EST 20JO CEARÁ (Talking Points) Bom Noite Senhoras e Senhores, Antes de mais nada, gostaria de expressar minha enorme satisfação de estar aqui no Rio Grande do Norte e agradecer ao Sr. MARCANTONI GADELHA DE SOUZA, Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Norte, e seus demais dirigentes pelo honroso convite que me fizeram para vir a este importante evento e falar sobre as oportunidades de investimento no Nordeste e um novo modelo de gestão pública nesta parte aconchegante do Brasil que é a terra potiguar. i- CARACTER~ZAÇAODO NORDESTE: TERRITÓRIO E DEMOGRAFIA 1. Conforme todos os senhores sabem, o Nordeste do Brasil, uma de suas grandes regiões geográficas, ocupa a porção norte oriental do País e se acha localizado mais próximo da Europa e da América do Norte do que outras regiões brasileiras, o que lhe confere vantagens consideráveis no comércio internacional. Trata-se de uma região de grandes e problemáticos contrastes, formada por sete tipos de climas com predominância do quente e úmido no litoral e qu.ente e semi-árido no interior e quatro áreas geo-econômicas bem distintas: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio Norte. 2. Com uma superfície de 1,5 milhões de km2, que representa 18% do território nacional, o Nordeste detém uma população de 45 milhões de habitantes (1996), que corresponde a quase 30% da população brasileira. Porém, como reflexo de sua formação histórica colonial, do clima semi-árido e do atraso relativo a outras regiões, a população rural nordestina (15,5 milhões de pessoas) responde hoje por 45,8% da população rural do País. Como reflexo desse atraso, e conforme o IBGE, 44,3% dos pobres do Brasil concentram-se no Nordeste.
II- CARACTERIZAÇAO DO NORDESTE: ECONOMIA E SOCIEDADE 3. Apesar dos desníveis de renda e de padrão de consumo existentes em relação as áreas mais desenvolvidas do País, o Nordeste tem um Produto Interno Bruto (PIB) que ocupa o quarto lugar na América Latina, perdendo apenas para o Brasil, Argentina e México. O PIB nordestino atingiu a marca de US$92,5 bilhões em 1996, respondendo por 13,45% da economia brasileira. No entanto, segundo dados do IPEA, com relação a sua população, o Nordeste tinha uma renda por habitante de apenas US$2067 ou 49% da renda per capita do Brasil (32% da renda per capita de São Paulo). Esses dados são uma prova do enorme desnível de renda que ainda separa a região das áreas mais ricas do País. 4. No entanto, é oportuno ressaltar que, nas últimas quatro décadas, o Nordeste respondeu aos estímulos da política de desenvolvimento regional do Governo Federal (incentivos fiscais da SUDENE e créditos do BNB) e transformou parte de seu aparelho produtivo, passando de mero fabricante de bens tradicionais a produtor de aços especiais, produtos eletrônicos, equipamentos para irrigação, embarcações, chips para computadores, software, produtos petroquímicos, baterias, além de marcas de etiquetas famosas, calçados de couro e lona, tecidos de todos os tipos, uvas finas e outros frutos para consumo interno e para a exportação. 5. O Nordeste conta com infra-estrutura razoável para a implementação dos mais diversos tipos de empreendimentos. A Região é cortada por extensa malha viária (394,7 mil km de estradas), tem sistema ferroviário e as cidades mais importantes dispõem de adequada infra-estrutura aero-portuária. Com 8700 Megawatts de capacidade instalada, o Nordeste conta com boa rede de energia elétrica e todos os municípios são servidos pelo sistema de telecomunicações, operando com eficiência e acesso a comunicação instantânea com qualquer região do Globo.
