveis, cujo instrumento adequado é o Código de Processo Civil, e o outro sistema, direcionado para a tutela dos interesses coletivos, que tem como instrumento adequado a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) e o CDC (Lei 8.078/90), conforme esclarecem Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery:

7 A tutela em juízo dos direitos difusos e coletivos do consumidor está regulada no CDC arts. 81 a 104. A defesa judicial dos demais direitos e interesses difusos e coletivos se faz pelos mecanismos da LACP, aos quais se aplicam as disposições processuais do CDC (CDC art. 117, LACP art. 21), o que implica na observância dos conceitos legais de direitos difusos e coletivos do CDC art. 81, par. único I e II 3. De qualquer forma, o direito de ação, insculpido no art. 5 o, XXXV, da CF, permite ao jurisdicionado pleitear do Poder Judiciário uma manifestação de mérito a respeito da demanda. Para obter uma decisão de mérito, o direito de ação é condicionado na sua existência, como diz Nelson Nery Junior: As condições da ação possibilitam ou impedem o exame da questão seguinte (mérito). Presentes todas, o juiz pode analisar o mérito, não sem antes verificar se também se encontram presentes os pressupostos processuais. Ausente uma delas ou mais de uma, ocorre o fenômeno da carência da ação, ficando o juiz impedido de examinar o mérito 4. ação. Necessário examinar, portanto, as condições e os elementos da 5.2. CONDIÇÕES E ELEMENTOS DA AÇÃO 5.2.1. CONDIÇÕES DA AÇÃO a) Possibilidade jurídica do pedido vem estabelecida (a contrario sensu) no art. 295, par. único, III, do CPC, implicitamente, pois nosso 3 Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery. Código de Processo Civil Legilsação processual civil, p. 70 4 ibid, p. 474 e s.

8 código adotou o conceito abstrato de ação. Consiste na postulação de uma tutela prevista abstratamente no ordenamento jurídico. b) interesse também chamado interesse processual, que se relaciona diretamente com o direito material. Esse interesse do art. 3 o, do CPC, é o interesse jurídico-processual, que se reflete na imprescindibilidade do uso do processo para se tenha satisfeito um direito assegurado pelo ordenamento jurídico. Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo, ao falar em interesse estamos questionando a necessidade da intervenção estatal, a fim de dar efetividade ao interesse material da parte (primário), e a utilidade (ou adequação) do provimento judicial. 5 c) legitimidade das partes Segundo Chiovenda, parte é aquele que demanda em seu próprio nome a atuação de uma vontade da lei, e aquele em face de quem esta atuação é demandada. No conflito de direitos individuais, a legitimação será, via de regra, ordinária, e, excepcionalmente, extraordinária (CPC, art. 6 o ). A legitimação ordinária decorre da própria demanda, em que as pessoas levadas a juízo são as próprias envolvidas no conflito. A legitimação ad causam é questão preliminar no mérito e trata-se de objeção (matéria de ordem pública), de forma que não estará sujeita à preclusão, cabendo ao juiz, a qualquer tempo, conhecê-la de ofício. Observações: A legitimação extraordinária somente é cabível somente quando prevista na lei, porque a regra geral é que cada titular defenda seu direito, e, por isso, as legitimações ad causam e ad processum recaiam no mesmo indivíduo. Quando o legitimado para o processo não a parte legítima ad causam, temos a legitimação extraordinária (que não se confunde com substituição processual). 5 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. SP: Editora Saraiva, 2000, p. 224

9 A substituição processual deve estar prevista na lei e caracteriza-se com a presença dos seguintes requisitos: a) a lei atribuir a alguém direito de ação de modo que possa agir em nome próprio, para a defesa de direito material alheio; b) o titulo do direito material estar ausente. É o caso, por exemplo, do art. 9 o, II, do CPC, em que o juiz dá curador especial ao revel citado por edital, em que o curador é substituto processual, agindo em nome do ausente (defendendo-o) e sua atuação é prevista na lei. A legitimação extraordinária é mais abrangente, pois o legitimado tem o direito de ação, como por exemplo, o Ministério Público para ingressar em juízo, ajuizando ação civil ex delicto, pleiteando indenização para vítima pobre (CPP, art. 68), ou na hipótese de interdição (arts. 1.177, III e 1.178, II, do CPC). Também na esfera da jurisdição civil, os casos de ações coletivas para a defesa de direitos individuais homogêneos, previstas nos arts. 91 e s. do CDC, a legitimidade (extraodrinária) está presente, pois a lei autorizou outrem a defender em juízo, direito alheio, em nome próprio, cujo titular é identificável e individualizável. 5.2.2. ELEMENTOS DA AÇÃO São: partes, pedido e causa de pedir. a) Partes parte é aquele que pede e contra quem se pede a tutela jurisdicional. b) Pedido é o objeto da lide deduzida em juízo, que deve ser certo e determinado. O pedido pode ser mediato (provimento jurisdicional pleiteado: condenatório, constitutivo, declaratório, cautelar ou executivo) e imediato (bem jurídico pleiteado bem da vida reclamado) c) causa de pedir- (causa petendi). Pode ser remota (fundamento jurídico do pedido) e próxima (fatos), conforme art. 282, III, do CPC

