A discussão da igualdade nas relações de gênero pelo curso de serviço social através do projeto de extensão unigênero Michelle Rabelo de Souza * Mirella Cristina Xavier Gomes da Silva Lauschner Resumo: O presente estudo tem como objetivo, abordar questões pertinentes sobre as relações de gênero no âmbito escolar através de minhas experiências adquiridas como coordenadora do projeto de extensão Unigênero e docente da IES Centro Universitário do Norte- Uninorte. O resultado da presente análise se deu através das atividades desenvolvidas pelo projeto de extensão Unigênero dentro de uma escola da rede pública de ensino fundamental e médio da cidade de Manaus. A presente pesquisa nos proporcionou conhecer a realidade das demandas apresentadas anteriormente aos pedagogos e gestor dessa escola do qual se sentiam impossibilitados de criar mecanismos de intervenção junto as mais diversas problemáticas dentre elas, no que tange as relações de gênero dentro da escola. Palavras-chaves: Serviço Social; Projeto Unigênero; Relações de Gênero. 1 A relevância da discussão da igualdade de gênero no âmbito escolar Sabemos que o gênero é um dos elementos que estruturam a identidade social e individual e que a preocupação com a desigualdade de sexo e gênero e, especialmente, com a desvalorização das representações do feminino, implica considerar múltiplos aspectos como: a desvantagem social, econômica e política, bem como as situações de opressão específica de gênero que ainda se abatem sobre as mulheres. A percepção da categoria gênero de análise nos remete à compreensão dos papéis sociais. Cada sociedade com suas características culturais e específicas apresenta uma gama de expectativas de comportamento para ambos os sexos, transmitidas à criança num processo de socialização, através dos pais e da cultura em geral. Segundo Chauí, nenhuma cultura lida com o sexo como um fato natural bruto, mas já o vive e compreende simbolicamente, dando-lhe sentidos, valores, criando normas, inter-ditos e permissões. A sexualidade envolve três grandes aspectos: o biológico, que é o sexo, o psicológico, que é a identidade e o social, que é o gênero. E este último aspecto que origina o conceito fundamental para se compreender e superar preconceitos posto que construído socialmente, é * Mestranda em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas- UFAM, Bolsista Capes, assistente social Pós-Graduada em Didática do Ensino Superior. Email: luzvida_1977@hotmail.com Assistente Social, mestra em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia. Assistente Social da Secretaria de Assistencia Social e Direitos Humanos. Email: mirellalauschner@yahoo.com.br 1
mutável, passível, então, de ser superado enquanto gerador de assimetrias que resultam nas desigualdades. Relações sociais são constituídas, entre outras, pelas relações de gênero. Gênero, então, é uma categoria cujo entendimento supõe: Formação da identidade masculina e feminina; Relações homem x mulher; Concepção cultural de masculino e feminino; Percepção do lugar ocupado na sociedade por homens e mulheres; Imagens produzidas e percebidas, de homens e mulheres; Seu desenvolvimento nas relações cotidianas; Sua presença constante nos meandros da política social. Ao estudar as questões de gênero, o curso de Serviço Social amplia seu referencial teórico e metodológico como resposta às novas demandas sociais que se apresentam como o papel de mulheres e homens no mundo atual e às políticas públicas voltadas para a questão de gênero. No que se refere no âmbito da educação (Carvalho e Pereira;2003), afirmam que é importante ressaltar que a problemática de gênero não se reduz às questões de acesso e às medidas de desempenho acadêmico na escola, mas sim com a educação e relações de gênero apreendidas na escola. Quando na atualidade observamos meninas e meninos que não se comportam como o esperado, quando meninas brigam corporalmente, quando a afetividade ocorre de forma homoerótica, muitos professores e gestores não sabem como lidar com estas novas formas de afetividade e disputa. A grande maioria dos educadores referem-se aos comportamentos violentos na escola como um fenômeno crescente e atribuem suas causas à família desestruturada, a violência doméstica, a violência no bairro e àquela mostrada na televisão. (Carvalho;2012). Conjugar esforços de ensino e extensão na área de gênero, na formação de alunos de Serviço Social, possibilita também o compromisso de ação junto a grupos excluídos, além da possibilidade de avançar em propostas metodológicas que privilegiam a investigação/ação/reflexão sobre as práticas exercidas, numa nova dimensão da intervenção. 2.0 Projeto Unigênero no curso de Serviço Social 2
O grupo Unigênero se constitui num campo de estágio para o Curso de Serviço Social, no entanto é aberto a inserção de acadêmicos provenientes de outros cursos que queiram acompanhar as atividades desenvolvidas pelo projeto, configurando-se também numa extensão do que é estudado, discutido, problematizado e aplicado em grupos comunitários e/ou escolar. Neste sentido, ao estendermos o conhecimento que adquirimos, efetivamos o tripé Ensino-Pesquisa-Extensão. Neste sentido, a prática do ensino-extensão propiciará uma contextualização e problematização dos conteúdos curriculares ministrados, dos métodos e técnicas de amostragem (levantamento de dados) e de práticas sociais fundadas no compromisso ético e político, superando a dicotomia entre teoria e prática no curso de Serviço Social. Essa articulação entre teoria e prática dar-se-á principalmente através de amplo debate (entre os pesquisadores e acadêmicos envolvidos) e a socialização de textos de diversos autores que perpassam o campo da educação, do gênero, da sexualidade, do Serviço Social a fim de fundamentar teoricamente as situações problemas que propiciem mudanças significativas. Baptista (2009) em sua obra A prática Profissional do Assistente Social, afirma que a prática social é uma categoria teórica que possibilita o conhecimento e a explicitação do processo pelo qual se constitui e se expressa o ser social, e da dinâmica da construção histórica do mundo humano-social. O grupo Unigênero possibilita a identificação das várias correntes historiográficas a partir do recorte dos estudos de gênero e a difusão deste conhecimento para diferentes comunidades, inclusive a escolar atuando de forma interdisciplinar em equipes multiprofissionais, proporcionando ao acadêmico, aquisição de competências e habilidades no campo do Serviço Social. 