6. Os avanços sociais também foram positivos, ainda que muito resta a fazer para recuperar o atraso e melhorar a qualidade de vida dos segmentos mais pobres da população. Nas últimas quatro décadas, a mortalidade infantil se reduziu de 166 para 88 por mil nascidos vivos, sendo que em alguns Estados atingiu 40 por mil, como foi o caso do Ceará. A expectativa média de vida ao nascer aumentou de 41 para 64 anos. O analfabetismo caiu de 66% para 34%. O abastecimento d'água nas áreas urbanas passou de apenas 164 municípios para 1650 cidades. Muitos outros indicadores de bem-estar também melhoraram. Mas a dívida social ainda persiste e clama pelo seu resgate. 111 - OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO NO NORDESTE 7. Com a abertura econômica, a estabilização monetária e a privatização, os capitais internacionais começam a ingressar no Brasil em volumes crescentes. A recuperação macroeconômica recente do País e o restabelecimento da confiança dos investidores e financiadores prenunciam a retomada dos investimentos. Nesse contexto promissor, grandes projetos produtivos e de infra-estrutura se delineiam para o Nordeste, valendo ressaltar aqueles programados para os setores metalmecânico, petroquímico, energético, recursos hídricos (transposição do rio São Francisco), fruticultura irrigada e turismo. 8. Multiplicam-se por todos os quadrantes do Nordeste oportunidades de investimento devido aos esforços dos governos estaduais e do empresariado local, conscientes dos potenciais da região e ansiosos por adquirir a competitividade necessária para concorrer com chances de êxito nos mercados nacionais e internacionais cada vez mais sujeitos a competição global. Como uma pequena amostra das oportunidades de investimento na Região, eu destacaria os seguintes setores e suas características mais marcantes: i) SETOR PESQUEIRO
Larga extensão de mar (200 milhas) grande demanda no mercado externo rede de frigoríficos e indústria naval 2) SETOR GRANITEIRO grande potencial internacional formação de joínt ventures existência de granito exótico e variado, com abundância em toda a região. 3) FRUTICULTURA TROPICAL grande vantagem comparativa, com irrigação (possibilidade de mais de uma colheita por ano) frutos tropicais de padrão internacional em qualquer época do ano retorno mais rápido dos investimentos (ciclo produtivo mais precoce) grande disponibilidade de terras agricultáveis e baratas 4) GRÃOS NA REGIÃO DOS SERRADOS área de 24,7 milhões de hectares principais culturas (soja, milho, sorgo, algodão e feijão) Vantagens comparativas: baixo custo da terra; excelentes condições edafoclimáticas; forte demanda para a produção (Norte e Nordeste); maior proximidade da Europa e Estados Unidos; menores custos portuários 5) PÓLOS AGRO-INDUSTRIAIS existência de excedentes agrícolas Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável dos Pólos Agro-industriais do Nordeste - PAN presença de pólos agro-industriais em todos os Estados da região 6) SETOR SUCROALCOOLEIRO Governo Federal pretende incentivar o setor perspectiva de aumento de preço do açúcar no mercado internacional aumento do consumo de açúcar no mercado interno 7) AVICULTURA excelentes condições climáticas
mercado interno e externo (em expansão) competitividade entre a carne e o frango importação de milho do MERCOSUL e dos serrados a preços favoráveis 8) OVINOCAPRINOCULTURA o semi-árido nordestino é altamente vocacionado para esse setor rebanho de 11 milhões de caprinos e 8 milhões de ovinos os Emirados Árabes como grandes consumidores e entreposto de produtos nordestinos no Oriente Médio 9) TURISMO 3.300 km de belas praias, sol forte o ano inteiro, águas mornas e clima ameno. PRODETUR - US$800 milhões em infra-estrutura para o turismo na região rico artesanato, comidas típicas, povo hospitaleiro, cidades históricas, festas populares (Carnaval) no Ano 2000 - Nordeste deverá receber 5 milhões de turistas, com receitas previstas de US$4,7 bilhões Complexos petroquímicos de CAMAÇARI (BA), Cloroquímico (AUSE), mínero-metalúrgico (RN) e sídero-metalúrgico (MA) Têxtil, confecção e calçados (CE,BA) Matérias plásticas Papel e celulose Pólo siderúrgico (CE) Refinaria de petróleo (CE) Montadoras de automóveis (BA) Autopeças li)indústria DE UTILIDADES PÚBLICAS Usinas de geração de energia elétrica por fontes térmica (gás natural) e alternativas (eólica, solar e biomassa) (CE) Indústria de equipamentos e peças para o setor elétrico IV-UM NOVO MODELO DE GESTÃO PÚBLICA 9. Conforme procurei mostrar, o Nordeste tem um leque de oportunidades de investimento que, se for adequadamente realizado, certamente resultará na aceleração do crescimento econômico em bases duradouras e na superação do 6