10 5.3. ALGUNS ASPECTOS PROCESSUAIS GERAIS DA JURISDIÇÃO CIVIL COLETIVA 1. LEGITIMIDADE ATIVA A LACP (Lei 7.347/85), quando foi editava, regulava apenas as ações de indenização por danos causados aos bens jurídicos por ela tutelados, dentre os quais estavam incluídos o meio ambiente, as ações de obrigação de fazer ou não fazer e as cautelares para assegurar o resultado do processo de conhecimento ou de execução. Com o advento do CDC, o seu art. 117 acrescente o art. 21 à LACP, dispondo acerca da aplicação do Código às ações civis públicas. a) LEGITIMIDADE DAS ASSOCIAÇÕES CIVIS As associações civis e os sindicatos que tenham como finalidade a defesa do meio ambiente, podem agir em juízo por meio das ações coletivas, exigindo-se sua pré-constituição há mais de um ano, para aferirse sua representatividade e a pertinência temática (finalidade estatutária: defesa dos interesses metaindividuais e defesa desses interesses objetivados na acp, dispensada a autorização de assembléia), que são pressupostos processuais. O juiz pode dispensar o requisito da pré-constituição (há pelo menos um ano) das associações para todas as ações ajuizadas com base no CDC e na LACP, exceto para o mandado de segurança coletivo, por ser requisito constitucional (art. 5 o, LXX). Interesses individuais de caráter não homogêneo só poderão ser defendidos pelo sindicato ou outras entidades associativas, em ações

11 individuais, por meio de representação; mas interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos podem ser defendidos por meio de substituição processual (p.ex., o sindicato pode propor ação coletiva para questionar relação jurídica ilegal, de interesse da categoria; a eventual procedência do pedido beneficiará toda ela). 6 As ações coletivas propostas por sindicato não induzem litispendência em relação às ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes só beneficiarão os autores de ações individuais que tenham requerido sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva (CDC, arts. 94 e 104, e LACP, art. 21). O particular não possui legitimidade para ajuizar ação civil pública ambiental, podendo apenas deduzir em juízo pretensão indenizatória para reparação de dano pessoal, com base no sistema da Lei 6.938/81. b) NATUREZA DA LEGITIMAÇÃO ATIVA NA JURISDIÇÃO CIVIL COLETIVA Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo, Em se tratando de conflitos coletivos lato sensu, é correto que os entes legitimados para a propositura da ação civil pública são responsáveis pela condução do processo e não desempenham a figura que muitos chamam de substituto processual. Com isso, observamos uma superação da dicotomia legitimação ordinária/extraordinária, passando-se a conceituar o fenômeno como uma legitimação autônoma para a condução do processo. Por outro lado, não se pode perder de vista que, estando envolvidos direitos individuais homogêneos, o fenômeno que se verifica é indiscutivelmente o de legitimação extraordinária 7. 6 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 13 a ed. SP: Saraiva, 2001, p. 227

