2º ENCONTRO REGIONAL SUL DE ENSINO DE BIOLOGIA 3ª Jornada de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFSC Florianópolis, 02 a 04 de Novembro de 2006.



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Transcrição:

RELATO DE PESQUISA SOBRE BIOÉTICA COM ANIMAIS Rossana Hoffmeister Menegotto Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul rossana.menegotto@uol.com.br Regina Maria Rabello Borges Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul rborges@pucrs.br Resumo Este trabalho relata uma experiência de abordagem da Bioética em relação aos animais, numa escola pública de ensino médio noturno, buscando desenvolver maior conscientização quanto à necessidade de uma atitude ética em questões como a utilização de animais em aulas práticas ou em pesquisas científicas e o trato dos animais no dia-a-dia, visando à formação de cidadãos mais conscientes e participativos. Palavras-chave: Bioética com os animais - Ética - experiências curriculares - ensino e aprendizagem - ensino médio. Introdução Este artigo relata um projeto que encontra-se em desenvolvimento numa escola pública do RS, com alunos do 1 0 ano do ensino Médio (noturno), do EJA Educação de Jovens e Adultos, focalizando a Bioética com animais e espécies ameaçadas de extinção. Inicialmente serão apresentados alguns fundamentos teóricos sobre o tema e, a seguir, a descrição do trabalho realizado na escola. Contexto do relato A pesquisa está sendo realizada no Mestrado em Educação em Ciências e Matemática da PUCRS e encontra-se em desenvolvimento, estando na fase final de análise dos resultados. Neste trabalho, o objetivo foi de promover uma conscientização dos alunos acerca de questões como as condutas éticas relacionadas com os animais e a preservação de espécies ameaçadas de extinção na nossa região. O problema que a pesquisa se propôs a responder foi Como se torna possível uma evolução dos conhecimentos e da participação de alunos de Biologia, em questões relacionadas à Ética e Bioética com animais, a partir de suas idéias prévias, num Planejamento Participativo? Os sujeitos participantes desta pesquisa foram alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), do 1 o ano do ensino médio de uma escola da Rede Pública Estadual de Ensino, em Porto Alegre. Participaram duas turmas, com cerca de 70 alunos do turno noturno. Esses alunos possuem os mais diversos tipos de dificuldades, seja de ordem de recursos financeiros, seja quanto a um passado de fracassos escolares e repetências. O tema de Bioética com animais e preservação de espécies foi apresentado para os alunos sob a forma de uma Unidade de Aprendizagem, dentro do módulo de Ecologia, na disciplina de Biologia. 1

Detalhamento de atividades No início dessa Unidade de Estudo foram mostradas várias espécies ameaçadas de extinção no RS, utilizando o Livro Vermelho das espécies ameaçadas do RS. Por meio dessas espécies, foi feito um amplo estudo sobre as classes de Vertebrados. Cada espécie selecionada para trabalho em aula foi discutida quanto aos seus hábitos, localização geográfica, causas prováveis de extinção. Os animais escolhidos para serem discutidos em aula foram os mais representativos dos ambientes dos quais vivem, ou mais ameaçados de extinção. Num primeiro momento, foi aplicado um questionário temático sobre situações práticas relacionadas a condutas com animais, levando os alunos a expressarem-se livremente. Posteriormente, foram apresentados aos alunos exemplos de espécies ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul, sendo o tema trabalhado em aula sob a forma de textos e leituras coletivas, complementares à apresentação de lâminas coloridas mostrando ilustrações dos animais. Na abordagem de espécies em extinção, foram mostrados somente exemplos de vertebrados superiores, pois o tema desenvolvido foi a sistemática desses animais e as suas características. Deste modo, foram comentados o tipo de habitat, características gerais dos mesmos, causas de seu processo de declínio populacional. A discussão e participação em aula sempre estiveram presentes nessa proposta, visto o projeto ter sido feito por meio de um Planejamento Participativo. O Planejamento Participativo foi citado por diversos autores, como Demo (2002). Durante o estudo, foi realizada uma leitura, com a participação de todos os alunos, dos textos preparados para as aulas. Após as leituras, foram mostradas lâminas com fotos coloridas dos animais para os alunos, sendo este um dos momentos mais atrativos para eles. Os alunos participaram efetivamente das aulas, com alguns deles relatando experiências pessoais ou conhecimentos relacionados ao tema. Na continuação do projeto, foi realizada uma apresentação aos alunos de alguns conceitos gerais sobre Bioética e Ética, levando os alunos a uma reflexão, relacionada à realidade atual. Essa atividade foi feita num clima de informalidade, estimulando a discussão e participação dos educandos. Foram planejados e desenvolvidos também trabalhos em grupo, com debates sobre situações reais e cotidianas, que foram retiradas de recortes de jornais recentes. Nelas, os alunos posicionaram-se sobre cada um dos casos, discutindo razões para que tais situações ocorressem, incluindo sugestões do que poderia ser feito para evitá-las. As aulas ministradas no decorrer dessa Unidade de estudo totalizam cerca de 2 meses e meio de atividades, sendo que foi aplicado outro questionário temático sobre condutas com animais nas turmas, ao finalizar as atividades. Na análise dos dados coletados na pesquisa, está sendo realizada uma análise textual discursiva, conforme autores como MORAES (2003). Este tipo de abordagem possui uma natureza qualitativa, sendo o conteúdo do material o fator mais importante na análise. Ao final da pesquisa, a meta principal é a de promover uma maior conscientização dos alunos em relação aos temas ligados às condutas com animais. Visto essa pesquisa pretender modificar um determinado panorama da realidade atual, atingindo a comunidade escolar e a população em geral, a presente pesquisa pode ser caracterizada 2

