Daniella Oliveira Bonomi A VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

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Transcrição:

Daniella Oliveira Bonomi A VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE Belo Horizonte Universidade Gama Filho Fundação UNIMED 2006

DANIELLA OLIVEIRA BONOMI A VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE Trabalho apresentado ao Curso de Pós- Graduação lato sensu em Auditoria em Saúde da Universidade Gama Filho em parceria com a Fundação Unimed, Coordenador: Prof. Dr. Fernando Castanheira. Belo Horizonte Universidade Gama Filho Fundação UNIMED 2006

AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, de alguma maneira, contribuem para tornar a minha vida uma busca incessante de realizações.

RESUMO O home care é uma das ferramentas usadas para a promoção da saúde e abrange todos os serviços de saúde prestados aos pacientes em sua residência. Essa modalidade de atendimento tem crescido muito e vem se tornando mais importante nos últimos tempos. O objetivo deste trabalho foi o de demonstrar as vantagens e desvantagens proporcionadas pela utilização do home care. A metodologia utilizada foi uma revisão da literatura baseada em pesquisa bibliográfica, que levou a perceber a importância e os benefícios da promoção de saúde via home care para a comunidade, para o estado e também para as instituições de saúde privada. Palavras-chave: home care, promoção de saúde, vantagens, desvantagens, hospitais.

ABSTRACT Home Care is one of the tools for health promotion and encloses all health services for home patients. This attendance modality has grown a lot in recent years, turning out very important day after day. The objective of this work is to demonstrate the advantages and disadvantages of the use of the domiciliary attendance, home care. The used methodology was literary revision based on bibliographical research, that lead us to perceive the importance and the benefits of health promotion through home care for the community, the state and also for the institutions of private health. Key Words: home care, health promotion, advantages, disadvantages, hospitals

LISTA DE ILUSTRAÇÕES 1. Gráfico - População idosa no mundo (1960-2020) 18

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 07 1.1 Justificativa 09 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral 1.2.2 Objetivos específicos 11 11 11 2. METODOLOGIA 12 3. A PROMOÇÃO DA SAÚDE 13 4. AS TENDÊNCIAS DO SETOR DE SAÚDE 16 5. O ATENDIMENTO DOMICILIAR COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE 21 5.1 Visita e atendimento domiciliar 34 5.2 Internação domiciliar 35 6. CONCLUSÕES 45 7. REFERÊNCIAS 50

7 1 INTRODUÇÃO Promover a saúde é necessário. Não se trata de uma ação individual, mas de um conjunto delas, exercidas contínua e globalmente sobre um indivíduo ou uma determinada população, com os objetivos de diminuir a morbimortalidade, propiciar os melhores níveis de crescimento e desenvolvimento físico, intelectual e emocional, conduzindo essa população a uma vida mais longa, saudável e produtiva. Essa é a responsabilidade dos agentes participantes desse processo. Dentre esse conjunto de ações existentes para a promoção da saúde, este trabalho aborda o home care, que compreende assistência médica abrangente a todos os serviços médicos e de enfermagem prestados aos pacientes em sua residência. Essa modalidade de atendimento tem crescido muito nos últimos tempos, tornando-se mais importante a cada dia. Os motivos que dão ao home care o destaque que ele tem recebido são diversos: o envelhecimento da população que está cada vez atingindo mais altos índices de longevidade e, assim, demandando mais assistência médica; a necessidade de humanização do atendimento ao paciente; os resultados que esse tipo de tratamento tem demonstrado, com uma melhora muito mais rápida do paciente que é tratado em casa, em meio a sua família; os custos mais baixos demandados pelo home care em relação à

8 internação hospitalar; a disponibilização de leitos nos hospitais; e que este tratamento possibilita a existência cada vez maior de casos de infecção hospitalar, dentre outros. Apesar do aumento na demanda pelo tratamento hospitalar residencial, a maioria das empresas de saúde no Brasil, assim como muitas pessoas, ainda opta por atitudes conservadoras de assistência médica exclusivamente ambulatorial ou hospitalar, porque desconhecem a possibilidade de cura com uma internação domiciliar, parâmetros, redução dos custos e todos os benefícios que essa modalidade de assistência à saúde pode trazer.

