CARACTERIZAÇÃO DA MANGA ORGÂNICA CULTIVAR UBÁ



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Transcrição:

ISSN 1517-8595 CARACTERIZAÇÃO DA MANGA ORGÂNICA CULTIVAR UBÁ Aurélia Santos Faraoni1, Afonso Mota Ramos2, Paulo César Stringheta3 RESUMO A caracterização da manga orgânica in natura é necessária para fornecer informações sobre a sua composição química, física, físico-química e nutricional. Este trabalho teve como objetivo avaliar as características físico-químicas e nutricionais da manga orgânica in natura, cultivar Ubá. As mangas foram provenientes do Estado de Minas Gerais da região da Zona da Mata na safra 2004/2005, e certificada pelo Instituto Biodinâmico de Botucatu. Ao final do experimento as características apresentaram os seguintes valores: 143,8 g para peso do fruto; 5,7 cm para dimensão transversal; 7,5 cm para dimensão longitudinal; 79,8% de umidade (base úmida); 19,3 obrix; 0,40 % de ácido cítrico; 48,2 para Ratio ; ph=4,3; 0,93 de atividade de água; 0,74% de cinzas (base úmida) ; 5,0, 10,5, 5,5 para açucares redutores, totais e não-redutores (% glicose), respectivamente; 100,40 mg de vitamina C / 100g de polpa; 4,40 mg de carotenóides/100g de polpa (expresso em -caroteno). Esses valores encontram-se próximos dos obtidos por diversos pesquisadores para manga convencional Ubá. Palavras-chave: Mangífera indica L., vitamina C, composição físico-química e nutricional CHARACTERIZATION OF THE ORGANIC MANGO CULTIVATE UBÁ ABSTRACT The characterization of the organic mango "in natura" is necessary to supply information on its chemical, physic, physic-chemistry and nutricional composition. The objective of this work was to evaluate the physic-chemistries and nutricionais characteristics of the organic mango "in natura", cultivate Ubá. The mangos were from Minas Gerais State, from Zona da Mata area in the crop 2004/2005, and certified for the Instituto Biodinâmico de Botucatu. At the end of the experiment the characteristics presented the following values: 143,8 g for weight of the fruit; 5,7 cm for traverse dimension; 7,5 cm for longitudinal dimension; 79,8% of humidity (humid base); 19,3 ºBrix; 0,40% of citric acid; 48,2 for Ratio; ph=4,3; 0,93 of activity of water; 0,74% of ashes (humid base); 5,0, 10,5, 5,5 for reducer sugars, total and no-reducer (% glucose), respectively; 100,40 mg of vitamin C / 100g of pulp; 4,40 mg of carothenoyds/100g of pulp (expresses in -carotene). These values are close of the obtained by several researchers for conventional mango Ubá. Keywords: Mangífera indica L., vitamin C, composition physic-chemistry and nutritional Protocolo 1107 de 20/05/2008 1 Farmacêutica Industrial. M.S. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Departamento de Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. E-mail: faraoniaurelia@yahoo.com.br, telefone(31) 3899-1849 2 Engenheiro de Alimento. M.S. Engenharia Agrícola. D.S. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Professor Associado do Departamento de Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. E-mail: amramos@ufv.br, telefone(31) 3899-1849 3 Engenheiro Agrônomo. M.S. Ciência e Tecnologia de Alimentos. D.S. Ciência de Alimentos. Professor Titular do Departamento de Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. E-mail: stringap@ufv.br 9

