RENDIMENTO DO ÓLEO ESSENCIAL DE DUAS ESPÉCIES DO CERRADO: MYRACRODRUON URUNDEUVA



Documentos relacionados
Descrição de Sistema e de Métodos de Extração de Óleos Essenciais e Determinação de Umidade de Biomassa em Laboratório

DEFUMAÇÃO. Aplicação da defumação. Defumação: DEFUMAÇÃO. Efeito conservante da defumação MECANISMO DE AÇÃO DA FUMAÇA

FARMACOGNOSIA. Matéria-Prima Vegetal

COMENTÁRIO GERAL (EQUIPE DE BIOLOGIA)

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

GERÊNCIA EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO GERAL E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA ESTUDO ESTATISTICO DA BRISA ILHA DE SANTA CATARINA

INFLUÊNCIA DO USO DE ÁGUA RESIDUÁRIA E DOSES DE FÓSFORO NA ÁREA FOLIAR DO PINHÃO MANSO

ARMAZENAMENTO DE SEMENTES DE ROMÃ (Punica Granatum L.)

Final 5 de Maio de 2007

Composição da atmosfera terrestre. Fruto de processos físico-químicos e biológicos iniciados há milhões de anos Principais gases:

TÍTULO: DETERMINAÇÃO DOS TEORES DE VITAMINA C EM DIFERENTES SUCOS NATURAIS E INDUSTRIALIZADOS

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA / ELETROTÉCNICA

FACULDADE DE JAGUARIÚNA

Teste seus conhecimentos: Caça-Palavras

ESTUDO DA REMOÇÃO DE ÓLEOS E GRAXAS EM EFLUENTES DE PETRÓLEO UTILIZANDO BAGAÇO DA CANA

Determinação de Material Orgânica no Solo por Espectrometria no Visível

Potencial Germinativo De Sementes De Moringa oleifeira Em Diferentes Condições De Armazenamento

ASPECTOS CONCEITUAIS OBJETIVOS planejamento tomada de decisão

Classificação dos processos sucessionais

A presente seção apresenta e especifica as hipótese que se buscou testar com o experimento. A seção 5 vai detalhar o desenho do experimento.

Disciplina: Introdução à Engenharia Ambiental. 5 - Poluição e Degradação do Solo. Professor: Sandro Donnini Mancini.

REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA POTÁVEL: REUSO DE ÁGUA PARA MINIMIZAR O DESPERDICIO EM VASOS SANITÁRIOS

136) Na figura observa-se uma classificação de regiões da América do Sul segundo o grau de aridez verificado.

QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE MAMÃO PAPAIA COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE ARACAJU

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ÁGUA DESTILADA E OSMOSE REVERSA 1. Wendel da Silva Lopes 2, Andressa da Silva Lopes 3, Adriana Maria Patarroyo Vargas 4.

Utilização do óleo vegetal em motores diesel

ÍNDICE 4.2 IMPERMEABILIZANTES VANTAGENS DA IMPERMEABILIZAÇÃO FATORES QUE PODEM AFETAR NEGATIVAMENTE À IMPERMEABILIZAÇÃO 4.2.

2.2 - SÃO PAULO, PARANÁ, ESPÍRITO SANTO, BAHIA E RONDÔNIA.

Relatório de atividades Arte e cidadania caminhando juntas Pampa Exportações Ltda.

Compostagem doméstica: como fazer?

COAGULANTE QUÍMICO SULFATO DE ALUMÍNIO PARA O TRATAMENTO DO EFLUENTE ORIGINADO DA LAVAGEM DE VEÍCULOS

Eixo Temático ET Meio Ambiente e Recursos Naturais

PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO A PARTIR DE MUDAS COM DIFERENTES ORIGENS

Efeito de hipoclorito de sódio na desinfestação de meristemas de bastão-do-imperador

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL - MI AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA - ADA

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

V Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

Inclusão de bagaço de cana de açúcar na alimentação de cabras lactantes: desempenho produtivo

Gabarito 7º Simulado Humanas

De repente sua bateria LiPO fica grávida. O que fazer?