9 1.1 Justificativa Os altos custos gerados pelo desenvolvimento de técnicas e uso de materiais de custos elevados fazem com que o setor de saúde passe por graves problemas financeiros. Existem dificuldades relacionadas ao atendimento da população, grandes filas para atendimento básico de saúde, indisponibilidade de leitos para a população que depende do sistema publico de saúde. No entanto, muitas empresas privadas têm sua existência ameaçada por não conseguirem custear todo esse aparato tecnológico que vem sendo incorporado à medicina moderna. Alem disso, a vida privada e a vida pública compreendem vários significados na sociedade moderna, suscitando a dificuldade de aceitar o diferente, de compreender o outro e o novo, de respeitar a singularidade de cada ser humano. Essas são marcas de uma sociedade massificada, em que todos deveriam ter resguardada a igualdade, sabendo respeitar as particularidades de cada indivíduo. São essas e outras marcas que levaram a autora à escolha do tema A VIABILIDADE DO HOME CARE COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE, pois, apesar de comprovados os inúmeros benefícios proporcionados pelo tratamento domiciliar, grande parte das empresas de saúde no Brasil, assim como a maioria das pessoas e das famílias de pacientes, ainda opta por atitudes conservadoras de assistência médica exclusivamente ambulatorial ou hospitalar. Esse fato se dá ora porque desconhecem a possibilidade e a agilidade da cura

10 com uma internação domiciliar, ora porque ignoram seus parâmetros, a redução dos custos e seus enormes benefícios. Assim, a escolha desse tema justifica-se pela sua contribuição para avaliação e divulgação dos benefícios dessa prática não só para a sociedade como para as próprias empresas de saúde.

11 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral O objetivo deste trabalho é demonstrar as vantagens e desvantagens proporcionadas pela utilização do atendimento domiciliar home care para a sociedade e para instituições de saúde no País. 1.2.2 Objetivos específicos 1 Identificar as vantagens e desvantagens da utilização do tratamento domiciliar analisando a viabilidade de sua prática para nossa sociedade. 2 Ressaltar os benefícios que a utilização dessa ferramenta pode contribuir para a diminuição da demanda de internações em nossa sociedade. 3 Analisar os motivos que levam a não utilização do tratamento domiciliar pelas instituições de saúde e pela sociedade em geral.

12 2. METODOLOGIA Este trabalho, de acordo com Vergara (2003), caracteriza-se por uma revisão da literatura (pesquisa bibliográfica) que aborda questões pertinentes à promoção da saúde, situando o papel do home care nesse tipo de programa. Para tanto, foram utilizados, na coleta de material abordando a literatura em questão, artigos científicos publicados e artigos veiculados em internet. A análise das informações bem como a conclusão desta revisão entrelaça as questões pertinentes aos benefícios e desvantagens do home care na promoção de saúde para pacientes e instituições de saúde.

13 3. A PROMOÇÃO DA SAÚDE A globalização é um fato real e irreversível. Trata-se de uma integração mundial dos mais diversos setores econômicos e financeiros, que se tornou possível pelo grande avanço tecnológico que a informatização e as facilidades de comunicação instantânea propiciaram. Outros fatores que também contribuíram para a consolidação da tendência globalizante foram mudanças geopolíticas, como a queda do muro de Berlim, a emergência de novos países, o aumento da demanda e da expectativa dos consumidores de bens de serviços, bem como o surgimento de regulamentações exigidas pelo mercado internacional. Embora a globalização unifique o mundo, uma grande parte da população permanece excluída. Nesse contexto, de acordo com Hirschfeld e Oguisso (2002), em uma análise de dados publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), observa-se um enorme desequilíbrio nos gastos globais com assistência à saúde, notadamente entre os países mais industrializados e os em desenvolvimento. Enquanto nos primeiros o gasto com saúde representa 89% do total, nos países menos industrializados despende-se apenas 11% em saúde. Entretanto, apenas 16% da população concentram-se nos países industrializados e 84% nos países em desenvolvimento. O peso das doenças nos países industrializados representa apenas 7%, ao passo que, nos países em desenvolvimento, esse peso representa 93%. Portanto, gasta-se muito mais com muito menos pessoas nos países

