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Revista de Biologia e Ciências da Terra ISSN: 1519-5228 revbiocieter@yahoo.com.br Universidade Estadual da Paraíba Brasil Araújo Leite, José Cleidimário; Farias de Sousa, Ridelson; Sant'Ana Silva, Adriano; G. de Gouveia, Josivanda P.; Mesquita da Silva, Manassés; Gomes de Sousa, André Simulação de secagem de milho (Zea mays L.) utilizando o modelo matemático de Thompsom Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 5, núm. 2, segundo semestre, 2005, p. 0 Universidade Estadual da Paraíba Paraíba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50050202 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 5 - Número 2-2º Semestre 2005 Simulação de secagem de milho (Zea mays L.) utilizando o modelo matemático de Thompson José Cleidimário Araújo Leite 1, Ridelson Farias de Sousa 2, Adriano Sant Ana Silva 1, Josivanda P. G. de Gouveia; Manassés Mesquita da Silva; André Gomes de Sousa RESUMO O objetivo deste trabalho foi fazer a simulação de secagem de uma variedade de milho comum para as temperaturas do ar de secagem de 40 e 50 ºC, e fluxos de ar de secagem de 5,0 e 10,0 m 3 min -1 m -2, por meio do programa computacional para simulação de secagem de grãos (SASG), utilizando o modelo de Thompson, para uma massa de grãos dividida em 4 subcamadas, em um secador de leito fixo, até uma umidade final do produto de 12% b.u. Com a análise dos resultados, observou-se que o conteúdo de umidade do milho aumenta e a temperatura diminui com a altura das camadas até a massa de grãos atingir o equilíbrio. Verificou-se ainda que: o tempo total de secagem diminui com o aumento do fluxo de ar para a mesma temperatura e com o aumento da temperatura para o mesmo fluxo de ar de secagem; o maior tempo de secagem, 57,0 h, foi obtido para a condição de temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de secagem de 5,0 m 3 min -1 m -2 e a massa de grãos atingiu o conteúdo de umidade final desejado de 12,0% b.u (13,6% b.s.), com menor tempo de secagem, 22,0 h, para a condição de temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de secagem de 10,0 m 3 min -1 m -2, que foram os valores máximos usados na simulação. Palavras chave: milho, simulação, secagem, modelos matemáticos ABSTRACT The objective of this work was to simulate the drying of a variety of common maize for the temperatures of the drying air of 40 and of 50 ºC, and flows of drying air of 5 and 10 m 3.min -1.m -2, by means of the computational program for simulation of drying of grains (SASG), using the model of Thompson, for a mass of grains divided in 4 sublayers, in a drier of fixed stream bed, until a final humidity of the product of 12% b.u. With the analysis of the results, it was observed that the content of humidity of the maize increases and the temperature diminishes with the height of the layers until the mass of grains to reach the balance. It was still verified that, the total drying time diminishes with the increase of the air flow for the same temperature and with the increase of the temperature for the same drying air flow; the biggest drying time, 57 hours, was gotten for the condition of temperature of 40 ºC and drying air flow of 5 of m 3 min -1 m -2 and the mass of grains reached the final content of humidity desired of 12% b.u (13.6% b.s.), with lesser drying time, 22 hours, for the condition of temperature of air of 50 ºC and drying air flow of 10 m 3 min -1 m -2, that they had been the used maximum values in the simulation. Key words: maize, simulation, drying, mathematical models

