ANÁLISE DE PROGRAMAS DE COLETA SELETIVA MUNICIPAL SOB A ÓTICA DA LOGÍSTICA REVERSA: ESTUDO DAS PRÁTICAS ADOTADAS POR QUATRO CIDADES NORTE- AMERICANAS



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Transcrição:

ANÁLISE DE PROGRAMAS DE COLETA SELETIVA MUNICIPAL SOB A ÓTICA DA LOGÍSTICA REVERSA: ESTUDO DAS PRÁTICAS ADOTADAS POR QUATRO CIDADES NORTE- AMERICANAS Rafaela Oliva Ponce (FCAV/UNESP) rafaelaolivaponce@yahoo.com.br Andreia Marize Rodrigues (FCAV/UNESP) andreiamarize@fcav.unesp.br Marcelo Giroto Rebelato (FCAV/UNESP) mgiroto@fcav.unesp.br Mediante o crescimento da geração de lixo nos municípios, a reciclagem surge como uma alternativa interessante e viável a redução tanto do volume de resíduos descartados no meio ambiente quanto do consumo de matérias-primas e energia. Destaa maneira, os governos, pressionados pela sociedade para a resolução dos problemas ambientais, passam a se organizar para aproveitar o potencial dos programas de reciclagem, viabilizando a coleta seletiva de resíduos sólidos. No âmbito dos municípios, as prefeituras passam a criar programas municipais para o gerenciamento de seus resíduos sólidos, sendo que em todo mundo é possível identificar exemplos bem estruturados de programas de coleta seletiva, sobretudo nos municípios norte-americanos. Porém, a viabilidade ambiental, econômica e social destes projetos depende da forma como eles se encontram estruturados. Assim, a partir da utilização dos conceitos associados à Logística Reversa, este artigo traça uma análise dos programas de coleta seletiva municipal adotados por quatro municípios norte-americanos. Dentre as principais conclusões deste estudo está a identificação das práticas comuns a todos os programas estudados, tais como a existência de embalagens específicas para a acomodação dos recicláveis, a utilização da coleta porta-a-porta como estratégia principal para o recolhimento de materiais, a administração central dos programas sob responsabilidade das prefeituras municipais e a existência de projetos de educação ambiental aos cidadãos. Palavras-chaves: Coleta Seletiva, Logística Reversa, Municípios Norte-Americanos

1. Introdução A partir da década de 1970 ganham espaço as discussões relacionadas aos problemas ambientais e à qualidade de vida da população, impulsionadas principalmente por movimentos sociais de vários países. Assim, na busca por um desenvolvimento mais sustentável, surge na sociedade a necessidade de debater os temas ligados à exploração e à degradação do meio ambiente e suas consequências na vida das pessoas (RODRIGUES et al., 2005). No setor industrial, o avanço da velocidade de lançamento de produtos somado à diminuição de sua vida útil, tem levado a um aumento significativo no número de produtos descartados no meio ambiente (RODRIGUES et al., 2009; BAENAS et al., 2011). Desta maneira, passa-se a estudar formas de minimização dos impactos ambientais causados pelos processos produtivos, surgindo assim alguns conceitos tais como a Produção Mais Limpa (P+L) e a Logística Reversa, que levam em consideração todo o ciclo de vida dos produtos, desde a obtenção de suas matérias-primas até seu descarte no meio ambiente (KINLAW, 1997; EL KORCHI & MILLET, 2011). Essas áreas de estudo refletem a preocupação da sociedade com fenômenos como o aumento da geração de lixo nas cidades, que ocasiona problemas como a poluição da água e do solo, diminuição da vida útil dos aterros sanitários e lixões, proliferação de transmissores de doenças e infecções. A reciclagem surge, assim, como uma alternativa interessante e viável a redução tanto do volume de resíduos descartados no meio ambiente quanto do consumo de matérias-primas e energia. Desta maneira, os governos, pressionados pela sociedade para a resolução dos problemas ambientais, passam a se organizar para aproveitar o potencial dos programas de reciclagem, viabilizando a coleta seletiva de resíduos sólidos. No âmbito dos municípios, as prefeituras passam a criar programas municipais para o gerenciamento de seus resíduos sólidos, sendo que em todo mundo é possível identificar exemplos bem estruturados de programas de coleta seletiva, sobretudo nos municípios norteamericanos. Porém, a viabilidade ambiental, econômica e social destes projetos depende da forma como eles