Tabela 1 - conteúdo de umidade em alguns alimentos:

Poluição atmosférica decorrente das emissões de material particulado na atividade de coprocessamento de resíduos industriais em fornos de cimento.

INSTRUÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA PROVA LEIA COM MUITA ATENÇÃO QUESTÕES

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

Química na cozinha:

Produção e consumo de óleos vegetais no Brasil Sidemar Presotto Nunes

Dosagem de Concreto INTRODUÇÃO OBJETIVO. Materiais Naturais e Artificiais


USO DA CULTURA DO JERIVÁ (SYAGRUS ROMANZOFFIANA) VISANDO AGREGAR RENDA À AGRICULTURA FAMILIAR

UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES RESÍDUOS NO PROCESSO DE VERMICOMPOSTAGEM E ESTUDO DA HUMIFICAÇÃO

ESTUDO DA CAPACIDADE DE ADSORÇÃO POR SOLVENTE PARA BIOMASSAS ADSORVENTES.

UTILIZADORES DE REDUTORES DE VAZÃO NA REDUÇÃO DO TEMPO DE RECUPERAÇÃO DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO

SECAGEM DE GRÃOS. Disciplina: Armazenamento de Grãos

Estudo da Viabilidade Técnica e Econômica do Calcário Britado na Substituição Parcial do Agregado Miúdo para Produção de Argamassas de Cimento

17º Congresso de Iniciação Científica ESTUDO POTENCIAL ENERGÉTICO DE COMBUSTÍVEIS DERIVADOS DA BIOMASSA: CONSTRUÇÃO DE UM CALORÍMETRO ISOPERIBÓLICO

MATERIAL DE APOIO PARA INSÍGINIA MUNDIAL DE CONSERVACIONISMO

ENG 337 MECÂNICA E MECANIZAÇÃO FLORESTAL

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7. o ANO FUNDAMENTAL. Prof. a Andreza Xavier Prof. o Walace Vinente

CERNE ISSN: Universidade Federal de Lavras Brasil

Influência do Espaçamento de Plantio de Milho na Produtividade de Silagem.

QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA FLORESTAL DE PINUS ELLIOTTII COM SEIS ANOS DE IDADE, EM AUGUSTO PESTANA/RS 1

Avaliação dos Parâmetros Morfológicos de Mudas de Eucalipto Utilizando Zeolita na Composição de Substrato.

AQUECEDOR SOLAR A VÁCUO

Unidade 8. Ciclos Biogeoquímicos e Interferências Humanas

EXPERIMENTOS PARA USOS SUSTENTÁVEIS COM FIBRA DE BANANEIRA

ENTECA 2003 IV ENCONTRO TECNOLÓGICO DA ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA

VEGETAÇÃO. Página 1 com Prof. Giba

Reconhecer as diferenças

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

Caramuru Alimentos Ltda, Rod. BR 060 Km 388 s/n Zona Rural, C.E.P: Rio Verde/GO zeronaldo@caramuru.com

b) Nesse solo, a água é absorvida mais lentamente e ele se mantém úmido.

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

Pesquisa Pantanal. Job: 13/0528

1 Alteração das imagens do aparelho Kaue Alteração na capacidade do reservat rio, de 1600ml para 1400ml Kaue

APL 12º ano: SÍNTESE DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO ALIMENTAR Protocolo experimental a microescala

TRATAMENTO QUÍMICO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS COM SOLUÇÃO DE URÉIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

MELIPONICULTURA: OPORTUNIDADE DE RENDA COMPLEMENTAR PARA OS QUILOMBOLAS DO MUNICÍPIO DE DIAMANTE PB

Avaliação da germinação de sementes de fragmentos florestais receptadas em redes visando recomposição da flora local

3ºano-lista de exercícios-introdução à fisiologia animal

ZONEAMENTO EDAFOCLIMÁTICO DA CULTURA DO COCO INTRODUÇÃO

Conteúdo: Aula: 12 assíncrona. Ciclo da água e dos nutrientes. Ciclo do nitrogênio, carbono e oxigênio. CONTEÚDO E HABILIDADES

