A Educação Física no contexto escolar



Documentos relacionados
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM EM MANUAIS DIDÁTICOS DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL

PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO. Prof. Msc Milene Silva

1 Introdução. Lei Nº , de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PIBID ESPANHOL

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PROGRAMADAS: APROXIMAÇÃO DO ACADÊMICO DE PEDAGOGIA COM O PROFISSIONAL DO ENSINO

Pedagogia Estácio FAMAP

Faculdade Sagrada Família

OS SABERES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA. Cleber Luiz da Cunha 1, Tereza de Jesus Ferreira Scheide 2

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DOS GRADUANDOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

DEPOIMENTOS EGRESSOS PEDAGOGIA - URI

Estágio Supervisionado Educação Básica - Matemática

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA UMA PRÁTICA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA INOVADORA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO ESPECIAL: uma experiência de inclusão

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

MANUAL DO PROGRAMA DE ESTAGIO SUPERVISIONADO CAMPUS COLINAS DO TOCANTINS-TO

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN

RESULTADOS E EFEITOS DO PRODOCÊNCIA PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS RESUMO

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

O papel e a importância do Coordenador Pedagógico no espaço escolar

Plano de Ação da Orientação Educacional. 01- Introdução

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

PROFESSOR PEDAGOGO. ( ) Pedagogia Histórico-Crítica. ( ) Pedagogia Tecnicista. ( ) Pedagogia Tradicional. ( ) Pedagogia Nova.

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NUMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE GUARAPUAVA: DA TEORIA À PRÁTICA

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DO ESPORTE 2ª COORDENADORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO

ATO NORMATIVO DA DIREÇÃO SUPERIOR Nº 003/2009 INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA E PESQUISA INSTITUCIONAL

O ENSINO DA DANÇA E DO RITMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIENCIA NA REDE ESTADUAL

LUZ, CÂMERA, AÇÃO: NOVAS EXPERIENCIAS, NOVOS APRENDIZADOS

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: O PNAIC EM FOCO

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

Jogos e Mobile Learning em contexto educativo

Política de Formação da SEDUC. A escola como lócus da formação

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

Redes Sociais e o Ensino. O aluno de hoje e suas limitações

A APAE E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

SUPERVISOR DARLAN B. OLIVEIRA

Os fazeres do coordenador pedagógico: gico: da clareza conceitual à eficiência da açãoa. Prof. Francisca Paris

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO BÁSICO: PROJETO AMBIENTE LIMPO

LICENCIATURA EM MATEMÁTICA. IFSP Campus São Paulo AS ATIVIDADES ACADÊMICO-CIENTÍFICO-CULTURAIS

Assuntos abordados. Projeção astral IV - buscando o conhecimento objetivo. Considerações Finais. Meus Sites.

A Formação docente e o ensino da leitura e escrita por meio dos gêneros textuais

UNIDADE III Análise Teórico-Prática: Projeto-intervenção

CAMPUS BRUMADO DEPEN / COTEP P L A N O D E E N S I N O-APRENDIZAGEM. Manual de instruções. Prezado Professor e prezada Professora,

PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA EDUCADORES DE JOVENS E ADULTOS

.:. Aula 2.:. Educação Corporativa e Mudanças Organizacionais. Profª Daniela Cartoni daniela_cartoni@yahoo.com.br

AUTO-AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: instrumento norteador efetivo de investimentos da IES

Educação Básica PROPOSTAS. Universalização da Educação Básica de qualidade

Informações gerais Colégio Decisão

PEDAGOGIA ENADE 2005 PADRÃO DE RESPOSTAS - QUESTÕES DISCURSIVAS COMPONENTE ESPECÍFICO

OS SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA DO PROFESSOR 1. Entendemos que o professor é um profissional que detém saberes de variadas

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

RELATÓRIO PARCIAL REFERENTE À ETAPA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO...

Titulo: DILEMAS ENCONTRADOS POR PROFESSORES DE QUÍMICA NA EDUCAÇÃO DOS DEFICIENTES VISUAIS.