como um tipo de pesquisa-ação. Neste tipo de pesquisa, é feita uma profunda inserção do autor na realidade do grupo de estudo. As discussões foram levadas à sala de aula por meio de situações reais vivenciadas pela comunidade, estimulando o posicionamento dos educandos nessas questões. Temas como: abate de animais para consumo, utilização de animais em pesquisa e aulas nos cursos de graduação das Universidades, maus-tratos a animais domésticos, foram trazidos para discussão em aula, sendo essa sempre realizada primeiramente em grupos menores, posteriormente no grande-grupo. Será elaborado um manifesto dos alunos, no final do projeto, onde os mesmos irão colocar sugestões de como poderia ser evitada a repetição de tais situações na nossa cidade e comunidade. Essa atividade realizada em aula foi exposta para conhecimentos de todos os demais alunos da escola, levando as propostas levantadas ao conhecimento de toda comunidade escolar. Na avaliação dessa parte inicial do trabalho, foi requisitada uma redação descritiva de uma das espécies, justificando o motivo da escolha do aluno. Para a abordagem do tema Bioética relacionado aos animais, foram fornecidos aos alunos textos contendo relatos atuais sobre questões como : Animais de circo, Carroceiros na cidade de Porto Alegre, Animais de rodeio, Utilização de animais em pesquisas científicas e nas aulas práticas, Animais em matadouros e Vegetarianismo. Nas aulas seguintes, foram debatidos com os alunos temas relacionados à Ética com animais, como: carroças na cidade de Porto Alegre, animais de circo, animais em frigoríficos e vegetarianismo, uso de animais em pesquisas científicas e aulas práticas (vivissecção), animais em rodeios, e outros, descritos a seguir. Carroças na cidade de Porto Alegre: foi utilizado em aula o artigo Porto Alegre: a cidade das Carroças Este foi um dos temas que mais despertou interesse dos alunos, provavelmente por se tratar de um problema bem característico de nossa cidade. Na confecção dos cartazes temáticos, este foi um dos temas mais referenciados pelos alunos. Animais de Circo: por meio do artigo Não vá ao circo, foi mostrado aos alunos a realidade dos animais que vivem nos circos e os maus-tratos sofridos pelos mesmos. Situações extremas, como o confinamento a que são submetidos animais silvestres, falta de alimentação e muitas outras denúncias foram citadas no texto, despertando uma grande compaixão nos alunos, manifestada em seus textos escritos posteriormente à leitura. Animais de Frigoríficos e Vegetarianismo: o artigo trabalhado em aula, intitulado Não coma carne mostra as situações a que são submetidas as espécies utilizadas nos abatedouros, para fornecimento industrial de carne. Este texto denuncia os maus-tratos que os animais sofrem antes e durante o abate, onde muitos são colocados em locais de extremo desconforto e confinamento, sendo após submetidos a um abate muitas vezes doloroso, sem nenhuma visão humanitária. Este tema foi também escolhido para a redação final por muitos alunos, despertando uma ampla discussão sobre a questão. Alguns dos alunos mostraram-se simpatizantes de práticas como o vegetarianismo, durante os debates em aula. 3

