A DEFESA DO MEIO AMBIENTE O PODER ECONÔMICO E A TEORIA TRIDIMENSIONAL DA PROPRIEDADE. Resumo



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Transcrição:

A DEFESA DO MEIO AMBIENTE O PODER ECONÔMICO E A TEORIA TRIDIMENSIONAL DA PROPRIEDADE Resumo ELOI AMPESSAN FILHO 1 O estudo analisa criticamente, pelo método indutivo, o desdobramento da função social da propriedade em três dimensões: social, econômica e ecológica, devendo referidas dimensões estarem no mesmo nível de importância para o Estado, fato que infelizmente nem sempre ocorre, pois, como no caso referenciado neste artigo a indústria papeleira, principalmente, foi beneficiada. O Estado facilitou, criando condições de desenvolvimento de uma indústria altamente poluente, envolvendo toda a economia de uma região neste trabalho faz-se referência à indústria do papel e à plantação de pinus 2 (sivicultura), atribuindo, desta forma, uma importância maior ao elemento econômico que ao ecológico, contrariando o desenvolvimento sustentável e desrespeitando o disposto na Lei Magna. Não somente o Estado desrespeita a Constituição como atribui um ônus excessivo aos proprietários rurais que tentam manter o equilíbrio entre as funções sociais, econômica e ecológica da propriedade, eis que, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (...), impondo ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo (...) (CF/88, art. 225). Assim sendo, a manutenção da natureza para as gerações futuras não deve ser somente um ônus dos proprietários, mas, do Estado e de toda a sociedade. Havendo uma restrição no uso da propriedade (diminuição na função econômica) para que haja um desenvolvimento sustentável, atribuindo a importância devida ao meio ambiente (função ecológica), deverá não somente o Estado, mas toda a sociedade participar deste ônus (restrição ao uso da propriedade), devendo o Estado criar condições compensatórias aos proprietários, fato que evitaria também o êxodo rural. Referidas medidas compensatórias poderiam ocorrer por financiamentos subsidiados ou a fundo perdido ou, ainda, compensação por impostos, dentre outras. Considerações Iniciais Demonstra-se neste artigo, a importância da criação de mecanismos de produção, por parte do Estado, que possibilitem a efetivação de um desenvolvimento sustentável, pois, não há como conceber na atualidade, um desenvolvimento que venha a agredir de forma predatória o meio ambiente, ou seja, um desenvolvimento que não seja sustentável, porém, o Estado, muitas das vezes, na intenção de preservar o meio ambiente atribui aos proprietários das terras, um ônus desproporcional. 1 Pós-graduado em Processo Civil e em Gestão Ambiental, Advogado, Professor da Graduação na UNIPLAC- Universidade do Planalto Catarinense (de Direito Internacional Público, Relações Internacionais e Direito Econômico), membro do COMDEMA Conselho de Defesa do Meio Ambiente e Procurador do Município de Capão Alto/SC e pesquisador do projeto Rede Guarani/Serra Gearal. 2 Pínus comumente chamado de pinheirinho americano, espécie alienígena introduzida para exploração na indústria do papel, celulose e madeira.