ESTADO DO CEARÁ atraso secular e da desigualdade intra e inter-regional. Porém, para que isso se torne realidade necessário se faz uma reforma político-institucional profunda no Brasil capaz de (re)criar instituições públicas que respondam de forma mais pró-ativa aos desafios impostos pelo desenvolvimento sustentável e atendam de modo apropriado aos reclamos da sociedade. Os avanços recentes no processo de democratização e de organização regional são altamente relevantes e prenunciam um futuro promissor. Todavia, ainda persistem, ao lado de saudável renovação do sistema político na Região, práticas clientelistas antiquadas e outras formas de apropriação privada do Estado por alguns setores das elites regionais. E a capacidade dos organismos públicos de atender com eficiência as demandas sociais padece de limitações, decorrentes de desqualificação dos recursos humanos, deficiências organizacionais ou de gestão, e insuficiências materiais e financeiras. 10. O novo modelo de gestão pública pressupõe em primeiro lugar a disciplina fiscal que permite a um só tempo não apenas restabelecer a credibilidade pública interna e externa do Poder Executivo local, mas também recuperar a capacidade de formação de poupança governamental, possibilitando, deste modo, a retomada dos investimentos públicos, com seus efeitos multiplicadores sobre a renda e o emprego. Em segundo lugar, requer disposição para a convergência, a parceria, a qualidade e a sustentabilidade dos processos. Com a gestão compartilhada, que é exercida pelo engajamento e participação da maioria dos segmentos organizados da sociedade, o Governo local cria condições para avançar na transformação do ambiente sócio-econômico, tornando-o mais próspero e equanime, integrado de forma competitiva na economia regional e nacional e melhor preparado para encarar os desafios e as oportunidades abertas pelo crescente intercâmbio comercial, financeiro e cultural com o resto do mundo. 11. Como no contexto brasileiro, os nove estados nordestinos são unidades federadas com limitada autonomia política e econômica e que convivem em um mundo cada 9
ESTADO DO CEARÁ n r 7 r-t) li- PI n r 7 GHB~'B~HE YU OUVCRB th~aurr vez mais concorrencial e globalizado, cabe-nos buscar a contribuição de outras forças econômicas, políticas, sociais e culturais para construir o desenvolvimento. Assim, não se concebe mais planejar dentro dos estreitos limites geográficos dos Estados. É necessário somar esforços entre si e junto a outros estados e regiões da Federação para realizar empreendimentos conjuntos, que estruturem a integração entre estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste com as áreas mais desenvolvidas do Pais, de modo a potencializar as chances de o Brasil competir e de gerar mais riqueza, emprego e renda. 12. Nesse sentido, é louvável a ação conjunta do Ministério do Orçamento e Gestão e do BNDES em realizar o "Estudo dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento" com vistas a identificar oportunidades de investimento públicos dou privados que estimulem o desenvolvimento econômico e social do País de forma mais equilibrada. A elaboração de uma carteira de projetos que fará parte do Plano Plurianual da União para o período 2000-2003 certamente contribuirá para atingir essa meta estratégica do desenvolvimento a partir dos eixos de integração nacional. No entanto, as especificidades do Nordeste semi-arido e as enormes carências sociais da região devem ser melhor exploradas para garantir a adequada intervenção e superação de suas deficiências estruturais. 13.As ações de Governo em todas as suas esferas devem pautar-se na busca do desenvolvimento sustentável, tendo em vista o objetivo primordial de aprimorar a qualidade vida de todos os cidadãos. O crescimento econômico deve ser buscado não como fim em si mesmo, mas como alavanca para viabilizar a redistribuição de renda, procurando estimular a combinação de atividades e tecnologias que maximizem a geração de empregos sem prejuízos para a viabilidade e escala dos empreendimentos. Além disso, convém que os projetos econômicos apoiados pelo Governo sejam analisados conforme a repercussão que possam ter em relação a preservação da base de recursos naturais e do meio ambiente.