Animais em Rodeios: no artigo A verdade sobre os Rodeios 1, foram mostradas situações a que os animais utilizados em tais práticas são submetidos, tendo como exemplo o ocorrido em Barretos/SP. Os animais de rodeios são vítimas de práticas como o uso de cintas para deixá-los mais agitados na monta, além de uso de choques elétricos e outros procedimentos que submetem os mesmos a muita dor e estresse. Os artigos possuíam muitas fotos dos rodeios, o que sensibilizou a turma. Uso de Animais em Pesquisas Científicas: No artigo Um novo holocausto, todos os dias 2, foi denunciada a prática do uso de animais em aulas nas universidades e nas pesquisas científicas, e como os animais domésticos são utilizados em tais situações. Devido às fotos presentes no texto, houve uma sensibilização geral dos alunos, que se manifestaram avessos a tais práticas, embora alguns até considerassem o uso de animais domésticos em pesquisas, se feito com cautela, em certos casos. Estes temas foram discutidos após uma apresentação geral e leitura de artigos atuais, retirados da Internet (www.eugostodebicho.com.br) e entregues aos alunos. Houve a participação e interesse dos educandos, tendo muitos deles contado as experiências pessoais relacionadas ao estudo. A capacidade de argumentação dos alunos foi desenvolvida, pois cada um deles procurou dar a sua opinião pessoal e explicar razões para a mesma. Foi requisitada pela professora uma redação, escolhendo um dos temas, colocando a opinião pessoal a respeito. Cada trabalho deveria ser realizado individualmente pelo aluno. Por meio do segundo trabalho realizado como avaliação, pode-se verificar uma evolução, visível na capacidade escrita e argumentativa nas turmas. Na fase final do trabalho, foram realizadas, como atividades complementares, visitas ao MCT e a confecção de cartazes temáticos sobre preservação e ética com animais. Podese notar uma motivação crescente dos alunos a respeito do tema, pela participação nas aulas e seus pedido de visita complementar ao Museu. Na elaboração de cartazes, foi utilizado material trazido pela própria professora, como: canetinhas hidrocor, revistas sobre animais, cartolina. Os alunos participaram ativamente da atividade, mostrando uma grande interação entre os componentes de cada grupo. Os alunos que participaram dessa atividade receberam ponto adicional na média final do semestre. Com recortes de revistas e montagens, foram abordados os temas discutidos nas aulas, desde o cuidado no trato com animais até questões relacionadas à Bioética, como o uso de animais em pesquisas científicas, os animais em circos e as carroças na cidade de Porto Alegre. Os alunos mostraram-se tão entusiasmados com o trabalho que fizeram desenhos sobre os temas, que complementaram as montagens de figuras nos cartazes A elaboração de cartazes temáticos durou um período de aula, sendo que o resultado foi exposto no mural da escola, para divulgação do trabalho. Esta finalização do trabalho foi a atividade na qual houve a maior participação da turma como um todo. Neste tipo de proposta metodológica, depende-se da participação efetiva dos alunos em todas as fases do projeto, desde a delimitação de atividades em aulas até a avaliação e atividades extra-classe. Por isso, o andamento das atividades ocorreu acompanhando a motivação dos educandos. A avaliação realizada com os alunos, no término da fase inicial do trabalho, constou de uma redação sobre uma das espécies 1 Disponível em www.eugostodebicho.com.br. 2 Idem nota 1. 4