Utilizar-se-á como parâmetro legal os dispositivos da Constituição de 1988, trabalhando com conceitos inseridos nesta mesma Carta, como a Função Social da Propriedade e a inter-relação desta como meio ambiente. Como conseqüência, a função social da propriedade admite três dimensões: social, econômica e ecológica. Aborda-se a Teoria tridimensional da propriedade, ou seja, a Função Social, Econômica e Ecológica desta e demonstra-se com um caso prático a interferência do Estado na tentativa de desenvolver a economia de uma região, atribuindo um valor elevado à função econômica da propriedade esquecendo ou deixando em segundo plano a social e a ecológica. Tem-se ainda, a falta de preparo por parte do Estado na preservação do meio ambiente, chegando a desrespeitar seus próprios mecanismos legais (artigos constitucionais), impondo, ainda, ao proprietário que cumpre e respeita as três dimensões da função social da propriedade um ônus excessivo, pois, referido ônus deveria ser repartido entre este proprietário, o Estado e a sociedade como demonstrar-se-á. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE Atualmente o conceito e a função da propriedade vêm sofrendo alterações, pois, esta ultrapassou a barreira da vontade de seu proprietário e vai mais além: deve obedecer não só a vontade do senhor das terras, mas os anseios da sociedade. Para o surgimento da função social da propriedade fez-se necessário a evolução, pois: Inicialmente, sob a influência das teses liberais mais ortodoxas, a propriedade aparecia como um direito inviolável e consagrado, concepção que servia de base e fundamento para a ordem social. Mais especificamente, um dos principais objetivos dos revolucionários do século XVIII foi definir e reconstruir o Direito de Propriedade, livrando-o das vinculações e limitações que, no antigo Regime, dificultavam seu livre uso e disponibilidade. (CRUZ, 2002, p. 219). Se anteriormente a propriedade e seu uso estavam sob influência das idéias do liberalismo após o fim da Primeira Grande Guerra Mundial e de seus efeitos na vida social, os países europeus, principalmente, passaram a subordinar o uso e o gozo da

propriedade ao interesse social. A maioria dos países passou a vincular o Direito de Propriedade com a respectiva função social. (CRUZ, 2002, p. 220). Continua Paulo Márcio Cruz: Esta subordinação da propriedade à sua função social possui diversas manifestações. A primeira delas é a que causa mais impacto no mundo atual e reside na generalizada criação de limites ao uso e disponibilidade da propriedade, de modo a permitir que o todo social esteja entre os seus objetivos. Exemplo muito simples deste fato são as limitações impostas ao uso do solo, típicas do planejamento urbano contemporâneo. (2002, p. 221). Pode-se observar nas palavras supra citadas, que a função social da propriedade não estava restrita à propriedade do meio rural, mas também as propriedades dos meios urbanos, nas cidades. No Brasil observa-se a interferência do Estado, também, nas propriedades urbanas dá-se principalmente por intermédio do Estatuto das Cidades. Quanto à inserção da função social da propriedade no ordenamento nacional este não está restrito tão-somente à Constituição Nacional, mas em outros dispositivos legais como o Estatuto da Terra (Lei 4.504). A função social da propriedade vem inserida na Carta de 1988, em vários momentos primeiramente no inciso XXIII, do art. 5º: Art. 5º (...) XXIII a propriedade atenderá a sua função social; (...) Ainda no inciso III, do artigo 170: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) III função social da propriedade; (...)

Referida inserção é uma conseqüência da vontade do legislador em adequar a Nova Carta aos anseios da população uma vez que: A Constituição Federal de 1988 é qualificada como uma das mais democráticas na história constitucional brasileira, intitulada a Constituição Cidadã pelo então presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Ulisses Guimarães. Em seu ato de promulgação, ressaltou ser o documento da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da democracia, da cidadania e da justiça social. (SANTIN, 2006, p. 5). Como surgimento dos Estados Sociais, houve um crescimento com a preocupação da inserção destes direitos na prática, esta busca irradiou seus reflexos de várias formas, uma delas foi à inserção da função social junto à propriedade: A Constituição de 1988 direciona a República do Brasil para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, inc. I) e é sob essa premissa que o domínio há de ser enfocado. Ao lado do direito de propriedade, convive a política da propriedade, traduzida nas diretrizes traçadas pelo Estado no campo da Ordem Econômica. (MARQUESI, 2001, p. 88). Quando se insere dispositivo desta natureza, função social da propriedade, isto acarreta em várias mudanças na prática, e quem primeiro as sentem são os proprietários, pois, há uma interferência direta no uso da propriedade. A conseqüência prática para os proprietários quanto ao conceito da função social da propriedade está principalmente na restrição de seu uso, pois, se outrora, como já referenciado, o proprietário e senhor das terras podia dispor, usar e gozar da propriedade como melhor lhe convinha agora não mais, pois, há restrições no uso deste, restrições impostas pela sua função social, não podendo mais o proprietário dar a destinação que desejar à propriedade. Se outrora o proprietário podia fazer o que bem entendesse com sua propriedade, na atualidade deverá respeitar a função social da mesma; o desrespeito desta poderá acarretar na desapropriação: Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social (...).

