MARCOS DA HISTÓRIA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO - SIGNO DA CIDADE DE OLINDA Karina Ferreira Gonçalves Silva Melo
2 MARCOS DA HISTÓRIA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO - SIGNO DA CIDADE DE OLINDA Karina Ferreira Gonçalves Silva Melo - FUNESO Em meio as turbulências políticas no Império romano do Ocidente, em 480 d.c., nasce um casal de irmãos gêmeos chamados Bento e Escolástica, pertencentes a uma família da pequena nobreza rural da cidade de Núrsia na Itália. Quando adolescente, Bento é enviado para Roma a mando de seus pais para realização dos estudos em letras, filosofia e direito. Posteriormente, por revolucionar a forma da evangelização cristã, com trabalhos de assistência social, Bento torna-se santo. São Bento se tornará um grande educador, sendo a educação o princípio escolhido por ele em sua empreitada para a catequização da humanidade. Baseando-se no lema evangelizador "Ora et Labora", São Bento funda na Itália a ordem beneditina. Com grande sabedoria escreve "A Regra de São Bento", formada por "Conselhos Evangélicos" - que tencionavam oferecer as diretrizes do caminho da santidade. Os mosteiros beneditinos foram estruturados como cidadelas auto-suficientes, onde todas as necessidades vitais dos monges fossem supridas, de tal modo que não precisassem ausentar-se. Partindo dessa proposta de claustro, as atividades distribuídas entre os monges eram, na maioria do tempo, produtivas. A Regra de São Bento atravessou séculos semeando pelo mundo devoção à sabedoria. Tal preceito chegou ao Brasil com os beneditinos em 1581, chefiados pelo Padre Frei Antônio Ventura do Laterão, membro da Congregação Beneditina de Portugal. O primeiro grupo de monges se estabeleceu na capitania de Salvador. Antes na colônia existiam apenas alguns beneditinos com missões temporárias de pregações evangélicas. As boas ações beneditinas eram divulgadas entre as outras capitanias. Pedidos para outras fundações. tornaram-se corriqueiros. Em 1586, os monges da ordem chegam em Olinda. Acredita-se que a primeira residência oficial beneditina foi numa casa próxima à ermida de São João Batista em 1592. Após quatro anos, recebem uma doação do Bispo do Brasil - Dom Antonio Barreiros, para mudarem-se para a igreja de Nossa Senhora do Monte. No dia 22 de agosto de 1596, a igreja eleva-se à Abadia, tendo como seu primeiro
3 Abade o Frei Mâncio da Cruz. O Bispo Dom Antonio Barreiros solicitou apoio ao governador da Capitania de Pernambuco para os beneditinos, valorizando os mesmos pelas suas benfeitorias. Por volta do ano de 1597, os beneditinos conseguem através de ajudas locais comprar as terras, onde encontra-se atualmente a Abadia. Os monges alegavam que o local da ermida de Nossa Senhora do Monte não era propício para a construção do mosteiro definitivo. A escolha do local para a nova construção foi uma das mais belas paisagens de Olinda. Situado no Varadouro, o Mosteiro era antes um sítio chamado Sítio Olaria, pertencente ao casal Gaspar Figueira e Maria Pinta. As terras foram vendidas aos beneditinos por duzentos e cinqüenta mil reis(em dinheiro), na presença do escrivão do contrato Tabaliam e testemunhas. A colônia brasileira, em 1580, passou a ser controlada pela Espanha, já que Portugal não tinha um herdeiro próximo à Dom Sebastião, assume o espanhol Dom Henrique. Sobe posteriormente ao trono Felipe II, que resolve bloquear os negócios açucareiros da Holanda com as colônias portuguesas da África e da América. Na época, o nordeste brasileiro possuía vínculos com a burguesia holandesa devido a negócios com açúcar, sendo este o grande fator que levou os holandeses a invadirem o Brasil. Em maio de 1624 vinte e seis embarcações entraram na baía de Todos os Santos, tomando facilmente Salvador a capital do Brasil. Após algumas lutas e outras novas invasões, os holandeses são expulsos de Salvador. Porém, a Holanda organiza uma nova esquadra, desta vez na tentativa de invadir Pernambuco. Mais de sessenta embarcações compostas por 3500 soldados e 3780 pessoas navegaram pelas águas de Olinda no dia 14 de fevereiro de 1630. Apesar da grande resistência, Olinda é dominada por não possuir o número necessário