1 - INTRODUÇÃO O milho apresenta-se como uma das mais importantes culturas do Brasil, destacando-se como a cultura de maior área cultivada, sendo responsável pelo maior emprego em mão de obra rural e ainda como fornecedora de insumos para alimentação animal (Diniz et al., 1999). O Brasil ocupa o terceiro lugar na produção mundial de milho, após os Estados Unidos e a China Continental, que é responsável por 70% desta produção (Minas Gerais, citado por Alves et al. (2001)). De acordo com Brooker et al. (1992) a qualidade dos grãos de milho depende de vários fatores, como as características da espécie e da variedade, as condições ambientes durante a produção, período e procedimento da colheita, métodos de secagem e armazenagem. De forma geral, a colheita dos grãos de milho é realizada com os grãos ainda com umidade alta, sendo necessário fazer a secagem do produto até o conteúdo de água adequado, para ser ter uma segurança no armazenamento do produto (Alves et al., 2001). Estes autores avaliaram a qualidade dos grãos de milho em função da umidade de colheita e da temperatura de secagem e obtiveram os melhores resultados para os grãos colhidos com conteúdos de umidade de 15 a 16,5% e temperatura do ar de secagem entre 40 e 60 ºC. Corrêa et al. (2001) estudando a cinética de secagem do milho de pipoca, cultivar Zélia, concluíram que as temperaturas do ar de secagem acima de 40 ºC podem provocar uma redução considerável da capacidade de expansão do produto estudado. Para Melendez et al. (1992) as perdas na colheita dos grãos de milho aumentam a medida em que o conteúdo de umidade dos grãos diminui. Segundo Corrêa et al. (1999), a semente atinge uma condição de baixo conteúdo de água logo após a secagem que varia em função das condições de secagem. A secagem é uma técnica largamente usada na preservação de alimentos. É uma operação de transferência simultânea de calor e massa em que umidade é removida do alimento e carreada pelo ar quente (Sogi et al., 2002). O objetivo básico na secagem de produtos alimentícios é a remoção da água do sólido até um certo nível em que a atividade microbiana e reações químicas de deterioração são altamente minimizadas (Krokida et al., 2003). O conhecimento e controle de fatores como temperatura, velocidade de fluxo do ar e conteúdo de umidade é indispensável nos processos de secagem de produtos agrícolas, visto que, de um modo geral, as operações de secagem apresentam altos custos como a utilização de mão de obra, o tempo de secagem e, principalmente, o consumo de energia. Entretanto, estes custos podem ser reduzidos de forma significativa se for realizado um estudo visando o controle das propriedades envolvidas no processo. Entre as mais importantes, estão a temperatura e fluxo do ar de secagem. Segundo Cavalcanti Mata et al. (1999) a secagem é um processo que deve ser previsto,

de um programa que permita a simulação deste processo de forma a predizer, de acordo com as condições de uma região, o melhor tipo de secador a ser usado e as condições de secagem, bem como o tempo necessário para realizá-la. Estes programas de simulação objetivam a redução do tempo e de gastos nos processos de secagem, sendo necessário o conhecimento do processo físico e o modelo matemático correspondente. A utilização de modelos matemáticos na secagem de produtos agrícolas é de fundamental importância, pois com tais modelos torna-se possível a simulação matemática da operação de secagem e com isso o estudo do comportamento das variáveis relacionadas ao processo. Cavalcanti Mata et al. (1999) desenvolveram um programa computacional para simulação de secagem dos produtos agrícolas arroz, café, feijão, milho, milho branco, soja e trigo em secadores de camada estacionária, por meio do modelo de Thompson. O programa possibilita a determinação das propriedades psicrométricas do ar ambiente e do ar aquecido para temperaturas no intervalo de 1 a 150 ºC. Neste programa pode-se fazer simulações de secagem do milho para secadores de fluxo cruzado e fluxo concorrente, e ainda em camada estacionária utilizando o modelo de Hukill. Em seu trabalho sobre simulação de secagem de grãos, estes autores concluíram que o programa desenvolvido apresentou uma simulação satisfatória do processo de secagem no intervalo de temperatura entre 40 e 80 ºC, em secador de camada estacionária, usando o modelo de Thompson, para os produtos arroz, café, feijão, milho, milho branco, soja e trigo. Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo a simulação de secagem de uma variedade de milho comum para diferentes temperaturas e fluxos de ar de secagem, utilizando o programa computacional para simulação de secagem de grãos (SASG), por meio do modelo de Thompson. 2 - MATERIAL E MÉTODOS 2.1 - Local das simulações As simulações foram realizadas no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas da Universidade Federal de Campina Grande UFCG. 2.2 - Seleção do produto O produto selecionado para fazer as simulações foi uma variedade de milho comum escolhida entre os produtos já contidos no programa. 2.3 - Simulações As simulações foram realizadas por meio do uso do programa computacional para simulação de secagem de grãos (SASG), desenvolvido no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. O SASG é constituído de forma a apresentar alternativas para a determinação das propriedades psicrométricas do ar ambiente a partir de dados de temperatura

