A EDUCAÇÃO QUILOMBOLA



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Transcrição:

A EDUCAÇÃO QUILOMBOLA

Moura (2001) nos traz um desafio preocupante, não só a partir do debate sobre a melhoria estrutural das escolas em comunidades quilombola, da qualificação continuada dos professores, dos livros didáticos adotados à luz da Lei 10.639/03 e do currículo de uma educação diferenciada para quilombolas, mas também, das intenções políticas da escola tradicional da sociedade brasileira em negar a história e a memória de alguns grupos sociais de brasileiros como os descendentes da citada comunidade. Consequentemente, esses grupos carregam como reflexo a proibição ao acesso de sua história e de sua memória, a negação de sua identidade.

Para superar esse desafio, muitas vezes, ainda sustentada pela escola tradicional da sociedade brasileira, as escolas em comunidades quilombola alertam para a necessidade de uma educação, [...] profundamente vinculada às matrizes culturais diversificadas que fazem parte da formação da nossa identidade nacional, deve permitir aos alunos respeitar os valores positivos que emergem do confronto dessas diferenças, possibilitando-lhes ao mesmo tempo desativar a carga negativa e eivada de preconceitos que marca a visão discriminatória de grupos sociais, com base em sua origem étnica, suas crenças religiosas ou suas práticas culturais. (MOURA, 2001, p.69).

Arruti, Maroun e Carvalho (2011) comentam que só foi possível a criação dessas duas diretrizes, por conta do artigo 68 dos Atos de Disposições Transitórias da Constituição (ADCT) da Constituição Federal (CF) de 1988, e por meio dele, surgem novos suportes normativos que dão apoio jurídico e pedagógico às comunidades quilombolas. Destacamos aqui as quatro diretrizes que assistem a uma educação para comunidades quilombolas, que são: [...] a Lei Federal nº. 10.639 / 2003, cuja orientação consiste em que Educação Básica adote nos conteúdos programáticos o estudo da história e da cultura afro-brasileira; a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), promulgada pelo decreto 5.051, de 2004, que garante o direito de uma educação apropriada às diferenças das populações étnicas; o Plano Nacional de Desenvolvimento de Populações Tradicionais (decreto 6.040, 2007), que aponta para a necessidade de se produzir modalidades de educação adequadas aos modos de vida das populações tradicionais; e a Resolução nº 7 de 2010 do CNE (Conselho Nacional de Educação), que avança na garantia de uma educação diferenciada ao mencionar a necessidade de respeito por parte das escolas que atendem às populações do campo, comunidades indígenas e quilombolas, para com suas peculiaridades de modos de vida. (ARRUTI, MAROUN e CARVALHO, 2011, p.30).

Orientações Curriculares Diversidades - SEDUC O conceito de Educação Quilombola para Nascimento (2007, p.43): As comunidades remanescentes de quilombos possuem dimensões sociais, políticas e culturais significativas, com particularidades no contexto geográfico brasileiro, tanto no que diz respeito à localização quanto à origem. É preciso ressaltar e valorizar as especificidades de cada área de remanescente, quando do planejamento e execução de ações voltadas para o desenvolvimento sustentável desses grupos. Essas comunidades representam um instrumento vigoroso no processo de reconhecimento da identidade negra brasileira para uma maior auto afirmação étnica e nacional. O fato de o quilombo ter existido como uma lacuna onde se construiu uma

Em 1978 é criado o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, assim, as reivindicações e denúncia do racismo da população retornam com mais força no cenário nacional, juntamente com as denúncias de desigualdades raciais, esse movimento negro também apontava a precariedade da situação da população negra no campo. A formação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que depois passou a se intitular apenas Movimento Negro Unificado (MNU), contestava a idéia de que se vivia uma democracia racial brasileira, idéia que os militares adotaram na década de 1970 [...]. O surgimento do MNU redimensionou a militância política naqueles anos de ditadura militar. Coube ao MNU contribuir para uma maior organização da militância e convencer os grupos de esquerda da importância e especificidade da questão racial na sociedade brasileira. Nas décadas de 1970 e 1980, diversas outras organizações negras foram criadas (pag. 290-292). Mas estima-se, que é na década de 80, que as mobilizações das comunidades quilombolas são recolocadas no cenário nacional, garantindo as especificidades das demandas da população negra no campo. Nessa luta, consta-se o reconhecimento de direito à propriedade definitiva aos remanescentes quilombolas, assegurada pelo Artigo 68 da Constituição Federal. Isso possibilitou colocar a problemática da população negra rural como questão nacional. Dentre as problemáticas se apresentam o direito à educação e as especificidades da cultura quilombola.