de tropas para se defender. Os holandeses desembarcaram na praia de Pau Amarelo e seguiram em direção à Olinda, incendiando e saqueando a cidade. No incêndio, o Mosteiro de São Bento foi quase todo destruído e os monges fugiram para os engenhos Mussurepe e Itapacurá - ambos da propriedade dos mesmos. Por estarem sempre correndo riscos de invasões nos engenhos, um amigo dos religiosos oferece terras próximas à Vila de Ipojuca para abrigá-los com maior segurança. Os holandeses foram expulsos após vinte e quatro anos de invasão, os monges puderam, por conseguinte, voltar à Olinda. O Abade da comunidade Frei Diogo Rangel reconstruiu sobre as ruínas da antiga igreja uma nova Abadia, desta
4 vez feita em estilo barroco e em talha folheada a ouro. A reconstrução da Igreja e do Mosteiro foi bastante lenta por conta da carência de recursos. Os sucessores do Abade Frei Diogo Rangel continuaram a reconstrução do Mosteiro com os poucos recursos fornecidos pelas fazendas. A capela e o altar-mor atualmente possuem um dos mais belos retábulos do mundo. Após séculos, a Igreja de São Bento foi entitulada como a nova Basílica da Arquidiocese de Olinda e Recife, tornando-se o primeiro templo da cidade e o terceiro do estado a possuir este reconhecimento. O Papa João Paulo II, no dia 28 de julho de 1998, passou a reconheceu perante todo o clero a importância da Igreja de São Bento de Olinda, tendo em vista sua tradição e trabalhos realizados junto à comunidade. O termo Basílica é o maior título atribuído a um templo católico, sendo de caráter honroso, pois se torna oficialmente moradia do Papa. Em 1827, o Imperador D. Pedro I outorga a fundação do primeiro curso de Direito do Brasil no Mosteiro de São Bento de Olinda. Os cursos jurídicos funcionaram de 1827 a 1854, nas dependências do Mosteiro, onde se encontra atualmente sua biblioteca. O Mosteiro também serviu de hospital para a população local durante um surto de cólera em 1862, e de febre amarela entre 1897 e 1899. Trazendo do berço europeu a devoção à educação, em 1912, fundam-se as Escolas Superiores de Agricultura e Medicina Veterinária, que deram origem à atual Universidade Federal Rural de Pernambuco. Considerando a importância patrimonial e artística do Mosteiro de São Bento de Olinda, em 2001, o altar-mor foi completamente restaurado. Eleito representante da arte barroca brasileira, no ano seguinte, o retábulo participou da exposição Brasil: Corpo e Alma no Museu Guggenheim em Nova Iorque, Estados Unidos. Todos os marcos históricos do Mosteiro de São Bento de Olinda afirmam a sua importância na construção da História da Humanidade. Apesar do pouco conhecimento sobre a História do Mosteiro, este já pertence ao imaginário do cidadão olindense. O resgate da História do beneditinos em Olinda é fundamental para a preservação da memória brasileira. Pela relevância patrimonial, artística, política, educacional, ambiental, paisagística e medicinal, o Mosteiro de São Bento caracteriza-se como signo da cidade de Olinda.
5 BIBLIOGRAFIA Beneditinos em Olinda - 400 anos, São Paulo: Copyright/SANBRA, 1986. COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. São Paulo: Ed. Saraiva, 3 ed., 1996. FERREIRA, Olavo Leonel. História do Brasil. São Paulo: Ed. Ática, 17 ed., 1995. Livro do Tombo do Mosteiro de São Bento da Cidade de Olinda, Imprensa Oficial, Recife, 1948. LUNA, D. Joaquim G. de. Os Monges Beneditinos no Brasil. Rio de Janeiro: Edições "LUMEN CHRISTI", 1947. MUELLER, Frei Bonifácio. Olinda e suas Igrejas. Recife: Livraria Pio XII, 1945. NIGG, Walter. Bento de Núrsia, Coleção "Os Grandes em Imagens". São Paulo: Edições Loyola, 1979. PRADO, D. Lourenço de Almeida. São Bento e sua Obra. Rio de Janeiro: Edições "LUMEN CHRISTI", 1978. RECKET, S. O Signo da Cidade. In: O Imaginário da Cidade - Compilação das Comunicações apresentadas no Colóquio Sobre Imaginário da Cidade, realizado em outubro de 1985. Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian/Acart. p. 09-31. Revista do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, v. XXXVII, Pernambuco, 1942. SHELDRAKE, R. A Ressonância Mórfica e a Presença do Passado - Os Hábitos da Natureza, Lisboa: Instituto Piaget.