14 industrializados. Assim, percebe-se que as sociedades em que as pessoas tiverem senso de otimismo em relação ao futuro, coesão social e eqüidade terão como resultado melhor saúde. Nesse aspecto, Wilkinson (1998) afirma que hoje não há mais dúvidas sobre as evidências de determinantes sociais que afetam a saúde. A prova disso é que o escritório regional da Organização Mundial da Saúde para a Europa tem promovido estudos sobre políticas e ações necessárias para orientar os países da região, de modo a prevenir antes que os males cresçam, pois reconhece que essas evidências são discutidas apenas entre pesquisadores e seria preciso aumentar a conscientização das pessoas e estimular e promover as ações. A Organização Mundial de Saúde na Europa está trabalhando para promoção da saúde e, conscientizando a população da necessidade de que tal iniciativa parta de cada indivíduo na busca de sua própria qualidade de vida. A promoção de saúde é a busca da melhoria da qualidade de vida do ser humano, com objetivo de permitir a ele uma vida mais feliz, saudável e longeva. A saúde pode ser entendida conforme a percepção de Capra, apud Silva e Aguillar (2002, p. 124), em que se trata da [...] experiência e bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico, envolvendo os aspectos físicos e psicológicos do organismo,

15 assim como suas interações com o meio ambiente natural e social. Percebe-se, em diversas outras obras da literatura, a abordagem da enfermagem orientada para a promoção de saúde e assistência integral, não apenas no sentido de prevenção e cura, mas de melhoria da qualidade de vida. Dessa forma, o primeiro passo para a promoção da saúde seria conscientizar ou educar a população, seja essa cliente de instituições de saúde públicas ou particulares, considerando que a essência da clínica geral é envolver conhecimentos de biologia, psicologia e ciência social, aliados à experiência, sabedoria, compaixão e desvelo pelo paciente como ser humano.

16 4. AS TENDENCIAS DO SETOR SAÚDE Quando se estuda a qualidade de vida, vê-se que se trata de hábitos, costumes, local em que se vive, práticas, conceitos e condição sócio-econômica. Todos esses são fatores que interferem na qualidade de vida do indivíduo, podendo ou não levar a um estilo de vida doentio ou saudável. É impossível ser feliz estando doente. As doenças se manifestam das mais variadas formas e nos mais variados locais. Podem estar no corpo físico ou na saúde mental. Os efeitos da globalização no contexto mundial têm proporcionado diversas modificações, positivas e negativas, nas mais diversas áreas de nossas vidas. Assim, também na área da saúde, é necessário que se observem as mudanças ocorridas nos últimos tempos, bem como as tendências para um planejamento futuro. Olhando à volta pode-se perceber claramente que o perfil da saúde da população está mudando. As estatísticas para um futuro hoje presentes segundo Hense e Pfeiffer (1993), confirmadas pelo Centro de Documentação do Ministério da Saúde (1998), apontam que o número de doenças crônico-degenerativas, tanto em adultos quanto em crianças, tem aumentado.

17 O aumento significativo das condições crônicas de saúde tem feito com que um número maior de famílias passe pela experiência de ter uma criança ou um adulto doente crônico em sua casa. O controle cada vez maior de epidemias por meio do avanço das pesquisas em saúde, de vacinas, saneamento básico e educação, é outra preocupação da saúde no Brasil e no mundo. Todavia, um outro fenômeno, tem marcado a tendência da área de saúde com muita ênfase: o aumento da longevidade do ser humano. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, citada por Gomes e Loures (2004), o envelhecimento é reconhecido como uma das mais importantes modificações na estrutura da população mundial. Esta é uma realidade em todos os países do mundo. Todavia, entre os dotados de menos recursos econômicos e sociais, como o Brasil, a questão ocasiona maiores problemas, devendo ser considerada primordial na política, na saúde e na educação. O Brasil está deixando de ser um país de jovens, tendo-se, entre os fatores responsáveis, o declínio da natalidade, que, entre 1960 e 1980 diminuiu em 33% e os avanços da tecnologia médica nos últimos 50 anos, que trouxe a cura para uma gama de patologias consideradas fatais antigamente. Além disso, a promoção de saúde via prevenção das doenças e a maior informação sobre as mesmas devem empurrar a expectativa mundial de vida humana para perto dos cem anos em

