OCORRÊNCIA DE INVERSÃO TÉRMICA NO PERFIL TOPOCLIMÁTICO DO PICO DA BANDEIRA, PARQUE NACIONAL DO ALTO CAPARAÓ, BRASIL.



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Transcrição:

Universidade de Coimbra, Maio de 2 OCORRÊNCIA DE INVERSÃO TÉRMICA NO PERFIL TOPOCLIMÁTICO DO PICO DA BANDEIRA, PARQUE NACIONAL DO ALTO CAPARAÓ, BRASIL. Emerson Galvani, Nádia Gilma Beserra de Lima, Rita Monteiro Falcão Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo - USP Email: egalvani@usp.br, nadia.lima@usp.br, rita.falcao@usp.br INTRODUÇÃO O gradiente adiabático seco da troposfera (primeira camada da atmosfera) apresenta redução de -,98 o C.m - e o gradiente adiabático saturado expressa redução de,4 o C.m -. A variação vertical da temperatura do ar (gradiente) nos limites da troposfera apresenta uma redução em média de,65 o C a cada metros de elevação acima do nível da superfície (SELLERS, 974). Isso ocorre por que a atmosfera é transparente a parte da radiação solar de onda curta e mais absorvente para radiação de onda longa terrestre. Assim, a atmosfera passa a ser aquecida a partir da superfície (aquecimento basal). Essa variação obviamente não considera particularidades da rugosidade próxima superfície do solo. Outras particularidades do uso do solo, como cobertura vegetal, coloração, declividade e orientação das vertentes, entre outras, podem influenciar significativamente o perfil vertical de temperatura do ar. Além das características da superfície a dinâmica atmosférica também influencia o gradiente térmico da atmosfera, por exemplo, em condições de estabilidade atmosférica, preferencialmente, em fundos de vale pode ocorrer inversão térmica,

Universidade de Coimbra, Maio de 2 ou seja, aumento da temperatura com a elevação acima do nível do solo, contrariando os princípios aqui descritos. A inversão térmica é uma condição meteorológica que ocorre quando uma camada de ar quente se sobrepõe a uma camada de ar frio, impedindo o movimento ascendente do ar, uma vez que, o ar abaixo dessa camada fica mais frio, portanto, mais pesado, fazendo com que os poluentes se mantenham próximos da superfície. A inversão térmica é um processo meteorológico que ocorre durante todo o ano, tanto em ambientes urbanos como rurais. No inverno, a altura da camada de inversão costuma ocorrer mais próxima a superfície, principalmente no período noturno. Em um ambiente com um considerado número de indústrias e de circulação de veículos, como o das cidades, a inversão térmica pode resultar em elevada concentração de poluentes, ocasionando problemas de saúde (CETESB, 26). Rodela e Tarifa (2), trabalhando com gradiente térmico na Serra de Ibitipoca, MG, (ambiente não urbano) em um perfil variando de.35 a.65 metros de altitude, constataram um gradiente ligeiramente diferenciado entre os períodos de verão e de inverno. As temperaturas reduzem cerca de,5 C a cada m de elevação de altitude no período frio/seco, e cerca de,4 C a cada m de altitude em direção aos pontos mais elevados, no período quente/chuvoso. Galvani e Lima (26) avaliando perfil topoclimático do pico da Agulhas Negras (Itatiaia, SP) observaram que do total de observações (entre os dias 6 a 3 de abril de 25, totalizando 573 leituras horárias em cada posto), 66% caracterizam situação de inversão térmica. As inversões térmicas mais elevadas ocorreram entre os pontos P4 (244 m) e P (276 m) com -8,3 o C entre os pontos, entre os pontos

Universidade de Coimbra, Maio de 2 P4 e P2 (2.63 m) e -6,5 o C, e entre os pontos P4 e P3 (2.52 m) e -8,3 o C de inversão térmica (IT). Diversos trabalhos foram desenvolvidos contribuindo para o entendimento e estimativa da relação entre a temperatura do ar e altitude. Alguns modelos consideram ainda dois outros controles: a latitude e a longitude como variável preditiva da temperatura do ar. Os modelos são expressos por meio de regressões múltiplas onde a variável dependente é a temperatura do ar e a variável independente compõe-se pela altitude, latitude e longitude. Obtido os coeficientes de ajustes pode-se estimar a temperatura do ar para outras localidades conhecendo-se somente as coordenadas geográficas do local. Obviamente estes modelos apresentam uma estimativa aproximada da temperatura do ar. Essas aproximações em condições de inversão térmica não expressam fidedignamente o perfil vertical da temperatura do ar. Dentre os trabalhos relacionando temperatura e altitude cita-se: Pinto e Alfonsi (974) no estado do Paraná, Coelho et al. (973) para o estado de Minas Gerais, Ferreira et al. (97) no estado do Rio Grande do Sul, Alfonsi et al. (974) no estado de Goiás, Monteiro e Tarifa (975) ajustaram os coeficientes para o estado da Bahia, dentre outros. Visando contribuir para o entendimento da ocorrência do processo de inversão térmica e do perfil vertical da temperatura do ar o presente trabalho tem por objetivo: a) Monitorar as médias da temperatura do ar horárias em um perfil topoclimático do Parque Nacional do Alto Caparaó, MG, entre as cotas 2372 m e 2892 m, perfazendo o perfil da parte superior do Pico da Bandeira; b) Determinar as freqüências e os intervalos de ocorrências de inversões térmicas entre os pontos analisados.