ESTADO DO CEARÁ #-TO nn GRB~'BELEE DO ouverbesjlilir V. CONSIDERAÇÕES FINAIS 14.A implementação da estratégia de desenvolvimento sustentável na região requer fontes de financiamento duradouras e crescentes ao longo do horizonte de planejamento. Dadas as limitações de recursos, o setor público deve intensificar a articulação externa com vistas a captar recursos públicos nacionais e internacionais e atrair investimentos privados e estrangeiros. Para tal, a ação dos Governos de alavancar fontes de recursos para o crescimento econômico deve basear-se nas seguintes linhas de ação: i)gestões junto ao Governo Federal para obter recursos orçamentários necessários para viabilizar obras de infra-estrutura e programas sociais; ii) negociações com entidades multilaterais (Banco Mundial - BIRD e Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID) e bilaterais (Alemanha e Japão) para assegurar recursos de longo prazo para financiar programas estruturantes para a economia local; iii) esforços de parceria com instituições de cooperação técnica e financeira nacionais e estrangeiras, a fim de carrear para a Região o suporte na execução de projetos de interesse social, cultural, administrativo e tecnológico; iv) incentivos a atração de investimentos privados, a serem aplicados em empreendimentos econômicos de grande impacto nas cadeias produtivas, envolvendo os setores manufatureiro, agro-industrial, agricultura, extração mineral, turismo e outros serviços; v) promoção mais agressiva do potencial da Região no País e no exterior, de modo a atrair fluxos crescentes de turistas, exportações, investimentos, financiamentos e intercâmbio cultural. 15.0s receituário acima mencionado resulta de uma reflexão de nossa própria experiência no Estado do Ceará, que vem passando desde meados da década de 80 por um processo consistente de modernização e aperfeiçoamento da gestão pública voltado para o desenvolvimento sócio-econômico. Os resultados positivos já alcançados nas mais diversas áreas de atuação do poder público no Ceará e a
7 ESTADO DO CEARÁ crescente aceitação popular comprovam que estamos no caminho certo para remover os fatores que historicamente contribuíram para manter o atraso econômico, o patrimonialismo na condução dos negócios públicos, o clientelismo político e a apatia e o descrédito da população com relação a seus governantes. 16.Além do repensar das instituições públicas regionais, públicas e privadas, da revisão de suas missões e de seus papéis, de suas formas de atuação e de seus programas de trabalho, a introdução dos princípios de austeridade fiscal e de gestão compartilhada implica mudanças de atitude frente ao processo de desenvolvimento e ao papel de cada instituição. É imprescindível também o apoio dos Poderes Legislativo e Executivo da União. O Nordeste precisa desse apoio, como também da sociedade brasileira, para que possa contribuir mais para o desenvolvimento nacional e depender menos dessa ajuda no futura. O novo discurso do Nordeste sustentável não deve ter mais a passividade da súplica, mas sim o compromisso com a ação alimentada pela confiança nas muitas oportunidades que a Região tem para unir-se cada vez mais ao Brasil, concorrendo para o seu desenvolvimento como um todo. Muito Obrigado