18 menos de duas décadas, como mostra o gráfico 1. Gráfico 1 - População idosa no mundo (1960-2020) 50 40 30 20 10 Países Desenvolvidos Países em Desenvolvimento 0 1960 1980 2000 2020 Fonte: Jornal Brasileiro de Medicina JBM, 2004, p.78. Assim, a atenção ao idoso é um tema que se tornou objeto de preocupação dos países e da Organização Mundial de Saúde, despertando o interesse das sociedades e da comunidade mundial para as várias questões relacionadas ao fenômeno do envelhecimento que decorre, em parte, da diminuição das taxas de fecundidade e, também, do aumento na esperança de vida das populações. O Brasil, em especial, de acordo com Duarte (1996), atrai as atenções de estudiosos do processo de envelhecimento e das questões sociais, econômicas, políticas e científicas suscitadas pelo fenômeno do envelhecimento em grande escala. Ainda de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apud

19 Duarte (1996), recentes estudos realizados por demógrafos e epidemiólogos brasileiros projetam para o ano de 2025 a possibilidade de existirem 33 milhões 882 mil pessoas acima de 60 anos, ou seja, dentro de 19 anos, o País estará ocupando o 6º lugar no mundo em termos de população idosa. A faixa etária que mais deve aumentar é a de 70 anos ou mais de idade, o que certamente trará exigências que produzirão impacto no orçamento das políticas públicas para a assistência à saúde da população em geral. Segundo a Organização Mundial de Saúde (1995), em países desenvolvidos, pessoas acima de 60 anos estão ativas e são capazes de realizar o autocuidado e encontram-se menos de 5% incapacitadas por atrofia cerebral irreversível. Nesses países, a maioria das pessoas inválidas é tratada em casa registrando-se menos de 5% dos maiores de 60 anos do mundo desenvolvido que estão entregues aos cuidados das instituições. (DUARTE, 1991). Para Oren, apud Duarte (1991), todas as pessoas têm o direito e a responsabilidade de cuidarem de si mesmas para a manutenção de sua saúde e bem-estar. Assim, para Luce et al. (1991), essas pessoas quando impossibilitadas, seus familiares têm responsabilidade de prover esses cuidados tanto em crianças quanto em idosos, contribuindo para a manutenção de sua segurança emocional, auto-estima e auto-imagem. É um processo que objetiva preservar o gerenciamento de sua própria saúde com autonomia e independência.

20 O autocuidado como suporte educativo e promotor da saúde já existe como proposta de assistência desde o surgimento da enfermagem moderna. Ganhou, contudo, ganhou maior ênfase a partir da Teoria de Oren, cuja premissa básica é de que o homem tem habilidades inatas para cuidar de si mesmo, e se pode beneficiar com o cuidado da equipe de saúde quando apresenta limitações decorrentes da falta de saúde. O autocuidado representa uma forma de despaternalizar a assistência, tornando-a participativa. (LUCE et al., 1991). A desospitalização é uma tendência mundial da organização dos serviços de saúde e possibilita aliviar a carência de leitos hospitalares e melhorar a qualidade de atendimento por meio da desconcentração dos locais de atendimento.

21 5. O ATENDIMENTO DOMICILIAR COMO FERRAMENTA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE Home Care ou atendimento domiciliar é um modo inovador de assistência médica, abrangente a todos os serviços médicos e de enfermagem prestados aos seus pacientes em sua residência; modalidade que cresce e se torna cada dia mais importante em razão do envelhecimento da população e da necessidade de humanização do atendimento. De acordo com Queiroz e Egry (1983), a assistência domiciliar de enfermagem tem mostrado a sua eficácia em termos de desenvolvimento global da família no tocante à saúde, apesar de sua pequena utilização e valorização pelas unidades de saúde. O conceito de home care é bem abrangente assim como são os serviços médicos e de enfermagem prestados aos pacientes em sua residência. Em geral, significa atendimento ambulatorial ou internação domiciliar (24 horas) por equipe de saúde especializada. Fabrício et al. (2004) definem o atendimento domiciliar como um conjunto de procedimentos hospitalares possíveis de serem realizados na casa do paciente, abrangendo ações de saúde desenvolvidas por equipe multiprofissional, baseadas

