FALAS DA TERRA NO SÉCULO XXI What do we see green? IELT e PGA Paisagem, Natureza e Condição Humana Três Andamentos 7 de Junho de 2011 Viriato Soromenho-Marques (UL e PGA) 1
Sumário 1. Andamento antropológico. 2. Andamento Onto-antropológico. 3. Andamento histórico (teleológico). 4. Reflexão à guisa de conclusão. 2
1 Andamento antropológico 3
Notas prévias Condenados à condição humana (só um deus poderia falar da Natureza humana). A pulsão totémica como parte desse estar-no-mundo : nós somos (também) as coisas que connosco partilham o mundo. 4
Natureza, solidão, a alteridade do eu Um mundo do qual a solidão tivesse sido banida constituiria um ideal bem pobre. A solidão, no sentido de estarmos sós com frequência, é essencial para qualquer nível de meditação ou de carácter; a solidão, na presença da beleza e da grandiosidade da natureza é o berço dos pensamentos e das aspirações benéficas não só para o indivíduo como também para a sociedade. (John-Stuart Mill, 1970: 116). 5
A nostalgia de um horizonte suficiente As cidades não conferem espaço suficiente aos sentidos humanos. Nós saímos de dia e de noite para alimentar os olhos no horizonte. Eles necessitam tanto de largueza, como nós precisamos de água para o banho (Emerson, 1994: 382). 6
Procura do essencial Eu fui para os bosques porque eu queria viver com intenção e propósito, enfrentar apenas os factos essenciais da vida [...] Eu queria viver profundamente e chupar todo o tutano da vida [...] Não somos nós que montamos o caminho-de-ferro. É ele que nos monta. (Thoreau, 1986: 135-136). 7
2 Andamento Onto-antropológico 8
Kant: As estrelas Duas coisas enchem o espírito duma admiração e duma veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequente e incessantemente a reflexão com isso se ocupa: o céu estrelado por cima de mim e a lei moral em mim. (...) O primeiro panorama de uma quantidade inumerável de mundos destrói por assim dizer a minha importância como criatura animal, que deve devolver a matéria da qual se formou ao planeta (um simples ponto no universo) depois de ter sido durante um certo período de tempo (não se sabe como) dotado de força vital. 9
e a lei moral O segundo, pelo contrário, eleva infinitamente o meu valor como uma inteligência, através da minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida independente da animalidade e mesmo de todo o mundo sensível [...] (KpV, Ak.V, pp. 161-2). 10
Emerson: a mente pensa A natureza é a encarnação de um pensamento, que regressa ao pensamento, de novo, do mesmo modo que o gelo se transforma em água e gás. O mundo é a precipitação da mente, e a sua essência volátil está permanentemente a escapar-se, uma e outra vez, para o estado de pensamento livre (cont.) 11
o mundo que nos pensa Daqui deriva a virtude e pungência da influência sobre a mente dos objectos naturais, sejam inorgânicos ou orgânicos. O homem aprisionado, o homem cristalizado, o homem vegetativo fala com o homem em pessoa (Emerson, 1994: 400-401). 12
3 Andamento histórico (teleológico) 13
Hegel: Portugal [..] É em Portugal que os rios de Espanha encontram a sua saída para o mar. Dever-se-ia crer que, tendo a Espanha rios, deveria também ter uma relação com o mar; mas, essa relação foi especialmente desenvolvida por Portugal. 14
realiza no mar O mar fundamenta de um modo geral um tipo específico de vida. O elemento indeterminado dá-nos a representação do ilimitado e do infinito, e o homem sentindo-se no interior desse infinito encoraja-se para ultrapassar o limitado. 15
a vocação infinita O mar é o que em si próprio não tem fronteiras, e não suporta qualquer calma delimitação em cidades, como sucede em terra firme. A terra, a planície fluvial, fixa os homens ao solo; devido a isso ele tomba numa grande quantidade de dependências. Mas o mar condu-lo para além desse círculo limitado. 16
do Weltgeist 198). É isto que faz o ganho e actividade elevarem-se acima de si próprias, tornando-se em algo de corajoso e nobre. O mar desperta a coragem; aqueles que o experimentam para ganhar a vida e a riqueza devem procurar o seu sustento através da mediação do perigo, eles devem ser corajosos, arriscar e desprezar a vida e a riqueza [...]. (Hegel, 1968: 197-17