Considerações sobre redimensionamento de motores elétricos de indução

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

PROCESSO DE FERMENTAÇÃO CONTÍNUA ENGENHO NOVO - FERCEN

1 Introdução 1.1. A necessidade de se reforçar os solos

COMPORTAMENTO GERMINATIVO DE DIFERENTES CULTIVARES DE GIRASSOL SUBMETIDAS NO REGIME DE SEQUEIRO

DESSECAÇÃO DE BRAQUIÁRIA COM GLYPHOSATE SOB DIFERENTES VOLUMES DE CALDA RESUMO

Otimização do tempo de setup na operação gargalo de uma indústria gráfica utilizando o Sistema de Troca Rápida de Ferramentas

MACROFAUNA EDÁFICA DO SOLO E LÍQUENS COMO INDICADORES DE DEGRADAÇÃO EM REMANESCENTES FLORESTAIS URBANOS

DIAGNOSE FOLIAR NAS CULTURAS DO CAJU E CAQUI. III Simpósio Brasileiro sobre Nutrição de Plantas Aplicada em Sistemas de Alta Produtividade

Monitoramento de qualidade e quantidade de água superficial em área de reflorestamento de Pinus taeda e Pinus elliottis

Construção. Sika Unitherm -Steel S interior. Pintura intumescente base solvente, de rápida secagem, para uso em áreas internas. Descrição do Produto

Purificação do Éter Etílico. Felipe Ibanhi Pires Mariane Nozômi Shinzato Raquel Amador Ré

UMA BREVE DESCRIÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL, DESTACANDO O EMPREGO FORMAL E OS ESTABELECIMENTOS NO NORDESTE

AVALIAÇÃO DE ACESSOS DE MANDIOCA DE MESA EM PARACATU-MG

PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM. Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

Transcrição:

RENDIMENTO DO ÓLEO ESSENCIAL DE DUAS ESPÉCIES DO CERRADO: MYRACRODRUON URUNDEUVA (ALLEMÃO) E BLEPHAROCALYX SALICIFOLIUS (KUNT) O. BERG EM DIFERENTES HORÁRIOS DE COLETA Olívia Bueno da Costa Mestranda em Ciências Florestais olivia@unb.br (55)(61)(93161207) - Departamento de Engenharia Florestal Universidade de Brasília - 70904 970 Brasil Cláudio Henrique Soares Del Menezzi, Professor Adjunto, DR. Deptº Engenharia Florestal, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília Brasília, DF, BRASIL Email: cmenezzi@unb.br Inês Sabioni Resck Professora Associada isresck@unb.br - Instituto de Química, Universidade de Brasília Resumo Myracrodruon urundeuva (Allemão) e Blepharocalyx salicifolius (Kunt) O. Berg são espécies arbóreas do cerrado produtoras de óleos essenciais, os quais são responsáveis pelo odor das plantas e também são muito utilizados na medicina popular, por suas propriedades antifúngicas, bactericidas, antivirais e antiparasitárias. Ademais, são utilizados pela indústria farmacêutica para produção de importantes fármacos, na indústria de cosmética e produção de diversos insumos importantes em nossa rotina. O objetivo desse estudo foi avaliar o rendimento dos óleos essenciais considerando 3 períodos do dia, de duas espécies potenciais: Myracrodruon urundeuva e Blepharocalyx salicifolius.foram utilizadas 3 matrizes e 3 períodos do dia: 9, 13 e 17 horas. De cada matriz foram coletadas 300g de folhas. O óleo essencial foi extraído pela técnica de arraste a vapor, com utilização de um minidestilador. A fase aquosa foi separada da fase orgânica por extração com acetato de etila, após agitação e 20 minutos de repouso. O solvente foi evaporado em evaporador rotatório a 30ºC. Foi calculada a massa e determinado o rendimento em função da massa de folhas inicial. O rendimento médio encontrado foi de 0,10% para espécie Blepharocalyx salicifolius e de 0,11% para Myracrodruon urundeuva. A análise dos resultados permitiu concluir que, estatisticamente, o horário da coleta não interfere no rendimento dos óleos essenciais para as espécies estudadas. Porém pode-se observar uma tendência de aumento no rendimento para as amostras de Blepharocalyx salicifolius coletadas às 17 horas. Para as amostras de Myracrodruon urundeuva coletadas às 9 horas também se observou uma tendência de maior rendimento. Além disso, essa espécie em geral apresentou rendimentos maiores que Blepharocalyx salicifolius. 1

