Apoio a processos de constituição de Redes de Economia Solidária. Desafios para o trabalho de incubação universitária



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Transcrição:

Apoio a processos de constituição de Redes de Economia Solidária. Desafios para o trabalho de incubação universitária Ana Mercedes Sarria Icaza Pedro de Almeida Costa Fábio Bittencourt Meira 1 RESUMO O presente trabalho apresenta um Programa de Extensão Universitária orientado ao apoio de processos de construção de redes de economia solidária, trazendo uma reflexão sobre as concepções que fundamentam esta perspectiva e os desafios que se colocam para o trabalho de incubação. A proposta tem como base os desafios identificados no trabalho que vem sendo realizado junto a empreendimentos de economia solidária, a partir de três questões fundamentais: (1) a pertinência e potencial dessas experiências enquanto opção de organização social e econômica e, ao mesmo tempo, suas profundas dificuldades, que demandam a estruturação de processos e políticas mais amplos, como redes sócio-produtivas e/ou territoriais; (2) a inadequação dos conhecimentos, metodologias e instrumentos disponíveis na Universidade e a necessidade de avançar na sua construção, em processos integrados de ensino-pesquisa-extensão de caráter interdisciplinar e participativo; (3) a necessidade de articulação com as dinâmicas de organização social e as políticas públicas em andamento. O programa, desenvolvido pelo Núcleo de Gestão Alternativa NEGA, enfatiza a articulação dos empreendimentos em redes e cadeias produtivas, especialmente no que tange a produção de tecnologias sociais de gestão, aspecto sobre o qual se apresentam frequentes demandas a docentes da linha de formação de Administração Pública e Social. O eixo central é o apoio a processos de construção de redes de cooperação solidária e seu principal desafio é o desenvolvimento compartilhado e a disseminação de tecnologias sociais indutoras de redes solidárias de cooperação orientadas tanto a segmentos produtivos (artesanato, alimentação, reciclagem etc.) quanto à organização territorial e comunitária. Discussão teórica: Economia Solidária, território e organização em rede A Economia Solidária compreende uma pluralidade de experiências econômicas em variadas formas de organização: cooperativas, associações, grupos formais, informais, etc. (BRASIL, 2007). Essas experiências combinam saberes práticos e populares (CORAGGIO, 2000), constituindo espaços privilegiados para o exercício de construção de novos princípios de organização social (CAMP, 2002). Aproximam-se da dinâmica dos movimentos sociais porque tendem a inverter a 1 Professores e pesquisadores da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, situada em Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Junto,s formam o NEGA Núcleo de Estudos em Gestão Alternativa, preocupado em desenvolver ações de ensino, pesquisa e extensão que dêem visibilidade a experiências sociais contra hegemônicas que demandem modos alternativos de gestão.

lógica de subordinação da organização social à ordem econômica 2003). (CATTANI, A Economia Solidária tem papel fundamental no avanço de novos paradigmas e práticas de desenvolvimento econômico sustentável no contexto dos territórios (BRASIL, 2012). Há aqui uma concepção específica de território inspirada na obra do geógrafo brasileiro Milton Santos (SOUZA, 2005). Território é uma categoria definida pela dinâmica local em que as... solidariedades definem usos e geram valores de múltiplas naturezas: culturais, antropológicos, econômicos, sociais, financeiros, para citar alguns. Mas as solidariedades pressupõem coexistências, logo pressupõem o espaço geográfico... (SOUZA, 2005, p. 253). Para a gestão, este conceito geográfico é fundamental para que as práticas sociais sejam adequadamente contextualizadas: o território é constituído pelo conjunto indissociável de um substrato físico, natural ou artificial, isto é reflete o imbricamento de uma base técnica com práticas sociais, uma combinação de técnica e política (SANTOS apud GOULART, 2006, p. 5). É nesse sentido que a gestão dos Empreendimentos Econômicos Solidários - EES deve ser compreendida, por isso, seu fortalecimento requer o enfrentamento de desafios técnicos e políticos. Na avaliação da SENAES, constata-se que, isoladamente, os EES vivem uma situação de dependência e subordinação política, tecnológica e econômica. Mesmo quando há integração produtiva dos empreendimentos, na maioria dos casos é subordinada; os vínculos se dão com base em hierarquia comandada por empresas de grande porte, cuja força de mercado é utilizada para subordinar negócios menores, com extensas redes de subcontratações. (BRASIL 2012). Ao mesmo tempo, conforme a SENAES, as políticas públicas são ineficazes para reverter esta fragilidade, por seu caráter pulverizado e fragmentado (BRASIL 2012). A superação da subordinação e subalternidade depende, portanto, de uma estratégia de organização e fortalecimento de redes de cooperação solidária, enquanto uma forma de organização territorial e/ou setorial dos EES... (BRASIL 2012). Nesse sentido, o incentivo à formação de redes solidárias de cooperação seria o meio eficaz de superar a dependência política, tecnológica e econômica. Admitindo-se as limitações das políticas publicas na indução de práticas de organização, o trabalho de formação, capacitação e desenvolvimento de tecnologias sociais de gestão junto aos EES ganha dimensão estratégica. É preciso incentivar dinâmicas endógenas aos EES que potencializem a emancipação, dando-lhes condições de saída da atual situação de dependência. A organização em rede suscita intenso debate teórico. A perspectiva economicista, sobretudo aquela fundamentada na teoria dos custos de transação, simplifica exageradamente o fenômeno, não é capaz de captar a complexa realidade das trocas e desconsidera as relações de reciprocidade e colaboração (LOPES; BALDI, 2009). Neste programa enfatiza-se a comunicação e os padrões horizontais de troca. O conceito de organização em rede... abarca uma ampla ariedade de arranjos colaborativos e distingue-se... daqueles relacionamentos que são

