CONECTIVIDADE ENTRE A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM REGIÃO DE CONFLITO COM A LEGISLAÇÃO Jonas Caçador Cavalca de Barros Introdução No Brasil atual, o pequeno produtor rural é responsável por grande parcela da produção de alimentos e tem importante função na estabilidade social. A estabilidade social em muitas regiões brasileiras vem da qualidade de vida do pequeno produtor rural, que emprega sua família durante o ano todo e contrata trabalhadores temporários em diversas fases da produção. No Estado de São Paulo, nas regiões sem grande presença de monoculturas, este panorama pode ser encontrado com frequência. Entretanto, a despeito da importância que o pequeno produtor rural tem, ele encontra sérias dificuldades na hora de produzir e se adequar às exigências legais ambientais. Atualmente, muitas vezes não são as já conhecidas técnicas de produção que fazem com que o pequeno produtor recue frente a uma empreitada produtiva, mas o medo de cometer um ilícito ambiental. O presente trabalho procurou entender, de forma sistematizada, a problemática do pequeno produtor rural do Estado de São Paulo frente às questões ambientais, propondo soluções quando possível. Desenvolvimento No Brasil, atualmente 16% da população vive em áreas rurais. Dentro deste percentual, a agricultura familiar representa pouco mais de 80% e é a principal responsável pela produção de grande parcela de alimentos consumidos no país como mandioca, feijão, hortaliças e leite. Spadotto et al [1] Sabe-se que esse meio de produção, essencial na garantia da segurança alimentar, causa impactos ambientais sobre os diferentes biomas brasileiros. 1
Vários estudos sugerem práticas sustentáveis de desenvolvimento rural, como a agricultura orgânica que além de contribuir para a preservação do meio ambiente, agrega valor ao produto. EMBRAPA [2]. Em se tratando de meios sustentáveis de produção rural, a produção integrada se destaca como um sistema agrário que produz alimentos e outros produtos agropecuários de alta qualidade mediante o uso dos recursos naturais e de técnicas que levem em consideração os impactos ambientais, minimizando o uso de agrotóxicos e insumos na exploração. IBGE [3]. Spadotto [4], estudando as relações entre a legislação brasileira, o meio ambiente e o conflito desses na produção agrícola, cita que a norma jurídica brasileira deveria se basear em questões sociais e econômicas além de considerar a questão técnica/científica inerente ao meio produtivo empresarial agrícola. As questões ambientais e sociais são diretamente relacionadas, como a manutenção da qualidade de vida e degradação do meio ambiente, doenças humanas, poluição, saúde, etc. RODRIGUES [5] Materiais e Métodos O período experimental foi de 04/02/2013 a 18/05/2013. Para realizar esta pesquisa científica foi preparado um questionário padrão que foi elaborado a partir de uma pesquisa prévia que determinou os assuntos chaves que poderiam ter conectividade dentro do tema. Em uma coluna foram colocados os assuntos de preservação e na outra os assuntos de produção. O questionário padrão foi passado para 16 produtores rurais da área estudada, cujo preenchimento foi acompanhado. A partir dos dados obtidos pelo questionário, estes foram tabulados formando um corpo coeso de informações. A metodologia empregada compreendeu uma pesquisa aplicada, com uma abordagem qualitativa, classificada em relação aos objetivos como exploratória. Gil [6] e Severino [7]. Guaratinguetá é um município do Estado de São Paulo na região do Vale do Paraíba com 112 mil habitantes. Possui divisas com oito municípios paulistas (entre eles Aparecida do Norte e Campos do Jordão) e um na região sul de minas (Delfim Moreira). O município tem grande destaque na economia regional do Vale do Paraíba, possuindo importância turística, industrial, serviços e comercial. A respeito de sua 2
importância turística, se destaca o Turismo Religioso. A cidade fez parte da história do primeiro santo brasileiro Frei Galvão além de ser próxima ao santuário nacional de Aparecida. Muitos visitantes especialmente os oriundos da região sul de Minas Gerais viajam até as cidades mencionadas por meios de caminhadas e cavalarias, passando pelas zonas rurais. São conhecidos como romeiros influenciam na economia rural local, consumindo produtos nos estabelecimentos. A região de estudo está localizada nos bairros rurais Pedrinha e Gomeral, os quais estão na região montanhosa, serra da Mantiqueira, perto da fronteira com Campos do Jordão e Minas Gerais e recebem frequentemente visitas de romeiros e turistas. Considerações Finais Pelos dados levantados, a pesquisa abrangeu 16 propriedades rurais cuja soma de suas