apresentadas aos alunos nas aulas, sendo que eles deveriam posicionar-se sobre as causas da extinção da mesma, justificando a razão de sua escolha. A participação dos alunos foi progressivamente aumentando no decorrer das atividades propostas. Como avaliação desta parte inicial do trabalho, foi pedida pela professora uma redação descrevendo, em termos gerais, uma das espécies estudadas nas aulas, devendo cada aluno justificar o motivo de tal escolha. Na avaliação final do trabalho, foi pedido aos alunos que realizassem uma redação sobre um dos temas citados, colocando sua opinião pessoal a respeito. Com este trabalho, pode-se notar um grande desenvolvimento da capacidade de expressão lingüística dos alunos, bem como de sua participação efetiva em aula. Tendo como base o Planejamento Participativo, proposto por DEMO (2002), os alunos participaram em todos os momentos da pesquisa, incluindo a escolha das atividades realizadas em aula. Atividades complementares às aulas expositivo-dialogadas foram planejadas e desenvolvidas, como a confecção de cartazes temáticos sobre preservação de animais e condutas com animais, na finalização da Unidade de Estudo. Estes resultados foram expostos na escola, para conhecimento geral da comunidade escolar a respeito do trabalho. A atividade de elaboração de cartazes foi uma das mais interessantes para as turmas, promovendo uma grande interação durante o trabalho em aula. Todos participaram escolhendo figuras nas revistas, fazendo as colagens e desenhando. A professora também participou juntamente com os alunos na confecção dos cartazes. O resultado, mostrado para a comunidade escolar, teve uma grande receptividade de todos, sendo muito elogiado por professores e alunos. Fundamentação teórica A Bioética é a Ciência da Vida, ou seja, é a ciência que visa uma discussão das questões éticas relacionadas aos seres-vivos em geral, incluindo-se os animais. A ética é a base de todas estas discussões, é o que deve ser o fator principal nessas decisões. Questões como a utilização de animais em pesquisas científicas e em aulas práticas nas universidades são questões que têm cada vez mais despertado a reflexão na comunidade científica e sociedade em geral, na busca de maior justiça em tais procedimentos. O tema da Bioética e das condutas com animais foi defendido por muitos autores teóricos, sendo um dos principais expoentes Peter Singer, através de sua obra Libertação Animal. Nesta obra, criticou a tendência do ser humano ao especismo, defendendo, num primeiro momento, somente os interesses relacionados à sua própria espécie O uso de animais vem acompanhando o avanço das Ciências Biomédicas desde a Grécia antiga até os dias de hoje. Uma importante figura, neste aspecto, foi Aristóteles (325 a.c.), que já descrevia o uso de espécies animais, em suas obras. Erasistratus (304-258 a..c.) foi também citado como a primeira pessoa a utilizar experimentos com animais vivos, estudando a anatomia do corpo humano. O tema da Bioética com animais tem sido contemporaneamente discutido por vários estudiosos, a fim de elucidar dúvidas que aprecem quando se analisa a questão do uso de animais na experimentação científica. Um dos mais importantes nomes que abordou este tema foi SINGER, na sua famosa obra Libertação Animal (2004). Singer colocou o questionamento sobre o fato dos animais sentirem dor - ou não - como o ser-humano. Utilizou-se de diversas argumentações para demonstrar que não existiriam motivos reais 5

para que estes não viessem a ter o mesmo nível de sensibilidade que um ser-humano, visto que seu sistema nervoso possui um desenvolvimento idêntico ao do homem. Singer refere-se, em suas obras, aos animais como animais não-humanos, explicitando a sua similaridade com o próprio ser-humano. Os animais poderiam, conforme esta linha de raciocínio, até serem colocados num plano de igualdade com os seres-humanos portadores de deficiências. Conforme Singer (2004), estes animais poderiam ser utilizados esporadicamente em atividades que visassem a um desenvolvimento e bem-estar dos seres-humanos, desde que os benefícios justificassem os meios empregados. Este tipo de lógica vem ao encontro da maioria dos defensores de correntes dos Abolicionistas da Bioética com Animais. Existem dois ramos de correntes de Ética, em relação ao uso de animais nas pesquisas científicas. Alguns não concordam, em hipótese nenhuma, com a utilização de animais em procedimentos que lhes cause algum tipo de dor e sofrimento, sendo estes os mais radicais defensores da Bioética e dos Direitos dos Animais. Os defensores do Abolicionismo, por sua vez, aceitam, em certas condições, o seu uso em pesquisas científicas, sendo analisadas devidamente as relações entre custos e benefícios. Segundo a Teoria do bem-estar animal, os direitos dos Animais devem ser prioritariamente respeitados, não sendo menos importantes do que os direitos de um serhumano. Estas discussões alavancaram a temática contemporânea da Bioética com Animais. Muitos autores, além de Singer, defenderam os direitos dos animais, em suas obras, como FEIJÓ (2005). Conforme esta autora, é possível a utilização de métodos alternativos na pesquisa científica, não sendo justificável o uso de cobaias animais em tais procedimentos. Contudo, como mostra em sua argumentação, este tipo de prática tem sido uma constante desde os primórdios da evolução científica. Sendo assim, há uma necessidade urgente de se estimular uma ampla discussão acerca dessas questões, a fim de que se atinja uma prática científica mais bem fundamentada em princípios éticos. A posição de não infringir um dano desnecessário aos animais não-humanos já foi apoiada por filósofos da moral, que questionavam uma posição de supremacia da espécie humana. Estes procuravam determinar um status moral, inserindo-os numa comunidade moral. Um dos exemplos foi o britânico Jeremy Bentham ( um dos criadores do utilitarismo), que defendia a sensibilidade como um critério de inclusão dos animais nãohumanos e humanos numa comunidade moral. A capacidade de sentir passou então a ser um critério que se considerava, ao utilizar animais experimentalmente. O Filósofo Peter Singer contribuiu muito para esta discussão quando, nos anos 70, levantou argumentos próprios na sua obra Animal Liberation (FEIJÓ, 2005). Conforme o NATIONAL RESEARCH COUNCIL (2003), consideram-se responsabilidades dos pesquisadores, estabelecidas pelos princípios do governo dos EUA sobre a utilização e os cuidados de animais vertebrados usados em testes, pesquisas e ensino: Planejar e executar procedimentos baseados na sua relevância para a saúde humana e animal, para o progresso dos conhecimentos ou para o bem da sociedade; Usar espécie, qualidade e número de animais apropriados; Prevenir e minimizar o desconforto, a angústia e a dor, de acordo com os princípios da boa Ciência; Utilizar sedação, analgesia ou anestesia apropriadas; Estabelecer o propósito do experimento; 6

