A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE: O ENSINO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA RESUMO



Documentos relacionados
A DIVERSIDADE CULTURAL: Um desafio na educação infantil

EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: ELEMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE UMA PRÁTICA DE FORMAÇÃO DOCENTE

O USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A UTILIZAÇÃO DO CINEMA COMO FONTE HISTÓRICA Leandro Batista de Araujo* RESUMO: Atualmente constata-se a importância

TRANSVERSALIDADE CULTURAL: NOTAS SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO E A TEMÁTICA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NAS SALAS DE AULA.

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

A EDUCAÇÃO QUILOMBOLA

Perfil das profissionais pesquisadas

Ministério da Educação. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Reitoria Conselho de Graduação e Educação Profissional

5 Considerações finais

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

ESCOLA PROFESSOR AMÁLIO PINHEIRO ENSINO FUNDAMENTAL PROJETO EQUIPE MULTIDISCIPLINAR CULTURA AFRO-DESCENDENTES

Coleção Cadernos Afro-Paraibanos APRESENTAÇÃO

EDUCAÇÃO INFANTIL E LEGISLAÇÃO: UM CONVITE AO DIÁLOGO

LEVANTAMENTO SOBRE A POLÍTICA DE COTAS NO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD/UFMS

O ENSINO DA DANÇA E DO RITMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIENCIA NA REDE ESTADUAL

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO ESPECIAL: uma experiência de inclusão

Profª. Maria Ivone Grilo

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

Autor (1); S, M, R INTRODUÇÃO

JOVEM ÍNDIO E JOVEM AFRODESCENDENTE/JOVEM CIGANO E OUTRAS ETNIAS OBJETIVOS E METAS

Gênero: Temas Transversais e o Ensino de História

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA

DIÁLOGO, PRÁTICA E EXPERIÊNCIA NO ENSINO DE HISTÓRIA: A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI /03 ATRAVÉS DO PROJETO MÚSICA AFRO NA ESCOLA.

Disciplina Corpo Humano e Saúde: Uma Visão Integrada - Módulo 3

PROFESSORA: GISELE GELMI. LOCAL: SÍTIO BANDEIRANTES

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

Orientadora: Profª Drª Telma Ferraz Leal. 1 Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

DIVERSIDADE CULTURAL, UM DESAFIO CONSTANTE DE CIDADANIA E CONSCIÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR: APOIO TEÓRICO-PRÁTICO

Incentivar a comunidade escolar a construir o Projeto político Pedagógico das escolas em todos os níveis e modalidades de ensino, adequando o

AS BONECAS ABAYOMI E AS NOVAS SENSIBILIDADES HISTÓRICAS: POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO ANTI-RACISTA

difusão de idéias QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Um processo aberto, um conceito em construção

JUSTIFICATIVA DA INICIATIVA

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

EVENTOS COMO FORMA DE MEMÓRIA

difusão de idéias A formação do professor como ponto

Iniciando nossa conversa

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

Gênero no processo. construindo cidadania

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

Proposta de Projeto do Curso de Extensão: ORGANIZAÇÃO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO BÁSICA CATARINENSE

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 (de autoria do Senador Pedro Simon)

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ESCOLA CAMPO

Prefeitura Municipal de Santos

DIVERSIDADE E INCLUSÃO: O ÍNDIO NOS CURRÍCULOS ESCOLARES

LITERATURA AFRICANA: EM BUSCA DE CAMINHOS PARA A DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO

Unidade I ESCOLA, CURRÍCULO E CULTURA. Profa. Viviane Araujo

FORMAÇÃO DE JOGADORES NO FUTEBOL BRASILEIRO PRECISAMOS MELHORAR O PROCESSO? OUTUBRO / 2013

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

A Política de Cotas nas Universidades Públicas Brasileiras

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Opinião N13 O DEBATE SOBRE AÇÕES AFIRMATIVAS NO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E NA ÁFRICA DO SUL 1