12 A legitimação é com corrente e disjuntiva, pois cada um dos colegitimados pode, sozinho, promover a ação coletiva, sem que seja necessária anuência ou autorização dos demais. O eventual litisconsórcio será sempre facultativo. c) LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO A legitimidade do MP para a defesa em juízo, por meio de ação civil pública e outros direitos difusos e coletivos, decorre do preceito constitucional do art. 129, III, de modo que é impossível lei infraconstitucional limitá-la. O MP está legitimado inclusive para ajuizar ações que visem a tutela de direitos coletivos (art. 81, par. Único, II), autorizado pelo art. 82 do CDC, que está em consonância com o art. 129, IX, da CF, que confere à lei a possibilidade de cometer outras funções ao Ministério Público, desde que compatíveis com sua finalidade institucional, qual seja, a defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (CF, art. 127). O sistema processual brasileiro consagra dois tipos de ações coletivas: a) para a tutela de direitos difusos e coletivos, cujo procedimento está regulado de forma principal na LACP; b) para a tutela de direitos individuais homogêneos, cujo procedimento está regulado, de forma principal, nos artigos 91 e s. do CDC. O CDC legitimou as entidades mencionadas no art. 82 para a defesa dos direitos nele previstos, e com isso, atribuiu personalidade jurídica aos entes oficiais (por ex., Procon) que têm por finalidade a defesa do consumidor, legitimando-os para agirem em juízo. d) Litisconsórcio entre os Ministérios Públicos 7 ob.cit, p. 231/232

13 O MP possui legitimidade para ajuizar ações coletivas para tutela dos direitos difusos (meio ambiente), coletivos e individuais homogêneos (class action) tratados coletivamente (arts. 81, par. único e 82, do CDC), mas não pode ajuizar ação individual em nome de lesado por dano ambiental, a fim de pleitear a prevenção ou a reparação de um direito individual homogêneo, porque o objeto da tutela é um bem difuso (não se permite sua divisibilidade ou a individualização dos titulares). O litisconsórcio facultativo entre o MP da União, dos Estados e do Distrito Federal, do art. 50, 5 o, da Lei 7.347/85, não se trata de litisconsórcio, mas de representação da Instituição, pois o Ministério Público é uno e indivisível. Situação distinta é a do art. 5 o, 2 o, da LACP, que permite o litisconsórcio facultativo unitário, entre as associações legitimadas, o que deve ocorrer no ingresso em juízo da ação coletiva ambiental, ou então refletirá na figura da assistência litisconsorcial, uma vez que nosso direito processual não admite o litisconsórcio facultativo unitário superveniente. e) LEGITIMIDADE PASSIVA Qualquer pessoa (física ou jurídica de direito público ou privado) pode figurar no pólo passivo das ações coletivas ambientais, desde que se encaixe no conceito de poluidor, previsto no art. 3 o da Lei 6.938/81. No tocante aos danos causados por omissão, devemos entender como poluidor o membro da coletividade responsável pelo dever positivo não cumprido. Todo aquele que, de alguma forma, contribuir para o dano ambiental é legitimado passivo.

14 De acordo com os parâmetros constitucionais, alguns instrumentos que têm sua legitimidade passiva restringida, como ocorre com o mandado de segurança ambiental (individual ou coletivo), porque só é cabível contra autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. f) DESISTÊNCIA DA AÇÃO Ocorrendo desistência infundada da ação por qualquer legitimado (e não somente por associação autora), o Ministério Público deverá assumir a titularidade da ação coletiva. A indisponibilidade à qual o Ministério Público está vinculado atinge somente o direito material e não as suas faculdades processuais enquanto parte. O que se veda ao condutor do processo (nas ações coletivas para defesa dos interesses difusos e coletivos) e ao substituto processual (ações coletivas para a tutela dos direitos individuais homogêneos) é a renúncia ao direito material, e não às faculdades meramente processuais, que deixam incólume o direito material. Nesse sentido, pode o MP renunciar ao poder de recorrer e desistir do recurso por ele interposto. g) INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Em geral não se admite o instituto da intervenção de terceiros na jurisdição coletiva, porque o regime da reparação do dano ambiental é o da responsabilidade objetiva (art. 14, 1 o, da Lei 6.938/81), não se permitindo a intervenção de terceiros, especialmente a denunciação da lide, porquanto a demanda secundária incluiria fundamento novo, estranho à lide, fundado na culpa. O CDC, em seu art. 88, veda a denunciação da lide, após mencionar a ação de regresso do art. 13, que dispõe acerca da responsabilidade do comerciante. Não se trata de denunciação da lide,