se encontram estruturados. É importante o conhecimento de algumas informações que podem contribuir para a elaboração de novos programas e no aprimoramento daqueles já existentes, auxiliando na definição das ações a serem implantadas, tornando mais claros os objetivos e atores envolvidos no processo, de forma a possibilitar o envolvimento de toda a população. Assim, a utilização da logística reversa neste âmbito pode propiciar o conhecimento de algumas questões importantes para o gerenciamento destes programas, tais como o levantamento de por quais canais passam os resíduos após a sua coleta, a identificação dos agentes envolvidos no processo e a revelação das principais motivações para a implantação de programas de coleta seletiva. Mediante este contexto, este artigo tem como objetivo realizar uma análise de dados secundários de programas de coleta seletiva municipal implantados em quatro cidades dos Estados Unidos: New York/NY, Washington/DC, Santa Monica/CA e Miami/FL, através de alguns parâmetros que evidenciam as razões que levaram cada cidade a implantar a coleta seletiva, os materiais coletados, a forma como a coleta é realizada e os sujeitos envolvidos no processo. 2

Para tanto, o texto está estruturado em cinco tópicos a contar com esta introdução. Inicialmente os tópicos 2 e 3 fazem uma discussão teórica sobre logística reversa e coleta seletiva municipal, respectivamente. O tópico 4 traz a descrição de cada programa e a análise comparativa dos casos. Por fim, o tópico 5 faz as considerações finais sobre a análise realizada. 1.1 Metodologia O estudo de dados secundários aqui realizado possibilitou a comparação entre os programas municipais de coleta seletiva de quatro cidades dos Estados Unidos: New York/NY, Washington/DC, Santa Monica/CA e San Jose/CA. Esses municípios foram escolhidas por possuírem programas bem estruturados e serem considerados referências no assunto coleta seletiva municipal e, por isso, ser possível o acesso a informações detalhadas das ações e dos atores envolvidos nos programas. Além disso, os referidos processos de coleta seletiva atingem quase a totalidade da população das cidades e se utilizam de estratégias pioneiras para a realização de suas ações, servindo de exemplo para outros municípios. Os dados utilizados na análise dos programas foram obtidos em artigos científicos e informações vinculadas pelas prefeituras em seus websites oficiais. Também foram utilizados dados de agências governamentais relacionadas à proteção do meio ambiente, como a United States Environmental Protection Agency. Como forma de caracterizar e comparar os programas de coleta seletiva municipal das quatro cidades é utilizado um modelo de análise baseado nos quatro parâmetros propostos por De Brito & Dekker (2003), que utiliza aspectos específicos da logística reversa para empreender avaliações, conforme detalhado no tópico 3 deste texto. A utilização deste modelo permitiu a identificação de peculiaridades de cada programa e a visualização de características comuns a todos eles. 2. Logística Reversa A logística reversa é um campo de estudos relativamente novo e seus primeiros termos, como canais reversos e fluxo reverso começaram a aparecer na literatura a partir da década de 1970 (DE BRITO & DEKKER, 2003). Segundo o Revlog - grupo europeu de estudos de logística reversa a logística reversa pode ser definida como o processo de planejamento, implementação e controle dos fluxos de matéria-prima, produtos em elaboração e acabados desde o ponto de fabricação, distribuição ou consumo, até o ponto de reaproveitamento ou disposição adequada (DE BRITO & DEKKER, 2003). Leite (2005, p. 16) amplia sua definição de logística reversa para: "Área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo de informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros." Os canais de distribuição reversos, por sua vez, são as formas e meios pelos quais os produtos pós-consumo e pós-venda retornam ao ciclo produtivo ou de negócios, readquirindo valor em mercados ditos secundários pelo reuso ou pela reciclagem de seus constituintes (LEITE, 2005). 3