Propiciar manejo apropriado para os animais, dirigido e executado por pessoas qualificadas; Realizar experimentos com animais vivos somente por ou com supervisão direta de pessoas experientes e qualificadas. Toda a utilização prática de animais está sujeita a esta regulamentação, sendo todas atividades supervisionadas por uma Comissão Institucional sobre Cuidados e Usos de Animais (IAUC). Como salienta a Professora Ana Maria Feijó (Curso de Inverno de Bioética- 2005), o uso de animais experimentalmente, na pesquisa científica e na docência, apresenta-se atualmente como uma das principais questões aplicadas à Ética, e nos obriga a repensar a posição do ser humano no aspecto filosófico, para podermos nos orientar de forma eticamente correta, no trato dos animais não-humanos. SINGER (2004) argumenta que esta utilização de animais não-humanos em práticas de vivissecção é estimulada pela natureza especista, incutida dentro do próprio homem. O homem, como muitas espécies animais, tem a tendência de buscar o benefício maior de seu próprio semelhante, mesmo que para isto tenha que preterir direitos e bem-estar das outras espécies animais. Deve-se urgentemente alertar a sociedade a respeito desses impulsos, para que se possa agir com maior ética em futuras decisões. Muitos princípios básicos guiam uma decisão dentro de padrões éticos, como: não-maleficência, beneficência, justiça e autonomia. Estes são os chamados princípios prima-fácie, que devem sempre ser observados em qualquer decisão de natureza Bioética e Ética. Nesse trabalho foi considerado também o educar pela pesquisa no contexto da Bioética com animais. Segundo Demo (2002), um planejamento participativo, como proposto neste trabalho, não pode negligenciar a sua proposta primordial de gerar uma intervenção na realidade. Todo planejamento está ligado à necessidade de intervenção frente a um contexto, sendo, através desta, possível redirecionar o curso dos acontecimentos. O que caracteriza um planejamento participativo é a possibilidade de alternativa, sendo os indivíduos atores ativos em cena, com uma intervenção democrática em cada situação Análise do relato Foi possível notar o comprometimento assumido pelos alunos em relação a cuidados com os animais, pela sua participação em aula. O senso crítico e capacidade argumentativa foram desenvolvidos nos alunos, pela possibilidade que tiveram de participação e diálogo em sala de aula. Isto está em pleno acordo com os pressupostos da Educação pela Pesquisa, defendida por muitos autores contemporâneos. A capacidade de escrita e de expressão verbal dos alunos foi nitidamente desenvolvida no decorrer do processo, seja pelas leituras em aula, seja pelas diversas redações requisitadas como atividade complementar. O tema da Bioética com Animais e preservação de espécies não é usualmente tratado nas escolas da Rede Pública Estadual de Ensino, mas há possibilidade, mesmo com recursos didáticos escassos, de levar aos alunos temas atuais e importantes para a sua formação como cidadãos. O interesse dos alunos pelo tema foi ocorrendo numa 7

perspectiva crescente, sendo que muitos deles relataram casos vivenciados pessoalmente. Os alunos mostraram-se participantes e motivados com uma proposta de aula diferenciada. Ao final, ficou a expectativa desta atividade ter formado cidadãos mais responsáveis e conscientes, com maior sensibilidade para com os animais. Considerações finais Com a utilização de uma perspectiva interdisciplinar, tornou-se possível trabalhar temas normalmente não abordados nas escolas de ensino médio da rede pública, mas que nem por isso são menos importantes. Com a discussão desses temas, que são uma problemática tão evidenciada pela comunidade, foi possível, ao menos, promover uma maior reflexão acerca dessas questões. Referências DEMO, Pedro. Política social, educação e cidadania. 5.ed. São Paulo: Papirus, 2002.124p FEIJÓ, Anamaria. Utilização de animais na investigação e docência: uma reflexão ética necessária. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. 145p. SINGER, Peter. Libertação Animal. Porto Alegre: Lugano, 2004. 357p. 8