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Transcrição:

A APLICAÇÃO DO BDN EM PRÁTICAS DISCURSIVAS À DISTÂNCIA (THE APLICATION OF NEUROLINGUISTIC DATA BANK AT DISTANCE DISCURSIVE PRACTICE) Fern anda Mari a Pereira FRE IRE (PG - UNICAMP / N IED - UNICA MP) ABSTRACT: The Neurolinguistic Data Bank (BDN) developed in the Project Integrated in Neurolinguistic (CNPq: 521773/95-4) objectives the transcription, storage and searchs of data proceeding of dialogical situations. This study argues the application of the BDN in distance communication using an evaluation that makes use of the with an adult with Syndrome Frontal. KEYS-WORDS: BDN; ; syndrome frontal; distance communication. 0. Introdução O Banco de Dados em Neurolingüística (BDN) vem se desenvolvendo desde 1996 no interior do Projeto Integrado em Neurolingüística (CNPq: 521773/95-4) objetivando, especial mente, a transcrição, o armazen amento e a busca d e dados do Centro de Convivência de Afásicos (CCA/Unicamp). Tais dados, portanto, são achados (Coudry, 1996) provenientes das reuniões semanais do CCA e/ou de avaliações neurolingüísticas discursivamente informadas, das quais participam sujeitos cérebrolesados em acompanhamento e pesquisadores que vivenciam situações de uso sóciocultural da linguagem em diferentes contextos cognitivos e enunciativos (Coudry, 1997). Dados, portanto, decorrentes de práticas discursivas p resen ciais (Maingueneau, 1987/89). Para retratar a dinâmica das situações dialógicas o BDN dispõe de um sistema de notação e codi ficação, bem co mo de u ma sistema ab erto de busca - baseado em categorias descritivas - que auxilia a identificação de dados (Coudry, 2003). Mais importante, no entanto, é o fato de dar a ( re) conhe cer aquilo que antes podia estar oculto ou mascarado. Contribui, assim, para o refinamento teórico-metodológico das atividades do Projeto Integrado, especialmente para a organização de versões protocolares (VPs) de avaliação de processos de signi ficação v erbais e n ão verb ais, que levam em conta o funcionamento articulado da linguagem em níveis, bem como a relação da língua com outros sistemas semióticos (Coudry, 2003). A primeira versão do BDN dispunha de 5 colunas: (1) código de busca que permite selecionar certos enun ciados ; (2) nu meração de linhas para facilitar a análise e discussão dos dados; (3) sigla de identificação do locutor; (4) transcrição propriamente dita; (5) observações sobre as condições de produção do enunciado. O movimento dado/teoria (e vice-versa) prevê, no entanto, uma instabilidade necessária (Campetela, 2002) nessa con figu ração tendo em vista a an álise de fenô menos p róprios do funcionamento da linguagem decorrentes, entre outros fatores, das condições em que se dão as interaçõ es entre os interlocuto res envolvidos em d eterminad a prática discursiva. Estudos Lingüísticos XXXIII, p. 152-157, 2004. [ 152 / 157 ]

Por essa razão o BDN vem sofrendo certos ajustes com o objetivo de abranger e, portanto, dar visibilidade a esses fatores. Os estudos de Mármora (2000) e Fedosse (2000), ambos interessados nas relações entre linguagem e praxia, sugerem que a coluna 5 - agora denominada condições de produção do enunciado - seja subdividida em processos verbais e processos não verbais objetivando esse tipo de análise. O estudo de Flosi (2003), por sua vez, por tratar também da linguagem escrita, propõe a inclusão de u ma sexta colun a, para os enunciados escritos, be m co mo u ma séti ma colun a para registro das observações do investigador. A inclusão de VPs baseadas no uso de comunicadores à distância requ er, da mes ma forma, modi fi caçõ es n a estrutura do BDN. Além de s erem necessárias as colunas já mencionadas, especialmente aquelas que permitem a visualização da dinâmica de interações pres enciais - vi a oralidade - e à distân cia - via escrita, de forma complementar, há necessidade de se incluir outras que possam mostrar a possível influência da interface do prog rama co mputacion al nesse tipo de situação dialógica. A seguir serão apresentados os resultados parciais de uma avaliação discursivamente orientada que faz uso do sistema de comunicação à distância. 1. A avaliação de AL e o d ado d a interação via I CQ O sujeito AL é do sexo masculino, tem 27 anos, é destro, não chegou a completar o nível fundamental nos estudos e pertence à classe média de Campinas (SP), onde nasceu. Foi encaminhado ao Laboratório de Neurolingüística (IEL-Unicamp) pelo Prof. Dr. Judson da C. Mauro do Ambulatório de Neuropatologia da Linguagem da Unicamp, em fevereiro de 2002, com queixa de dificuldade de leitura e de aprendizado. Apresent a anteced entes de alcoolis mo e da chamada dislexia, razão pela qual deixou a escola. So freu, em setembro de 2000, u m trau matis mo crânio-encefálico (TCE) devido a um acidente automobilístico, ocasionando "contusões hemorrágicas r ecentes em transição de substância branca/cinzenta dos lobos frontais e região parietal alta à direita", caracterizando o que a literatura denomina de Síndrome Frontal. Para realizar sua avaliação utilizamos, entre outros exp edientes, o co municador com vistas a analisar o funcion amento de sua linguagem escrita, u ma vez que é por meio dela que as pessoas interagem à distância nesse programa. O é um comunicador síncrono, gratuito, bastante usado para identificar e convers ar co m pessoas que estão online na Internet (Oei ras e Rocha, 2002 ). O usuário identifica e conversa co m algumas pessoas que fazem parte de u ma lista restrita cadastrada em sua cópia do programa. Para dar início a um diálogo basta clicar sobre o nome da pessoa com quem se deseja conversar para abrir uma sessão de mensagem e passar a utilizar as cai xas d e diálogo (de envio e de visualização) adequadamente. Após a es crita de cad a enunciado é necessário clicar o botão Send. O diálogo que se segue, objeto de nossa análise, aconteceu entre o sujeito AL e u ma aluna (I JO )do programa de doutorado do Instituto de Computação (IC) da Unicamp que, gentilmente, aceitou o convite para interagir via com o sujeito. Os interlocutores, portanto, não se conhecem 1. Participa também dessa interação a 1 Há uma forte discrepância em termos de familiaridade com esse tipo de sistema: I JO é uma usuária habitual do programa e AL é um novato na atividade. Estudos Lingüísticos XXXIII, p. 152-157, 2004. [ 153 / 157 ]