O Legislador não somente referenda a função social da propriedade, as implicações de seu não cumprimento, mas também, diz quando a função social é cumprida: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I aproveitamento racional e adequado; II utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Desta forma, há que se respeitar o ordenamento, dando a destinação correta à propriedade para não correr o risco de perdê-la. Assim sendo é inegável a necessidade de obediência. Mas não é só a função social que a propriedade possui na atualidade, mas também, a econômica e a ecológica, as quais se vêem na seqüência. FUNÇÃO ECONÔMICA E ECOLÓGICA DA PROPRIEDADE Com o surgimento da função social da propriedade esta traz em seu bojo a função econômica e ecológica: se a propriedade não conseguir cumprir sua função econômica e/ou ecológica não alcançará a função social. Tem-se no inciso I, do art. 186, da Carta Magna de 1988 a definição da função econômica: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I aproveitamento racional e adequado;

O aproveitamento racional e adequado está relacionado à exploração rural e ao coeficiente de produtividade, à adequação do aproveitamento com a utilização de técnicas agrícolas, devendo ser levado em conta a região e os parâmetros de onde está localizado o imóvel (MARQUESI, 2001, p. 99), que é variável de região para região, principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Segundo Roberto Wagner Marquesi: A Racionalidade e a adequação devem orientar-se em atenção a dois fatores. O primeiro deles é a relação entre a área efetivamente explorada e a área potencialmente explorável do imóvel, que deverá ser igual ou superior a oitenta por cento, segundo dimana do comando do art. 6, 1, da Lei 8.629/93. O segundo deles reside na observância dos índices de produtividade previstos para a microrregião homogênea onde se situa o imóvel. Observados os dois fatores (área e produção mínimas), o aproveitamento é considerado dentro dos padrões de racionalidade e adequação. (2001, p. 100). Conforme exposto, observa-se que a função econômica da propriedade é variável de microrregião para microrregião, desta forma uma propriedade que cumpre sua função social no Estado de Santa Catarina poderá não cumprí-la no Estado de São Paulo. Conclui-se também que a propriedade para alcançar sua função econômica depende e muito de obras e políticas 3 advindas do Estado 4. A responsabilidade do Estado reside, também, no fato de que este deverá dar condição ao proprietário ou aquele que explora economicamente a propriedade de aproveitá-la de forma racional e adequada (função econômica). Porém, a responsabilidade do Estado vai além da criação de políticas econômicas, não basta tão-somente criar tais políticas, mas é responsabilidade dele, Estado, a implementação destas na prática; neste sentido: (...), por força dos princípios e normas constitucionais vigentes, expressas são a autonomia e as competências de todas as Unidades da Federação de forma harmônica e integrada, tanto para legislar sobre matérias de interesse dos respectivos territórios, como para executar ou cumprir, adequar, atualizar e 3 Faz-se referência a mecanismos como financiamentos, subsídios, custeios e outros elementos que podem e devem ser efetivados pelo Estado para facilitar, ajudar, enfim, dar condições do homem do campo produzir, evitando-se assim, também, o êxodo rural, com a criação de bolsões de pobreza nas cidades, por pessoas que trabalhavam no campo e se viram obrigados e vir para os centros urbanos pela falta de trabalho ou condições financeiras de se manter no campo. 4 Faz-se aqui, referência ao Estado de forma abrangente, devendo o Estado ser visto como União, Estado, Distrito Federal e Municípios, uma vez que todos, segundo a Constituição, têm competência para legislar em assuntos relacionados ao Meio Ambiente, e desenvolvimento de forma direta ou indireta, com mais ou menos abrangência.