1. Introdução O uso de óleos essenciais ocorre desde a antiguidade. Na China, Índia e Oriente Médio eram utilizados na perfumaria, cosméticos, cozinha (GIRARD, 2005), medicina e práticas religiosas (GIRARD, 2005). Mais tarde, com o desenvolvimento da química orgânica, as composições químicas começam a ser reveladas, surgindo novas fragrâncias e usos. Nos anos 70, desenvolveu-se a espectrometria e a cromatografia, auxiliando cada vez mais no estudo das composições. Atualmente, os óleos essenciais tem relevante importância econômica, e devido a isso sua demanda tem aumentado. O óleo essencial, composto por substâncias voláteis, normalmente apresenta em sua constituição química compostos mono e sesquiterpenos, hidrocarbonetos ou derivados oxigenados destas substâncias (SILVA et al 1999). São provenientes do metabolismo secundário, sendo assim, sua constituição química irá depender das condições climáticas. Estes compostos são formados por várias funções orgânicas (álcoois simples e terpênicos, aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, éteres,óxidos, peróxidos, furanos, ácidos orgânicos, lactonas, cumarinas, etc.) (VITTI & BRITO, 2003) prevalecendo uma ou duas funções, caracterizando assim, o aroma. Os componentes que são encontrados com maior concentração na planta são definidos como principais. Já os que apresentam baixa concentração são denominados componentes traço. São insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos. São produzidos por estruturas secretoras especializadas (pêlos glandulares, células parenquimáticas diferenciadas, canais oleíferos ou em bolsas específicas. Podem estar localizadas em várias partes das plantas, folhas, flores, madeira, frutos, raízes, sementes, rizomas e cascas, apresentando diferentes composições e odores (VITTI & BRITO, 2003). A composição dos óleos essenciais de plantas é muito complexa, geralmente engloba vários tipos de substâncias que variam segundo as pressões ambientais diversas. A natureza e a quantidade de metabólitos especiais produzidos durante o desenvolvimento do vegetal podem ser afetadas por radiação (alta ou baixa), temperatura (excessivamente elevada ou baixa), precipitação (alta, deficiente e seca total), ventos fortes, altitude, solo, época de coleta, água, nutrição (LIMA et al, 2003). Diferenças no rendimento e na composição química de óleos essenciais têm a influência da época e horário de colheita, conforme tem sido relatado em muitas espécies (BLANK et al,2005). O rendimento do óleo irá depender principalmente da variação sazonal e diária, pois a quantidade e a natureza dos constituintes não é constante durante o ano. São relatadas variações sazonais no conteúdo de praticamente todas as classes de metabólitos secundários. Presumem-se dois padrões de resposta do metabolismo secundário em relação aos estímulos ambientais: alterações lentas, que dependem das variações climáticas sazonais, e as rápidas, da variação do dia (ciclos circadianos) (BLANK et al,2005). Pequenas variações diárias de temperaturas estimulam a produção de terpenóides, enquanto que valores extremos causam sua redução. Além disso, indica-se que pelo período da manhã a colheita seja para plantas que produzam óleos com composição de alcalóides. 2