10 INTRODUÇÃO Originária do Sudoeste Asiático, a mangueira (Mangifera indica L) disseminou-se para várias regiões do mundo. A manga destaca-se como uma fruta de alto valor comercial em muitas regiões, principalmente nas tropicais e é a quarta fruta dos trópicos a alcançar o mercado internacional, depois da banana, do abacaxi e do abacate (Todafruta, 2005). A manga é uma fruta tropical de grande aceitação pelos consumidores, por causa de suas características exóticas e composição nutricional. As principais variedades cultivadas no Brasil em áreas comerciais são: Tommy Atkins, em maior quantidade, Haden, Keitt, Van Dyke, Rosa, Ubá, entre outras. A variedade Ubá é bastante conhecida em algumas regiões do Brasil, sobretudo no Estado de Minas Gerais. É uma planta muito vigorosa, de porte elevado, podendo atingir mais de 10 m de altura; possui copa arredondada, densa e bem enfolhada. É muito produtiva, podendo render, anualmente, mais de mil frutos por planta (Donadio, 1996). Caracteriza-se por apresentar frutos pequenos, polpa macia, firme, doce e fibras curtas e macias, com formato oblongo, apresentando em média 6,1 cm de maior comprimento transversal e 8,4 cm de comprimento longitudinal, possuindo o peso médio de 126 g e, quando madura, a casca toma a coloração amarelo-claro e a polpa amareloouro (Filho, 1980). É indicada tanto para consumo in natura, quanto para a industrialização. Uma das vantagens de sua industrialização é a manutenção da coloração amarelo-claro e do aroma após o processamento A caracterização da manga orgânica in natura é necessária para fornecer informações sobre a sua composição química, física, físicoquímica e nutricional, e posterior comparação de tais informações com a manga convencional, além disso, depois da manga processada poder relacionar tais características com a qualidade do produto final. De acordo com a Lei Nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, considera-se produto orgânico ou produto da agricultura orgânica, seja ele in natura ou processado, aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. O sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente (Brasil, 2003). Com relação a produtos orgânicos o Brasil atualmente ocupa a trigésima quarta posição no ranking dos países exportadores. O crescimento das vendas atinge, em média, 50 % por ano. Cerca de 70 % da produção brasileira encontrase no Paraná, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Espírito Santo (Agropecuário 28/02/2005). Os principais alimentos orgânicos produzidos no Brasil são representados pela soja que ganha com 31 % seguida de hortaliças (27 %) e café (25 %). A maior área plantada é com frutas (26 %), depois cana (23 %) e palmito (18 %) (Ambientebrasil, 2005). Em relação à manga, o volume da produção certificada como orgânica é inédito no Brasil. A manga orgânica já está sendo exportada para Holanda e Portugal com boa aceitação (Ambientebrasil, 2005). Este trabalho teve como objetivo avaliar as características físico-químicas, nutricionais e de coloração da manga orgânica in natura, cultivar Ubá. MATERIAL E MÉTODOS Para a realização do trabalho foram escolhidos 30 frutos, ao acaso, dos quais, depois das análises de peso do fruto e dimensões transversal e longitudinal, retirou-se a polpa para obtenção de uma amostra destinada às análises, realizadas em triplicatas. As mangas foram provenientes do Estado de Minas Gerais da região da Zona da Mata na safra 2004/2005, e certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu. Foram realizadas as seguintes análises: teor de umidade, conforme AOAC (1997); teor de sólidos solúveis totais (ºBrix), determinado por refratometria, utilizando-se um refratômetro modelo ATC-1E Hand Refractometer, marca Atago; acidez total titulável, realizada por titulação potenciométrica, segundo AOAC (1997); relação entre sólidos solúveis totais e