Universidade de Coimbra, Maio de 2 ÁREA DE ESTUDO O Parque Nacional do Caparaó situa-se na parte sudoeste do estado do Espírito Santo na divisa com o leste do estado de Minas Gerais, abrangendo também parte deste Estado. Localiza-se entre os paralelos 2 9 e 2 37' S e os meridianos 4 43' e 4 53' W com uma área de aproximadamente 26. hectares em 98 (atualmente 3.8 ha). Nesta área a altitude é um controle climático importante que influencia as temperaturas, juntamente com a cobertura vegetal, a proximidade do mar (cerca de 2 km do oceano atlântico) e a latitude. O clima da região é tropical de altitude, em que há presença de uma estação mais chuvosa, correspondente aos meses de primavera e verão, e outra menos chuvosa, correspondente aos meses de outono e inverno. Os totais pluviométricos situam-se entre. e.5 mm anuais, chegando a.75 em determinadas áreas do parque. A vertente a barlavento sul não apresenta estação seca, ao passo que a vertente a sotavento pode chegar a três meses de estiagem ao ano, em geral de junho a agosto. A temperatura média anual varia de 24 o C nas áreas de menor altitude a 6 o C nas de altitudes mais elevadas, podendo atingir valores abaixo de zero em determinadas condições atmosféricas (Plano de Manejo, 98). MATERIAIS E PROCEDIMENTOS Foram instalados oito mini abrigos meteorológicos em uma variação altimétrica partindo do ponto (P) a 99 m de altitude até o pico da Bandeira com 2892 m (P8). Detalhes construtivos dos mini abrigos e sua funcionalidade podem ser obtidos em Armani (25). Os sensores de temperatura e umidade relativa do ar foram programados

Universidade de Coimbra, Maio de 2 para leituras horárias entre os dias 9/4/9 a 22/5/9 totalizando 84 observações (Figura ). As coordenadas geográficas dos pontos encontram-se na tabela. Neste trabalho foram analisados somente os valores de temperatura do ar registrada nos pontos P4, P5 e P8. A escolha destes pontos deve-se a sua localização em relação ao escoamento do ar frio. O ponto P8 é o ponto mais elevado do perfil e os pontos P4 e P5 localizam-se em locais de fundo de vale e aplainados funcionando como locais de acumulo de ar frio. Figura : Mini abrigo meteorológico instalado no ponto 5 ao longo do perfil topoclimático do Pico da Bandeira, MG.

Universidade de Coimbra, Maio de 2 Tabela : Localização dos todos os pontos instalados ao longo do perfil topoclimático do Pico da Bandeira, MG (em negrito os pontos utilizados neste trabalho). Pontos Coordenadas UTM (X) Coordenadas UTM (Y) Altitude (m) P 273 77388 99 P2 222 7739288 6 P3 26962 774622 954 P4 26663 7739426 2365 P5 27374 773959 2483 P6 2767 7738536 2652 P7 27968 773822 28 P8 28286 7737335 2882 Os sensores passaram por um período inicial de calibração antes de serem instalados a campo. Nesta fase todos os sensores ficaram no mesmo ambiente e foram aferidos. Os dados foram descarregados em computador e trabalhados em programa gráfico e estatístico. Considerou-se ocorrência de inversão térmica sempre que, na leitura da mesma hora, os dados do ponto com cota inferior apresentam registros inferiores aquele de cota mais elevada. Portanto, se o valor de temperatura do ar obtida em P5, por exemplo, for menor que aquele obtido em P8 caracteriza-se como IT. O gradiente altimétrico entre P5 e P8 é de 4 metros e entre P4 e P8 é de 58 metros. Foram estabelecidos quatro intervalos de classes para ocorrência de inversão térmica, conforme tabela 2. Os dados de ocorrência de IT foram submetidos a análise de freqüência relativa de ocorrência (FR) em cada intervalo de classe. A FR

Universidade de Coimbra, Maio de 2 de determinado intervalo de classe representa a porcentagem desse evento em relação ao total de observações. Tabela 2: Classes de ocorrência de inversão térmica utilizados neste trabalho. Classe Intervalo Ausência de IT 2 >,26 < 4, o C 3 > 4, < 8, o C 4 > 8, o C RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios de temperatura do ar para os pontos P4, P5 e P8 foram de 9,7 o C, 8,9 o C e 8,3 o C, respectivamente. Esses valores médios expressam uma redução esperada da temperatura do ar em função a altitude. Contudo, uma análise dos valores de temperatura mínima absoluta indica para P4 um valor de -,4 o C, para P5 um valor de -3,3 o C e para P8 2,9 o C indicando que em P5 ocorreram as menores temperaturas do ar mesmo estando este ponto em cota 4 m abaixo de P8. A observação visual da figura 2 indica momentos (período noturno em especial) em que a temperatura do ar dos pontos de cota inferior é mais reduzida que aquelas no ponto de cota superior