Carl Schmitt: o quarto elemento "De acordo com uma antiga doutrina o conjunto da história universal não é mais do que uma viagem através dos quatro elementos" (Schmitt, 1981: 105). Por outras palavras: depois de uma longa estada de inúmeros milénios sobre a Terra, a humanidade teria lançado as velas para uma aventura oceânica secular no Mar, á qual se sucederia uma rapidíssima ascensão com armas e bagagens, em direcção ao Ar, para tudo se concluir, provavelmente, numa medida cronológica ainda mais lacónica, no elemento que resta, o Fogo... 18
Um olhar sobre Portugal, em 1815 "Todos os que conhecem por estudo a grande influência dos bosques e arvoredos na economia geral da natureza, sabem que os países que perderam suas matas estão quase de todo estéreis, e sem gente. Assim sucedeu à Síria, Fenícia, Palestina, Chipre, e outras terras, e vai sucedendo ao nosso Portugal (...) eram imensas as matas: mas com o andar dos séculos esses ricos tesouros, com que nos tinha dotado a mão liberal da Natureza, foram diminuindo e acabando pelo aumento da população e da agricultura; e muito mais pela indolência egoísmo, e luxo desenfreado de necessidades fictícias, que destruíam num dia a obra de muitos séculos. é já tempo de acordarmos de tão profundo sono; e de reflectirmos seriamente nos males que sofre Portugal pela falta de matas e arvoredos..." José Bonifácio de Andrade e Silva, Memória Sobre a Necessidade e Utilidade do Plantio de Novos Bosques em Portugal, Academia Real das Sciencias, 1815. 19
A idade da tecnociência A idade da production: l action sur la nature pour la modifier à l avantage de l homme, Comte, Plan des travaux, 1822. As Universidades técnicas do século XIX como casamento entre teoria e aplicação técnica (cf. Lynn White, Jr., 1967) A alma fáustica do Ocidente associada ao primado da técnica: o inquérito científico orientado pela demanda de poder (cf. Oswald Spengler, 1918, 1931). A tecnociência como ideologia ao serviço da era da mobilização total. E. Jünger, Der Arbeiter, 1932. 20
É isto a Era do Antropoceno? To assign a more specific date to the onset of the 'anthropocene" seems somewhat arbitrary, but we propose the latter part of the 18th century, although we are aware that alternative proposals can be made (some may even want to include the entire holocene). However, we choose this date because, during the past two centuries, the global effects of human activities have become clearly noticeable. Crutzen, P. J., and E. F. Stoermer (2000). "The 'Anthropocene'". Global Change Newsletter 41: 17 18. 21
4 Reflexão à guisa de conclusão 22
Regressar à Terra O ideal do iluminismo pastoral de Thomas Jefferson: Those who labor on the earth are the chosen people of God, if ever He had a chosen people( ) While we have land to labor ( ) let our workshops remain in Europe, Notes on the State of Virginia (1785), Query XIX, pp. 678-679. 23
A utopia ecológica como jardim? Nem Wilderness, ou Selva oscura (Dante)> como se os humanos pudessem ser espectadores desinteressados de uma Natureza independente. Nem Jardim de Versalhes (modelo da desvinculação)> como se a Natureza fosse redutível a pano de fundo, a um capital natural, substituível pelo capital artificial. 24
Bibliografia Principal EMERSON, Ralph Waldo, Nature and Other Writings, edited by Peter Turner, Boston & London, Shambhala, 1994. HEGEL, Die Vernunft in der Geschichte, Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichte, Hamburg, Felix Meiner, 1968, vol. I. KANT, Kritik der praktischen Vernunft, Gesammelte Schriften, Berlin, Preussische Akademie der Wissenschaften, Berlin, 1902 ss., vol V. MILL, John Stuart, Principles of Political Economy, London, Penguin Books, 1970. SCHMITT, Carl Schmitt, Land und Meer. Eine Weltgeschichtliche Betrachtung [1942], Köln-Lövenich, Hohenheim Verlag, 1981. THOREAU, Henry David, Walden and Civil Disobedience, New York, Penguin Books, 1986. 25