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

compreensão ampla do texto, o que se faz necessário para o desenvolvimento das habilidades para as quais essa prática apresentou poder explicativo.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP FACULDADE DE EDUCAÇÃO E LINGUAGEM HISTÓRIA PARA INICIO DE ESCOLARIÇÃO

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DOS GRADUANDOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

1. Introdução. Palavras Chaves: Observação do Espaço Escolar. Cotidiano. Processo formativo.

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

POLÍTICAS PÚBLICAS Aula 14. Prof. a Dr. a Maria das Graças Rua

OS DESAFIOS DE ENSINAR A CLIMATOLOGIA NAS ESCOLAS

Carta de Princípios dos Adolescentes e Jovens da Amazônia Legal

O CONTO AFRICANO NA SALA DE AULA: PROPOSTA EDUCATIVA DOS SABERES AFRICANOS E LITERÁRIOS NA SALA DE AULA

Escola e a promoção da igualdade étnico-racial: estratégias e possibilidades UNIDADE 4

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS CAICÓ

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

CAPÍTULO 2 DEMOCRACIA E CIDADANIA

ANEXO II. Regulamentação da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado. Capítulo I Da admissão

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

RESOLUÇÃO CME Nº 021, de 03 de maio de 2011 Homologada e Publicada no Jornal do Município nº 280, de , págs. 15 e 16.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: o desafio da inclusão nas séries iniciais na Escola Estadual Leôncio Barreto.

UM AYÊ NAGÔ, UM EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL.

9. EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES DE QUÍMICA DO CEIPEV. E CONTRIBUIÇÃO DO PIBID PARA SUPERÁ-LAS.

LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO TEXTO: UMA ABORDAGEM EXTENSIONISTA

Direito a inclusão digital Nelson Joaquim

PALAVRAS-CHAVE: Prática como componente curricular. Formação inicial de professores. Ensino universitário.

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 221, DE 2015

UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA NO CONTEXTO DE CRECHE

Maria Clarisse Vieira (UnB) Maria Emília Gonzaga de Souza (UnB) Denise Mota Pereira da Silva (UnB)

PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA EDUCADORES DE JOVENS E ADULTOS

Educação Patrimonial Centro de Memória

Educação Ambiental: uma modesta opinião Luiz Eduardo Corrêa Lima

ROTEIRO PARA A CONFERÊNCIA DO PPS SOBRE CIDADES E GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA. A cidade é a pauta: o século XIX foi dos

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

PALAVRAS-CHAVE (Concepções de Ciência, Professores de Química, Educação Integrada)

Faculdade Sagrada Família

ERRADICAR O ANALFABETISMO FUNCIONAL PARA ACABAR COM A EXTREMA POBREZA E A FOME.

A IMPORTANCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NA AULA DE GEOGRAFIA

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Transcrição:

1 A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE: O ENSINO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Liédna Carla de Oliveira Leite 1 Janailma Valentim de Oliveira 2 RESUMO O presente artigo é resultado da atividade de estágio de observação realizado através da disciplina orientação e estágio supervisionado III, referente aos alunos do 7º período do curso de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN. Nesse sentido, ao trabalhar a cultura afro-brasileira na sala de aula, por meio da reeducação das relações étnico-raciais, através da lei 10.639/2003 que busca desenvolver políticas de reconhecimento, valorização e reparação. Assim, insere no currículo escolar dos ensinos fundamental e médio público e privado, a obrigatoriedade de se ensinar a história da cultura afro-brasileira na educação básica, como incentivo ao combate ao preconceito racial mostrando aos alunos a importância de conhecer os costumes e tradições. Dessa forma, este trabalho procura enfatizar a importância que os negros tiveram para a formação da sociedade brasileira, ao mesmo tempo de estabelecer aigualdade para todos, sem distinções das etnias. No que se refere ao ensino de História, é preciso quebrar o paradigma tradicional que foi criado em cima do negro, ao mesmo tempo repensar de forma crítica as expressões culturais de origem africana, como o papel na desconstrução dos estereótipos e os mitos que envolvem esses personagens da história do Brasil. A metodologia a ser desenvolvida procurou discutir junto aos alunos diferentes construções históricas acerca do tema, e mostrá-los que a formação da cultura brasileira teve contribuição da cultura africana, propondo uma análise do papel do negro para a sociedade direcionando o aluno para o desenvolvimento do pensamento histórico e a sua importância para a vida. Palavras-Chave: Ensino-aprendizagem. Cultura.Afro-brasileiro. ABSTRACT This article is the result of the observation stage activity conducted through discipline and guidance supervised III, referring to the students of the 7th semester of the History of the University of Rio Grande do Norte - UERN. In this sense, the work african- Brazilian culture in the classroom, through the re-education of ethnic and racial relations by Law 10.639 / 2003, which seeks to develop policies for the recognition, recovery and repair. Thus, part of the school curriculum in primary and secondary public and private, the obligation to teach the history of african-brazilian culture in basic education, as an incentive to combat racial prejudice by showing students the

2 importance of knowing the customs and traditions. Thus, this paper seeks to emphasize the importance that blacks had for the formation of Brazilian society at the same time establish equality for all, without distinction of ethnicity. With regard to the teaching of history, we need to break the traditional paradigm that has been created over the black at the same time to rethink critically the cultural expressions of African origin, as the role in the deconstruction of stereotypes and myths surrounding these characters in the history of Brazil. The methodology being developed aimed at discussing with students the different historic buildings on the subject, and show them that the formation of Brazilian culture had contributions of African culture by proposing an analysis of the role of black society for directing the student to the development of historical thinking and its importance to life. Keywords: Teachingandlearning.Culture.African-brazilian. INTRODUÇÃO Neste artigo abordaremos questões voltadas para o ensino da cultura afrobrasileira na educação básica, onde através da observação e questionamentos podemos conhecer um pouco mais a forma como as escolas públicas trabalham com esse tema. É de conhecimento de todos nós que a reformulação do currículo escolar, está relacionadoàs políticas públicas que estabeleceram uma nova base para a educação, pois esta política é um instrumento de reconhecimento e que permite a integração desses povos como parte essencial nas transformações ocorridas na História do Brasil, como também significativa na influência cultural brasileira. Lei 10.639, de 2003 - a inclusão da história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos da educação básica: políticas de reconhecimento, valorização e reparação para com a comunidade afro-brasileira. A discussão em torno dessa problemática é de suma importância, através dos questionamentos aplicados e da nossa prática docente podemos conhecer as funções que são atribuídas para o educador, pois o mesmo tem a tarefa de construir na instituição escolar um ambiente de diálogo e de participação favorável tanto com os alunos como com os demais profissionais da instituição, onde através do trabalho em conjunto de todos que fazem parte da escola, ocorra um melhor desenvolvimento do trabalho desses profissionais e, consequentemente, para o sucesso do processo educativo. O referido tema em questão A representação do negro na história do Rio Grande do Norte: o ensino da cultura afro-brasileira na educação básica tem como cerne um leque de questionamentos a serem discutido e trabalhado dentro da sociedade brasileira.acultura