aplicar as normas correlatas, fiscalizar ou controlar a sua observância, de forma ajustável às exigências notadamente sócio-econômico-ambientais concretas ao bem-estar de todos. (CUSTÓDIO, 2005, p. 342). Observa-se que a responsabilidade na efetivação da função econômica da propriedade passa, também, pela função fiscalizadora do Estado. Quanto à função ecológica esta é encontrada, no art. 186, inciso II: Art.186. (...) II utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; (...) Não há dúvidas quanto à função ecológica estar diretamente relacionada à preservação do meio ambiente, para tanto o Estado criou toda uma legislação 5, desta forma, aquele proprietário ou explorador da terra que respeita e legislação cumpre a função ecológica. Na prática a efetivação da função ecológica é carente, por vários fatores: há a falta de fiscalização e também de uma cultura ecológica por parte dos envolvidos no processo, sejam estes, proprietários, exploradores, órgãos e funcionários do governo, empresas e indústrias. Neste tópico focaliza-se a função ecológica e a responsabilidade do Estado para com a mesma, será neste prisma que o trabalho se desenvolverá. A responsabilidade da função ecológica não é somente do proprietário ou explorador, mas também, do Estado, tudo segundo a Carta Magna de 1988, pois: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) 5 Ver Código Ambiental

Observa-se que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, e é dever do poder público e da coletividade defendê-lo, daí tem-se que a responsabilidade recai também no Estado, não sendo um ônus que deverá ser suportado somente pelo proprietário, que tem a obrigação de respeitar a legislação. Apesar de toda uma legislação protecionista para com o meio ambiente, a fiscalização é precária devido a vários fatores, tendo como principal a falta de pessoal, meios hábeis e recursos para fiscalizar, ou seja, mais uma vez o Estado esbarra em sua inoperância e capacidade de gestão. A função do Estado na proteção ao meio ambiente não é tarefa fácil, porém, infelizmente este não cumpre as próprias determinações, não participando da forma como deveria na proteção à natureza, a proteção ambiental vai além da repressão. A proteção ambiental não pode ser somente exigida por meios coercitivos do Estado, mas depende de uma consciência ecológica a ser criada na população, para tanto se tem, no inciso VI, do parágrafo 1, do art. 225: Art. 225. (...) 1 Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: (...) VI promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do meio ambiente; (...) A própria Constituição prevê a educação ambiental como efetivação da proteção ambiental, a conexidade entre cultura do povo e o meio ambiente torna-se ainda mais intensa na medida em que o Estado tem se mostrado inoperante para prevenir e reprimir os atos de agressão ao meio ambiente em que se vive. (MARQUESI, 2001, p. 103/104). Infelizmente o Estado não implementa uma educação ecológica, para criar uma cultura moderna de dependência do homem para com o meio ambiente. O desrespeito e os crimes ambientais do passado e da contemporaneidade já estão sendo sentidos pelos habitantes do planeta terra, e referidos problemas ambientais tendem a aumentar no futuro, o que viola principalmente a parte final do caput do artigo 225. (...) para as presentes e futuras gerações.

