RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: CLASSIFICAÇÃO, NORMAS E RECICLAGEM



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Transcrição:

RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: CLASSIFICAÇÃO, NORMAS E RECICLAGEM 1 Régis Budke, 1 Jackson Rainério Cardoso & 2 Silvio Bispo do Vale 1 Graduandos em Engenharia de Minas e Meio Ambiente - UFPA. 2 Prof. da Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente. Universidade Federal do Pará, Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente, Campus de Marabá - Folha 17, Quadra 04, Lote Especial. Nova Marabá, CEP 68505-080 - Marabá - PA. E-mail: regis.budke@hotmail.com; jrainério@hotmail.com; bispo@ufpa.br RESUMO A quantidade de entulho gerado nas construções das cidades brasileiras demonstra um enorme desperdício de material. Os custos deste desperdício são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções como também pelos custos de remoção, reciclagem e/ou reutilização de resíduos. Este trabalho investigou mais a fundo o que são, para que servem, de que são constituídos os resíduos das construções civis além da sua classificação junto as normas brasileiras. Por fim o trabalho ressaltou também a importância de reciclar estes resíduos por vários aspectos: economia de matéria-prima, geração de emprego e renda, menor impacto ambiental, redução de gastos na produção de novos materiais, apresentando dados sobre geração de resíduos de construção civil da cidade de Marabá- Pa. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos, construção civil, classificação, reciclagem. 939

1. INTRODUÇÃO A quantidade de entulho gerado nas construções que são realizadas nas cidades brasileiras demonstra um enorme desperdício de material. Os custos deste desperdício são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho. Os entulhos provenientes das construções nas cidades brasileiras acarretam sérios desperdícios de materiais, custos de remoção e tratamento. Estes resíduos de construção civil são gerados por demolições, obras em processo de renovação, em razão do desperdício de materiais resultante da característica artesanal da construção. No Brasil, 98% das obras ainda utilizam métodos tradicionais (MARINHO, 1991). A reciclagem de entulho propõe uma solução para os materiais que são inevitavelmente perdidos. Esta medida permite a reutilização de matérias-primas, diminuindo a demanda por mais matéria e o consumo energético, além de proteger o meio-ambiente. Embora ainda não existam estatísticas de todo o país, em média, o entulho que sai dos canteiros de obra brasileiros é composto segundo Camargo (1995), basicamente por: 64% de argamassa; 30% de componentes de vedação (tijolos e blocos); 6% de outros materiais (concreto, pedra, areia, metálicos e plásticos). É possível triturar mais de 90% do entulho, para ser utilizado como agregado, na produção de componentes de construção e argamassas. São estas possibilidades de reutilização, que este trabalho irá tratar e estudar de maneira a demonstrar a importância do tratamento dos resíduos da construção civil, tornando o que era lixo em matéria-prima novamente. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Classificação dos Resíduos A Resolução CONAMA 307 de 5 de julho de 2002 trata em seu texto de classificar os vários tipos de resíduos da construção civil além de estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, os entulhos. Sendo assim, deverão ser classificados em quatro tipos: Classe A : são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; Classe B :são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e outros; 940

Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde (CONAMA, 2002). Para que um resíduo tenha destino adequado, é necessário que ele seja classificado de acordo com as normas brasileiras. A NBR 10.004 Classificação de resíduos (ABNT, 1987a) classifica os resíduos em três classes: a) Classe I perigosos: aqueles que, em função de suas características intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, apresentam riscos à saúde pública por meio do aumento da mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. b) Classe II não-inertes: resíduos que podem apresentar características de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao meio ambiente, não se enquadrando nas classificações dos outros resíduos. c) Classe III inertes: aqueles que, por suas características intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, e que, quando amostrados de forma representativa, segundo a norma NBR 10.007, (ABNT, 1987b) e submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, conforme teste de solubilização segundo a norma NBR 10.006, (ABNT, 1987c) não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, conforme listagem n.º 8 (Anexo G da NBR 10004, ABNT, 1987a), excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor. Essa classificação baseia-se na presença de certas substâncias perigosas, relacionadas na norma, e em testes laboratoriais complementares, nos quais vários parâmetros químicos são analisados nos extratos lixiviados e solubilizados dos resíduos. Apesar de a NBR 10.004 ser baseada em procedimentos americanos, relacionados no Code of Federal Registry Title 40 (CFR 40) Protection of Environment (USA, 1994), a classificação dos resíduos sólidos em três classes é peculiar à norma brasileira, pois o CFR 40 orienta para a classificação dos resíduos apenas em perigosos e não-perigosos, sem mencionar o teste de solubilização dos resíduos, que é o principal responsável pela classificação dos resíduos não-inertes e inertes segundo a norma brasileira. Quanto à classificação ambiental, pode-se dizer que, embora os entulhos apresentem em sua composição vários materiais que, isoladamente, são reconhecidos como resíduos inertes não está disponível até o momento, análises sobre a solubilidade do resíduo como um todo, de forma a garantir que não haja concentrações superiores às especificadas na referida norma, o que o enquadraria como "resíduo classe II não inerte". Vale ainda lembrar, que a heterogeneidade do entulho e a dependência direta de suas características com a obra que lhe deu origem pode mudá-lo de faixa de classificação, ou seja, 941