Pela tarde, o mais indicado é que faça a colheita de plantas com glicosídeos (NAGAO et al. 2004). Nesse sentido, Craveiro (1999) trabalhando com alfavaca (Ocimum gratissimum), obteve variação de mais de 80% na concentração de eugenol em seu óleo essencial, o qual atingiu o máximo no período do meio-dia (98%), contrastando com 11% no período das 17 horas. O ciclo circadiano está associado à temperatura (maior nos períodos de alta radiação solar) e a luz, sendo que esses fatores também devem ser considerados. Estudos mostram que a intensidade de luz é um fator que também influencia a concentração e/ou composição de outras classes de metabólitos secundários, como terpenóides, glicosídeos cianogênicos e alcalóides. Foi demonstrado, por ex., que no manjericão (Ocimum basilicum) e no tomilho (Thymus vulgaris), duas plantas utilizadas na medicina popular e como condimentos, o completo desenvolvimento de tricomas glandulares, onde os óleos essenciais são armazenados, é luzdependente. Além disso, formação de óleos voláteis, em geral, parece aumentar em temperaturas mais elevadas, apesar de dias muito quentes levarem a uma perda excessiva destes metabólitos (LOPES & NETO, 2007). Farooki et al. (1999) observaram com Mentha sp. que a concentração do óleo aumentou em plantas sob dia curto afetando também a composição do óleo, provando o fotoperíodo altera o rendimento, principalmente nas folhas, local em que mais são encontrados os óleos (biomassa e proliferação vegetativa). O Cerrado é um bioma constituído de grande diversidade de espécies, que possibilitam estudos de essências. Porém os estudos do rendimento de óleos essenciais em diferentes períodos do dia e estações do ano no Cerrado são ainda escassos. Este trabalho objetiva de estudar o rendimento de extração dos óleos essenciais com coleta de material em dois diferentes períodos do dia. 2. Metodologia Foram estudadas duas espécies do Cerrado produtoras de óleos essenciais: Blepharocalyx salicifolius (Kunt) O. Berg (Myrtaceae) e Myracrodruon urundeuva (Allemão) (Anarcadiaceae). O material botânico (folhas) foi coletado na Fazenda Água Limpa (FAL). As coletas foram realizadas no dia 24 de março (temperatura máx. 27 C e temperatura mín. 18 C; umidade de 90% e 50%) e 21 de abril (temperatura máx. 26,2 C e temperatura mín. 14,9 C;umidade de 47%) para a epécie Blepharocalyx salicifolius (INMET, 2010) e 23 de maio (temperatura máx. 25,4 C e e temperatura mín. 14,3 C;umidade de 62%) para a espécie Myracrodruon urundeuva (INMET, 2010). As folhas foram colhidas em três períodos do dia: manhã (até 9hs) e tarde (13hs e 17hs), resultando num total de 18 amostras de 250g cada (3 amostras x 3 períodos x 2 espécies). As amostras foram coletadas com a utilização de GPS Garmin 60CSX nos locais apresentados na Tabela 1. As amostras de folhas frescas foram submetidas à extração por arraste de vapor durante 90 minutos utilizando-se para tanto um mini-destilador Linax D1, cuja dorna tem capacidade de 1,7L. O hidrolato foi coletado em frasco de âmbar e guardado em câmara fria, com temperatura de 10 C e umidade de 50%. 3