Mas a falta de capacidade gestora do Estado não esbarra somente em não promover a educação ambiental, mas vai mais além, quanto este tem que escolher entre função financeira e a ecológica. A geração de riquezas por meio da exploração dos recursos naturais é fator primordial da economia do Estado, daí não ser tarefa fácil deste, a escolha entre os valores atribuídos à função econômica e ecológica, qual seria a mais importante? Pois, seguidamente uma se contrapõe a outra. Quando há a contraposição entre a função econômica e a ecológica e cabe ao Estado a escolha entre elas, qual deve prevalecer? Há infelizmente a escolha pelo econômico, geralmente escondendo o interesse de grandes grupos ou empresas, sob a bandeira do desenvolvimento. Há que sopesar a importância do fator econômico e o ecológico, mas: Não se pode admitir, contudo, sob o pretexto de implicações ambientais, a política praticada pelas nações industrializadas tendente a restringir a ação governamental no desenvolvimento econômico. Essa política não tem outro objetivo que não o de proteger os interesses das grandes empresas estrangeiras, ávidas de manter a hegemonia econômica, como se elas próprias não tivessem devastado seu território, à maneira dos norte-americanos, sob cujo poder dezenas de nações indígenas foram dizimadas. (MARQUESI, 2001, p. 104). Pior que a escolha pelo Estado da primazia da função econômica sobre a ecológica é quando o próprio Estado cria mecanismos que facilitam a implementação de políticas econômicas que beneficiam segmentos da economia que são extremamente danosos ao meio ambiente, deixando em segundo plano a proteção ambiental. Exemplificando a idéia supra observa-se o que ocorre na região da Serra Catarinense, onde a indústria da madeira, através da plantação de pinus é dentre as fontes econômicas dos municípios uma das principais. Fazendo uma breve análise da economia da Região do Planalto Serrano, no início do século XIX, para um melhor entendimento, tem-se: Analisando o Planalto Serrano de Santa Catarina no contexto do seu desenvolvimento econômico, Costa (1982) afirma que de 1875 a 1920 a região desenvolve atividades econômicas ligadas à criação de gado, cavalos, ovelhas e suínos, com produção anual de 60 mil cabeças (...). (HOFF, 2004, p. 26).

Observa-se, neste momento, uma produção exclusivamente ligada à pecuária, exercida de forma extensiva nos campos nativos de cima da serra, com o mínimo de impacto ambiental. Em um segundo momento surge a preocupação do Governo do Estado com um melhor aproveitamento dos recursos naturais, esse suposto melhor aproveitamento passava pela instalação da indústria extrativa (serrarias) na região, para exploração da araucária (pinheiro nativo), fator importante para a economia da região, tanto que a década de 60, foi um período áureo para a economia serrana. Lages chegou a responder por 12% do ICM arrecadado no Estado (GOULART FILHO, 2002, p. 258), sendo com isso a maior produtora de madeiras de Santa Catarina e uma das maiores produtoras do país. (HOFF, 2004, p. 32). Referido desenvolvimento econômico não perdurou, pois, as araucárias chegaram ao fim, e como não houve uma preocupação com a diversidade da produção e, em agregar valores, o suposto 6 desenvolvimento chegou ao fim não tendo uma continuidade econômica. Aproveitando o grande potencial produtivo de madeira da região a indústria do papel deu início à instalação na região, vê-se: Sobre o setor de papel e celulose, a primeira fábrica de papel da região foi instalada em 1950 na localidade onde é hoje o município de Otacílio Costa. Esta fábrica era uma unidade da Cia. Fábrica de Papel Itajaí e em 1958 foi vendida para o grupo norte-americano Olin, passando a se chamar Olinkraft Celulose e Papel S.A. (...). (HOFF, 2004, p. 34). Atualmente referidas empresas do papel são fundamentais para a mantença e subsistência dos municípios da Serra, devida a importância destas no contexto econômico da região. Porém, infelizmente um dos reflexos práticos derivados da indústria do papel para a região é a própria descaracterização desta, pois onde antes existiam campos e matas nativas hoje, há tão-somente reflorestamentos de pínus, matéria prima das fábricas de papel. Não haveria problema algum se estas florestas de pínus constituídas artificialmente não fossem formadoras de desertos verdes, eis que, esta espécie não é nativa desta região, é 6 Suposto porque não foi duradouro, não se manteve após o final das araucárias.