22 em diagnóstico da realidade em que o paciente está inserido, visando à promoção, a manutenção e a reabilitação da saúde. Não há muitos registros formais sobre a história da assistência domiciliar no Brasil. O que mais se encontra são depoimentos de pessoas que viveram ou estão vivendo o desenvolvimento dessa modalidade. As primeiras atividades domiciliares desenvolvidas no Brasil aconteceram no século XX, de acordo com Fabrício et al. (2004), mais precisamente, em 1919, com a criação do serviço de enfermeiras visitadoras no Rio de Janeiro. Em 1949, foi criado o Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), em que os médicos de plantão saíam em ambulâncias para o atendimento. Nessa época, a demanda era feita via telefone diretamente aos postos de urgência. A partir da década de 90, várias outras implantações de serviços de assistência domiciliar surgiram, sendo implantados em empresas, prefeituras, hospitais públicos e privados, cooperativas médicas, seguradoras de saúde, medicina de grupo entre outros. Em uma pesquisa realizada no México por Martínez, Mávil e Perez (1996), onde pacientes diabéticos foram submetidos ao tratamento por meio de assistência domiciliar, foi constatada a eficácia do tratamento domiciliar em diabéticos com lesões de pele tanto para a taxa de morbidade quanto para os custos do tratamento. Foi reduzido também o número de hospitalizações e amputações.

23 Esse mesmo estudo, aplicado em um grupo de pacientes no trato de úlceras, demonstrou uma porcentagem menor de resultados. Todavia, ainda assim, os pacientes apresentaram lesões mais limitadas. O movimento de home care surgiu nos Estados Unidos, em 1947, na era do pósguerra, quando várias enfermeiras se reuniram e passaram a atender pacientes em casa. Somente na década de 1960 é que esse movimento tomou mais vulto, e a idéia da desospitalização precoce começou a ser levada a sério. Os hospitais viviam cheios, os leitos não eram suficientes, as filas para internação hospitalar começaram a surgir de todos os lados, a população aumentando cada vez, muitos doentes de guerras, os idosos estavam ficando mais longevos precisando cada vez mais de cuidados médicos e de enfermagem e novos hospitais precisavam ser construídos. Naquela época, surgiram as Nursing Home até hoje existentes. Seu atendimento é realizado principalmente por enfermeiras e direcionado para o idoso crônico terminal. Entretanto, a demanda para atender outros tipos de pacientes, com diversas patologias, também era grande. Para evitar que idosos em recuperação ocupassem leitos hospitalares, foram criadas instituições que se propunham a tratar do paciente em casa e, ao contrário do que os profissionais imaginavam, em vez de queda, houve um salto de

24 eficiência com esse tipo de tratamento, promovendo-se uma recuperação precoce do paciente. (SANTOS, 2005). Começava a surgir embrionariamente uma solução economicamente viável e criativa para um atendimento alternativo à saúde. No princípio, o sucesso não foi tão grande, pois os familiares não podiam arcar com os custos dessa internação hospitalar e que o tornava elitizado demais. À medida, porém, que as seguradoras e os planos de saúde descobriram este nicho de diminuição de despesas passaram a estudar as planilhas de custos e a remunerar quase todos os procedimentos de home care. (MARTINI, 1993). Na estrutura de atendimento ao doente, o Hospital Samaritano, no início do século, contratava as enfermeiras inglesas com experiência e prática domiciliares para cuidar das autoridades da época em suas casas, pois a alta burguesia tinha grande resistência ao atendimento hospitalar. Apesar do crescimento do atendimento hospitalar que objetivava proporcionar a melhoria e a cura, a concentração e manutenção de tecnologia e atendimento especializado num só lugar aumentaram o custo da internação hospitalar. Assim, tornou-se necessário repensar o sistema de saúde brasileiro. De acordo com a Revista Brasileira de Medicina (2000), o gerenciamento inadequado num hospital causa falha no aprovisionamento de determinado medicamento. Provoca, ao mesmo tempo, um aumento no custo da assistência ao