cooperativos, mas em que cooperação é comprada, como nos relacionamentos comprador-fornecedor, ou em que ele está baseado na invocação de autoridades... (HARDY, LAWRENCE, GRANT apud LOPES, BALDI, 2009, p. 1024). Nesta perspectiva, as possíveis relações comerciais entre integrantes de uma rede não devem ser confundidas com relações de cooperação entre eles. De fato, uma rede pode ser constituída e manifestar diferentes padrões de troca, desde aqueles baseados no mercado, passando pelo intercâmbio não mercantil fundado no princípio da redistribuição, e também na economia não monetária baseada na reciprocidade (FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004). Enfim, as redes são multifacetadas porque conectam e sobrepõem diferentes modos do acontecer econômico no território. O papel da Universidade e os desafios para a incubação Programas de inclusão social demandam conhecimentos específicos, o papel da Universidade é produzir este conhecimento. O desafio é, portanto, nada menos que reinvertar a instituição, habilitá-la a incorporar práticas e metodologias estranhas aos cânones da produção científica hegemônica. A extensão universitária tem papel estratégico nessa transformação. Não por acaso, as Diretrizes Nacionais apontam o desafio de exercitar o papel transformador da extensão... com todos os outros setores da sociedade, no sentido da mudança social, de superação das desigualdades, eliminando nesse exercício ações meramente reprodutoras do status quo. (FORPROEX, 2012, p. 61). No campo da economia solidária, destaca-se o trabalho das incubadoras universitárias. Operando no âmbito da extensão, a partir de métodos dialógicos, processos e abordagens interdisciplinares, o trabalho das incubadoras incide exatamente sobre o desafio apontado nas Diretrizes Nacionais. A transformação da Universidade é, portanto, a outra face do trabalho das incubadoras. A efetividade da transformação depende de uma relação simbiótica entre os elos Universidade, incubadoras e EES transformam-se uns aos outros. Nesse sentido, boas práticas de extensão representam um combate à inadequação dos conhecimentos, metodologias e instrumentos disponíveis na Universidade. Está posto o desafio de avançar neste âmbito, por meio de processos democráticos participativos que integrem ensino, pesquisa e extensão. É nesta perspectiva que se apresenta a metodologia de trabalho do programa, a qual pretende avançar para além do tradicional acompanhamento de grupos e empreendimentos de Economia Solidária (EES) que, a despeito de ter relevância social inquestionável, subutiliza o potencial de contribuição da academia para o desenvolvimento tanto teórico quanto prático desse movimento. Neste sentido, a proposta é realizar ações que: i) envolvam além das experiências de economia solidária, uma abordagem de território e de redes, dentro dos parâmetros descritos no referencial teórico do projeto, com a intenção de ampliar escopo e escala do diálogo a ser proposto pela Universidade;

ii) no âmbito das experiências e redes, se trabalhe pela construção conjunta de tecnologias sociais que se materializem como ferramentas de gestão e de qualificação técnica dos produtos e serviços com que se trabalha; e iii) se aproximem das políticas públicas de combate à pobreza extrema, construindo possibilidades de geração de trabalho e renda a partir da proposta da economia solidária e com todas as implicações nas dinâmicas de desenvolvimento local. Contudo, o maior resultado esperado é a produção de tecnologias sociais materializadas como ferramentas de gestão apropriadas a experiências e redes de economia solidária. Este último formato constitui o principal desafio teóricometodológico do projeto aqui apresentado, na medida que ainda há uma discussão incipiente tanto do ponto de vista acadêmico, como das políticas públicas e das próprias experiências nacionais, e esperamos que o seminário final proposto para o projeto sirva como marco de uma reflexão que até lá deverá ter avançado de modo significativo. Referências Bibliográficas BRASIL. Atlas da Economia Solidária no Brasil 2007. Brasília: MTE, SENAES, 2008. Disponível em http://www.mte.gov.br/sistemas/atlases Acesso 20/12/2012. BRASIL. Secretaria Nacional de Economia Solidária / Ministério do Trabalho e Emprego. Edital de Chamada Pública SENAES/MTE n.º 004/2012. Brasília: MTE, SENAES, 2012. CAMP - Centro de Assessoria Multiprofissional. Economia popular solidária: pesquisa-ação. Porto Alegre, CAMP, 2001 CATTANI, A. D. (org.). A outra economia. Porto Alegre, Veraz editores, 2003. CORAGGIO, J. L.. Da economia dos setores populares à economia do trabalho. In: KRAYCHETE, G.; LARA, F.; COSTA, B. Economia dos setores populares: entre a realidade e a utopia. Petrópolis: Vozes, 2000. COSTA, P. A.. Procurando desvendar uma nova lógica de trabalho: um relato de três oficinas de gestão para empreendimentos de economia solidária. In: XXVII Encontro Anual da ANPAD, Atibaia, SP. [Anais...] Rio de Janeiro: ANPAD 2003. DAGNINO, R. Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: Komedi, 2010. FRANÇA FILHO, G C.; LAVILLE, J-L. Economia Solidária: uma abordagem internacional. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2004. FORPROEX Fórum de Pró-Reitores de Extensão das IES Públicas Brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária. Aprovada no XXXI Encontro Nacional, Manaus AM. Porto Alegre: UFRGS/PROEXT, 2012. FREIRE, P. Extensão ou comunicação. São Paulo: Paz e Terra, 1983.

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