acidez total titulável (Ratio), determinada pela relação direta dos valores de sólidos solúveis e acidez titulável; ph, determinado diretamente nas amostras por potenciometria, utilizando-se um phmetro digimed DM-20, segundo AOAC (1997); atividade de água (Aw), determinada a 25º C por meio de um instrumento de marca Aqualab, modelo CX2; cinzas, conforme AOAC (1997); açúcares redutores, totais e nãoredutores, utilizando-se o método volumétrico de Eynon-Lane, segundo AOAC (1997); teor de vitamina C, através da titulação com o indicador 2, 6- diclorofenolindofenol, conforme AOAC (1997); o teor de carotenóides (expresso em -Caroteno), conforme procedimento descrito por Pereira (2002) e a coloração da 11 polpa foi determinada por colorimetria, utilizando-se um colorímetro de triestímulo Color Quest II, e o programa computacional software Universe da Hunterlab, Reston, VA, no sistema CIELAB com os parâmetros: L*, luminosidade; a*, contribuição do vermelho; e b*, contribuição do amarelo. As análises foram feitas nos laboratórios do Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA) da Universidade Federal de Viçosa- MG. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 estão representados os valores das propriedades físico-químicas, nutricionais e de coloração da manga in natura. Tabela 1- Características físico-químicas, nutricionais e de coloração da manga in natura orgânica variedade Ubá. Propriedades físico-químicas e nutricionais Média (DP)* Peso do fruto (g) 143,8 (22,50) Dimensão Transversal (cm) 5,7 (0,31) Dimensão Longitudinal (cm) 7,5 (0,45) Umidade (% base úmida) 79,8 (0,06) Sólidos solúveis totais (SST) o Brix 19,3 (0,094) Acidez total titulável (ATT) ( % de ácido cítrico) 0,40 (0,03) Relação SST/ATT (Ratio) 48,2 ph 4,3 (0,12) o Atividade de água (Aw) 25 C ± 0,5 ºC 0,93 (0,0084) Cinzas (% base úmida) 0,74 (0,36) Açúcares redutores (% glicose) 5,0 (0,62) Açúcares totais (% glicose) 10,5 (1,49) Açúcares não- redutores Vitamina C(mg/100 g de polpa) Carotenóides (mg/100 g de polpa) 5,5 100,40 (3,15) 4,40 (0,13) Coordenadas de cor L* 63,45 a* 19,83 b* *DP= Desvio padrão da amostra 52,88

12 Os valores encontrados neste trabalho foram comparados aos valores encontrados por pesquisadores para manga convencional Ubá. Os frutos analisados no presente trabalho possuíam valores de peso médio, dimensões (transversal e longitudinal) e teor de umidade (Tabela 1), próximo dos valores encontrados na literatura. Analisando frutos da mesma variedade, Gonçalves et al., (1998) encontraram peso médio de 143,15 g, dimensão transversal de 5,34 cm, dimensão longitudinal de 7,90 cm e 76,54 % de teor de umidade, enquanto os frutos estudados por Filho (1980) apresentaram em média 126 g de peso, 6,1cm de dimensão transversal e 8,4 de dimensão longitudinal. De acordo com a Agrofruit (2005), o peso da variedade Ubá varia entre 100 g a 150 g e segundo Chitarra e Chitarra (1990), as variações que ocorrem no teor de umidade podem ser decorrentes do suprimento de água oferecida à planta ou das condições climáticas da região de cultivo. O teor de sólidos solúveis (Tabela 1) foi superior ao teor encontrado por Gonçalves et al., (1998), que foi de 16,8 ºBrix, para a mesma variedade. De acordo com a literatura, o teor de sólidos solúveis na manga pode variar entre 6,65 a 20,6 ºBrix e serve como um indicador de doçura dos frutos. O valor médio para acidez titulável verificado por Gonçalves et al., (1998) foi de 0,54 % de ácido cítrico para a variedade Ubá, sendo superior ao valor encontrado nesse trabalho (Tabela 1). De acordo com Rodrigues (1977), a acidez da polpa da manga pode variar de 0,13 a 0,76 % de ácido cítrico. Segundo Thé et al., (2001) o sabor dos frutos é determinado, em grande parte, pelo balanço de ácidos e açúcares e avaliado pela relação entre sólidos solúveis e acidez titúlavel. O valor encontrado para a manga Ubá por Gonçalves et al., (1998) foi de 31,47, sendo inferior ao valor verificado nesse trabalho (Tabela 1). A determinação do ph e da acidez fornece dados valiosos na apreciação do estado de conservação de um produto alimentício. Os