A LEGISLAÇÃO PATENTÁRIA E O FUTURO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL



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Transcrição:

A LEGISLAÇÃO PATENTÁRIA E O FUTURO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL Principais Preocupações: João F. Gomes de Oliveira (e colaboradores) o INPI INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, ainda não conseguiu diminuir o prazo para analisar um pedido, enquanto a Coréia do Sul, um país que a menos de três décadas era mais atrasado que o Brasil, hoje chega a conceder patentes em menos de 1,0 (um) ano; no entanto, examinadores do INPI agem por vezes preferindo indeferir os pedidos de patente e assim transferir ao inventor o problema da pesquisa que deveriam fazer para, somente então, e apenas quando não há como evitar, conceder-lhe a patente; A fiscalização e a garantia do respeito à PI no Brasil são fracos, quando comparados aos países desenvolvidos.

1) Por que a indústria nacional demonstra pouco interesse no depósito de patentes? Falta cultura de propriedade industrial, o processo administrativo do INPI é muito lento, o sistema judicial brasileiro permite quantidade de recursos desinteressantes para esse tipo de ação, há falta de juízes e varas especializadas na área e, ainda, há inadequação/falta de regulamentação/desconhecimento de processos contábeis para contabilização dos ativos intangíveis.

2)Como melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade intelectual no país, com base num regime pragmático de Propriedade Intelectual, compatível com nossos interesses atuais, conforme proposto pelo IV Congresso de Inovação da Indústria/CNI (03/08/2011)? cancelar a exigência constante no artigo 8º da Lei nº 9.279/96 de que o objeto de pedido de patente somente será patenteável se tiver aplicação industrial, já que apenas o mercado tem condições para tal julgamento e, se este rejeitá-la, a patente se torna inócua, inútil, sua concessão não causando mal algum à sociedade, a pessoas físicas e jurídicas, deixando apenas de beneficiar seu inventor; cancelar o inciso III do Art. 239 da Lei nº 9.279/96, que autorizou o próprio INPI a criar a estrutura básica e regimento interno do órgão, podendo haver distorção de sua finalidade, entre as quais o de seu faturamento ser tanto maior quanto maiores dificuldades impõe aos inventores. criar regras objetivas sobre questões omissas na Lei nº 9.279/96, para que as decisões dos examinadores deixem de ser subjetivas e contraditórias; criar condições para que os salários dos examinadores sejam proporcionais à responsabilidade que esta Lei Complementar lhes vai impor e à extrema importância de sua tarefa à Nação (inciso II do citado Art. 239); estabelecer exigência legal para que o Poder Judiciário crie juízos especiais destinados a dirimir questões relativas à propriedade intelectual, em substituição à atual simples autorização estabelecida há 15 (quinze) anos pelo artigo 241 da Lei 9.279/96 e até hoje não implementada.

2)Como melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade intelectual no país, com base num regime pragmático de Propriedade Intelectual, compatível com nossos interesses atuais, conforme proposto pelo IV Congresso de Inovação da Indústria/CNI (03/08/2011)? criar no Ministério da Justiça a SDI SECRETARIA DO DIREITO INDUSTRIAL (E INTELECTUAL?) com a missão de receber reclamações de autores prejudicados, seja pelo próprio INPI, seja por cópias piratas, julgá-las em rito sumário e punir exemplarmente o culpado, mesmo que seja o próprio reclamante; Incluir no curriculum escolar das escolas técnicas e cursos superiores Noções básicas de propriedade industrial e Noções de propriedade intelectual (propriedade industrial e direito autoral e conexos) e valoração de tecnologias e produtos nas Universidades. Blindagem do INPI frente aos órgãos governamentais, tais como ANVISA, CGEN etc. Fiscalização sistemáticada Receita e Polícia Federal para garantir o respeito e a valorização da PI. Já existe incentivo ao inventor isolado, micro e pequenas empresas relativo às taxas do INPI, no Brasil. É necessário implantar mais incentivos para internacionalização dos pedidos de patentes de origem no Brasil

3)A ampliação do quadro de servidores do INPI seria suficiente para reduzir o tempo de tramitação de processos para a concessão de patentes? O processamento digital de pedidos de patentes (e- Patentes) já está em uso interno pelo INPI (junho/2011) e tem implantação para o usuário externo prevista para 2012, visando depósitos e petições, visando um processamento mais ágil. Atualmente (informações não formais), soube que o NPI possui mais de 300 examinadores com titulação mínima de mestrado; o que se identifica imprescindível é a necessidade de participação desses pesquisadores em cursos e eventos para atualização do conhecimento e apoio na avaliação mais cuidadosa nos pareceres, Aparentemente não há falta de examinadores, mas é necessária uma gestão que incentive e valorize a qualidade da análise.