Para separação da fase aquosa e orgânica foi utilizado o solvente acetato de etila. Após agitação e repouso as duas fases são visíveis e separadas por um funil de separação. Em seguida foi retirada a água que ainda era presente na solução com sulfato de sódio anidro e evaporada em um evaporador rotatório, à temperatura de 25 C. O resíduo orgânico (óleo essencial) foi pesado obtendo a massa para o cálculo do rendimento de óleo essencial conforme equação (equação 1): Onde: M = massa do óleo extraída, ml; B m = biomassa vegetal, g; (equação 1) Para análise estatística dos rendimentos foi realizada ANOVA, seguida pelo Teste de Tukey com 5% de probabilidade. 3. Resultados Após o cálculo das massas observou-se uma tendência da espécie Mariapreta apresentar maior quantidade de óleo essencial no horário das 17 horas e da espécie Aroeira apresentar maior quantidade de óleo essencial no horário das 9 horas, como observado na Figura 1. O rendimento médio do óleo essencial do óleo dos períodos de 9, 13 e 17 horas está na Tabela 2. Pelos valores apresentados na Tabela nota-se que alguns rendimentos foram discrepantes em relação aos demais. Para os rendimentos menores foi observado que durante a separação os hidrolatos apresentavam coloração marrom escuro, enquanto os demais hidrolatos apresentavam coloração levemente amarelada. Os rendimentos obtidos para a espécie Blepharocalyx salicifolius apresentam valores inferiores aos encontrados na literatura, o que leva à conclusão que vários aspectos interferiram nestes rendimentos. Mattos (1983) apud Marques (2007) encontrou 0,17% e Castelo (2008) encontrou valores de 0,10% de rendimento. Apesar dos resultados acima apresentados na tabela 2, deve-se atentar para os vários fatores que afetam o rendimento do óleo essencial. Além de fatores ambientais, como a temperatura, intensidade da radiação solar, solo e outros, também devem ser considerados fatores experimentais, como: a matriz utilizada, a extração por arraste a vapor realizada pelo destilador, a etapa de extração com solvente, os cuidados com o armazenamento e a secagem das folhas após a coleta. Além disso, o baixo rendimento do produto obtido (óleo essencial) dificulta a determinação do real rendimento. Para resultados mais significativos seria necessário maior massa de folhas e ainda a realização do experimento com mais matrizes, o que aumentaria muito o tempo de realização do experimento. A 4

utilização de apenas 3 matrizes aumenta os erros relativos. Algumas árvores podem estar mais expostas à radiação solar ou podem estar em locais com temperaturas mais amenas ou ainda ter suas folhas mais sujeitas à ação de fungos e microorganismos que podem danificar as glândulas oleíferas presentes na superfície da folha. Por isso, a obtenção de resultados significativos exige um procedimento em que se leve em conta um número maior de matrizes, o que diminuiria o valor do erro em relação aos rendimentos obtidos. A separação do óleo da fase aquosa envolve vários procedimentos que contribuem para a propagação de um erro experimental nos valores dos rendimentos obtidos. O evaporador rotatório possui um vácuo forte que pode acabar puxando parte do óleo essencial, que é muito volátil. O momento da evaporação do diclorometano também exige atenção, pois apesar do diclorometano ser facilmente evaporado há o perigo de se perder parte dos componentes do óleo no processo. 4. Conclusões Os resultados analisados permitem concluir que o horário de coleta não interfere no rendimento do óleo essencial produzido pelas espécies estudadas. Porém, esse resultado não é absoluto, considerando que as folhas não foram coletadas no mesmo dia, sendo assim não foi possível manter a homogeneidade das condições de temperatura, radiação solar e umidade. Além disso, foi observada a necessidade de maior número de repetições para afirmar a respeito do horário da coleta. Há necessidade de um estudo mais detalhado, em que sejam mantidas as condições de homogeneidade das condições climáticas, de coleta e secagem das folhas para obtenção de um resultado preciso a respeito da influência do horário de coleta no rendimento do óleo essencial das espécies estudadas. Vale ressaltar que ainda há poucos estudos aprofundados em relação às técnicas de extração e análise dos óleos essenciais de espécies do Cerrado. 5. Referências Bibliográficas BLANK, A.F.; FONTES, S.M.; CARVALHO FILHO, J.L.S.; ALVES, P.B.; SILVA- MANN, R.; MENDONÇA,M.C.; ARRIGONI-BLANK, M.F.; RODRIGUES, M.O. Influência do horário de colheita e secagem de folhas no óleo essencial de melissa (Melissa officinalis L.) cultivada em dois ambientes. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.1, p.73-78, 2005. CASTELO, A. V. M. DEL MENEZZI, C. H. S.; RESCK, I. S. Rendimento e análises espectroscópicas (RMN 1 H, 13 C; IV da composição química dos óleos essenciais de quatro plantas do cerrado. Revista Cerne, v.16, n.4, p. 573-584, out/dez. 2010. CRAVEIRO, A. A.; FERNANDES, A. G.; ANDRADE, C. H. S.; MATOS, F. J. A.; ALENCAR, J. W.; MACHADO, M. I. L. Óleos Essenciais de Plantas do Nordeste, Fortaleza: Edições UFC, p.10, 1981. 5