de bulbo seco (Tbs) e temperatura de bulbo molhado (Tbu) ou temperatura de bulbo seco (Tbs) e umidade relativa do ar (UR) (Cavalcanti Mata et al., 1999). Na Figura 2.1 apresenta-se a tela de abertura do SASG e na Figura 2.2 a tela de entrada de dados do programa. Figura 2.1. Tela de abertura do software SASG Figura 2.2. Tela de entrada de dados do software SASG

A simulação dos dados foi feita para um secador de leito fixo, utilizando-se o modelo de Thompson, e os parâmetros de entrada foram a temperatura de bulbo seco e umidade relativa do ar. A camada total de grãos possuía altura de 0,6 m e foi dividida em 4 subcamadas, com espessura de 0,15 m cada. Os dados de entrada usados na simulação foram: conteúdo de umidade inicial igual a 20,0% b.u. e 25,0% b.s., conteúdo de umidade final igual a 12,0% b.u. e 13,6% b.s., umidade relativa do ambiente de 65,0%, temperatura de bulbo seco igual a 25,0 ºC, altura da camada igual a 0,6 m e pressão atmosférica do ar de 760,0 mm Hg. Com estes dados de entrada, fez -se simulações para duas temperaturas (40,0 e 50,0 ºC) e dois fluxos de ar diferentes (5,0 e 10,0 m 3 min -1 m -2 ), alternando-se estes parâmetros entre si. Na avaliação dos resultados observou-se a variação do conteúdo de umidade do produto e da temperatura do ar de secagem em cada subcamada e na camada total durante o tempo de secagem, bem como o comportamento do tempo de secagem em função da temperatura e do fluxo de ar considerado. 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Figuras de 3.1 a 3.4 estão apresentadas as curvas da variação do conteúdo de umidade do milho comum com o tempo de secagem, para cada uma das quatro subcamadas, para a temperatura e fluxo de ar correspondente, e para altura total das camadas igual 0,6 m, sendo cada subcamada com 0,15 m de espessura. Figura 3.1. Variação do conteúdo de umidade do milho comum em função do tempo, com temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de 5,0 m 3 min -1 m -2

Figura 3.2. Variação do conteúdo de umidade do milho comum em função do tempo, com temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de 10,0 m 3 min -1 m -2 Figura 3.3. Variação do conteúdo de umidade do milho comum em função do tempo, com temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de 5,0 m 3 min -1 m -2

Figura 3.4. Variação do conteúdo de umidade do milho comum em função do tempo, com temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de 10,0 m 3 min -1 m -2 Observa-se nas Figuras de 3.1 a 3.4 que o conteúdo de umidade do milho comum diminui com o tempo em cada camada até atingir um valor constante, e aumenta com a altura da camada. Isso ocorre porque a quantidade de água removida pelo ar de secagem nas camadas inferiores é transferida para as camadas imediatamente acima destas, até este parâmetro atingir o equilíbrio em toda massa de grãos, que é quando o conteúdo de umidade final desejado é atingido e a altura de cada camada e, conseqüentemente, da camada total, é reduzida para um valor mínimo. Neste instante, a massa total dos grãos também fica constante para as condições de secagem consideradas. Nota-se que nas primeiras h do processo de secagem ocorre uma acumulação maior de umidade nas três últimas camadas devido à perda de água no início da secagem ser bem maior na primeira camada, visto que o produto possui conteúdo de umidade inicial alto. Essa água removida na primeira camada é transferida para as demais. Para a temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de 5,0 m 3 min -1 m -2 o tempo total de secagem foi de 57,0 h (Figura 3.1). Na temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de 10,0 m 3 min -1 m -2 o tempo total de secagem foi de 43,0 h (Figura 3.2). Na temperatura de 50 ºC e fluxo de ar de 5,0 m 3 min -1 m -2 o tempo total de secagem foi de 33,0 h (Figura 3.3) e para temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de 10,0 m 3 min -1 m -2 o tempo total de secagem foi de 22,0 h (Figura 3.4). Verifica-se com isso que o tempo total de secagem diminui tanto com o aumento do fluxo de ar para a mesma temperatura quanto com o aumento da temperatura para o mesmo fluxo de ar de secagem.