investigadora (I FF ) com o objetivo de auxiliar AL a manusear o sistema. Assim, AL e I FF permanecem no Labo ratório d e Neurolingüística (Labon e - interação gravada em vídeo), enquanto I JO está nas dependências do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (N IED), ambos localizados no campus da Uni camp. Veja-se a t ranscrição do dado na nova versão que propomos para o BDN. linha tor dos enunciados hora locu transcrição condições de produção enunciados escritos interface verbais não verbais 1 16:17 AL Oi I JO tudo bem 2 16:18 I JO Oi AL! Tudo bem! E você? 3 Agora estou muito bem 4 16:20 I JO Som do 5 I FF Oi! Tem alguém aí? Porque demorou a... 6 AL Já estou te respondendo... Lê a mensagem 7 I FF ã ã AL digita 8 AL Estou um pouco confuso. AL digita Coça o nariz, gesticula com as mão fren te ao corpo AL ri. Gestos com as mão s Gestos com as mão s O i! Tem alguém aí? 9 I FF É aqui, Aponta o olha...send botão 10 AL Clica Send 11 16:22 AL ja estou te respondendo estou um pouco confuso 12 16:23 I JO Ah, me desculpe. Eu achei que a conexão tinha caído... 13 16:25 AL Tudo bem dessa ves te desculpo 14 16:25 I JO Som do I JO você trabalha ou 15 16:26 AL Digita a estuda? So trabalho porinquanto Estudos Lingüísticos XXXIII, p. 152-157, 2004. [ 154 / 157 ]

16 16:27 I JO Som do 17 16:28 AL Digita a 18 AL Parece digitar algo. 19 I FF sai da sala. AL fica s ó 20 AL Alterna gestos de levar a mão à boca, à cabeça, ao queixo. Os dedos, várias vezes hesitam sobre o teclado. 21 16:29 I JO Som do 22 AL Lê a mensagem Digita algo. Lê. Põe a mão no mouse...de siste Digita. Clica o botão Send 23 16:31 AL Digita a 24 16:32 I JO Som do Rep ete os gestos anteriores Quase toca a língua com o dedo. Olha na direção da porta. Rep ete os gestos. Que legal. Eu estudo. Você trabalha com quê? pretendo voutar esse ano eu gosto muito de estudar. Que bom saber que você também vai estudar este ano. Mas, me conta qual é o seu trabalho.. eu trabalho com fector Não entendi. Qual é mesmo o seu trabalho? Estudos Lingüísticos XXXIII, p. 152-157, 2004. [ 155 / 157 ]

