PADRÕES DE ATIVIDADES DE UM GRUPO DE BUGIOS (Alouatta clamitans) NO PARQUE ESTADUAL MATA SÃO FRANCISCO, NORTE DO PARANÁ



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Transcrição:

PADRÕES DE ATIVIDADES DE UM GRUPO DE BUGIOS (Alouatta clamitans) NO PARQUE ESTADUAL MATA SÃO FRANCISCO, NORTE DO PARANÁ Paula Guarini Marcelino¹, Carolina Guarini Marcelino¹, Nelson Gumiero Porfirio Neto¹, Ana Laura Machado Módolo¹, Ana Cecília Hoffmann Inocente (Orientadora) ¹, email: paulagmarcelino@hotmail.com. ¹Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel, Bandeirantes, Paraná Ciências Biológicas, Zoologia- Comportamento Animal/ Ecologia Palavras-chave: padrões comportamentais, estrutura sexo-etária, dieta. Resumo O estudo foi realizado com um grupo de bugios-ruivo de vida livre no Parque Estadual Mata São Francisco (PEMSF), com 832,58ha com o objetivo de determinar os padrões de comportamento de um grupo de Alouatta clamitans (Cabrera, 1940) de acordo com a estrutura sexo-etária, e análise dos itens alimentares da espécie. O local está situado entre os municípios de Santa Mariana e Cornélio Procópio, no Paraná. As amostragens ocorreram de março a setembro de 2014 com intervalos de 15 dias, e dois dias consecutivos a cada visita. Foram contabilizados 29h e 30min de observações visuais do bando, distribuídas em 15 dias de amostragens; com 7 dias de observação direta e 8 dias de observação indireta. Houve um período de habituação dos animais com a presença dos pesquisadores. O trabalho foi realizado com um grupo de A. clamitans, onde o grupo era visualizado através da vocalização ou busca ativa do bando pelas trilhas. Os comportamentos destacados foram descanso, com altas frequências nos indivíduos juvenis e machos, seguido da locomoção com destaque do filhote e do macho alfa, e a fêmea foi observada em sua maior parte na socialização com os filhotes ainda pequenos. Durante o período de estudo, a temperatura esteve relacionada positivamente com a locomoção do bando. Foram identificadas nove espécies arbóreas utilizadas como recurso pelo o grupo, para descanso ou alimentação, por identificação das sementes nas fezes coletas e registro fotográfico. Introdução Os primatas são animais que possuem elo social entre a mãe e sua prole, diferente de outras ordens de mamíferos, de modo que a sobrevivência do infante primata é completamente dependente do cuidado provido por membros de seu grupo social, particularmente do cuidado materno (NAVARRO et al., 2011), a qual dessa maneira ocupa a maior parte do seu tempo em cuidado com os filhotes. Já o infante observando e interagindo com a mãe, aprende o que comer, o que temer, onde caminhar, dormir, beber, e as interações sociais como brincadeira, catação, agressões são observadas com menor frequência no gênero Alouatta quando comparado com outros primatas (NAVARRO et al., 2011). As espécies do gênero Alouatta são sociais e formam grupos que podem variar muito entre as espécies e menos intraespecificamente (MIRANDA e PASSOS, 2004). Esses animais possuem comportamentos que determinam uma hierarquia dentro do bando, como condutas de vocalizar e vigiar, ao contrário da catação que revela a relação de dominância entre os indivíduos, de modo que

hierarquia e dominância agem juntas na estrutura e estabilidade social de bandos (DALMASO e CODENOTTI, 2010). Assim é necessário entender a hierarquia que existe dentro do bando de bugios- ruivo, através de análises comportamentais e de interações ecológicas com a flora presente no local, em destaque a espécie Alouatta clamitans que atua como dispersor de sementes no Parque Estadual Mata São Francisco (PEMSF). Desse modo o presente estudo teve como objetivo determinar os padrões de comportamento de um grupo de A. clamitans, de acordo com a estrutura sexo-etária, e análise dos itens alimentares da espécie. Material e métodos A coleta foi realizada no Parque Estadual Mata São Francisco (PEMSF), com 832,58ha ocupando as coordenadas 23º08 60 S/ 50º34 24 O. O local está situado entre os municípios de Santa Mariana e Cornélio Procópio, no Paraná. Os dados foram coletados entre os meses de março a setembro de 2014, quinzenalmente com dois dias de amostragens consecutivos. As observações foram realizadas no período matutino e vespertino, das 09:00h às 16:00h. Foram