Nas Figuras de 3.5 a 3.8 estão apresentadas as curvas da variação de temperatura da massa de grãos do milho comum com o tempo de secagem, para cada uma das quatro subcamadas, para a temperatura e fluxo de ar correspondente, e para altura total das camadas igual 0,6 m, sendo cada camada com 0,15 m de espessura. Figura 3.5. Variação da temperatura na camada de grãos do milho comum em função do tempo, com temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de 5,0 m 3 min -1 m -2 Figura 3.6. Variação da temperatura na camada de grãos do milho comum em função do tempo, com temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de 10,0 m 3 min -1 m -2

Figura 3.7. Variação da temperatura na camada de grãos do milho comum em função do tempo, com temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de 5,0 m 3 min -1 m -2 Figura 3.8. Variação da temperatura na camada de grãos do milho comum em função do tempo, com temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de 10,0 m 3 min -1 m -2 Analisando-se as Figuras de 3.5 a 3.8, verifica-se que a temperatura em cada camada aumenta com o tempo de secagem até ficar constante e diminui com a altura das camadas até o equilíbrio da massa de grãos. Com relação ao tempo de secagem, este tem comportamento semelhante ao apresentado anteriormente, ou seja, diminui quando se aumenta o fluxo de ar para a mesma

Por fim, constata-se que a massa de grãos, com altura total da camada igual a 0,6 m, atingiu o conteúdo de umidade final desejado, 12,0% b.u (13,6% b.s.), com menor tempo de secagem, 22,0 h, para a condição de temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de secagem de 10,0 m 3 min -1 m -2, os maiores valores testados na simulação. 4 - CONCLUSÕES Com a análise dos resultados, conclui-se que: O conteúdo de umidade do milho comum aumenta com a altura da camada até a massa de grãos atingir o equilíbrio. O tempo total de secagem diminui com o aumento do fluxo de ar para a mesma temperatura e com o aumento da temperatura para o mesmo fluxo de ar de secagem. A temperatura em cada camada aumenta com o tempo de secagem até ficar constante e diminui com a altura das camadas até o equilíbrio da massa de grãos. O maior tempo de secagem, 57,0 h, foi obtido para a condição de temperatura de 40,0 ºC e fluxo de ar de secagem de 5,0 m 3 min -1 m -2. A massa de grãos atingiu o conteúdo de umidade final desejado de 12,0% b.u (13,6% b.s.), com menor tempo de secagem, 22,0 h, para a condição de temperatura de 50,0 ºC e fluxo de ar de secagem de 10,0 m 3 min -1 m -2. 5 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, W.M.; FARONI, L.R.D.; QUEIROZ, D.M. de; CORRÊA, P.C.; GALVÃO, J.C.C. Qualidade dos grãos de milho em função da umidade de colheita e da temperatura de secagem. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.5, n.3, p.469-474, 2001. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W.; HALL, C.W. Drying and storage of grains and oilseeds. New York: van Nostrand Reinhold, 1992, 450p. CAVALCANTI MATA, M.E.R.M.; DANTAS, L.A.; BRAGA, M.E.D. Programa computacional para simulação de secagem de grãos. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.33-50, 1999. CORRÊA, P. C.; AFONSO JÚNIOR, P. C. Uso do teste de condutividade térmica na avaliação dos danos provocados por diferentes taxas de secagem em sementes de feijão. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.21-26, 1999. CORRÊA, P.C.; MACHADO, P.F.; ANDRADE, E.T. de. Cinética de secagem e qualidade de grãos de milho-pipoca. Revista Ciências Agrotecnologia, Lavras, v.25, n.1, p.134-142, jan./fev. 2001.

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