25 16:35 I JO Som do 26 16:36 AL Digita a 27 16:36 I JO Som do 28 16:38 AL Digita a 29 16:40 I JO Som do 30 16:41 AL Digita a Você já usou computador outras vezes? seria enprestimo pessoal e compra de ticket poxa! então você é um homem negócios!! qual é o nome da sua empresa? Naõ essa e a primeira ves que estou num bate papo Com este programa você poderá bater papo com muita gente.(...). naõ tenho nome ap enas trab alho sozinho 3. Comentários A leitura e an álise do dado mostram, entre outros fenô menos, que a escrita d e AL apres enta marcas possivel ment e deco rrent es de u m processo de escolarização pautado em atividades descontextualizadas e pouco significativas para o aprendiz. Mas há outros resultados. Os gestos de que faz uso AL - especialmente quando seu interlocutor presencial sai da sala - parecem servir de esteio p ara a organização do seu enunciado via escrita (ver especial mente as linhas 18 à 23), assi m co mo a oralidade parece auxiliá-lo quando I FF está presente (linhas 1 à 9) (Freire, 2002). Note-se também que AL parece estar s emp re correndo atrás do que já foi dito por I JO ; ela, por sua ve z, comenta a de AL e retoma a pergunta mais recente, ocasionando uma sobreposição de temas (linhas 24 à 30). Essa sobreposição parece decorrer de três aspectos inter-relacionados: (i) defasagem de tempo de escrita dos interlocutores, considerando -se o grau de novidade de toda a situação dialógica para AL e sua lentificação psicomotora (decorrente do quadro neurológico com repercussões frontais); (ii) desvio da função original do, que em geral é utilizado paralelamente a outras atividades no computador, o que ocasiona, normalmente, maior tempo de para o interlocutor e evita que aquele que esp era a faça inferênci as pouco produtivas (achar que a conexão caiu) ou, mesmo, introduza um novo tema na convers ação, co mo ocorreu na situação em questão; (iii) possíveis influências da interface do programa que requer que o usuário mude seu foco de atenção para outra janela (da janela de envio para a jan ela d e visualização), interrompendo a atividade em curso. Essa análise, no entanto, só é possível de s er elaborada se considerarmos a multiplicidade de fatores que concorrem para a emergência da interação entre AL, I FF e I JO, evidenciada pela con figuração do BDN p roposta. Destaca-se a relevância da Estudos Lingüísticos XXXIII, p. 152-157, 2004. [ 156 / 157 ]

subdivisão da coluna de condições de produção do enunciado em aspectos verbais e não verbais para a relação entre oralidade, gesto e escrita. Da mes ma forma, a inclusão ainda nessa colun a da subdivisão interface e o acréscimo da coluna hora, são fund amentais para s e co mpreend er a sobreposição de tópicos conversacionais e, conseqüentemente, a possível influência da interface do programa no decorrer da situação dialógica. Esse tipo de an álise, além d e au xiliar no entendi mento do quadro apresentado pelo sujeito AL, contribui também para o estudo do funcionamento da linguagem à distância, bem como para o estudo da interação humano-computador. RESUMO: O Banco de Dados em Neurolingüística (BDN), desenvolvido no Projeto Integrado em Neurolingüística (CNPq: 521773/95-4), objetiva a transcrição, armazenamento e busca de dados de situações dialógicas presenciais. Esse estudo discute sua aplicação em práticas discursivas à distância usando dados de uma avaliação que utiliza o com um sujeito com Síndrome Frontal. PALAVRAS-CHAVE: BDN; ; Síndrome Frontal; comunicação à distância. REFE RÊNCIAS BIBLIOG RÁFICA S CAMPETELA, Cilene (2002) O Banco de Dados em Neurolingüística na relação dado/teoria. In: Anais do XXXI Seminários do Gel. São P aulo, SP. (versão cd-rom). COUDRY, Maria Irma Hadler (2003) Relatório de atividades do Projeto Integrado em Neurolingüística Contribuições da pesquisa neurolingüística para a avaliação do discurso verbal e não verbal. CNP q nº 521773/95-4. (1997) Centro de Convivência de Afásicos (CCA): Fundamentos teóricos e metodológicos. In: Anais do 1º Encontro do Celsul, 1. Florianópolis, SC, p. 148-158. (1996) O que é dado em neurolingüística? In: Castro, M. F. P. (org.) O Método e o dado no estudo da linguagem. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, p. 179-192. COUDRY, Maria Irma Hadler; MAYRINK-SABINSON, Maria Laura (2001) Probrema e dificulidade. Texto apresentado no II Seminário sobre Letramento e Alfabetização, a partir do tema Erro e deficit:considerações sobre a patologização do erro, durante o 13 º CO LE, realizado na Unicamp, 18 de julho de 2001. FEDOSSE, Elenir (2000) Da relação linguagem e praxia: Estudo neurolingüístico de um caso de afasia. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. (Dissertação). FLOSI, Luciana Claudia Leite (2003) A relação dinâmica da linguagem oral com a escrita e gestos na afasia. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. (Dissertação). FREIRE, Fernanda Maria Pereira (2003) O em contextos de avaliação neurolingüística. Trabalho aceito no W IE2003 - IX W orkshop sobre Informática na Escola, a realizar-se de 2 à 8 de agosto em Campinas, SP. (2002) O gesto na escrita. In: Resumos do 50º Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos de São Paulo. São P aulo, SP.p. 143. MAINGUENEAU, Dominique. (1987/89) Novas Tendências em Análise do Discurso. Camp i n as, SP: Pontes. MÁRMORA, Cláudia Helena Cerqueira (2000) Linguagem, afasia, (a)praxia: uma perspectiva neurolingüística. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. (Dissertação). OEIRAS, Janne Yukiko Yoshikawa; ROCHA, Heloísa Vieira (2002). Aprendizagem Online: ferramentas de comunicação para colaboração In: Anais do Workshop sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, 3. Fortaleza: SBC Brasília Computer Society, p. 226-237. Estudos Lingüísticos XXXIII, p. 152-157, 2004. [ 157 / 157 ]