Palavras-chave: política educacional, escola ciclada, formação continuada.



Documentos relacionados
OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

CARTA ABERTA EM DEFESA DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

AUTO-AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: instrumento norteador efetivo de investimentos da IES

Palavras-chave: Formação continuada de professores, cinema, extensão universitária.

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

Autonomia e prescrição - formação contínua de professores em Mato Grosso

PLANO DE TRABALHO TÍTULO: PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA DAS CRIANÇAS

Política de Formação da SEDUC. A escola como lócus da formação

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL I PARA USO DAS TECNOLOGIAS: análise dos cursos EaD e da prática docente

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO CURSO DE ENFERMAGEM DO CESUMAR SOB A ÓTICA DO SUS

Avaliação externa como instrumento da gestão do sistema de ensino: a adesão e os impasses para a busca de melhoria na educação

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN

OS PROJETOS DE TRABALHO E SUA PRODUÇÃO ACADÊMICA NOS GT07 E GT12 DA ANPED ENTRE OS ANOS 2000/2013

I SEMINÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS Universidade Federal de Santa Maria Observatório de Ações Afirmativas 20 a 21 de outubro de 2015

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DE NOVOS CONHECIMENTOS 1

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR. UM PROJETO INTEGRADO DE INVESTIGAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO

Prefeitura Municipal de Santos

O USO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DOS GRADUANDOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

A TUTORIA A DISTÂNCIA NA EaD DA UFGD

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

CONSELHO ESCOLAR: PARTICIPAÇÃO COMO ELEMENTO DE DEMOCRATIZAÇÃO

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Palavras-chave: Currículo. Educação Infantil. Proposta Curricular.

PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES DE QUÍMICA DO CEIPEV. E CONTRIBUIÇÃO DO PIBID PARA SUPERÁ-LAS.

RESUMO. Palavras-chave: Educação matemática, Matemática financeira, Pedagogia Histórico-Crítica

A efetividade da educação à distância para a formação de profissionais de Engenharia de Produção

SITUAÇÕES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES DE BIOLOGIA DA REDE ESTADUAL E PARTICULAR DAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS.

MONITORIAS NOS CURSOS INICIAIS DE CÁLCULO: UM OLHAR SOBRE OS RESULTADOS A PARTIR DE DADOS ESTATÍSTICOS

Desigualdade Entre Escolas Públicas no Brasil: Um Olhar Inicial

INVESTIGANDO O ENSINO MÉDIO E REFLETINDO SOBRE A INCLUSÃO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA PÚBLICA: AÇÕES DO PROLICEN EM MATEMÁTICA

PROJETO ESCOLA DE FÁBRICA

nos princípios norteadores da saúde com equidade, eficácia, eficiência e efetividade 2. Inicialmente,

AS RELAÇÕES DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO REGULAR INCLUSIVO

INVESTIGANDO O OLHAR DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO AS PESQUISAS EM CIÊNCIAS

EDUCAÇÃO INFANTIL E LEGISLAÇÃO: UM CONVITE AO DIÁLOGO

O PEDAGOGO E O CONSELHO DE ESCOLA: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA

PLANO ESTRATÉGICO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 2013/2018

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DE LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

Tema: evasão escolar no ensino superior brasileiro

MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

AS POLÍTICAS PÚBLICAS E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS: O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Crenças, emoções e competências de professores de LE em EaD

MELHORIA DA INFRAESTRUTURA FÍSICA ESCOLAR

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

FORMAÇÃO CONTINUADA: MUDANÇAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA VIVÊNCIA DE UM PROGRAMA.

O PROGRAMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DIREITO À DIVERSIDADE E O COORDENADOR PEDAGÓGICO

FORMAÇÃO DOCENTE: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DAS TIC NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE APRENDIZAGEM 1

A REORGANIZAÇÃO DE CICLOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: UM ESTUDO SOBRE A NOVA PROPOSTA E SEUS IMPACTOS INICIAIS

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

9. EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

5 Considerações finais

IDENTIFICANDO AS DISCIPLINAS DE BAIXO RENDIMENTO NOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO DO IF GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ

POLÍTICAS E PRÁTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UERJ: IMPACTOS SOBRE A CULTURA ESCOLAR

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande d o Norte -IFRN acs@cefetrn.br