Dessa maneira, a logística reversa vai além da distribuição dos produtos e considera que a vida destes não termina na sua entrega ao cliente mas sim, continua nos processos de pósvenda e pós-consumo (EL KORCHI & MILLET, 2011). Portanto, sintetizando, a logística reversa pode ser dividida em três grandes áreas (LEITE, 2005; RODRIGUES et al., 2009): a) Logística reversa de bens de pós-venda: aí se incluem os bens de pós-venda, que retornam à cadeia produtiva por defeitos, avarias do transporte, manutenções e consertos, prazos de validade, garantias dadas pelo fabricante, falta de estoque, recalls, erros no processamento de pedidos, entre outros. b) Logística reversa de bens de pós-consumo: estão inclusos os bens de pós-consumo, que retornam para serem reciclados, remanufaturados ou mesmo descartados quando não é possível seu reaproveitamento. Essa área tem chamado a atenção nas últimas décadas por conta dos processos de reciclagem e reutilização de materiais, com destaque para o alumínio, o vidro e o papelão. Como o objeto de estudo desta pesquisa é a coleta seletiva municipal, essa área é a que recebe maior enfoque neste artigo. c) Logística reversa de embalagens: devido à grande importância das embalagens no contexto da logística reversa, alguns pesquisadores costumam classificá-las em uma categoria separada. Nos últimos anos as embalagens tem sido alvo de críticas por ser uma das principais fontes de contaminação do meio ambiente. Assim, muito tem sido feito na busca por materiais que possam ser reutilizados, reciclados ou que causem pouco impacto quando descartados. Para a análise de projetos de logística reversa, De Brito & Dekker (2003) propõem a observação a partir de quatro parâmetros, quais sejam, o por quê da implementação da logística reversa no projeto; quais são os resíduos que fluem pela cadeia; como funciona o fluxo de materiais e informações; e, quem são os agentes envolvidos no projeto. Simplificando, os referidos autores definem quatro aspectos de análise na logística reversa: por que, o que, como e quem (DE BRITO & DEKKER, 2003). O parâmetro por que revela as motivações das organizações em adotarem programas de logística reversa. Geralmente essa escolha está relacionada a três motivações principais: a organização pode se beneficiar da implantação da logística reversa com vantagens como o reaproveitamento de materiais e a diminuição de custos; quando há algum tipo de exigência legal que a faz buscar esse tipo de alternativa, como a legislação que torna as empresas responsáveis pela destinação final das embalagens de seus produtos; ou quando existe pressão por parte de grupos, como os consumidores, para a adoção de práticas de logística reversa. Já o parâmetro como envolve o caminho pelo qual os resíduos envolvidos no processo passam, mostrando como a coleta destes é realizada, a maneira como são transportados, a que local são levados e a forma como ocorre a sua destinação final: se são reaproveitados, reciclados ou descartados. Este aspecto é complementado pelo parâmetro o que, que especifica os materiais que estão envolvidos no projeto de logística reversa, tornando-se uma ferramenta importante para a determinação do destino a ser dado aos resíduos. Por último, o parâmetro quem determina os sujeitos que estão envolvidos no processo da logística reversa e de que forma eles participam, como as empresas, ONGs, recicladores, indústrias, distribuidores, os cidadãos, dentre outros. Os quatro parâmetros são sintetizados na figura 1, que ilustra a análise proposta por De Brito & Dekker (2003), adaptada pelos autores deste trabalho. 3. Gestão municipal de resíduos sólidos 4

Os resíduos sólidos são definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) como aqueles resultantes de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. A sua disposição inadequada favorece a proliferação de doenças e a ocorrência de danos ambientais, tornando necessária a elaboração de projetos que busquem a sua gestão adequada (ABNT, 2004; FAGOTTE, 2007). POR QUE? (Motivações/Dificuldades) - Pressões de clientes - Pressões legais - Vantagens econômicas - Imagem corporativa (vantagem competitiva) - Consciência ecológica QUEM? (Responsabilidade) - Empresa - Clientes - Fornecedores - ONGs - Prefeituras - Cidadãos Análise de processos de logística reversa O QUE? - Quais materiais participam do processo COMO? (Mecanismo e estrutura) - Desenho dos canais reversos - Mapeamento dos processos - Infra-estrutura logística utilizada - Relações com clientes e fornecedores Fonte: Adaptado de De Brito & Dekker (2003) Figura 1. Parâmetros para análise de processos de logística reversa Dessa forma, as prefeituras assumem no âmbito das cidades a responsabilidade pela gestão de seus resíduos sólidos e encontram diversas dificuldades nessa atividade como, por exemplo, o esgotamento dos aterros sanitários. É nesse contexto que surgem políticas como a coleta seletiva e a minimização de resíduos, que além de ações também incluem atividades de educação da população. A coleta seletiva representa o recolhimento apenas dos materiais recicláveis e pode ser feita porta-a-porta ou em pontos de entrega voluntária. Já na minimização de resíduos, o foco é a conscientização da população para a redução dos resíduos descartados através do reaproveitamento, da reciclagem, da diminuição da utilização de embalagens e da redução do desperdício (BRINGHENTI, 2004; MOTA, 2008). 3.1 Panorama da gestão municipal de resíduos sólidos nos Estados Unidos A quantidade de resíduos sólidos gerada nos domicílios dos Estados Unidos é extremamente alta, com a quantidade de 254 milhões de toneladas produzidas em 2007. O valor que era gerado em 1960 era de 88 milhões de toneladas (EPA, 2008a). Assim, o país possui diversos programas municipais que visam, principalmente, a redução da quantidade de resíduos descartados e o reaproveitamento de materiais, através da coleta seletiva e da conscientização dos cidadãos. Também se observa a existência de projetos para a cobrança de taxas de acordo com a quantidade de resíduos produzida pela população (MIRANDA & ALDY, 1996). Segundo a United States Environmental Agency, agência do governo federal, os programas de gestão dos resíduos sólidos no país possuem como prioridade a minimização de resíduos, que 5

inclui a reutilização dos bens e a compostagem de resíduos vegetais. Em segundo lugar vem a coleta seletiva e a reciclagem. Em terceiro lugar, a queima dos resíduos para o aproveitamento da energia e, por último, o descarte dos materiais em aterros sanitários, quando já não há mais possibilidade de utilização dos mesmos para nenhum fim (EPA, 1998; 2008b). Dentro dessa concepção, em 2008 foram reciclados ou reaproveitados 33,2% dos resíduos sólidos descartados no país; queimados, 12,6%; e descartados em aterros sanitários, 54,2% (EPA, 2008a). Existem registros de projetos relacionados à coleta seletiva e à minimização de resíduos nos Estados Unidos que datam da década de 1970 e nos dias atuais praticamente todos os estados possuem iniciativas nesse sentido. No ano de 2007 foram recicladas 85 milhões de toneladas de resíduos. Os principais materiais reciclados foram resíduos vegetais provenientes da limpeza de jardins (32,9 milhões de toneladas), papel e papelão (77,42 milhões de toneladas), aço (15,68 milhões de toneladas) alumínio e pilhas (esse último em uma porcentagem de quase 100%) (EPA, 2008a). Em relação aos materiais reciclados, os três mais processados em 2008 foram as baterias de carros e pilhas comuns (99,2%), papéis (70,9%) e resíduos vegetais (64,7%) (EPA, 2008a). 4. Descrição dos programas de coleta seletiva selecionados Este tópico trata da descrição dos casos selecionados para este estudo. Ele encontra-se dividido em duas partes. Inicialmente é traçada uma visão geral dos programas de coleta seletiva para cada uma das cidades, a partir de uma breve descrição de sua origem, mecanismos de coleta, sujeitos envolvidos em cada etapa e tipos de materiais recolhidos. A seguir, é realizada a análise comparativa das características encontradas em cada um dos programas, de acordo com os parâmetros propostos por De Britto & Dekker (2003), descritos no tópico 2 deste trabalho. 