3 afro-brasileira na sala de aula, por meio da reeducação das relações étnico-raciais, através da lei 10.639/2003 que busca desenvolver políticas de reconhecimento, valorização e reparação para com a comunidade afro-brasileira. Como resultado das várias lutas foiinserido no calendário escolar a obrigatoriedade de se ensinar a história da cultura africana e afro-brasileira na educação básica, como incentivo ao combate, ao preconceito étnico mostrando aos alunos a importância de conhecer os costumes e tradições dos afro-descendentes. Propondo a inserção de uma data especial que servem para nos mostrar a importância dos negros para com a nossa sociedade, dia esse 20 de Novembro que constitui como o Dia Nacional da Consciência Negra. Como podemos verificar, a lei se constitui a partir de dois pilares de sustentação: o aparato jurídico, sob o qual o governo brasileiro nas últimas décadas tem se utilizado para fomentar políticas de reconhecimento, valorização, e reparação voltadas para a comunidade afro-brasileira, e as reivindicações históricas dos afro-brasileiros construídas ao longo de décadas no Brasil. 3 Foi a partir da lei de 2003, que houve uma exigência legal na qual passou a ser obrigatório o ensino de História e da cultura africana e afro-brasileira na educação básica, lei essa 10.639/2003, tendo como eixos fundamentais a reparação o reconhecimento e a valorização dos negros dentro da sociedade. Desde então os mesmos estão amparados dentro desta lei, porém,há uma falta de conscientização e educação para com aqueles que insistem no retrocesso da sociedade. Dessa forma essa lei consiste demodo geral na busca pela reparação por parte da sociedade e do estado dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, na pós-abolição. 4 Nesse sentido, o reconhecimento implica na busca por igualdades com direitos econômicos, civis e culturais. Adoção de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade; o questionamento das relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos 5. Por último a valorização presume que os próprios negros se auto valorizem, que os mesmosrespeitem a sua descendência e principalmente sua cultura e história. Assim, esta abordagem caracteriza-se então em quebrar este paradigma, e que para tanto é necessário que esta reeducação também esteja vinculada a própria educação dos negros,

4 pois, para que enfim se construa uma sociedade liberta de qualquer preconceito. Dessa forma, esta busca por igualdade está vinculada há estes três eixos que viabilizem a igualdade sem haver distinção.outro fator preponderante da lei 10.639/2003 baseia-se na formação de atitudes étnicas, que consiste em uma educação nas relações étnicoraciais. Assim, como pode ser visto a lei 10.639/2003 não está restrito em apenas a inclusão dos conteúdos curriculares escolares, mais numa reeducação da sociedade brasileira. Assim, os negros tiveram importância para a formação da sociedade brasileira, incluindo assim, aspectos e valorização da cultura africana, ao mesmo tempo de estabelecer a igualdade para todos, sem distinção de etnias. No que se refere ao ensino de História, é preciso quebrar o paradigma tradicional que foi criado em cima do negro, ao mesmo tempo pensar o negro não apenas como um ser folclórico. Porém, tratando o negro como um contribuinte cultural e não como escravizado.ao mesmo tempo repensar de forma crítica as expressões culturais de origem africana, como o papel de desconstrução dos estereótipos e os mitos que envolvem esses personagens da história do Brasil presente nos livros didáticos hoje. Para isso foi necessário nos debruçarmos sobre pesquisas realizadas pela a autora Maria Telvina da Conceição, quando a mesma desenvolve pesquisa sobre o trabalho em sala de aula com a história e a cultura afro-brasileira no ensino de história. Essa temática serviu como referencial metodológico para tomarmos como base em nossa pesquisa. Para a construção de uma educação étnica e de valorização utilizamos de um diálogo com a turma sobre atitudes que combatam o preconceito e a valorização a diversidade étnica e cultural da sociedade brasileira. Os objetivos dessas questões desenvolvidas foram de levar a conscientização para a sala de aula, para que a mesma possa se fixar e expandir-se em outros ambientes não educacionais, pois necessita hoje de criar cidadãos conscientes dos seus atos. No entanto, para que se realize uma política de igualdades étnicas é preciso mudar todo esse pensamento embutido de épocas passadas e que até hoje são sentidos por aqueles que se sentem injustiçados. E mostrarmos as contribuições que a cultura africana deixou como legado para a cultura brasileira. É preciso que antes de qualquer coisa tenhamos a consciência que o respeito é chave principal, é o ponto de partida para acabarmos com a ideia que os descendentes africanos são inferiores, que a cultura e a história dos negros são inferiores.é importante ressaltarmos que essa lei não surgiu de uma hora para outra não, ela foi resultado de diversos movimentos sociais existentes no Brasil, desde o século