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Centro Acadêmico Paulo Freire - CAPed Maceió - Alagoas - Brasil ISSN:

Plano de Ação da Orientação Educacional. 01- Introdução

RESULTADOS DO ENEM 2014

Educação a distância: sobre discursos e práticas

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

HISTÓRIA ORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: O REGIME MILITAR NO EX- TERRITÓRIO DE RORAIMA

Esses slides são parte de um

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

VIVÊNCIAS NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

TECNOLOGIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

PESQUISA QUALITATIVA EM EDUCAÇÃO: REFLEXÕES A PARTIR DAS VIVÊNCIAS DE UM GRUPO DE PESQUISA

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA RELATÓRIO FINAL DE AUTO-AVALIAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEISDA CPA DA FACULDADE ARAGUAIA

definido, cujas características são condições para a expressão prática da actividade profissional (GIMENO SACRISTAN, 1995, p. 66).

SER MONITOR: APRENDER ENSINANDO

DEPARTAMENTO DE GENÉTICA

FACULDADE DO NORTE NOVO DE APUCARANA FACNOPAR PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

Universalizar a educação primária

O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL NA MODALIDADE A DISTÂNCIA NO CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA DA UFRPE

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

1 Introdução. Lei Nº , de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

podres mecanismo de seleção no acesso às escolas municipais de alto prestígio da cidade do Rio de Janeiro (CHAMARELLI, 2007a). Vale destacar que um

O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA UMA PRÁTICA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA INOVADORA

A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE JOGOS E MATERIAIS MANIPULATIVOS NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Orientações para Secretarias de Educação

PROCESSO EDUCATIVO, DA SALA DE AULA À EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

RELAÇÃO CTSA EM AULAS DE QUÍMICA: AVALIAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE ENSINO PARA O CONTEÚDO DE GASES.

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

IV EDIPE Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino 2011

A ARTICULAÇÃO ENTRE AS DISCIPLINAS ESPECÍFICAS E PEDAGÓGICAS EM UM CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA: NOVOS DESAFIOS DA CARREIRA DOCENTE

DESENVOLVIMENTO INFANTIL EM DIFERENTES CONTEXTOS SOCIAIS

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

Contexto. Rosana Jorge Monteiro Magni

Transcrição:

ESCOLA CICLADA: O IMPACTO APÓS UMA DÉCADA DE IMPLANTAÇÃO Liamara Glória de Almeida Silva (UFMT) Marineth Benedita S. Corrêa (UFMT) Renata Weima P. Costa (UFMT) RESUMO O presente trabalho é parte integrante do projeto de pesquisa intitulado Políticas Educacionais em Mato Grosso: a Escola Ciclada em Foco. Este estudo está sendo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa de Políticas Educacionais em Mato Grosso (GPPE-MT). O recorte deste investigação centrou no desvelamento da formação continuada que o professor dos ciclos recebeu. Com base nos pressupostos da pesquisa qualitativa, foram realizadas entrevistas em 12 Centros de Formação e Atualização do Professor (CEFAPRO) e 19 escolas da rede estadual, distribuídas entre os Municípios de, Cuiabá, Rondonópolis, Diamantino, Cáceres, Juara, Juína, Alta Floresta, Matupá, Sinop, Barra do Garças, São Félix e Confresa. Ao total são 79 sujeitos entrevistados, distribuídos entre profissionais dos CEFAPROs (quatro por centro) e professores de 19 escolas da rede estadual (dois por escola). Os dados evidenciam que a Escola Ciclada e a formação continuada ainda têm grandes passos a serem dados. A insatisfação dos professores das escolas, as dificuldades de compreender os ciclos, e as condições precárias enfrentada pelos formadores, tornam-se desafios para superação do enfrentamento do fracasso escolar. Com relação à formação oferecida durante a implantação da Escola Ciclada, percebe-se que a formação fora insuficiente, e que nem sempre deu conta de atender as reais necessidades dos professores que trabalhariam com uma nova proposta curricular. Palavras-chave: política educacional, escola ciclada, formação continuada.