sim uma espécie alienígena, não havendo uma flora e fauna aptas, evoluídas a tal ponto de conviver em harmonia com pinheiro americano 7. A participação do Estado brasileiro foi fundamental para o florestamento/reflorestamento da região serrana com esta espécie alienígena, neste sentido vejamos Débora Nayar Hoff: Segundo Szücs e Bohn (2002), datam justamente de 1960 as primeiras medidas reais que visam recuperar os danos causados pela exploração extrativista da madeira nos estados do Sul. Estas medidas se traduziram no apoio, a partir de incentivos fiscais para o florestamento 8 e reflorestamento de espécies como o pínus e o eucalipto, os quais originalmente seriam destinadas à indústria de papel e celulose. O Planalto serrano beneficiou-se da política florestal com incentivos, principalmente por causa da instalação das indústrias de papel e celulose na região, que ocorreu na década de 50 e 60 e que utilizaram incentivos governamentais para iniciarem a formação de sua base florestal. (2004, p. 35). Observa-se que o Estado teve função preponderante na instalação da indústria do papel e celulose, com a criação de incentivos e financiamentos. Desta forma, o Estado deu apoio, facilitou e ajudou a efetivação de uma indústria que tem por base uma espécie alienígena (estranha a região), o pínus, que compete de forma predatória com a vegetação local. Como conseqüência desta concorrência à fauna e a flora adaptadas, que a milhões de anos formaram os campos nativos em regiões como a Coxilha Rica 9 estão sujeitas ao 7 Nome como o pínus é conhecido. 8 Tem-se na obra citada: O florestamento trata aqui do plantio de florestas em áreas onde originalmente não existiam. No Planalto Serrano constata-se que grandes áreas de campo nativo foram transformadas em florestas de espécies de rápido crescimento, como o pínus e o eucalipto. 9 A região denominada Coxilha Rica fica na zona rural do município brasileiro de Lages, o maior em extensão do Estado de Santa Catarina. A Coxilha Rica possui cerca de 100 quilômetros de extensão na serra catarinense. É uma grande planície localizada a mais de mil metros acima do nível do mar. A vegetação predominante são as gramíneas e, onde ocorrem remanescentes de florestas, a araucária. O nome (Coxilha) dá-se ao fato de a região ser formada por uma planície ondulada a perder de vista. As propriedades localizadas na Coxilha Rica são principalmente fazendas destinadas à criação de gado utilizando-se da pastagem natural. A principal atividade econômica desenvolvida na Coxilha Rica é portanto a pecuária. Há séculos cria-se gado na região, que concentra a maior variedade de raças bovinas de corte do Brasil. Os principais rios que por lá correm são: Pelotas, Pelotinhas, Penteado, o Lageado Bonito e o rio Lava-Tudo. O solo da Coxilha Rica é pouco profundo, pedregoso, não muito fértil e coberto de gramíneas, que no inverno secam com a geada e com o forte vento minuano vindo do Sul. Uma das primeiras vias terrestres de ligação entre o Sul e o Sudeste do Brasil, o Caminho das Tropas, traçado no século XVIII, passava pela Coxilha Rica. A Coxilha Rica é famosa por sua beleza e exatamente pelo fato de ser cruzada pelo já mencionado Caminho das Tropas, via por onde os tropeiros levavam gado do Rio Grande do Sul a São Paulo (Sorocaba) e sul de Minas Gerais. Graças a sua beleza natural e às suas fazendas centenárias, a Coxilha Rica é uma região propícia ao turismo rural. (In http://pt.wikipedia.org/wiki/coxilha_rica impresso em 09de janeiro de 2007).

desaparecimento ou ficarem restritas a pequenas áreas, uma vez que ano a ano os florestamentos avançam em áreas ainda nativas. Nesta fase lembra-se o inciso VII, do 1, do artigo 225, que assim diz: Art. 225. (...) 1 Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: (...) VII proteger a fauna e a flora (...) Se o Estado promove através de políticas econômicas equivocadas o desenvolvimento de forma não sustentável, está este na contramão da evolução e, pior desrespeitando o seu próprio ordenamento, atribuindo um ônus desproporcional ao proprietário o dever de defender e preservar para as presentes e futuras gerações o meio ambiente. Não é culpa do proprietário ou das empresas que muitas das vezes optam por produzir ou exercer uma atividade danosa ao meio ambiente, mas do Estado que seduzido pelo fator econômico esquece do equilíbrio que deve prevalecer entre o fator econômico e o ecológico. O Estado deve dar condições do homem do campo manter-se no campo, criando mecanismos que possibilitem um crescimento sustentável, o qual conciliará economia e proteção ao meio ambiente, devendo ainda compensar este quando sua propriedade sofrer restrições de uso em função da proteção ambiental, até mesmo porque esta proteção não é somente um ônus do proprietário. Novamente faz-se referência ao que preceitua o art. 225: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Constituição Federal de 1988, 2004, p. 54). Tem-se no artigo supra, que não só o direito ao meio ambiente, mas o dever de defendêlo e preservá-lo é de todos, por este motivo todos devem participar, arcando com o respectivo ônus, sendo um tanto desproporcional atribuir somente ao proprietário quando este sofre restrição de uso na sua propriedade. Se referida restrição decorre de um benefício (proteção ambiental) que será de todos, da coletividade, nada mais justo que