realizadas amostragens dos principais comportamentos de Alouatta clamitans, com um grupo composto por um macho alfa, duas fêmeas, quatro juvenis e dois filhotes, através do método de amostragem por scan instantâneo adaptado de Altmann (1974). As sessões de observação foram realizadas a cada três minutos, e com intervalos de cinco minutos entre cada sessão, para quantificação dos repertórios das atividades. Os comportamentos foram registrados em planilhas conforme a frequência das principais atividades de acordo com a estrutura sexo-etária. As atividades foram registradas com auxílio de câmera fotográfica, binóculo, GPS e caderno de anotações. O levantamento das temperaturas médias local utilizadas para confecção do gráfico dos dias de amostragem direta, foi feito através da ESTAÇÃO AGROMETEOROLÓGICA DE BANDEIRANTES- PR. Para a localização do grupo de bugios na área de estudo, foi constituído um sistema de trilhas conforme a frequência de encontro na mesma área, principalmente nos locais que englobam a maior parte das áreas de descanso do bando. Os animais foram localizados por sinais auditivos, visuais e olfativos, com a abertura de cinco trilhas. A observação dos animais se dava na espera da vocalização do bando, em um ponto fixo entre as duas pontes do Parque, assim, se não houvesse vocalização no período da manhã as trilhas eram percorridas aleatoriamente, por busca ativa. O repertório comportamental foi selecionado quanto a descanso, alimentação, locomoção, socialização e outras atividades eventualmente presentes. As espécies arbóreas utilizadas pelos animais como recursos alimentares e para descanso, foram identificadas através de literatura comparando o material encontrado nas coletas de fezes e na coleta de frutos. Resultados e Discussão Foram contabilizados 29h e 30min de observações visual do bando, distribuídas em 15 dias de amostragens, com 7 dias de observação direta e 8 dias de observação indireta não contabilizadas como a adaptação do bando com o pesquisador (as sessões de como ocorreu as observações já estão citadas no material e métodos, esse é resultado), sinais auditivos pela vocalização, e sinais olfativos com coleta de fezes para análise dos recursos alimentares. Houve uma grande dificuldade na visualização do bando, por se encontrarem em estratos mais altos nas espécies arbóreas e dificuldade de deslocamento em determinados locais, pela alta quantidade de bambus no parque devido a alta incidência de luz. As coletas aconteceram entre os meses de março à setembro de 2014, totalizando 1435 registros comportamentais analisados. Os comportamentos mais evidentes dentre os observados, foram descanso e locomoção, seguido de outras atividades, socialização e alimentação na Tabela I.

Os comportamentos evidentes foram descanso com uma média de 68%, seguido de locomoção com uma média de 26% do total do tempo utilizado pelos bugios durante o período de estudo. O descanso foi predominante, pelo baixo metabolismo da espécie onde na maior parte do tempo permanecem nesta categoria. O indivíduo juvenil foi o que gastou a maior parte do tempo em descanso, sendo observado apenas do lado de outros juvenis, exercendo pouca função dentro da hierarquia do grupo. O macho alfa, também se destacou na atividade descanso, pois permaneceu em cuidado do bando e o filhote apresentou a menor porcentagem do descanso. O mesmo foi visto por MUHLE e BICCA- MARQUES (2008) que o tempo dedicado ao descanso é maior nos indivíduos adultos e juvenis do bando, se comparado aos filhotes com maiores taxas de locomoção, devido a socialização com outros indivíduos em seus primeiros aprendizados. Na atividade de alimentação, foram utilizados os recursos folha, fruto e flor, e esta não durava mais do que quatro observações diretas. Nesta atividade o macho alfa obteve a maior porcentagem de alimentação, e na maioria das vezes era o indivíduo que iniciava a locomoção para forrageio e assim a alimentação, e somente após isso os outros indivíduos iniciavam o comportamento. MIRANDA (2009) registrou resultados semelhantes estudando Alouatta caraya onde os machos foram os principais iniciadores das categorias comportamentais analisadas, indicando uma função na proteção do grupo. O recurso folha foi o de maior visualização sendo utilizado pelos indivíduos do