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

ANEXO 8 RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE (*)

O mundo lá fora oficinas de sensibilização para línguas estrangeiras

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática versus Estágio Supervisionado

Carolina Romano de Andrade Mestre em Artes-UNICAMP Faculdade Integradas de Bauru-FIB Coordenadora de Pós Graduação

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002 (*)

6.1 A Simulação Empresarial tem utilização em larga escala nos cursos de Administração, em seus diversos níveis de ensino no Brasil?

TEORIAS DA APRENDIZAGEM: DA TEORIA À PRÁTICA

O ENSINO DA CIÊNCIA CONTÁBIL EM QUESTÃO: UMA ANÁLISE NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DE MINAS GERAIS

A utilização de jogos no ensino da Matemática no Ensino Médio

Vilma Aparecida Gomes

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

O REGISTRO COMO INSTÂNCIA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR

ANEXO II. Regulamentação da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado. Capítulo I Da admissão

Palavras-chave: Formação continuada de professores, cinema, extensão universitária.

Projetos Interdisciplinares Por quê? Quando? Como?

COMO ESTUDAR 1. Nereide Saviani 2

Investimento a serviço da transformação social

ORIENTAÇÕES SOBRE O PROGRAMA DE GARANTIA DO PERCURSO EDUCATIVO DIGNO

IMPLANTANDO O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA REDE ESTADUAL DE ENSINO

PRATICANDO O RCNEI NO ENSINO DE CIÊNCIAS - A CHUVA EM NOSSA VIDA! RESUMO

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Curso de Tecnologia em Marketing. Manual. Projeto Integrador

TECNOLOGIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

VAGAS PCD VAGAS AP DESCRIÇÃO SUMÁRIA DAS ATIVIDADES INERENTES AOS CARGOS CARGO FUNÇÃO PRÉ -REQUISITOS

PROJETO MEDIAR Matemática, uma Experiência Divertida com ARte

Educação. em territórios de alta. vulnerabilidade

MARINHA DO BRASIL DIRETORIA DE PORTOS E COSTAS ENSINO PROFISSIONAL MARÍTIMO CURSO DE TÉCNICAS DE ENSINO SIGLA: CTE

CHAMADA PÚBLICA SIMPLIFICADA Nº02/2012 SELEÇÃO DE CANDIDATOS PARA O PROJETO PRONERA/INCRA/UECE

COMUNIDADE AQUÁTICA: EXTENSÃO EM NATAÇÃO E ATENÇÃO AO DESEMPENHO ESCOLAR EM JATAÍ-GO.

UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA. Projeto Integrado Multidisciplinar I e II

Transcrição:

Marcelo JosÉ Alves A Educação Física no contexto escolar Interdisciplinarizando o conhecimento e construindo os saberes

2011 Marcelo José Alves Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. Al87 Alves, Marcelo José. A Educação Física no contexto escolar - Interdisciplinarizando o conhecimento e construindo os saberes / Marcelo Jose Alves. Jundiaí, Paco Editorial: 2011. 108 p. Ínclui bibliografia. ISBN: 978-85-64367-31-9 1. Educação Física 2. Educação Integral 3. Interdiciplinaridade 4. Pedagogia I. Alves, Marcelo Jose. II. Título CDD: 370 Índices para catálogo sistemático: 1. Educação Física na Escola 372.86 2. Educação Física- Esporte 796.07 3. Educação - Pedagogia 370 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Rua 23 de Maio, 542 - Piso Superior Vianelo - Jundiaí-SP - 13207-070 11 4521-6315 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br

Dedico este livro à minha família e a todos os professores, que assim como eu, são apaixonados pela profissão e trabalham por uma educação de qualidade.