esta coletividade, por intermédio do Estado, deva compensar o proprietário, criando mecanismos que auxiliem também na equiparação entre função econômica e ecológica. Referida compensação poderá ocorrer por intermédio de financiamento facilitado com juros subsidiados; ou financiamentos a fundo perdidos; ou ainda com abatimentos em impostos. O princípio econômico, não poderá em momento algum se sobrepor ao Ecológico e viceversa, porém, quando isto ocorrer, deverá haver pelo Estado uma forma de compensação para manter o equilíbrio entre elas. Considerações Finais Concluí-se não ser tarefa fácil a do Estado em promover o desenvolvimento econômico sem agredir o meio ambiente, ou seja, promover o desenvolvimento sustentável. Encontram-se dispositivos na própria Constituição que não são respeitados pelo próprio Estado, porém, não é uma função somente do Estado proteger o meio ambiente, mas de todos (art. 225/CF). Entretanto, é obrigação do Estado criar mecanismos de desenvolvimento por meio de políticas que venham a incentivar meios de produção equilibrados. Infelizmente o Estado brasileiro não consegue inserir na prática muito dos direitos que encontramos positivados na Carta de 1988, como por exemplo, o Estado de Bem Estar Social, tarefa nada fácil. O Estado peca quanto a inserção de elementos chaves e básicos para uma convivência harmônica entre meio ambiente e população, como a criação de uma consciência ecológica por meio da educação. Conclui-se que infelizmente princípios constitucionais envolvendo a propriedade não são respeitados pelo Estado, pois, este atribui a um princípio importância maior que a outro, sendo que isto não deveria ocorrer, pois, não há uma hierarquia entre eles. Um exemplo é a primazia atribuída à função econômica quando comparada à ecológica. Muitas das vezes é o próprio Estado que cria mecanismos, dá condições para que indústrias altamente impactantes venham a se desenvolver e, em um segundo momento cria uma dependência econômica de uma região para com estas indústrias, como conseqüência não há mais como retroceder ou abandonar este modelo de desenvolvimento a muito já renegado nos países de primeiro mundo devido aos impactos negativos junto ao meio ambiente, ou até mesmo por terem baixo valor agregado.

Ao invés do Estado fomentar modelos de desenvolvimento ultrapassados, deveria sim dar condições ao proprietário ou explorador de manter-se na terra, produzindo de uma forma a agredir o mínimo possível o meio ambiente, evitando problemas como o êxodo rural e, ainda, produzir sem modificar paisagens, mantendo o equilíbrio entre o meio ambiente e o homem, onde a função social da propriedade seja cumprida, pois o social, o econômico e ecológica estarão no mesmo nível. Em momento algum deveriam ser atribuídos pesos distintos entre as funções econômicas e ecológicas, mas quando porventura isto ocorresse o Estado deveria de alguma forma equilibrar esta relação Economia/Ecologia. Isto porque como preceitua o art. 225, da Carta de 1988, é função de todos preservar e manter o meio ambiente. Atribuir somente ao proprietário este ônus é injusto, desta forma, quando houver uma restrição no uso da propriedade pela função ecológica, o que acarretará uma restrição da geração de riquezas e consequentemente um diminuição na função econômica, deverá o Estado criar uma compensação, para que a função econômica, ecológica e social da propriedade estejam equilibradas, o que trará o cumprimento de forma plena da função social da propriedade.

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