áreas foi de 643 hectares e 134 hectares de mata preservada. Em média as propriedades têm 41,2 hectares, no entanto essa distribuição é desigual sendo que o coeficiente de variação mostrou um desvio de 80% em relação à média. Essa má distribuição de terras era esperada, uma vez que a pesquisa abrangeu tanto propriedades agrícolas como pequenas chácaras ou casas de veraneio. A população local tem uma idade média de 57 anos e tempo médio de residência de 41 anos. Tal fato chama a atenção para as necessidades especiais com saúde, importância da aposentadoria na economia local e segurança ocupacional que esse grupo social demanda. Dentre os entrevistados, 50% obtém renda com a pecuária leiteira ou de corte. Destaca-se a importância do turismo rural na complementação de renda, com 31%, sendo que destes 60%, tem no turismo rural fonte exclusiva de renda. Um fato que chamou muita atenção é que nesta zona rural somente um proprietário (6,25%) depende exclusivamente de atividades agrícolas. A renda média revelada por 12 entrevistados foi de R$ 2.350,00. A agricultura local foca-se na produção de forrageiras (capinera) e pastagem (braquiária) para a pecuária. Embora 70% dos 16 produtores rurais entrevistados admitam conhecer a agricultura orgânica, apenas 41,5% de fato a praticam, ou seja, não utilizam adubos químicos, produtos veterinários ou biocidas. Nenhum produtor pratica irrigação ou a rotatividade de sua produção e somente um recebe recursos do 3
Pronaf. Apenas quatro entrevistados (25%) já tiveram contato com alguma orientação técnica, sendo que três citaram o SEBRAE como órgão orientador. A mão de obra empregada é basicamente familiar e eventualmente utiliza um empregado para auxiliar na produção. Dos entrevistados, 44% declararam ter grande dificuldade em encontrar mão de obra no campo, citando como causa: a melhoria da qualidade de vida, melhores empregos na cidade e o programa bolsa família. Dos problemas ambientais, 44% relataram algum tipo de problema relacionado ao meio ambiente e 50% admitiram haver erosões em suas propriedades. Isso revela que em alguns casos a erosão não é percebida como um problema para o produtor e para a atividade agrícola. Verificou-se que 37,5% possuem uma área de mata menor que 20% da área total da propriedade, portanto, não atendem a legislação. No presente estudo não foi possível verificar o estado de preservação de áreas de APP. Assim observa-se que na região de estudo, as atividades rurais como a produção agropastoril tem perdido importância econômica para o setor do turismo. A região tem grande vocação para tais atividades uma vez que está na rota dos romeiros, com fragmentos de mata atlântica, possui cachoeiras e corredeiras, está na região montanhosa com temperaturas frias no inverno. Conta com uma rede familiar de bares, restaurantes e pousadas além de programas de instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas (SEBRAE) para o aprimoramento turístico. O turismo permite conciliar a atividade econômica com a preservação do meio ambiente, também se pode agregar mais valor na produção agrícola quando vendido diretamente ao consumidor final na forma de pratos típicos, produtos orgânicos, compotas, geleias, etc. Por fim, essa atividade pode oferecer à população idosa melhores condições ocupacionais que o extenuante trabalho no campo sem a necessidade de importar a já escassa mão de obra de outras áreas. Referências [1] SPADOTTO, A. J. ; SAGLIETTI, J. R. ; NASCIMENTO, T. ; DUARTE, A. V. S. ; MULLER, J. A.. The integration between the production of organic foods and the rural sustainable development. In: International Symposium on Environmental Geotechnology and Global Sustainable Development. Belo Horizonte. SONOPRESS-RIMO, 2000. CD-ROMEMBRAPA MEIO AMBIENTE. Conhecendo a Produção Integrada. Projetos Cnpma, 2001. Disponível 4
em:http://www.cnpma.embrapa.br/projetos/prod_int/conhecendoapi.html. Acesso em: 18 de maio 2013 [2] SPADOTTO, Anselmo José. Contribuição para estudos de áreas de conflito entre legislação e meio ambiente. Uberaba: Universidade de Uberaba, 2006. 52p [3] RODRIGUES, Zoraide de Lima Soares; SOUZA, Roseane Cleide de. Meio ambiente e questão social : um debate necessário. Cress-PR, 2012. Disponível em: <http://www.cresspr.org.br/artigos/meio-ambiente-e-%e2%80%9cquestaosocial%e2%80%9d-um-debate-necessario/>. Acesso em: 18 maio 2013 [4] IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 2006: resultados preliminares. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_agropecuario_2006/. Acesso em 15 maio. 2013. [5] GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2010. 184 p. [6] SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007. 304 5