valores de ph observados por Gonçalves et al., (1998) para a variedade Ubá, foi de 4,20, sendo ligeiramente inferior ao valor verificado nesse trabalho (Tabela 1). O valor encontrado para atividade de água (Aw) foi igual ao valor verificado por Reis (2002) para a variedade Tommy Atkins. Em relação aos açúcares totais e redutores, os valores encontrados no presente trabalho (Tabela 1) foram superiores aos resultados verificados por Gonçalves et al., (1998) que foi de 7,53% e de 3,50%. Essa divergência nos valores pode ter ocorrido em virtude da diferença no estádio de maturação entre os frutos analisados neste trabalho com os analisados por Gonçalves et al., (1998), pois os teores de açúcares totais aumentam durante o amadurecimento. Os açúcares totais chegam a representar 60 % a 70 % dos sólidos solúveis e, com base nessa observação, constatou-se que o percentual de 54,4 %, encontrado nesse trabalho é relativamente baixo. Com relação aos açúcares redutores, tanto para a industrialização quanto para o consumo in natura é desejável uma maior porcentagem de açúcares redutores (glicose e frutose) em relação aos açúcares totais, pois estes conferem aos frutos um sabor doce, mais acentuado. O teor de vitamina C encontrado nesse trabalho (Tabela 1) foi inferior ao de Gonçalves et al., (1998) que foi de 182,55 mg/100 g de polpa e superior a 75,55 mg/100 g valor encontrado por Berniz (1984). A divergência entre os teores de vitamina C pode estar associada às diferenças nos estádios de maturação dos frutos, nas condições de cultivo, no clima e no tipo de solo da região. Cardello e Cardello (1998), analisando a correlação entre a atividade da ascorbato oxidase e o teor de vitamina C da manga Haden, verificaram que, durante o processo de amadurecimento da fruta, o teor de ácido ascórbico diminuíra consideravelmente, enquanto a atividade da ascorbato oxidase havia aumentado significativamente durante o mesmo período. Resultados semelhantes foram encontrados por Aina (1990) e Vinci (1995), que observaram a diminuição do acido ascórbico durante o amadurecimento de mangas de outras variedades. Quando se compara o teor de vitamina C da manga Ubá, encontrado neste trabalho, com o de outras mangas (Tabela 2), percebe-se que o cultivar Ubá possui o maior teor dessa vitamina. Já se comparando com outras frutas consideradas fontes, como por exemplo, acerola e goiaba, observa-se, também na Tabela 2, que o teor de vitamina C da manga Ubá é superior ao teor encontrado nas três variedades de goiaba, mas bastante inferior ao teor da acerola. Tabela 2-Teor de vitamina C de oito cultivar de manga, da acerola e de três variedade de goiaba.

Substancia Alimentar (composição centesimal) manga Haden* manga comum madura manga-bourbon manga-carlotinha manga-espada manga-favo-de mel manga-manguito manga-rosa madura acerola* goiaba branca goiaba amarela goiaba vermelha Fonte:Franco (1992) e * Taco(Unicamp) Com relação aos carotenóides totais o valor encontrado (Tabela 1) está próximo do valor verificado por Gonçalves et al., (1998) que estudando frutos da mesma variedade encontraram um valor de 4,44mg/100g de polpa. Os valores das coordenadas (L*, a*, b*) da escala de cor também foram determinados. A cor é um parâmetro importante na escolha e aceitação de um produto pelo consumidor. A coordenada L* mede a luminosidade que varia de preto (L=0) a branco (L =100); a coordenada a*, é medida em termos de intensidade de vermelho (+a) e verde (-a); já a coordenada b*, está relacionada com a intensidade de amarelo (+b) a azul (-b). Em relação à polpa da manga, verificaram-se valores positivos de a* e b* e estes valores devem-se aos carotenóides presentes na manga, principalmente -caroteno que possui uma coloração amarela. CONCLUSÃO Os valores das características apresentadas pela manga orgânica Ubá estão dentro da faixa obtida por pesquisadores para manga convencional Ubá. AGRADECIMENTOS Ao PRODETAB, pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aina, J.O. Physico-chemical changes in African mango (Irvingia gabonensis) during normal 13 Ácido Ascórbico (mg) 17,4 43 32,9 64,6 36,3 17 43 43 941,1 80,1 80,2 45,6 storage ripening. Food Chem. V. 36, n.3, p. 205-12, 1990. Agrofruitt. Manga Ubá. Disponível em: www.mangauba.com.br. Acesso em: 1 julho 2005 Agropecuário. Orgânicos na Alemanha. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte 28 de fevereiro 2005. Agropecuário, Giro agropecuário p.10 Ambientebrasil. Produtos Orgânicos. Disponível em: www.ambientebrasil.com.br. Acesso em 25 fevereiro 2005. AOAC - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS.Official methods of analysis of AOAC international. In Fruits juices. 16th edition,vol.ii, Maryland:AOACInternational,1997.p 37.123 Berniz, P.J. Avaliação industrial de variedades de manga (mangifera indica L.) para elaboração de néctar. 1984, 57p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)-Universidade Federal de Viçosa. Viçosa,1984. Brasil. Leis, Decretos, etc. Lei 10.831 de 23 de dezembro de 2003, do Ministério da Agricultura. Publicado no Diário Oficial da União de 24/12/2003, Seção 1, Página 8. [Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências]. Cardello, H.M.A.B.; Cardello,L. Teor de vitamina C, atividade de ascorbato oxidase e perfil sensorial de manga( Mangifera indica L.) var. Haden durante o amadurecimento. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v.18,n.2, Maio/Jul. 1998.

14 Chitarra, M.I.F.; Chitarra, A.B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras: ESAL/ FAEPE.1990. 293p. Donadio, L.C. Variedades brasileiras de manga. São Paulo. Fundação Editora da UNESP, 1996 b.74p Filho, O.S.A. Efeito da aplicação pós-colheita do benomyl, thiabendazol e hipoclorito na manga ubá. 1980, 61f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia). Escola Superior de Agricultura de Lavras. Lavras, 1980. Franco, G. Tabela de Composição Química dos Alimentos. 9ª edição. Atheneu. Rio de Janeiro. 1992 Gonçalves, N.B.; Carvalho, V.D.; Gonçalves, J.R.A.; Coelho, S.R.M.; Silva, T.G. Caracterização física e química dos frutos de cultivares de mangueira (Mangifera indica L.).Ciência e Agrotecnologia, Lavras,V.22, n.1 p.72-78, 1998. Pereira, A.S. Teores de carotenóides em cenoura (Daucus carota L.) e sua relação com a coloração das raízes. 2002. 128p. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)-Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, 2002. Reis, R.C. Avaliação dos atributos de qualidade envolvidos na desitratação de manga (Mangifera indica L) var. Tommy Atkins. 2002. 99p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, 2002. Rodrigues, J.A.S. Comportamento de dez variedade de mangas (Mangifera indica L) em Viçosa e Visconde do Rio Branco-MG. 1977. 35p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia)-Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, 1977. Taco Tabela Brasileira de Composição de Alimentos Versão 2. Disponível em: http://www.unicamp.br/nepa/taco. Acesso em 20 fevereiro de 2007. Thé, P. M. P.; Carvalho, V.D.; Abreu, C.M.P.; Nunes, R.P.; Pinto, N.A.V.D.. Efeito da temperatura de armazenamento e do estádio de maturação sobre a composição química do abacaxi cv. Smooth cayenne L.. Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001 Todafruta. Características da manga. Disponível em: www.todafruta.com.br.acesso em 26 fevereiro de 2005. Vinci, G.; Botre, F.; Mele, G.;Ruggieri, G. Ascorbic acid in exotic fruits: a liquid chromatographyc investigation. Food Chem. v.53, n.2, p.211-14, 1995.