4) Que mecanismos poderiam ser criados para estimular a indústria nacional para aproveitar o conhecimento científico gerado nas universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento? Criar mais estímulos à produção de PI nas Universidades através da implantação de indicadores de inovação no âmbito das avaliações de bolsas de produtividade tecnológica, projetos de pesquisa e fomento em atividades de engenharia e ciências aplicadas com objetivos de desenvolvimento de PI.

5)O critério de avaliação para a promoção dos docentes de ensino superior e dos pesquisadores ao privilegiar a publicação de artigos científicos os desestimulam ao registro de patentes? Não, é somente caso de organização pessoal. A preparação do resumo (aceitação em congressos, etc.) ou minuta do artigo fornecem a maioria dos dados necessários aos pedidos de patente, o tempo de aceitação do resumo ou minuta do artigo geralmente é suficiente para redação do pedido de patentes, principalmente quando acrescido do período de graça previsto na legislação brasileira. A criação de parâmetros e indicadores de inovação na avaliação docente poderia criar outros estímulos para a valorização da Propriedade intelectual.

Uma mudança cultural: Sintonizar Valores e Necessidades Mundo Empresarial Dinheiro Poder Prazo Curto Secretivo Competitivo Tenso Mundo Acadêmico Liberdade Reconh. Honorífico Longo prazo Cooperativo Publicações Papel do Implementador de inovações

Valoresda Academia e da Inovação Acadêmico(indivíduo) Existência: Doi Qualidade: JCR Impacto: fatorh Inovador (coletivo) Existência: Registro INPI USPO Qualidade: Existênciade contrato de licenciamento Impacto: Receitageradacom licenciamento O quemaistemos????

6)O que seria necessário para proteger a produção de conhecimento (ativos científicos) atualmente apropriada livremente pelo mercado? Ciência é o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao universo objetivo, envolvendo seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais, gerando a revelação ou identificação de algo (fenômeno) até então ignorado, sendo primordial para o desenvolvimento tecnológico, portanto deve ser divulgado sem restrições, tendo proteção por direito autoral (proteção quanto à forma, não quanto à ideia). Tecnologia é o conjunto ordenado de conhecimentos científicos, empíricos ou intuitivos necessários à produção ou comercialização de bens e serviços, gerando a invenção, que é toda criação humana inédita que possa ser aproveitada industrialmente, sendo esta protegida por patentes geradoras de monopólio excludente de terceiros. Não há como proteger ciência, isto é, impedir que terceiros utilizem a lei da gravidade, por exemplo. A proteção de tecnologias com potencial de aplicação industrial é objeto da discussão outros itens do questionário.

9)A exemplo do Japão, da Coréia, da China ou dos Estados Unidos, que facilitam a concessão de patentes, o Brasil deve manter os atuais mecanismos de análise ou flexibilizá-los? O Brasil tem bons mecanismos de análise, haja vista ser um dos países que mantiveram a qualidade das patentes concedidas. A flexibilização dos critérios para exame e concessão muito provavelmente levariam à redução da qualidade do trabalho, gerando maior volume de ações judiciais. Pragmaticamente falando, seria apenas a transferência (obviamente com maior custo) da morosidade do INPI para a morosidade do sistema judicial aliada a falta de juízes especializados. 10) A recente decisão dos EUA de conferir o direito à patente para o primeiro requerente impõe alterações de procedimentos de registro no Brasil? Não, a legislação brasileira (Lei 9279/96) já prevê que o titular da patente será seu inventor ou outros qualificados (art. 6º e parágrafos) ou pelo primeiro depositante em caso de dúvida por autoria independente (art. 7º).