grupo, seguido de frutos e flores. KOCH (2008) verificou que o tempo dedicado a flores e frutos é menor quando comparado ao tempo do consumo de folhas, pois o consumo de frutos e flores disponibilizam mais energia e nutrientes, o que permitem que as animais atinjam suas necessidades nutricionais mais rapidamente, do que o consumo de grandes quantidades de folhas. Na locomoção o indivíduo que apresentou a maior porcentagem foi o macho alfa por iniciar as atividades. A atividade de locomoção ocorreu em sua maioria de maneira curta, quando em uma mesma árvore e longa quando ocorria o deslocamento total do bando para outras árvores. Essa atividade ocorreu em maior porcentagem com relação ao aumento de temperaturas e disponibilidade de recursos alimentares. KOCH (2008) em seu estudo de dieta e comportamento de bugios apresentou resultados semelhantes, de modo que o tempo dedicado ao percurso diário dos animais foram influenciados pela composição e disponibilidade da dieta. A socialização em sua maioria aconteceu entre o filhote e a fêmea, de modo que não foi observada socialização direta dessas com outros indivíduos, pois os filhotes eram pequenos e necessitavam de seus cuidados. Essa os observava em seus curtos deslocamentos e brincadeiras com outros filhotes, que na maioria do tempo estes permaneciam em suas costas mesmo parada ou em deslocamento. Segundo DALMASO e CODENOTTI (2010), com um estudo de comportamentos de hierarquia e dominância de bugios-ruivos a presença de infantes causa uma variação nas taxas de relacionamento entre a fêmea e o macho alfa, pelo tempo dedicado desta à prole. Outras atividades foram observadas de maneira aleatória durante o período de amostragem, com uma porcentagem alta de fêmeas com os filhotes nas costas, parada ou em locomoção. Com

Frequência de locomoção menor frequência se deu a vocalização dos machos, no mesmo grupo ou entres grupos, que aconteceram na sua maioria no período da manhã, e em temperaturas mais baixas essas ocorriam no meio do dia e no período da tarde. Já os comportamentos associados às necessidades fisiológicas, heterocatação e autocatação foram observados de maneira eventual durante o período de estudo. Durante o período de estudo, as temperaturas médias mais baixas (16ºC), os indivíduos apresentaram menor locomoção, já nas temperaturas médias mais altas (21ºC), houve uma maior locomoção do bando (Figura 1). MUHLE e BICCA-MARQUES (2008) relatam que possivelmente há uma zona termoneutra entre 1ºC e aproximadamente 20ºC, a partir disso há um aumento das atividades, por maior troca de calor com o meio, principalmente pelo forrageio. 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 19,1º 19,1º 21,8º 16,9º 19,6º 21,0º 21,2º 25 20 15 10 5 0 31 de maio 18 de junho 05 de julho 11 de julho 10 de agosto 30 de agosto 14 de setembro Filhote Juvenil Fêmea Macho Temperatura média Data das amostragens Figura 1- Gráfico comparativo entre a frequência de locomoção na estrutura sexo-etária de um grupo de Alouatta clamitans, com as temperaturas médias dos dias amostrados no Parque Estadual Mata São Francisco, entre os municípios de Santa Mariana e Cornélio Procópio-PR, de março à setembro de 2014. Durante o mês de agosto houve início do aumento das temperaturas, já o mês de setembro com o aparecimento de flores, frutos e folhas novas, fez com que o bando se deslocasse de seus pontos fixos de descanso com aumento de suas atividades, e o aumento do forrageamento. Na alimentação as dietas foram analisadas e classificadas em diferentes tipos de recursos alimentares utilizados pelo grupo de bugios, como folha, fruto e flor. Foram levantadas nove espécies arbóreas utilizadas pelo grupo de bugios, e distinguidos de acordo com o uso para descanso e alimentação. As espécies mais utilizadas foram Aspidosperma polyneuron, Pereskia aculeata, Piptadenia gonoacantha, Ficus guaranitica, Pisonia aculeata e Chrysophyllum gonocarpum. A espécie A. polyneuron foi utilizada para descanso do grupo. A espécie P. gonoacantha para alimentação do recurso folha e descanso. A espécie F. guaranitica utilizada para descanso e alimentação dos frutos, em observação direta e identificação de suas sementes nas fezes dos animais. A espécie Pisonia aculeata foi utilizada para alimentação através do seu recurso flor em observação