É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas, graça das graças, é não desistir nunca. Dom Hélder Câmara

Prefácio Este livro tem sua origem nas dúvidas e preocupações que o professor de Educação Física do Ensino Fundamental tem a respeito de sua prática pedagógica e na confiança da disciplina como componente importante no processo de educação integral. Trata-se de um trabalho com rico aporte teórico sustentado por autores renomados que justificam a possibilidade da ação pedagógica se efetivar por meio da interdisciplinaridade. A realização de ações apresentadas com sustentação nesta proposta pedagógica ocorreu durante um período escolar. As ações efetivadas, os resultados obtidos e ora apresentados constituem leitura de suma importância para os professores de Educação Física, pedagogos e professores das mais diversas áreas, que estão diante do dilema de como trabalhar de forma significativa a Educação Física escolar, utilizando-se do corpo, do movimento e das relações que estes criam com o meio, como fonte de construção da aprendizagem. A intervenção teve como referência a interdisciplinaridade entre Matemática e Educação Física nas terceira (quarto ano) e quarta série (quinto ano) do ensino fundamental. Os conteúdos selecionados foram aqueles que os alunos encontram mais dificuldades como números fracionários, jogos e brincadeiras (jogos de regras complexas, jogos cooperativos, jogos pré-desportivos e jogos recreativos). Tendo como ponto de referência a ação docente, considera-se neste trabalho a necessidade da desmistificação da ideia de que a Educação Física esteja assentada simplesmente no ensino dos esportes e na recreação. A Educação Física enquanto disciplina escolar deve trabalhar além do físico, o intelecto e as relações sociais que estão presentes no dia a dia do educando. Seus conteúdos devem atender às necessidades da formação integral do cidadão e todos os professores são parceiros responsáveis no ato de educar. Para alcançar

este objetivo, o professor não pode mais trabalhar de forma isolada. A melhoria da qualidade do ensino pressupõe a superação da fragmentação do saber sob a forma de disciplinas isoladas e direciona a formação global do educando. Essa formação integral ocorre na medida em que os professores estabelecem o diálogo entre suas disciplinas, eliminando barreiras artificialmente postas entre os conhecimentos produzidos e promovem a integração entre o conhecimento e a realidade concreta. A proposta da interdisciplinaridade comparece atualmente como uma atitude, um novo olhar, que permite compreender e transformar o mundo, numa busca por restituir a unidade perdida do saber. Para tanto, pressupõe uma mudança na prática da Educação Física, que deve possibilitar aprendizagens de conteúdos que vão além dos específicos de sua área e entrelaçados com os conteúdos de outras disciplinas mostrando a realidade como ela é desfragmentada. A opção metodológica escolhida para o desenvolvimento do trabalho possibilitou, a todo o momento, a reflexão da ação e sobre a ação, tão importante no redirecionamento da prática pedagógica. Essa mudança de atitude dos professores participantes deste estudo está relatada e pode ser acompanhada passo a passo pelo leitor neste agradável livro. Tereza de Jesus Ferreira Scheide

Agradecimentos Ao meu Senhor e meu Deus, que, pela sua infinita misericórdia e amor, permitiu-me realizar este sonho. À minha esposa Ana Paula e à minha filha Ana Lara, família que me sustenta, me motiva e me aguenta, família que é a razão do meu viver e que amo tanto. Aos meus pais Ana e Nego, que, em sua simplicidade, me ensinaram muito mais que anos de estudos. Que este livro possa orgulhá-los. À professora orientadora Dr.ª Tereza de Jesus Ferreira Scheide, pela paciência e auxílio na elaboração desta obra. Às guerreiras e admiradas amigas professoras da escola Juraci Meneses Peralta, que tão brilhantemente lutam pela educação das crianças. Aos alunos da escola Juraci Meneses Peralta, razão deste livro, por quem peço a Deus que possam ter um futuro repleto de conquistas.

SUMÁRIO Abreviaturas e siglas...11 Introdução...12 Capítulo 1 Contextualização histórica da educação física escolar..13 1. A Educação Física escolar no mundo...13 2. A Educação Física escolar no Brasil: das escolas jesuítas aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)...15 3. A Educação Física no contexto escolar...20 Capítulo 2 Conhecendo a interdisciplinaridade...29 Capítulo 3 Aspectos práticos do trabalho interdisciplinar na escola...37 Capítulo 4 A interdisciplinaridade e sua prática na Educação Física...44 Capítulo 5 Caminho metodológico percorrido...48 1. A opção metodológica...48 2. Características da clientela escolar...50 3. Dimensão e qualificação do corpo docente...50 4. As horas de trabalho pedagógico coletivas (HTPC)...51 5. Inclinação interdisciplinar do projeto político pedagógico (PPP) da unidade de ensino...52 6. As disciplinas e os conteúdos trabalhados...52 7. Os atores do processo...54