Atualmente as comunidades quilombolas são reconhecidas pelo Decreto Lei n 4.887, de 20 de novembro de 2003. O seu artigo 2 estabelece que: Consideram-se remanescentes de comunidades de quilombos, para fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. Conforme a Constituição Federal (1988), em seu Art. 216, os quilombos constituem patrimônio cultural brasileiro porque são portadores de referências à identidade e à memória de um dos grupos formadores da nossa sociedade. O território quilombola, nesse sentido, não pode ser entendido como mera exteriorização do direito de propriedade inserida no campo.

Quilombos contemporâneos Moura (2007, p 12) salienta que, atualmente, podem-se conceituar os quilombos contemporâneos: Como comunidades negras rurais habitadas por descendentes de africanos escravizados, que mantêm laços de parentesco e vivem, em sua maioria, de culturas de subsistência, em terra doada, comprada ou ocupada secularmente pelo grupo. Os habitantes dessas comunidades valorizam as tradições culturais dos antepassados, religiosas ou não, recriando-as no presente. Possuem uma história comum e têm normas de pertencimento explícitas, com consciência de sua identidade. São também chamadas de comunidades remanescentes de quilombos, terras de preto, terras de santo ou santíssimo.

Organização Escolar e Curricular É papel da escola organizar-se de forma democrática e com equidade de representação nos espaços deliberativos. A realidade e a forma organizativa das comunidades quilombolas devem estar presentes na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) e na organização do currículo, bem como no desenvolvimento de espaços pedagógicos que propiciem a valorização da identidade quilombola, que possibilite ao aluno (a) conhecer suas origens, pois o reconhecimento/visibilidade da história dos quilombos diz respeito à história e identidade do povo brasileiro. O currículo reproduz valores que irão participar da formação de identidade individual e/ou coletiva. Nesse sentido, Moura (2004, p.6) salienta que: A grande diferença que se deve destacar entre a transmissão do saber nas comunidades negras rurais e nas escolas é que, no primeiro caso, o processo, fruto da socialização, desenvolve-se de forma natural e não formal e, no segundo, o saber nem sempre está referenciado na experiência do aluno.

Dessa forma, o papel da Educação Quilombola é mediar o saber escolar com os saberes local, advindo da ancestralidade que formou a cultura do segmento negro na África e no Brasil. Assim, o currículo deve garantir os conhecimentos e saberes quilombolas, tratando sua própria história, formas de luta e resistência como fonte de afirmação da identidade quilombola e nacional. Segundo Paré & Oliveira (2008, p.218) Faz-se mister a inclusão efetiva da questão racial nos currículos escolares, reconhecendo a identidade étnica dos alunos negros e a valorização de suas potencialidades, a partir da ancestralidade africana. A escola é um espaço privilegiado de construção de conhecimento e a sociedade brasileira possui uma dívida com relação à reconstrução da identidade e auto-estima da população afrodescendente. A estruturação da educação para remanescentes de quilombo deve ser pautada nas Diretrizes Curriculares Nacionais em suas etapas e modalidades, ampliando os conteúdos de base comum, garantindo as especificidades próprias para a educação quilombola, abordando as práticas culturais locais que afirmem sua identidade, valores e saberes que atravessaram o tempo.

Metodologia Ao se tratar da perspectiva da inclusão dos valores afro-brasileiros no currículo da Educação Quilombola, não se está criando uma metodologia específica de aprendizagem para esta modalidade de ensino, mas há de se considerar que, obrigatoriamente, ela possui especificidades, portanto, se faz necessário a expansão dos conteúdos e a estruturação metodológica de ensino usual, para a inclusão dos valores afro-brasileiros que constituem a formação desta nação e as especificidades quilombolas. A escola deve estimular o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem para a produção de conhecimentos, partindo da cultura dos estudantes, estabelecendo diálogo com outras culturas. Dessa forma, o processo educativo, numa perspectiva quilombola, deve ter presentes esses valores afro-brasileiros de maneira que fortaleçam e potencializem a Educação Quilombola. O processo educativo formal de crianças, adolescentes, jovens e adultos quilombolas requer uma educação diferenciada com estreita relação com a formação identitária, autorreconhecimento, valorização da história e cultura dos negros.

Referências Bibliográficas ARRUTI, José Maurício MAROUN, Kalyla; CARVALHO, Ediléia. Educação quilombola em debate: a escola em Campinho da Independência (RJ) e a proposta de uma pedagogia quilombola. In: Construindo Quilombos, desconstruindo mitos: a Educação Formal e a realidade quilombola no Brasil/ Ana Stela de Almeida Cunha (org) - São Luís, SETAGRAF, 2011. MOURA, Gloria. O Direito à Diferença. In: Superando o racismo na escola. 3ª edição / Kabengele Munanga. (org). [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. 2001