4.1 Características gerais dos programas 4.1.1 New York/NY O programa de coleta seletiva da prefeitura de New York foi implantado em 1989. Inicialmente incluía poucos domicílios e durante a década de 1990 passou a atender a todos os bairros, adicionando novos materiais à lista de resíduos que poderiam ser destinados à reciclagem, caso das cartas de correio e dos utensílios domésticos (NRDC, 2010). Em 2002, problemas no orçamento da cidade levaram a administração a suspender a coleta de vidros e plásticos com o argumento de que isso representaria uma economia de 40 milhões de dólares. Vários grupos relacionados ao meio ambiente reuniram forças com o propósito de provar que a coleta seletiva não seria apenas uma fonte de gastos e um ano depois foi possível observar que o programa não era o responsável por todas essas despesas e, assim, o programa continuou com todas as suas atividades. Atualmente, todos os cidadãos devem separar os materiais recicláveis dos outros resíduos e existe um número de telefone pelo qual pode ser feita uma denúncia contra quem não o faz. Quem recebe uma denúncia ou não disponibiliza seu lixo de forma adequada deve pagar uma multa, que vai aumentando conforme o número de reincidências. A prefeitura realiza a coleta dos recicláveis em residências, prédios públicos, escolas e universidades públicas, instituições sem fins lucrativos e em estabelecimentos de profissionais autônomos (estes últimos devem pagar uma taxa para usufruir deste serviço). Já os hospitais, estabelecimentos comerciais, residências em construção ou em áreas em que a coleta da 6

prefeitura ainda não é realizada devem contratar alguma das empresas privadas autorizadas pela prefeitura para realizarem a coleta (NY RECYCLE MORE, WASTE LESS PROGRAM, 2010). Os resíduos recicláveis recolhidos são separados em duas categorias: papéis ou outros tipos de materiais. Os papéis são levados a 6 empresas contratadas pela prefeitura, separados em diversas categorias e vendidos. A grande maioria destes papéis é exportada. Os outros resíduos recicláveis são levados a outra empresa, conhecida como Hugo Neu, onde os materiais são separados e colocados a venda. Além dessas ações, a prefeitura possui programas de educação ambiental em que os cidadãos são orientados sobre como a coleta seletiva funciona, quais materiais podem ser reciclados e aprendem algumas práticas para a minimização da quantidade de resíduos gerados, como a compostagem de resíduos vegetais e o reaproveitamento de embalagens. 4.1.2 Washington D.C. A regulamentação da coleta seletiva em Washigton, D.C., teve início no ano de 1989, quando todas as organizações e edifícios de apartamentos passaram a ser obrigados a reciclar seus resíduos. Atualmente, a cada dois anos, todas as organizações e edifícios devem apresentar à prefeitura um plano de reciclagem. Nesse plano, deve constar o nome de uma pessoa que será responsável pela organização do projeto de coleta seletiva. A organização deve, ainda, contratar uma das empresas cadastradas na prefeitura para a realização da coleta. Essas empresas informam mensalmente a prefeitura quais foram as quantidades de materiais recicláveis coletadas em cada local. Caso ocorra algum acontecimento que afete a quantidade descartada no mês, a pessoa responsável deve fazer um comunicado à prefeitura (D.C. DPW, 2008). A prefeitura também mantém um escritório que pode ser consultado pelos responsáveis que tenham alguma dúvida na implantação da coleta seletiva. Além disso, eles podem obter material para divulgação da prática junto aos funcionários ou moradores, conforme o caso. Podem ser aplicadas multas por motivos diversos que vão desde a não aprovação do projeto de reciclagem encaminhado à prefeitura, até o número de recipientes insuficientes para a coleta e a diminuição brusca na quantidade de resíduos recicláveis descartados. A legislação vigente também impõe que a coleta seletiva deve ser realizada no mínimo duas vezes ao mês (D.C. DPW, 2010). 4.1.3 Santa Monica/CA O programa de coleta seletiva da cidade de Santa Monica existe há pouco mais de uma década. Inicialmente eram atendidas as escolas públicas e privadas. Depois, esse atendimento foi estendido a todas as residências e estabelecimentos comerciais. Atualmente a Divisão de Gestão de Resíduos Sólidos (SWM) é responsável pela coleta do lixo e gerência do programa de coleta seletiva. A política deste departamento é realizar o máximo possível de ações a fim de não enviar resíduos aos aterros sanitários. Para isso, realiza a coleta seletiva, a compostagem de resíduos vegetais e envia alguns materiais que podem ser reutilizados para venda no mercado secundário. As famílias recebem (sem nenhum custo) um tipo especial de lixeira onde devem ser depositados os materiais recicláveis como latas de alumínio, vidro e plástico. Também existe uma lixeira de outra cor onde devem ser descartados os resíduos vegetais. No caso de condomínios ou edifícios, são disponibilizadas lixeiras maiores. No dia da coleta essas 7