5 XIX, onde afro-descendentes juntos lutaram por um reconhecimento, valorização e acima de tudo, com esperanças de um dia ser igualmente tratado. Émuitas vezes na escola que essa desvalorização, esse não-reconhecimento acontece, uma vez ingressos na escola, os afro-brasileiros passam a enfrentar um conjunto de problemáticas de extrema eficácia na permanência de preconceitos, estereótipos e desvalorização dessa parte significativa da população brasileira 6. Causando assim altos índices de analfabetismo da população afro-brasileira, pois muitas vezes os mesmos são vítimas de preconceitos e acabam desistindo de frequentar as aulas por se sentirem inferiores pelo fato de ser negros. Outro fator seria a exclusão da história e da cultura dos povos afrobrasileiros, nos currículos escolares, ou seja, na maioria dos livros didáticos essa história é contada de forma que os negros são tidos apenas como aqueles que vieram escravizados para o Brasil, para serem submissos e humilhados. Omaterial didático muito deixa a desejar, no que se refere à representação do negro na nossa historia, de acordo com Maria Telvina: Entre permanências e mudanças podemos verificar que a problemática étnico-racial nos livros didáticos de história tem sido objeto de avaliação do Programa Nacional do Livro Didático/PNLD, o qual vem concretizando importantes contribuições para a efetivação de mudanças significativas nesse campo. 7 Os livros didáticos deveriam adotar uma nossa forma de trabalhar a questão do negro no Brasil, mostrando o mesmo como um contribuinte para a formação do povo brasileiro, como aquele que contribuiu significantemente com a sua cultura e costumes para a formação do que chamamos hoje de cultura brasileira, e não como aquele é visto como o coitadinho. É preciso que haja uma desconstrução nos livros didáticos referenteà história afro no Brasil, os livros poderiam assim proporcionar essa mudança, fazendo com que passássemos a olhar o negro e sua historia de outra forma, acabando de vez com esse olhar racista que muitos ainda tem quando se fala em negro, ou simplesmente na sua origem e cultura. Devemos enxergar o negro como aquele que entre tantas dificuldades e lutas durante todos esses anos resistiram e continuaram resistindo a diversos tipos de preconceito e discriminação, por parte de pessoas que se acham superior a esses povos. É preciso que essa mudança parta também de nós professores de história, onde o nosso papel é mudar essa reprodução que foi anos após anos ensinada, é preciso pensar qual é o papel do ensino de história nessa desconstrução da imagem do negro, e da sua cultura:

6 Abordar na escola, e em particularno ensino de História, a cultura afrobrasileira é de capital importância. Nos professores nos apropriamos de uma literatura de revisão desse aspecto, como requisito para as releituras que precisamos fazer ao abordar o assunto em sala de aula. Isso implica provocar a necessidade de desconstruir mitos e estereótipos sobre as expressões culturais de matriz africana no Brasil. 8 Apesar de toda a contribuição que os africanos nos deixaram, os mesmos não tiveram o real conhecimento que mereciam. A formação da sociedade brasileira foi uma mistura de índios, europeus e africanos, que juntos formou o que chamamos hoje de povo brasileiro, porém, é triste ver o quanto índios e negros são esquecidos, ou melhor, são aqueles que acabaram sendo deixados a margem da sociedade. Apesar de toda a riqueza deixada pelos povos africanos, a cultura dos mesmos já foi alvo de perseguição e preconceito. Portanto, é na escola, mais precisamente nas aulas de História que devemos trazer a tona a cultura afro-brasileira e fazer com que nossos alunos passem a ter uma visão diferenciada do negro, é preciso melhor ensinar e historicamente pensar como se deu esse processo histórico, que tanto estereotipou a imagem dos negros, e a sua cultura. Sabemos que a escola é o lugar onde as transformações e mudanças começam a acontecer. Um dos objetivos da educação é o desenvolvimento do ser humano, e é através dela que temos a oportunidade de formarmos cidadãos capazes de enxergar o mundo ao seu redor de forma diferente. É preciso, a partir desse pensamento discutir as questões étnico-raciais, que hoje é um dos maiores desafios para a educação brasileira: Levando em consideração os dados apresentados pelo o IBGE (2010), os afro-descendentescorrespondem a 51,1% da população brasileira, mas ainda buscam o acesso e permanência nas instituições de ensino. Por isso, a realidade educacional dos afro-descendentes, assim como dos indígenas, no Brasil, tem sido nos dias atuais, um dos principais eixos de discussão e reflexão para os políticos, gestores, movimentos sociais e pesquisadores. 9 Os atuais estudos dos currículos brasileiros têm passando por mudanças, na qual incorporam pensamentos e estudos culturais, enfatizando, por exemplo, questões de gênero e raças. Um exemplo disso é a obrigatoriedade de se trabalhar a cultura afrobrasileira nas escolas. essa incorporação propõe ao sistema de ensino um repensar a educação na perspectiva que seja para todos os cidadãos, independentemente de etnia ou classe social, e que esteja aberta para o rico universo cultural existente, elevando o desempenho e a participação de sujeitos dentro do processo educativo como protagonista de mudanças sociais. 10 É necessário que coloquemos em prática uma

7 educação diferenciada, no sentido de ensinarmos aos nossos alunos a importância do reconhecimento da diversidade cultural existente no nosso país, essas propostas são de suma importância, pois é através dela que podemos fortalecer o combate as práticas racistas nas escolas, e posteriormente fora dela. É de suma importância o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural que existe no nosso pais. Dessa forma: A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e a produção de conhecimentos, bem com atitudes posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de sua identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira. 11 Mesmo com a lei, sabemos como é difícil mudar um pensamento que éde muitos anos atrás, é desafiador, pois as sequelas da escravização dos negros ainda permanecem de forma bastante viva nos livros didáticos, já a sua contribuição para a formação da sociedade brasileira infelizmente ainda é um assunto pouco tratado, ou melhor, omitido. É preciso pensar, fazermos uma reflexão acerca da exclusão dos afro-descendentes no Brasil, existe uma necessidade de se romper esse pensamento racista para com os mesmos. Temos que reconhecer e aceitar que a cultura afro-brasileira, foi essencial para a formação no povo brasileiro. A diversidade étnico-cultural vai mostrar que os indivíduos sociais e históricos são também culturais. Isso indica que é necessário repensar a escola e suas práticas pedagógicas, rompendo com a seletividade, fragmentação, corporativismos e racismo, até então existente. 12 Dessa forma, precisamos mudar o pensamento negativo e ultrapassado que gira em torno não só da cultura afro-brasileira, mais também dos próprios negros, na qual esse novo pensamento tem que ser criado dentro da escola, ensinando as crianças desde pequenas uma nova visão, visão essa que reconheça o negro e a sua cultura não como inferior, não como um povo que durante anos sofreu e ainda continuam sofrendo tipos de preconceitos absurdos, temos que desenvolver nas escolas, por em prática, meios que possa vir a mudar essa realidade triste que os negros foram submetidos. Sendo assim, podemos dizer então que um dos maiores desafios na qual temos que enfrentar e entender, é aceitar que somos em país intercultural, que o Brasil não é apenas formado por brancos, mais sim formado também por negros e índios. Mistura essa que fez sermos quem somos hoje, um país com uma imensa diversidade cultural. Para isso é