Capítulo 6 A organização e a sistematização do trabalho interdisciplinar...57 1. Aplicação das ações interdisciplinares na prática pedagógica...57 Capítulo 7 Forma de análise e apresentação dos dados...60 1. Contextualização da Educação Física escolar...62 2. Conhecimentos interdisciplinares...66 3. Interdisciplinarizando com a Educação Física...72 Capítulo 8 Fatores limitadores do trabalho interdisciplinar...79 1. A fragmentação do saber...79 2. A falta de tempo...81 Capítulo 9 Fatores facilitadores do trabalho interdisciplinar...85 1. A Abertura dada pelo professor de Educação Física..85 2. As trocas de experiência...87 Capítulo 10 Considerações Finais...90 Referências...95

ABREVIATURAS E SIGLAS LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação CONFEF - Conselho Federal de Educação Física PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais HTPC - Horas de Trabalho Pedagógico Coletivas CEFAM - Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério PPP - Projeto Político Pedagógico SARESP - Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo PE - Professora Entrevistada

Introdução O maior dos desafios da educação atual é a dificuldade de aprendizagem de determinadas crianças, que no processo de construção do conhecimento não conseguem compreender a forma de utilizá-lo no seu cotidiano. Muitas teorias e metodologias vêm sendo empregadas pelos profissionais da área, porém pouco progresso tem sido observado dentro das escolas. A interdisciplinaridade se configura como caminho para a superação destas dificuldades, entretanto, no tocante à magnitude do problema, ainda está em fase inicial, pois as informações e estudos ainda são superficiais e inespecíficos, não atacando diretamente as dificuldades (SEVERINO, 1995). Este livro tem como tema a atuação do professor de Educação Física dentro das escolas, e sua relação com professores de outras disciplinas, organizando ações interdisciplinares planejadas, coordenadas e contínuas que ocorram sem o comprometimento dos conteúdos que lhe são inerentes. Desta forma, este livro trata do desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar, que foi realizado pelo professor de Educação Física em parceria com professoras do ensino fundamental das séries iniciais. Assim, a presente obra tem como objetivos: - Analisar os conhecimentos e as ações interdisciplinares implementados por professores do ensino fundamental. - Analisar e implantar ações interdisciplinares propostas para as professoras do ensino fundamental e o professor de Educação Física por meio dos seus conteúdos específicos. - Verificar a influência de um trabalho interdisciplinar organizado e sistematizado na ação docente. A melhor e mais profunda inter-relação entre a disciplina de Educação Física e a disciplina de matemática, ministrada pelas professoras do ensino fundamental (a mesma professora ministra todas as disciplinas na sala de aula), propiciou a

evolução das simples conversas em intervalos de aula e nas Horas de Trabalho Pedagógico Coletivas (HTPC), para ações interdisciplinares sistematizadas de estudo, trocas de experiências, planejamento e prática, direcionamento das atividades para um contexto de ação interdisciplinar de fato, o qual o foco é a melhoria da prática, superando as dificuldades e limitações da docência, gerando por meio destas ações para a melhoria da qualidade de ensino.

Capítulo 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 1. A Educação Física escolar no mundo A terminologia Educação Física traz, em determinados contextos, diferentes significados, no entanto, neste livro abordaremos somente aqueles relacionados à educação e à aprendizagem que ela oferece. Neste sentido, segundo Zeigler e Vander- Zwagg (apud BETTI, 1991, p. 22), Educação Física significa [...] a atividade de educar fisicamente, exercida por professores, escolas e pais (ou por si mesmo), ou ainda [...] o processo de tornar-se fisicamente educado (ou aprendizagem) que ocorre com o aluno ou criança (ou pessoa de qualquer idade). Assim, entendemos que o homem, em toda sua evolução, desenvolveu uma relação estreita com a Educação Física e a aprendizagem que esta lhe proporciona. A evolução do ser humano, e até mesmo sua preservação como espécie, dependeu de sua aptidão física e das relações que ela criava com o meio e com a sociedade. Desta forma, a atividade física sempre esteve presente na cultura do homem, atuando de maneira intensa e servindo de instrumento para a construção do conhecimento (OLIVEIRA, 1983). Os primeiros relatos históricos da Educação Física apareceram há cerca de seis a oito mil anos (a.c.), originários, sobretudo, da China, da Índia, do Egito, do Império Persa e da Mesopotâmia (SILVA, 2002).