lixeiras devem ser colocadas junto ao meio-fio da rua. Caso seja excedida a capacidade da lixeira, podem ser utilizados sacos de lixo específicos vendidos pela prefeitura. Por outro lado, os estabelecimentos comerciais devem pagar uma taxa para a prefeitura para a realização do serviço de coleta seletiva. O valor dessa taxa varia de acordo com a capacidade da lixeira requisitada e da frequência com que a coleta será realizada. Todos os resíduos recicláveis coletados são levados a um centro da própria prefeitura onde é feita a triagem e venda dos materiais. Nesse centro os cidadãos também podem vender para a prefeitura grandes quantidades de material reciclável. É possível, ainda, a entrega de objetos que não são recolhidos pela coleta seletiva, como equipamentos eletrônicos, pneus, resíduos da construção civil. Para o recolhimento destes últimos é cobrada uma taxa. A cidade conta ainda com um projeto piloto para a coleta de comida descartada em restaurantes e domicílios. Por enquanto são atendidos poucos locais, mas a ideia é que esse projeto se expanda para toda a cidade. Esses resíduos são utilizados na compostagem juntamente aos resíduos vegetais (SMPB, 2010). 4.1.4 San Jose/CA San Jose é reconhecida, desde os anos 1980, pelos seus programas inovadores de coleta seletiva, reciclagem e conservação da água, que foram premiados mundialmente. Em 1993, foi criado um departamento especial para cuidar desses projetos, o Enviromental Services Department. Na coleta seletiva da cidade, lixeiras especiais são fornecidas, através do pagamento de uma taxa, às residências e estabelecimentos comerciais para a disposição dos resíduos recicláveis. Caso a capacidade delas seja excedida, os cidadãos devem colocar os resíduos restantes em sacos de lixo onde deve ser afixada uma etiqueta de identificação que pode ser comprada em papelarias da cidade. São coletados papéis, papelão, latas de alumínio, vidro, plásticos, tecidos e óleo. Sacolas de plástico não devem estar no lixo reciclável e os cidadãos são orientados a não descartá-las e devolvê-las aos estabelecimentos comerciais. Todos os materiais coletados são levados a um centro de triagem, onde são separados e vendidos. No caso de itens que não são recebidos pela coleta seletiva, como embalagens de pesticidas, equipamentos eletrônicos, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, móveis e resíduos da construção civil, o cidadão deve entrar em contato com a prefeitura e agendar uma data para a coleta. Devido ao baixo nível de participação dos estabelecimentos comerciais frente ao número de residências, a prefeitura está desenvolvendo, junto a universidades, um programa especial para eles e pretende implantá-lo até o ano de 2012. Atualmente cada estabelecimento contrata a empresa responsável pela sua coleta, porém a proposta da prefeitura é padronizar essas coletas, com poucas empresas participantes. A prefeitura também possui diversos programas de incentivo a novas tecnologias que visem à redução de lixo e energia. Além disso, estimula projetos sustentáveis de universidades. Segundo o Green Vision Annual Report, um relatório divulgado anualmente pela prefeitura, San Jose estimula todas as tecnologias sustentáveis pois tem a pretensão de ser um dos pólos mundiais dessa área do conhecimento (SJESD, 2010). 4.2 Análise comparativa dos programas selecionados 4.2.1 Parâmetro por que 8

Alguns fatores que levam à realização da coleta seletiva são comuns a todos os programas. Todos foram implantados tendo como motivos principais o esgotamento dos aterros sanitários e a alta quantidade de resíduos descartados pela população. Por isso, em todos os programas há grande ênfase na conscientização da população para a minimização da quantidade dos resíduos descartados. Observa-se a existência de uma legislação bastante complexa em cada cidade e em seus respectivos estados. Assim, o fator legislativo, conforme apontado por De Brito & Dekker (2003) como motivação para a criação de projetos de logística reversa, é bastante forte nos quatro casos. Ressalta-se, ainda, a existência de multas e taxas em todos os programas. A pressão da sociedade para a implantação dos programas também é um ponto importante, já que no caso de New York, por exemplo, existe um telefone pelo qual os cidadãos podem denunciar as pessoas que não contribuem para a coleta seletiva. 