25 alargar o tempo de permanência do paciente e exigir uma compra emergencial de medicamentos, conseqüentemente, uma deterioração da qualidade ao prejudicar ou adiar o tratamento do paciente e fazê-lo permanecer desnecessariamente no hospital sujeito a infecções hospitalares. Um equipamento sem manutenção adequada também atrasa ou impede o tratamento de determinados pacientes, com reflexos simultâneos sobre o custo do tratamento e a qualidade da assistência. Uma alta taxa de infecção hospitalar resulta, ao mesmo tempo, em altos custos e em má qualidade da assistência hospitalar. Finalmente, a utilização excessiva ou desnecessária de alta tecnologia certamente acarreta custos desnecessários, mas também, com freqüência, resulta em queda na qualidade da assistência prestada. Dessa forma, em muitos casos, são os mesmos fatores os responsáveis pelos altos custos e pela baixa qualidade dos serviços de saúde. Eles são, em parte conseqüência de um gerenciamento ineficiente ou inadequado dos serviços de saúde e de uma despreocupação, muito comum entre profissionais de saúde, com o custo dos serviços e sua eficiência. Era comum até pouco tempo atrás ouviremse afirmações como saúde não tem preço. Como a prestação de serviços de saúde obviamente exige a utilização de recursos, em quantidade vultosa como se

26 vê, essa postura tem levado, muitas vezes, a um custo desnecessariamente alto da assistência médica. (REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA, 2000). Uma política esclarecida e planejada de identificação das ineficiências e desperdícios no processo de produção permitirá ao mesmo tempo reduzir ou eliminar os custos desnecessários e melhorar a qualidade da assistência médica. O controle de custos e a busca da qualidade não devem, portanto, ser considerados como mutuamente exclusivos ou mesmo objetivos concorrentes, mas, sim, duas facetas do mesmo processo, cada vez mais necessário, de gerenciamento da assistência médica, que busca encontrar maneiras mais eficientes e racionais de melhorar e manter a saúde da população. O atendimento domiciliar vem se dando, progressivamente, por meio do programa Saúde da Família, mas ainda é preciso corrigir distorções do sistema hospitalar, agilizando, por exemplo, a liberação do paciente. O aumento da atividade de home care está em crescimento, não devido à longevidade da população, mas pela necessidade de desospitalizar a atenção à saúde dessa população. O cuidado domiciliar, por meio da visita domiciliar, é o principal instrumento para a prevenção da mortalidade infantil, da mortalidade perinatal, para a prevenção das doenças crônico-degenerativas e no acompanhamento das pessoas que já manifestaram tais problemas de saúde.

27 De conformidade com Joint Commission (1997) referente ao home care a saúde não está no hospital, ela deve estar no lar das pessoas, seja em casas modestas ou em mansões, em cortiços ou debaixo de viadutos. Outro ponto fundamental da atividade é a importância da observação dos princípios éticos e legais e o cumprimento da legislação de modo que se possa garantir o cuidado prestado com qualidade e, principalmente, com segurança. Quanto às perspectivas, Hirschfeld (2001) alertou que o Brasil vai precisar cada vez mais de instrumentos para atender seus idosos fora das instituições hospitalares, já que não dispõe de leitos, nem recursos financeiros suficientes. Segundo a mesma autora, existe uma tendência global de aumento da idade da população nos próximos 20 anos e que, somente no Brasil, essa taxa de crescimento deverá ser de 200%, e a principal preocupação hoje está nas diferenças observadas nos processos de envelhecimento ocorridos em diferentes países: "[...] o mundo desenvolvido enriqueceu antes de envelhecer. E os países em desenvolvimento estão envelhecendo muito antes de enriquecer." (HIRSCHFELD, 2001, p. 454). Durante a Conferência Internacional Panorama Mundial de home care, que aconteceu nos dias 26 e 27 de novembro de 2001, o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, José da Silva Guedes, declarou que "[...] a expansão do

28 home care terá apoio do Governo no processo de implantação e expansão da modalidade de atendimento domiciliar à saúde e caberá ao Governo disponibilizar os equipamentos para os tratamentos a serem realizados. Ao reconhecer que essa é uma modalidade que cresce e se torna a cada dia mais importante, em razão do envelhecimento da população e da necessidade de humanização do atendimento, o secretário ressaltou, ainda, a economia de recursos gerada com a eliminação ou a redução do tempo de internação dos doentes. Para sistematizar o programa Saúde na Família, foram anunciadas, durante a referida conferencia, as Diretrizes para a Assistência Domiciliar na Atenção Básica e, posteriormente, seriam publicadas oficialmente pelo Governo Federal em meados de 2002. De acordo com Maria Raquel Gomes Maia Pires (2001), assessora técnica da Coordenação de Qualificação da Atenção Básica da Secretaria de Política do Ministério da Saúde as diretrizes as discussões serão fundamentais para a regulamentação do setor de home care no Brasil e acrescentou que as fases para a implementação e validação do documento pelo Ministério seriam quatro e já se estaria na última que é a publicação e divulgação do documento final. Cuidar da saúde do cidadão em sua própria residência aumenta a capacidade de