15 porque essa ação de regresso só se dá depois que o fornecedor tiver efetuado o pagamento aos prejudicados; dessa forma, não existe direito a ser garantido pelo denunciado; cuida-se apenas da possibilidade de cobrarse dos co-responsáveis, nos mesmos autos, de acordo com a participação no evento danoso, o valor da indenização. h) COMPETÊNCIA O art. 2 o da Lei 7.347/85 determina que (Art. 2º.) As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer dano, cujo Juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. Trata-se de competência funcional, portanto, absoluta, que não pode ser prorrogada por vontade das partes e, se inobservada, acarreta a nulidade dos atos processuais decisórios (CPC, art. 113, 2 o ) 8. Ainda que a União ou algumas de suas entidades seja parte interessada, a competência será do foro do local onde ocorrer o dano. A prevalência do art. 2 o da Lei 7.347/85 se dá por expressa autorização do artigo 109, 3 o da CF, porquanto há delegação de competência à Justiça Estadual sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal. Todavia, eventuais recursos, deverão ser dirigidos ao Tribunal Regional Federal da área de jurisdição do juiz de 1 o grau, conforme determina o 4 o do art. 109, da CF. Se o dano ambiental assumir dimensão que atribua competência concorrente para o deslinde do feito a diferentes órgãos jurisdicionais, o critério da prevenção. 8 3º. Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual. 4º. Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

i) LITISPENDÊNCIA 16 Ocorre quando duas ações em curso são idênticas, isto é, os elementos que a identificam (partes, causa de pedir e pedido) são os mesmos. Não há litispendência entre uma ação coletiva e ima individual, porque não haverá coincidência entre os legitimados ativos. Não há litispendência entre uma ação coletiva destinada à tutela de um direito difuso e outra voltada à tutela de direito coletivo stricto sensu, porque não haverá identidade entre as pretensões, vez que o objeto da segunda será mais limitado que o pedido da primeira. Quando se tratar de ação coletiva para defesa de direito difuso e outra para a defesa de direito individual homogêneo, haverá, no máximo coincidência de causa de pedir, porque tanto o pedido quanto as partes são diferentes. O pedido da primeira é mais abrangente (titulares indetermináveis e objeto indivisível) e as partes são diversas, porque atuam sob qualidades jurídicas diferentes, pois enquanto o primeiro é legitimado autônomo, no segundo caso tem-se a atuação de um legitimado extraordinariamente. j) LIMINAR E TUTELA ANTECIPADA As ações coletivas ajuizadas com fundamento na LACP e no CDC sujeitam-se às regras procedimentais previstas nesses diplomas, aplicandose o sistema do CPC, quando houver lacuna ou omissão, conforme dispõe o art. 99 da Lei 8.078/90. Às ações coletivas ambientais aplica-se o sistema processual do CDC, por expressa determinação do art. 21 da LACP, o que admite o pedido de concessão liminar na petição inicial, conforme autoriza o art. 12, caput, da LACP.

17 Acerca da oitiva da pessoa jurídica de direito público interessada, cabe a ressalva de que ela deverá pronunciar-se em 72 horas (art. 2 o, da Lei 8.437/92), e, se não se manifestar no prazo ou a urgência recomendar, pode p juiz conceder liminar inaudita altera parte. O art. 12 da LACP traz a regra geral para a concessão da liminar antecipatória do direito e exige o preenchimento dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni iuris. Por sua vez, o art. 84, 3 o, do CDC, também prevê a tutela antecipatória do mérito, ao preceituar que 3 º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. As normas da jurisdição civil coletiva não reclamam postulação das partes para a concessão da tutela antecipada, podendo o juiz concedê-la de ofício. De forma diferente estabelece o art. 273, do CPC, que exige o requerimento das partes, entre outros requisitos (como a prova da verossimilhança da alegação e abuso de direito ou manifesto propósito protelatório do réu). k) TUTELA ESPECÍFICA O Código de Defesa do Consumidor prevê em seu Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. 1º. A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

18 2º. A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (artigo 287 do Código de Processo Civil). 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao Juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. 4º. O Juiz poderá, na hipótese do 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito. 5º. Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o Juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial. Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo 9, a aplicação do art. 84 do CDC não está restrita somente aos casos de ações que tiverem por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, já que sua função precípua é apenas demonstrar a preocupação do CDC com o princípio da efetividade da tutela dos direitos transindividuais, ou seja, de que sempre que possível exista a coincidência entre o direito e a sua realização. Além disso, aquele restrito entendimento estaria apenas repetindo o dispositivo dos artigos 11 e 12 da Lei da Ação Civil Pública. l) RECURSOS Segundo Celso A P Fiorillo 10, aplica-se o sistema recursal do CPC às ações coletivas ambientais, com as peculiaridades determinadas pelo 9 Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p. 245/246 10 ob. Cit., p. 247