4.2.2 Parâmetro como Um aspecto comum a todos os programas é a existência de embalagens específicas para a acomodação dos recicláveis. Nos quatro casos existe um tipo específico de lixeira onde os materiais devem ser disponibilizados para coleta. Há alguma variação na embalagem a ser utilizada quando a capacidade da lixeira é excedida. No caso de San Jose, uma etiqueta deve ser afixada no saco de lixo onde o reciclável será acondicionado. Já no caso de Santa Monica, é possível comprar uma embalagem específica na prefeitura. Em todos os casos a estratégia principal de coleta é a porta-a-porta. Também são utilizados, com menor frequência, os Pontos de Entrega Voluntária (PEV). Um ponto interessante é que as lixeiras disponibilizadas para a coleta seletiva nas residências e estabelecimentos comerciais também funcionam como PEVs. Outro aspecto que chama a atenção está relacionado aos estabelecimentos comerciais, que na maioria dos casos, devem contratar uma empresa para a realização da sua coleta seletiva. Apenas no caso de Santa Monica essa coleta é realizada pela prefeitura, porém, para isso é cobrada uma taxa. Em relação às estratégias para o envolvimento da população, são aplicadas multas em todas as cidades. Também existe, na totalidade delas, um número de telefone específico para o esclarecimento de dúvidas ou o fornecimento de denúncias relacionadas à coleta seletiva. Em todos os casos existem programas de educação ambiental da população, com destaque para San Jose, que busca o envolvimento das universidades em seus projetos ambientais. 4.2.3 Parâmetro o que Dentre os programas analisados alguns materiais são recolhidos por todos. Esse é o caso do papel, papelão, vidro e latas de alumínio. Também vale destacar a coleta de resíduos vegetais, que em todos os casos é realizada e tem como finalidade a compostagem. O programa de New York se apresenta como o que recolhe uma maior variedade de materiais. É seguido pelo programa de San Jose, que se diferencia pelo fato de não recolher todos os materiais na sua rota tradicional de coleta seletiva, mas sim disponibilizar o agendamento da coleta de resíduos como equipamentos eletrônicos, resíduos da construção civil, pilhas, baterias, móveis e lâmpadas fluorescentes. Cabe destacar o projeto piloto da prefeitura de Santa Monica para o recolhimento de resíduos da alimentação, que também estão sendo utilizados para a compostagem. 4.2.4 Parâmetro Quem 9

Em todas as cidades o agente principal da coleta seletiva é a prefeitura. Em alguns casos, com a exceção de New York, nas residências é ela a responsável por recolher, fazer a triagem e vender os resíduos recicláveis. No caso de New York, a prefeitura também é a responsável pelo recolhimento dos resíduos, porém a triagem e a venda dos materiais é realizada por empresas terceirizadas. Essa participação diminui no caso dos estabelecimentos comerciais, em que essas atividades passam a ser responsabilidade das empresas contratadas, que são devidamente cadastradas pelas prefeituras. A existência da prefeitura e dessas empresas realizando a coleta faz com que existam vários fluxos reversos funcionando ao mesmo tempo e ocasionando desperdício de recursos. Para tentar reverter isso, a prefeitura de San Jose está elaborando, junto a universidades, um projeto específico para a coleta dos estabelecimentos comericias, visando a redução do consumo de combustível ocasionada pela realização da coleta por diversas empresas, sem nenhuma coordenação entre elas. Merece destaque o projeto da prefeitura de Washington, em que o estabelecimento comercial deve apresentar um projeto de coleta seletiva e indicar um responsável por ele. Assim, o projeto ganha maior respaldo dentro da empresa, pois esse responsável também coordena a educação ambiental dos outros membros da organização. 