2 A prática docente no campo das relações de gênero e a supervisão dos acadêmicos em Serviço Social. No ano de 2012 fui convidada a coordenar o projeto de extensão Unigênero que naquele momento se encontrava sem supervisor acadêmico com formação em Serviço Social. O projeto Unigênero por ser interdisciplinar, tinha a participação de uma historiadora que é uma das fundadoras do projeto. Quando me apresentei as estagiárias do curso de Serviço Social, percebi que as discussões apresentadas pelo grupo, não continham nada que mencionasse 3
pratica profissional, pois durante alguns meses o projeto ficou com apenas a professora de História que apenas realizava leituras e discussões sobre gênero numa perspectiva histórica. Eu entendi que aquela atividade era bastante relevante, mas que para um acadêmico em Serviço Social, não era o suficiente já que ali, não se debatia prática profissional propriamente dita. Os alunos não praticavam nenhuma atividade interventiva e a partir desse momento, passamos a desenvolver as nossas atividades de forma mais frequente na Escola estadual Francisco de Albuquerque, localizada no entorno da Faculdade Uninorte. Infelizmente nós sabemos que as escolas públicas, não dispõem de espaços físicos apropriados para o bom desenvolvimento dessas praticas pedagógicas, sem contar que inicialmente éramos num total de 09 pessoas no grupo e tínhamos que dividir a sala com a pedagoga da escola. Por esta sala também passavam os professores que se dirigiam ate a sala dos professores. Era perceptível certo desconforto por parte dos pedagogos da escola que dividiam seus espaços de trabalho com o nosso grupo de estudos. Diante de inúmeras situações do qual envolviam os alunos, percebíamos uma grande dificuldade por parte do profissional da pedagogia em conseguir resolver ou atender de forma satisfatória as reivindicações, as solicitações dos alunos. Em alguns momentos chegamos a presenciar alunos do ensino médio, se reportando ao profissional de forma ate desrespeitosa. Diante das observações, do questionário aplicado, das atividades desenvolvidas junto aos alunos do ensino médio, conseguimos perceber que apenas 0,5% dos entrevistados já tinham ouvido algo sobre gênero. Na sua grande maioria, não havia um entendimento sobre o que é relações de gênero e muito menos sabiam que algumas brincadeiras assim chamada por eles, se configurava preconceito e discriminação contra a mulher e ao homossexual. No decorrer do período, conseguimos desenvolver várias atividades junto aos alunos da escola estadual como: palestras, jograis, dinâmicas de grupo e quando necessário atendimento individualizado. O projeto de extensão Unigênero, nos proporcionou experiências grandiosas e veio agregar valores ao curriculum de cada uma das acadêmicas que em 2012, participaram do IV EMFLOR Encontro de Mulheres da Floresta, que é um evento nacional que ocorre a cada dois anos nas dependências da Universidade Federal do amazonas- UFAM. Essas alunas obtiveram pela primeira vez o certificado de participação em um evento cientifico e uma publicação. Nessa ocasião, as mesmas participaram de palestras, minicursos e demais atividades oferecidas pelo Congresso. Entendemos que a prática da pesquisa, da busca pelo conhecimento, exterior as dependências da Faculdade, veio proporcionar a esse grupo de 4
acadêmicas uma maior possibilidade de compreensão sobre as relações de gênero na cidade de Manaus. Hoje a maioria ja formadas, estão desenvolvendo pesquisas na área das relações de gênero e mais especificamente no âmbito escolar. O projeto em parceria com o curso de comunicação social realizou um evento em comemoração ao dia Internacional da Mulher do qual contou com a participação de uma Doutoranda da Universidade Federal do Amazonas que vem pesquisando sobre o tráfico de Mulheres na Amazônia, a presença do cineasta Joel Zito e de uma vereadora. Essa atividade teve o propósito de discutirmos através do cinema a condição social, política e econômica da mulher na sociedade manauara. O referido evento contou com a participação de aproximadamente 280 alunos, ambos dos cursos de Serviço Social, Comunicação Social, Pedagogia e História. Apesar das mais diferentes práticas desenvolvidas pelo projeto de extensão Unigênero, ainda é possível observarmos que discutir as relações de gênero, seja ele no âmbito escolar, familiar, comunitário e acadêmico se faz bastante relevante para o fortalecimento não so do discurso, mas da efetivação dos direitos pela igualdade universal de gênero em nossa sociedade. 3 Considerações Finais O trabalho apresentado é resultado da pratica adquirida no projeto de extensão Unigênero da Faculdade UniNorte em Manaus. Quando assumi estar a frente desse novo desafio, logo imaginei que o nosso trabalho em equipe realizado, nos daria bons frutos. Infelizmente a escola é um espaço que contribui com a formação de novos valores na vida do adolescente, pois os mesmos passam por sérios conflitos familiares, buscando nos espaços escolares como local de refúgio dos seus problemas enfrentados com a família e ate com a comunidade. Infelizmente o Projeto foi extinto, pois um dos motivos para a não permanência do mesmo está vinculado a tal famosa frase de que o sistema capitalista é quem dita as ordens, propiciando um enfraquecimento na emancipação da sociedade já que as IES acumulam tarefas, atividades burocráticas aos seus docentes, mas não investem na mão de obra qualificada em prol de melhoria dos cursos em Serviço Social em Manaus, onde o curso se tornou uma das mercadorias mais procuradas da cidade no que se refere em acesso ao curso de nível superior. 5
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