Esta pesquisa integra o projeto Políticas Educacionais em Mato Grosso: a Escola Ciclada em foco, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa de Políticas Educacionais de Mato Grosso (GPPE-MT). Este estudo é o resultado da investigação realizada em 19 escolas da rede estadual de ensino de Mato Grosso e 12 Centros de Formação e Atualização do Professor (CEFAPROs), distribuídos nos municípios de Alta Floresta, Barra do Garças, Cáceres, Confresa, Cuiabá, Diamantino, Juara, Juína, Rondonópolis, São Félix do Araguaia e Sinop. Direcionamos nossos olhares para as políticas educacionais propostas pela SEDUC (Secretaria de Estado de Educação), voltadas para a formação continuada dos professores que atuam na Escola Ciclada. Os dados sobre a formação foram cruzados com os indicadores de desempenho, mostrados nos exames como SAEB e ANRESC, após a implantação dos ciclos. Após dez anos de implantação da Escola Ciclada em Mato Grosso cabe a seguinte indagação: como se deu o processo de formação continuada dos professores que estão atuando nos ciclos? Utilizamos para esta pesquisa abordagem qualitativa, embora tendo trabalhado com dados estatísticos como os que se apresentam nos exames de avaliação nacional. Para a seleção dos sujeitos dessa pesquisa nos CEFAPROs, fizemos um levantamento junto à Superintendência de Gestão de Recursos Humanos(SGRH) da SEDUC de todos os professores formadores dos pólos a serem pesquisados. Buscamos nesses dados aqueles professores que trabalharam de forma mais direta com os cursos voltados para a Escola Ciclada, que tivesse um maior tempo na sua carga horária, nas áreas de Língua Portuguesa, Alfabetização e Matemática. As referidas áreas foram selecionadas por serem as que estão diretamente ligadas aos exames de avaliação da educação básica, como o SAEB e o ANRESC. As escolas foram selecionadas atendendo ao critério de ser organizada em ciclos, de terem participado do maior número do Exame da Avaliação da Educação Básica (SAEB) e da prova Brasil (ANRESC). Foram selecionados dois professores de cada unidade escolar que atenderam ao critério de atuarem por mais tempo na Escola Ciclada. Utilizamos também os dados dos exames do SAEBs de 1995, 1997, 1999, 2001, 2003 e 2005 e dos ANRECs de 2005 e 2007, disponibilizados pelo Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Pesquisa Educacional (INEPE).

Foram realizadas entrevistas para a coleta de dados dos professores das escolas e dos formadores dos CEFAPROs. Dessa forma nos Centros de formação foram entrevistados o diretor e os formadores das áreas citadas acima. As escolas pesquisadas são as que pertencem aos municípios sedes dos CEFAPROs, com dois professores de cada unidade escolar, dando um total de 79 profissionais da educação pesquisados em 19 escolas e 12 CEFAPROs. O número de 19 escolas atendeu ao critério de corresponder a 10% da amostragem de escolas organizadas em ciclos em MT, pois de acordo com dados da SEDUC, das 534 escolas de Ensino Fundamental, 188 estavam organizadas em ciclos. (SGRH, 2006) A idéia da escola organizada em ciclos não é recente. Os debates acerca da nãoreprovação iniciam-se já em meados da década de 1910, como aponta Mainardes (2007). O objetivo da não reprovação àquela época era a fim de diminuir os altos custos dos recursos financeiros que a reprovação causava aos cofres públicos. O período entre 1958 a 1984, Mainardes (2007, p.55) aponta como o das experiências pioneiras das políticas de não-reprovação. A partir de 1984, começa a ganhar ênfase a escola organizada em ciclos. Nessa época foram implantados os ciclos na rede estadual de ensino de São Paulo. A proposta implantada por decreto, trazia no seu bojo a discussão sobre a política de não-reprovação, aliada ao objetivo de destinar tempo maior para os alunos que apresentavam defasagem na sua aprendizagem. Ao garantir condições para que os alunos com dificuldades progredissem em seus estudos, acabaria por enfrentar os índices de reprovação e evasão. Os campos oficial e pedagógico têm considerado a escola em ciclos como uma política inovadora e positiva, pois elimina ou diminui significativamente a reprovação, proporciona aos alunos um maior tempo para a aprendizagem e permite aos profissionais da educação a avançarem nas suas concepções e práticas. (MAINARDES, 2007, p. 74). Dessa forma, os ciclos são vistos ainda como um grande aliado ao enfrentamento do fracasso escolar, buscando elevar o nível na qualidade do ensino, que há séculos vem servindo como meio de seleção e exclusão daqueles alunos que não apresentam níveis de aprendizagem satisfatórios. Freitas (2003, p.63), ao expressar seu posicionamento sobre essa política educacional, afirma que: Vemos os ciclos positivamente, mas não como uma mera solução pedagógica para um problema de desempenho escolar do aluno, e sim como um longo e necessário processo de resistência de professores, alunos e pais à lógica da escola excludente e seletiva de escola.