19 art. 14 da LACP, o que confere ao juiz poderes para atribuir efeito suspensivo aos recursos, a fim de evitar prejuízo irreparável à parte. O juiz, ao proceder ao juízo de admissibilidade do recurso, observará os requisitos intrínsecos (cabimento, legitimação e interesse para recorrer) e extrínsecos (tempestividade, regularidade formal, preparo e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer). Preenchidos eles, magistrado, sob o fundamento de dano irreparável à parte, devolutivo. dará efeito suspensivo. A regra é o recebimento no efeito k) COISA JULGADA Nas ações coletivas com pedido de natureza difusa ou coletiva, a coisa julgada será erga omnes ou ultra partes. No caso de improcedência por insuficiência de provas, não haverá autoridade da coisa julgada. Dessa forma, permite-se ao próprio autor ou a qualquer outro co-legitimado a propositura de nova ação, valendo-se de nova prova. Nas ações coletivas para a defesa de direitos individuais homogêneos, a coisa julgada terá efeitos erga omnes, em benefício do consumidor, somente se houver procedência do pedido. Caso o pedido seja julgado improcedente, por infundada a pretensão ou por insuficiência de provas, essa circunstância não impedirá a ação (com o mesmo objeto) individual do consumidor. Conforma art. 103 1 o do CDC os efeitos da coisa julgada relativos às ações coletivas para a defesa de direitos e interesses difusos e coletivos não prejudicarão os direitos individuais dos lesados integrantes do grupo, categoria ou classe. A eficácia das decisões proferidas nas ações coletivas, segundo Celso Fiorillo, possui transcendência subjetiva, porquanto produzem efeitos erga omnes ou ultra partes, de modo que, em razão da natureza do objeto

20 da demanda, a efetividade do provimento jurisdicional dependerá da irradiação dos efeitos do ato judicial por todos os lugares em que se tenham que produzir 11. Por exemplo, uma decisão por juiz estadual da comarca de São Paulo pode ter efeitos em todo o território nacional, dependendo do teor e da finalidade da ação coletiva, que extrapola para outra base territorial além de sua competência, em razão da eficácia. Por isso, a maioria da doutrina entenda absurda a alteração legislativa feita pela Lei 9.494/97 em relação ao art. 16 da LACP, com a seguinte redação: Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de prova nova (g.n.). Como bem ressalta o Prof. Nelson Nery Junior, a Lei 9.494/97 modificou o art. 16 da LACP para impor limitação territorial aos limites subjetivos da coisa julgada e não tem nenhuma eficácia e não pode ser aplicada às ações coletivas. Confundiram-se os limites subjetivos da coisa julgada erga omnes, isto é, quem são as pessoas atingidas pela autoridade da coisa julgada, com jurisdição e competência, que nada têm a ver com o tema. Pessoa divorciada em São Paulo é divorciada no Rio de Janeiro. Não se trata de discutir se os limites territoriais do juiz de São Paulo podem ou não ultrapassar seu território atingindo o Rio de Janeiro, mas quem são as pessoas as pessoas atingidas pela sentença paulista. L) LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO COLETIVA O art. 15 da LACP dispõe que se a associação autora não promover a liquidação e/ou execução (quando a sentença já for líquida) no prazo de 60 dias, a contar do trânsito em julgado da sentença condenatória, caberá 11 ob. Cit. P. 248

21 ao MP fazê-lo, devido ao princípio da obrigatoriedade. Em relação aos demais co-legitimados do art. 82 do CDC, será facultado o ajuizamento. Para o MP é um dever, enquanto para os demais co-legitimados é uma faculdade. No caso de ação civil pública ambiental, não sendo possível a reparação do dano, e sendo condenado o poluidor, o valor arrecadado é encaminhado ao fundo federal ou estadual, conforme preceitua o art. 13 da LACP, cujos recursos serão voltados para a recuperação de bens, promoção de eventos educativos, e científicos e edição de material informativo relacionado com a natureza da infração ou dano causado. 5.3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL Presta-se a ação civil pública não só à defesa dos direitos difusos ou coletivos, mas também à tutela dos interesses individuais homogêneos (CDC, art. 81, par. único, III), que instituiu no sistema brasileiro a class action, mais uma modalidade de ação coletiva. Os legitimados ativos estão previstos nos artigos 82 do CDC e 5 o da LACP, inclusive o Ministério Público, que, se não tiver proposto a ação, intervirá obrigatoriamente no processo como fiscal da lei, nos termos dos arts. 92 do CDC e 5 o, 1 o, da LACP. É o tipo de tutela jurisdicional pleiteada que determina se um direito é difuso, coletivo ou individual homogêneo. A reparação de um dano ambiental será sempre difusa, dadas a indivisibilidade do seu objeto e a indeterminabilidade dos seus titulares. Quando se ajuíza uma ação visando à reparação do dano causado em manancial hídrico, por exemplo, tem-se a proteção de um bem de natureza metaindividual. Como determina o art. 103, 3 o, do CDC, que trata da coisa julgada, procedente o pedido da ação coletiva, as vítimas e seus sucessores serão beneficiados, podendo proceder à liquidação e à execução da sentença.