direta. Foi observada a época de floração da espécie C.gonocarpum através da identificação das sementes dos frutos nas fezes dos animais Já a espécie Pereskia aculeata foi utilizada para alimentação do recurso fruto, através da visualização direta e identificação das sementes dos frutos nas fezes dos animais. Esta pertence à família cactácea, uma trepadeira comestível utilizada em locais com alta desnutrição humana, foi utilizada pelos animais para alimentação, de modo que atinjam um balanço adequado de energia e nutrientes mais rapidamente, do que comparado a uma grande demanda de consumo de folhas. Dentre as espécies arbóreas identificadas houve destaque de três delas, Aspidosperma polyneuron, F. guaranitica, P. gonoacantha pelo alto número de indivíduos presente presentes no Parque Estadual Mata São Francisco. O tempo curto de estudo, dificultou a observação de outros comportamentos, de maneira a observar um número restrito de recursos alimentares utilizados pelo bando. Ainda houve dias com alta precipitação, ocasionando quedas bruscas de grandes árvores que foi o fator influente para que o bando se deslocasse longe dos transectos demarcados. Faz-se necessário novos estudos, não apenas da espécie em questão, mas de toda a composição da flora e fauna presentes no Parque Estadual Mata São Francisco, por se tratar de um ambiente que abriga diferentes tipos de espécies, com diferentes interações ecológicas entre si e que são importantes para a manutenção do fragmento tais como os dispersores.

Conclusões Através dos padrões comportamentais de primatas, se entende a função de cada indivíduo e a hierarquia que existe dentro do bando, principalmente quando comparado dentro da estrutura sexo-etária. Os dados apresentados nesse estudo demonstram a importância da identificação das atividades comportamentais e de interações com a flora presente no local, em destaque a espécie Alouatta clamitans, sendo de grande valia para a ecologia local e conservação da espécie no fragmento. O comportamento mais evidente foi descanso com uma média de 68% durante o período do estudo, devido ao baixo metabolismo da espécie onde na maior parte do tempo permanecem nesta categoria. As espécies arbóreas mais utilizadas pelo grupo foram Aspidosperma polyneuron, Ficus guaranitica e Piptadenia gonoacantha pelo alto número de indivíduos presentes no fragmento. Conclui-se a importância de analisar os hábitos alimentares desse primata, sobretudo pelo grande potencial como dispersor de sementes e um elemento importante na regeneração de ambientes degradados ou fragmentados, como o Parque Estadual Mata São Francisco (PEMSF). Referências ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behavior, 1974. DALMASO, A. C. e CODENOTTI, T. L. Comportamentos de hierarquia e dominância em grupos de bugios-ruivos, Alouatta guariba clamitans (Cabrera, 1940), em cativeiro. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2010. ESTAÇÃO AGROMETEOROLÓGICA DE BANDEIRANTES- PR. Núcleo de Estudos de Agroecologia e Território. Universidade Estadual do Norte do Paraná, Bandeirantes, PR, 2014. KOCH, F. Dieta e comportamento de um grupo de Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940: uma relação de causa e efeito? Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Alegre, RS, 2008. MIRANDA, J. M. D. Comportamentos sociais, relações de dominância e confrontos inter-grupais em Alouatta caraya (Humboldt, 1812) na Ilha Mutum, Alto Rio Paraná. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2009. MIRANDA, J. e PASSOS, C. Composição e dinâmica de grupos de Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940 (Primates, Atelidae) em Floresta Ombrófila Mista no Estado do Paraná, Brasil. Universidade Federal do Paraná, Departamento de Zoologia, Curitiba, PR, 2004. MUHLE, C. B e BICCA-MARQUES, J. C. Estratégias adaptativas de um grupo de bugios-pretos, Alouatta caraya (Humboldt, 1812), em um bosque dominado por eucaliptos. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Biociências, Porto Alegre, PR, 2008. NAVARRO, F. K. S. P.; NAVARRO, R. D.; PEREIRA, V. S.; RODRIGUES, F. H. G. Interação com os pais e o uso do espaço por um infante de Alouatta fusca (Geoffroy Saint-Hilaire, 1812) em cativeiro. Universidade de Brasília, Instituto de Biologia, Brasília, DF, 2011.