MARCELO JOSÉ ALVES Porém, foi durante a transição do século XVIII para o século XIX que se iniciou, na Europa Ocidental, o processo de institucionalização e sistematização da Educação Física com características educacionais organizadas (BETTI, 1991). A Educação Física, nesta época, acompanhou as transformações e tendências pedagógicas da Educação Formal, que acabou por gerar uma íntima relação entre as mesmas, descrita por Marinho 1, ao citar Jean Jacques Rousseau e seu livro Émile ou de I Éducation, que organiza em quatro princípios seu método educacional: - Primeiro Princípio: a liberdade física (dos movimentos) e a liberdade dos atos são um direito inerente do homem e são precedidas pela moral; - Segundo Princípio: o respeito à infância, ou seja, permitir que as crianças sejam educadas de acordo com sua fase de desenvolvimento; - Terceiro Princípio: a educação deverá, principalmente, formar bons hábitos; - Quarto Princípio: a aptidão de aprender é mais importante que a aquisição de conhecimentos. Para Rousseau, a Educação Física deveria fortalecer o corpo e, em consequência, a alma, por meio dos exercícios e da liberdade dos movimentos, ideias estas apoiadas nas obras de Montaigne que dizia que [...] para enrijar a alma é necessário antes endurecer os músculos. Estas ideias tornaram-se concretas com Basedow, que atribuiu igual valor pedagógico à ginástica e às outras disciplinas. Posteriormente, vieram Salzmann, que reconheceu os valores pedagógicos nos exercícios físicos, e Pestalozzi que em seus livros trata o desenvolvimento físico por meio de brincadeiras livres, corridas à vontade, jogos e liberdade de movimentos 1 MARINHO, Inezil Penna. História Geral da Educação Física. s/d. 14

A Educação Física no contexto escolar - Interdisciplinarizando o conhecimento e construindo os saberes naturais, tudo isto em uma época em que estas manifestações eram tidas como indisciplina (OLIVEIRA, 1983). Concomitantemente aos novos posicionamentos e ideias da Educação, solidificaram-se dois dos principais movimentos da Educação Física no mundo ocidental: o movimento ginástico e o movimento esportivo, que formaram sua base institucional (BETTI, 1991). Betti (1991) relata que o movimento ginástico que institucionalizou os sistemas ginásticos aconteceu em meio ao momento de nacionalismo e militarismo vivido na Europa, mais fortemente no século XIX, oriundo da Alemanha, Dinamarca, Suécia e França e tinha em sua estrutura primária a disciplina e o treinamento físico por meio de exercícios ginásticos, trabalhos manuais, jogos sociais e lutas. De seus países de origem esses sistemas espalharam-se pelo mundo. Paralelamente ao movimento ginástico, surgiu o movimento esportivo, concebido pelo filósofo Herbert Spencer na Inglaterra, que expôs suas ideias sobre a Educação e as fundamentou no tripé formado pela intelectualidade, pela moral e pelo físico. Spencer contrariou toda a inclinação europeia da Educação Física, voltada ao nacionalismo militarizado e à preparação do indivíduo para a guerra, ao defender a Educação Física como prática educacional e pregar a superioridade educativa dos jogos e dos esportes sobre a ginástica, método utilizado até então em quase toda Europa (MARINHO, s/d). O movimento esportivo passou a ser reproduzido e difundido no contexto escolar, espalhando-se por todos os países colonizados pelos ingleses. 2. A Educação Física escolar no Brasil: das escolas jesuítas aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) De acordo com Marinho (s/d), no Brasil, durante o período de sua colonização, o ensino ministrado aos índios, pelos padres jesuítas, tinha como característica a disciplina rígida. 15