22 Com isso, permite-se que, a partir da condenação genérica de uma empresa à reparação de dano ambiental (bem difuso), o particular, individual ou coletivamente (origem comum), promova a liquidação do dano individualmente sofrido, demonstrando que havia um nexo de causalidade entre o que foi estabelecido genericamente na sentença condenatória (ex; instalação de filtros antipoluentes) e o dano sofrido individualmente (problemas respiratórios). Dessarte, nota-se que não é o meio ambiente que está sendo tutelado, já que constitui a causa de pedir da pretensão individual 12. 5.4. Inquérito civil É atribuição exclusiva do MP a instauração do inquérito civil, medida preparatória de eventual ação civil pública, prevista na Lei 7.347/85 (art. 8 o ), e elevada ao nível constitucional como função institucional do MP (CF de 1988, art. 129, III. O inquérito civil é uma investigação administrativa a cargo do MP, destinada basicamente a colher elementos de convicção para eventual propositura de ação civil pública; subsidiariamente serve ainda para que o MP prepare a tomada de compromissos de ajustamento de conduta ou realize audiência públicas e expeça recomendações dentro de suas atribuições 13. É procedimento investigatório, não contraditório. Nele não se decidem interesses nem se aplicam sanções, nem é pressuposto para o ajuizamento de ação, se outros elementos necessários já existirem, como peças de informação. O inquérito civil sujeita-se ao princípio da publicidade (desde que não possa resultar prejuízo à investigação ou ao interesse da sociedade), 12 Celso Antonio Pacheco Fiorillo, ob. Cit., p. 256/257 13 Hugo Nigro Mazzilli, ob. Cit., p. 322

23 aplicando-se analogicamente as normas procedimentais do inquérito policial. São fases do inquérito civil: a) instauração (portaria ou despacho no requerimento ou representação); b) instrução (coleta de provas, oitiva de testemunhas, juntadas de documentos, perícias, exames); c) conclusão (relatório final com promoção de arquivamento ou decisão noticiando a instauração da ação civil pública). Quem instaura e preside o inquérito civil é o mesmo órgão do MP que teria atribuições para propor a ação civil pública correspondente. Estão sujeitos a reexame do Conselho Superior do Ministério Público não só os inquéritos civis arquivados pelo Promotor de Justiça, como os arquivamentos de inquérito civil ou peças de informação quando determinados pelo próprio Procurador-geral de Justiça ou procurador-geral da República. Tem se entendido que em caso de ilegalidade, desvio de finalidade ou falta de atribuições, poderá o inquérito civil ser trancado por mandado de segurança, impetrado pelo interessado. Do indeferimento de representação para instauração de inquérito civil, cabe recurso ao Conselho Superior do MP, no prazo de 10 dias, da data que o autor da representação tiver ciência da decisão; e, da instauração do inquérito civil cabe recurso ao Conselho, no prazo de 5 dias. ajustamento. No curso do inquérito civil, pode sobrevir compromisso de A eficácia do compromisso fica condicionada à homologação da promoção de arquivamento do inquérito civil pelo Conselho Superior do MP. Todavia, é preciso lembrar que nem sempre o compromisso leva ao arquivamento do inquérito, pois há compromissos preliminares que não dispensam o prosseguimento de diligências.

5.5. Conclusão 24 Outros mecanismos de proteção ao meio ambiente existem, como já mencionado no início. Todavia, o mais importante é o mecanismo da prevenção, a fim de se evitar dano ao meio ambiente. Nesse aspecto, sem dúvida a educação ambiental é o caminho ideal para a construção e manutenção desse meio ambiente ecologicamente equilibrado que a Constituição garante. BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6 a ed.rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris. MAZZILLI, Hugo, Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 13 a ed. SP: Saraiva. SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional ambiental.sp: Malheiros, 1994