8 preciso que haja uma urgência no que se refere à adaptação do novo currículo, é preciso colocar em prática o ensino da cultura afro-brasileira mostrando esses povos como contribuintes e não como aquele que chegou apenas para servir. O novo modelo de currículo brasileiro deve apresentar conteúdos que contribuam para que os afro-descendentes se vejam contemplados, com seu rico universo cultural e não simplesmente incluídos, por serem diferentes; mas que essa diferença, de fato, seja aceita e que possa contribuir no processo educativo. 13 Acreditamos assim, que a superação do racismo é essencial para a formação de seres humanos capazes de reconhecer a rica diversidade cultural e racial da nossa sociedade. Onde discussões voltadas para a importância da cultura afro-brasileira abrirão o caminho par à tolerância, para o respeito ao próximo independente de cor, raça ou religião. Combater o racismo, e as desigualdades sociais e raciais será o começo para que possamos viver num país onde a cor da pele não determine o modo como aquela pessoa vai viver e ser tratada. Temos então que desfazer a mentalidade discriminadora e racista, superando o etnocentrismo europeu. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim percebe-se então que com a inserção desta lei que tem como um dos objetivos um real reconhecimento para com esses povos, sendo também de suma importância para o ensino da diversidade cultural do nosso país. Momento esse em que a educação brasileira, busca então uma valorização da cultura e da história dos afrodescentes, tentando reparar danos e injustiças que vem sendo causada aos mesmos a mais de cinco séculos, essa inclusão da temática nos currículos abrange um olhar para a diversidade cultural, racial e social brasileira. Pois a luta pela igualdade e direitos da população afro-descendentes aqui no nosso país não acabou com o fim da escravidão, pelo contrário é a partir daí que eles começam. Essa lei a 10.639/2003, esta sendo uma resposta aos gritos que não pararam daqueles que sentiam e sentem na pele o que é ser descriminado, o que é não ser reconhecido como deviam. Só nos resta então mantermos as nossas esperanças de que um dia viveremos numa sociedade onde o preconceito, a desvalorização para com o negro a sua cultura não mais existia, que índios e negros

9 tenham seus direitos reconhecidos, e que futuras gerações conheçam a história dos mesmos, não como aqueles que foram vítimas de exploração, maus-tratos, humilhação, escravização, e outras diversas formas de inferiorização, mais sim como sujeitos dignos, que acima de tudo merecem o respeito e o reconhecimento, pois somos quem somos hoje graças também a índios e negros que muito fizeram pelo nosso Brasil. 1 Graduanda em História na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência/PIBID. 2 Graduanda em História na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência/PIBID. 3 CONCEIÇÃO, Maria Telvirada. O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afrobrasileira no ensino de história. Capítulo 6, p. 135. 4 BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Parecer CNE/CEP1/2004.seção 1, P.11 D.O.U de 22 junho de 2004.p. 3. 5 IDEM, p. 3/4. 6 CONCEIÇÃO, Maria Telvirada. O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afrobrasileira no ensino de história. Capítulo 6, p. 137. 7 IDEM, p. 137/138. 8 IDEM, p. 144. 9 SANTOS, Maria José dos. O reconhecimento da cultura dos afro-descendentes no processo educativo: o currículo e as práticas escolares. p.2 10 IDEM, p.4 11 BRASIL. Educação anti-racista: caminhos abertos para a Lei Federal nº 10.639/03/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, Brasília-DF, 2005. 12 SANTOS, Maria José dos. O reconhecimento da cultura dos afro-descendentes no processo educativo: o currículo e as práticas escolares.p.5 13 IDEM,p. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana. Parecer CNE/CEP1/2004.seção 1, P.11 D.O.U de 22 junho de 2004. BRASIL. Educação anti-racista: caminhos abertos para a Lei Federal nº 10.639/03/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, Brasília- DF, 2005. CONCEIÇÃO, Maria TelviraDa.O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afro-brasileira no ensino de história. Capítulo 6. SANTOS, Maria José dos. O reconhecimento da cultura dos afro-descendentes no processoeducativo: o currículo e as práticas escolares.