29 atendimento da rede pública e humaniza o tratamento. Entre a omissão e as alianças com os setores que fazem das doenças da população um negócio, assiste-se à redução da qualidade de atendimento aos pacientes da rede pública e a um processo de abandono dos investimentos. O significado final dessa crise é a diminuição da capacidade de trabalho, da qualidade e da expectativa de vida dos brasileiros; as medidas preventivas são insuficientes, os tratamentos adiados e os cidadãos usuários são submetidos a condições humilhantes. As empresas que optam pela valorização da saúde encontram grandes dificuldades para obter recursos para novos investimentos e para custear os serviços, e a racionalização do que está disponível surge como alternativa inevitável. Os serviços de saúde no Brasil adotam um modelo centrado na doença e no hospital e são caracterizados pelo gigantismo e o imediatismo. Os serviços são estruturados de forma a serem prestados em unidades de saúde, transformando a exigência de melhores serviços de saúde em reivindicação de novos equipamentos. O cotidiano do sistema de saúde torna-se uma triste combinação de filas, congestionamento de unidades e gastos enormes de tempo e dinheiro com a burocracia. Mas é possível prestar serviços de saúde à população, sem que

30 ela, necessariamente, tenha que se locomover até as unidades de saúde ou se submeter à internação hospitalar. Ao invés de unidades de grande porte, transfere-se a prestação dos serviços para unidades mais simples e para a própria residência dos cidadãos. Apesar das vantagens que a assistência domiciliar apresenta, a sua implantação e a gestão dos serviços exigem muita atenção. O principal ponto a ser lembrado é que um sistema de assistência domiciliar, desde o mais simples até o mais complexo, só pode ser concebido a partir da existência da rede de unidades de saúde, que funciona como a principal porta de entrada e oferece a retaguarda hospitalar e ambulatorial para os pacientes. Para sua implantação, é preciso definir quais são os tipos de serviço viáveis no município, levando-se em conta as maiores necessidades e as possibilidades da prefeitura em termos de equipamentos e pessoal. É importante estabelecer critérios de seleção das regiões ou pacientes a serem atendidos. É mais vantajoso, por exemplo, implantar serviços de visita domiciliar nas localidades com maior concentração de população infantil e com menor nível de renda. A internação domiciliar é mais aconselhável onde houver maior carência de leitos públicos. Para a prestação de serviços especializados e a internação domiciliar, é

31 importante observar as condições existentes na residência do paciente, avaliando se é possível receber cuidados em casa. Uma vez que a participação ativa dos doentes e familiares é fundamental, não é possível levar adiante o projeto sem considerar as condições psicológicas e a disposição da família em seguir a prescrição. As enfermidades mais freqüentes em home care são aquelas advindas do progressivo envelhecimento da população, as ditas crônicas como hipertensão arterial sistêmica, câncer, seqüelas de AVC, doença de Alzenheimer e escleroses. O home care beneficia uma gama enorme de pacientes crônicos com diversas patologias. Além das mencionadas acima, estão aqueles pacientes que requerem nutrição enteral ou parenteral prolongada, diabéticos debilitados, pacientes com escaras de decúbitos, queimados em recuperação, pacientes pediátricos prematuros, traqueostomizados ou em tratamentos que exigem antibióticoterapia endovenosa, casos de tumores malignos em tratamento ou fora de possibilidade terapêutica curativa entre outras. Enfim, é cada vez mais crescente o número de pacientes que se beneficiarão com o home care. E, na medida em que a sofisticação dos aparelhos de telemedicina se desenvolve com mais rapidez, permitindo que um maior número de pacientes possam ser monitorizados a distância, outras doenças virão se juntar às já