As propostas pedagógicas, nos ciclos de formação, na proposta oficial da Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso (2000) supõem que a melhor estratégia é a partir da formação que os docentes já possuem, adquiridos ao longo de sua trajetória de formação e profissão e recuperar o que há de permanente no ofício de professor. Esse processo é concomitante a um movimento de confronto com pensamentos, valores e representações culturais escolares, assim com a própria imagem do educador. Os ciclos constituem-se em uma política que ainda se encontra em construção. Seus sentidos vão sendo concebidos ao longo dos estudos e das experiências de sua implementação. Para Perrenoud, dentro de um ciclo de aprendizagem plurianual, a orientação das progressões tem que caber aos professores, o que aumenta sua autonomia e suas responsabilidades individuais e coletivas no sentido de uma maior profissionalização. (PERRENOUD, 2004, p.13). Ainda que na concepção deste autor, essa autonomia esteja associada mais à liberdade no planejamento das atividades pedagógicas intra-escolares, acreditamos serem possíveis outros entendimentos da flexibilização proposta nos ciclos escolares. Dentro da discussão desta pesquisa podemos inferir que não houve uma política específica de formação continuada sobre a Escola Ciclada, os professores são unânimes em dizer que foi falho a formação e que foi imposto a implantação da Política, o pouco que houve neste sentido foi no momento da implantação, mas ressaltando a divulgação da política, isso mostra uma defasagem entre o objetivo proposto e o atingido no contexto da implantação da Escola Ciclada, o que ocasionou enorme confusão no entendimento dos professores. Isso se deve, porque os divulgadores da proposta, formadores dos CEFAPROs, não se mostraram aptos para a proposta porque também não tiveram um preparo adequado para a situação, e, por isso, não souberam discutir os pressupostos teórico-filosófico e metodológico da proposta do ensino organizado em ciclos. Há que se considerar, também, as condições precárias nas quais são desenvolvidas as ações dos CEFAPROs. Não há nenhum incentivo para atrair para o quadro de formadores os profissionais melhores preparados, isso pode ser observado no quadro de titulação dos formadores. Os profissionais que ainda se predispõem ao trabalho lançam-se ao um mar de incerteza, imbuídos de um compromisso com algo que não se tem ao certo clareza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M. I. B. A. Resistência docente à Escola Ciclada. Brasília: Líber Livro, 2006. CABRERA, R.C. Docência e desespero: avaliação da aprendizagem na Escola Ciclada. Brasília: Líber Livro, 2006. FREITAS, L.C. Ciclos, seriação e avaliação:confronto de lógicas. São Paulo:Moderna, 2003. MATO GROSSO, SEDUC. Escola Ciclada de Mato Grosso: novos tempos e espaços para ensinar aprender a sentir, ser e fazer. Cuiabá: SEDUC, 2000. MAINARDES, Jefferson. Reinterpretando os ciclos de aprendizagem - São Paulo: Cortez, 2007 MEC, INEP. Resultados da Avaliação do Rendimento Escolar ANRESC 2005. Disponível em: <http://www.inep.gov.br> Acesso em 10/07/2006. NOGUEIRA, Genialda Soares. Política de formação continuada de professores no Estado de Mato Grosso 1995-2005.. Dissertação de mestrado. Programa de Pósgraduação em educação da UFMT. Cuiabá:UFMT, 2007. NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995 NUNES, C. S. C. Os sentidos da formação contínua. O mundo do trabalho na formação de professores no Brasil. Campinas, 2000. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação. UNICAMP, 2000. PERRENOUD, P. Os ciclos de aprendizagem: um caminho para combater o fracasso escolar. Trad. de Patrícia Chittoni Ramos Reuillard. Porto Alegre: Artmed, 2004.. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão pedagógica. Trad. Cláudia Schilling. Portp Alegre: Artmed, 2002.