5. Considerações finais A comparação dos quatro programas revela grandes semelhanças entre eles. Em todos os casos, a prefeitura tem alta participação e as estratégias adotadas para a coleta são bastante parecidas, como a disponibilização de lixeiras e a aplicação de multas para os infratores. Assim, é possível agrupar os parâmetros propostos por De Brito & Dekker (2003) que são comuns a todos os programas (Figura 2). POR QUE? - Pressões legais - Consciência ecológica - Esgotamento dos aterros sanitários - Alta quantidade de resíduos descartados pela população - Empresas - Prefeituras - Cidadãos QUEM? Programas municipais de coleta seletiva analisados O QUE? - Resíduos sólidos recicláveis - Resíduos vegetais - Resíduos da construção civil COMO? - Coleta porta-a-porta - Pontos de Entrega Voluntária - Recolhimento pelas prefeituras - Recolhimento por empresas privadas Fonte: Adaptado de De Brito & Dekker (2003). Figura 2. Parâmetros dos programas de coleta seletiva municipal de casos selecionados nos Estados Unidos segundo modelo proposto por De Brito & Dekker (2003). 10

Vale ressaltar a importância dada pelas prefeituras na educação ambiental dos cidadãos. A unanimidade dos programas possui diretrizes bem definidas nesse sentido, com ações de educação específicas para cada público: escolas, universidades, instituições públicas, empresas e residências. Também é importante destacar as iniciativas pioneiras adotadas pelas prefeituras dos casos analisados, como o recolhimento de materiais bastante diversificados realizado pela prefeitura de New York; a necessidade de planejamento e submissão de um projeto de coleta seletiva, exigido pela prefeitura de Washington; o projeto piloto da prefeitura de Santa Monica de recolhimento de resíduos da alimentação; e o incentivo à pesquisa e à inovação promovido pela prefeitura de San Jose. Todas essas ações inovadoras podem servir de modelo para outras cidades que desejam implantar projetos de coleta seletiva, pois as ideias utilizadas pelas prefeituras podem ser adaptadas às realidades de outras cidades. O aumento dos estudos relacionados à coleta seletiva municipal se mostra necessário, pois o número de cidades que a realizam apresenta uma tendência de crescimento. Dessa forma, a documentação de estratégias bem sucedidas, bem como aquelas que não obtiveram êxito, se faz importante para que os novos programas possam se espelhar nas boas práticas associadas aos programas bem-sucedidos. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14.001:2004 Sistemas de gestão ambiental Requisitos com orientação para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BAENAS, J. M. H; CASTRO, R.; BATTISTELLE, R. A. G. & GOBBO JR., J. A. A study of reverse logistics flow management in vehicle battery industries in the midwest of the state of São Paulo (Brazil). Journal of Cleaner Production, n. 19, 2011, pp. 168-172. BRINGHENTI, J. Coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos: aspectos operacionais e da participação da população. 316 f. Dissertação (Doutorado em Saúde Ambiental) Faculdade de Saúde Pública: Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. DE BRITO, M. P. & DEKKER, R. A Framework for Reverse Logistics. ERIM Report Series Research in Management. Rotterdam: Erasmus Research Institute of Management, 2003. D. C. DPW - DEPARTMENT OF PUBLIC WORKS OF WASHINGTON D. C. Commercial Recycling Guide. Washington: D. C. DPW, 2008.. Disponível em: http://dpw.dc.gov/dc/dpw/services+on+your+block/recycling. Acesso em 02 de agosto de 2010. EL KORCHI, A. & MILLET, D. Designing a sustainable reverse logistics channel: the 18 generic structures framework. Journal of Cleaner Production, n. 19, 2011, pp. 588-597. EPA ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Municipal solid waste source reduction: a snapshot of state iniciatives. Washington: EPA, 1998.. Municipal Solid Waste in the United States: 2007 Facts and Figures. Washington: EPA, 2008a.. Municipal solid waste generation, recycling, and disposal in the United States: facts and figures for 2008. Washington: EPA, 2008b. FAGOTTE, A. Gestão de resíduos sólidos: mapeamento dos canais reversos do município de Curitiba/PR. 69 f. Monografia (Graduação em Administração de Empresas) Faculdades de Integradas Curitiba, Curitiba, 2007. KINLAW, D.C. Empresa competitiva e ecológica. São Paulo: Makron Books, 1997. LEITE, P. R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2005. 11

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