FAROOQI, A.H.A.; SAMGWAN, N.S.; SANGWAN, R.S. Effect of different photoperiodic regimes on growth, flowering and essential oil in Mentha species. Plant Growth Regulation. Biochemical Systematics and Ecology. Índia, 1999, vol.3, no.29, p. 181-187. GIRARD, E. A.; VOLUME, BIOMASSA E RENDIMENTO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DO CRAVEIRO (Pimenta pseudo caryophyllus (Gomes) Landrum) EM FLORESTA OMBRÓFILA MISTA. Dissertação como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Florestais. Curitiba, p.1-72, 2005. INMET, Prognósticos climáticos. Disponível em:< http://www.inmet.gov.br/html/prev_climatica.php>. Acesso em: 20 de abril e 23 de 2011. LIMA, H. R. P.;KAPLAN, M. C.; CRUZ, V. M. INFLUÊNCIADOS FATORESABIÓTICOS NAPRODUÇÃO E VARIABILIDADE DE TERPENÓIDESEMPLANTAS. Floresta e Ambiente, ago./dez. 2003,V. 10, n.2, p.71-77. LOPES, N. P.; NETO, L. G.; M. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos secundários. Quím. Nova, Mar./Apr. 2007, vol.30, no.2, p.374-381. LOPES, N. P., et al. Circadian and seasonal variation in the essential oil from Virola surinamensis leaves. Phytochemistry, outubro 1997, vol. 46, no.4, p. 689-693. NAGAO, E. et al. Efeito do horário de colheita sobre o teor e constituintes majoritários de óleo essencial de Lippia alba (Mill) N.E.Br., quimiotipo citrallimoneno. Revista Ciência Agronômica, jul.-dez., 2004. Vol. 35, NO.2, p.355-360. MARQUES, T. P.. Subsídios à recuperação de formações florestais ripárias da Floresta Ombrófila Mista do Estado do Paraná, a partir do uso espécies fontes de produtos florestais não-madeiráveis.2007.244p.tese de Mestrado do Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Setor de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007. SILVA, V. M. G.; CRAVEIRO, A. A.; MATOS, A. F. J. ; MACHADO, M. I. L.; ALENCAR J. W. Chemical variation during daytime of constituents of the essential oil of Ocimum gratissimum leaves. Fitoterapia, Fevereiro 1999, vol.70, no.1,p.32-34. VITTI, A.M. S.; BRITO, J. Óleo essencial de eucalipto. Documentos Florestais,agosto 2003, no.17, p.1-26. 6

Tabela 1 - Localização das árvores coletadas. Blepharocalyx Árvore 1 23L E salicifolius 192089 N 8255280 Faculdade de Tecnologia Árvore 2 23L E 186265 N 8234266 Fazenda Água Limpa Árvore 3 23L E 186272 N 8234261 Fazenda Água Limpa Myracrodruon urundeuva 23L E 189088 N 8251237 Parque da Cidade 23L E 189562 N 8251665 Parque da Cidade 23L E 189520 N 8251608 Parque da Cidade 7

Figura 1 - Médias dos valores de rendimento do óleo essencial de Aroeira e Maria-preta, obtidas nos horários das 9, 13 e 17 horas. 8

Tabela 2 Rendimentos médios e desvio-padrão dos óleos essenciais de Blepharocalyx salicifolius e Myracrodruon urundeuva em três períodos do dia. Espécie Horário Rendimento médio Desvio-padrão Blepharocalyx salicifolius 9 h 0,060% 0,0106 13 h 0,192% 0,0061 17 h 0,070% 0,0485 Myracrodruon urundeuva 9 h 0,129% 0,0910 13 h 0,110% 0,0794 17 h 0,082% 0,0563 9