uma obra pode fornecer um entulho inerte e outra pode apresentar elementos que o tornem nãoinerte ou até mesmo perigoso - como, por exemplo, a presença de amianto que, no ar é altamente cancerígeno. 2.2. Reciclagem e Reutilização A importância da reciclagem é fundamental porque transforma montanhas de resíduos de construção em pilhas de matéria-prima, que abastecerão novos empreendimentos, tendo como conseqüência direta a diminuição da pressão sobre o consumo destes bens naturais. A reutilização é um processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo. Consiste no aproveitamento do resíduo nas condições em que é descartado, sem qualquer alteração física, submetendo-o a pouco ou nenhum tratamento; exigindo apenas operações de limpeza, embelezamento, identificação, entre outras, modificando ou não a sua função original. A reciclagem é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação. O resíduo retorna ao sistema produtivo como matéria prima. Pode ser considerada como uma forma de tratamento de parte do resíduo sólido gerado. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Aplicação dos Resíduos Sólidos da Construção Civil Existem alguns trabalhos realizados no Brasil, a exemplo do de CARNEIRO et al (2000). Estes autores caracterizaram o entulho bruto gerado na cidade de Salvador, encontrando a seguinte composição: concreto e argamassa (53%), areia (22%), material cerâmico (14%), rochas (5%) e outros (6%). Tais autores encontraram ainda que a massa unitária deste resíduo é de 1156 kg/m 3. A partir destes resultados, CARNEIRO et al (2000) observaram que: a) O entulho miúdo apresentou ótima distribuição granulométrica para ser utilizado como adição em argamassas e em bases e sub-bases de pavimentos. Além disso, este material também apresentou percentual de argila adequado para a fabricação de tijolos de solo estabilizado com cimento. b) O entulho graúdo apresentou na sua distribuição granulométrica predominância de pedregulho com significativa fração de areia. Estas características favorecem ao bom desempenho do entulho graúdo para utilização em bases e sub-bases de pavimentos. Este estudo indica uma ótima potencialidade da utilização dos entulhos na própria construção civil após reciclagem. 3.2. O Caso de Marabá - Pará A grande migração para Marabá incentiva e aquece a indústria da construção civil e por conseqüência a geração de resíduos. Isso alerta para o fato de que o município não dispor de um plano de gestão de entulho como prevê a Resolução CONAMA 307/2002, o que se subentende que o grande gerador está sem nenhuma regra a ser cumprida e o pequeno gerador desprovido de opção para o descarte de seus pequenos volumes (Diagnóstico dos serviços de limpeza urbana, 2010). Existem algumas empresas particulares que prestam serviços de coleta de entulho no município porém os dados referentes a este tipo de coleta não foram alvo do estudo, assim somente aqueles que são 942

de responsabilidade da Secretaria de Viação e Obras Públicas - SEVOP são mostrados na Tabela I a seguir. Tabela I - Estimativa de geração de entulho na cidade de Marabá-PA MÊS MÉDIA DIÁRIA (t) TOTAL DE RESÍDUO (t) MAIO_09 74,74 2316,94 JUNHO_09 81,46 2443,80 JULHO_09 24,68 765,08 AGOSTO_09 12,84 398,04 SETEMBRO_09 65,94 1978,20 OUTUBRO_09 7,72 239,32 Fonte: Secretaria de Viação e Obras Públicas, 2009. 4. CONCLUSÕES A observância da legislação e normas vigentes para o setor de resíduos e da construção civil é necessária para um desenvolvimento coerente com os princípios de sustentabilidade. Incentivar e disseminar a cultura da reciclagem e da reutilização no setor da construção civil é um meio de desenvolver ambientalmente e socialmente o país e de garantir o uso racional dos recursos naturais. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), 1987a. Resíduos Sólidos Classificação NBR 10.004. Rio de Janeiro: ABNT. ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), 1987b. Amostragem de Resíduos Procedimento NBR 10.007. Rio de Janeiro: ABNT. ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), 1987c. Solubilização de Resíduos Procedimento NBR 10.006. Rio de Janeiro: ABNT. Camargo, Antonio. Minas de Entulho, Téchne, ed. 15º, Ed. Pini, São Paulo, mar/abr 1995. Carneiro, A. P.; Brum, I. A. S.; Costa, D. B.; Alberte, E. P. V.; Sampaio, T. S. Reciclagem de entulho da região metropolitana de Salvador para a produção de materiais de construção de baixo custo. In: IX Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Porto Seguro. 2000. Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), 2002. Resolução Nº 307 de 05/07/02 - Gestão dos Resíduos da Construção Civil. Diagnóstico dos serviços de limpeza urbana, Marabá - Pará, 2010. Marinho, Gabriela. Em busca da produtividade no conteiro. Notícias Durador. Informativo Duratex, São Paulo, nº 27, ano VII. mar 1991. USA (United States of America), 1994. Code of Federal Registry. Title 40 Protection of Environment Parts 260 to 299. Washington, DC: U.S. Government Printing Office. 943