Universidade de Coimbra, Maio de 2 indicando ocorrência de IT. A tabela 3 apresenta o total de ocorrências de IT entre os pontos P4 e P8 e P5 e P8. Figura 2: Variação da temperatura do ar nos pontos P4, P5 e P8 entre os dias 9/4/9 a 22/5/9. Tabela 3: Total de ocorrências de IT nas diferentes classes entre os pontos P4 e P8 e P5 e P8 entre os dias 9/4/9 a 22/5/9. Classe IT entre P4 e P8 IT entre P5 e P8 Registro FR (%) Registro FR (%) sem IT 68, 72,9 568, 68, 2 >,26 < 4, o C 74 2,9 72 2,6 3 > 4, < 8, o C 4 4,9 79 9,5

Universidade de Coimbra, Maio de 2 4 > 8, o C,3 5,8 Total 84, 84, A análise da tabela 3 indica que: entre P4 e P8 ocorreram, respectivamente, 2,9, 4,9 e,3% de situações com IT nas classes 2, 3 e 4 e em 72,9% das observações não se registrou ocorrência de IT no perfil topoclimático estudado, entre P5 e P8 do total de observações, 2,6%, 9,5% e,8% estiveram dentro dos intervalos de IT nas classes 2, 3 e 4, respectivamente. Em 68,% das observações as condições de gradiente térmico da atmosfera estiveram dentro do esperado, ou seja, sem IT (classe ). A inversão térmica mais elevada no período foi registrada entre P5 e P8 com -2,7 o C às 7hmin do dia 2/4/29 (figura 3). Para este dia e horário, P8 registrou-se 9,7 o C temperatura do ar e em P5 o valor foi de -3, o C, evidenciando um acúmulo de ar frio em P5. Esta condição expressa uma estabilidade atmosférica muito acentuada com ar frio escoando para as partes menos elevadas e se acumulando nas proximidades do ponto P5 e P4.

Universidade de Coimbra, Maio de 2 Figura 3: Variação da amplitude térmica entre P4 e P8 e P5 e P8 entre os dias 9 a 2 de abril de 29 no Pico da Bandeira. Observa-se também um ciclo diuturno da ocorrência de IT. O período diurno apresenta sempre condição normal de variação vertical da temperatura do ar (P4 e P5 com valores mais elevados que P8), isso porque a atmosfera nessas condições de aquecimento basal tende a apresentar processos convectivos mais intensos misturando a camada de ar e se aquecendo de baixo para cima. No período noturno, em especial após algumas horas após o ocaso, o que se observa é uma inversão do perfil térmico da atmosfera próximo a superfície com a ocorrência de IT. Esses processos tendem a se intensificar nos momentos de maior resfriamento da superfície. O escoamento do ar frio e o acúmulo nas partes mais baixas do relevo intensificam a magnitude da IT. A figura 4 apresenta a média horária da temperatura do ar entre P4 e P8 e também o desvio absoluto. Observa-se um ciclo diuturno

Universidade de Coimbra, Maio de 2 bastante definido com valores positivos de desvio nos horários de temperaturas máximas (período diurno) e negativos no período de temperaturas mínimas (período noturno). Observa-se, ainda, uma intensificação da amplitude térmica com o período de máximo resfriamento coincidindo as maiores ITs com os valores mínimos de temperatura do ar, evidenciando maior acúmulo de ar frio nas partes mais baixas do terreno (no caso representado pelo P4). Considerando que no P4 é onde se localiza o acampamento dos turistas que fazem a escalada noturna para assistir ao nascer do sol do pico da Bandeira, a evidência de ocorrência das temperaturas mais reduzidas neste ponto pode ser uma informação importante no planejamento das atividades turísticas da região. 2, 8, Desvio Absoluto P4 P8 6, 4, 2,, ºC 8, T 6, 4, 2,, -2, : : 2 : 3 : 4 : 5 : 6 : 7 : 8 : 9 : : : 2 : 3 : 4 : 5 : 6 : 7 : 8 : 9 : 2 : 2 : 2 : 2 3 : -4, hora Figura 4: Temperatura do ar média horária entre P4 e P8 e desvio absoluto da temperatura do ar entre os dias 9/4/9 a 22/5/9 no pico da Bandeira.

Universidade de Coimbra, Maio de 2 CONSIDERAÇÕES FINAIS A ocorrência de inversão térmica no perfil topoclimático do Pico da Bandeira indica ciclo diuturno que responde aos momentos de aquecimento e resfriamento da superfície e da atmosfera. O período diurno apresentou variação vertical da temperatura do ar dentro do esperado, com P4 e P5 com valores mais elevados que P8, resultado do aquecimento basal da atmosfera que tende a apresentar processos convectivos mais intensos, enquanto no período noturno se destacou a presença de inversão do perfil térmico da atmosfera próximo a superfície. A configuração do perfil topográfico é um importante controle do clima em relação à ocorrência do processo de IT. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALFONSI, R.R., PINTO, H.S, PEDRO JR, M.J. Estimativa das normais de temperatura médias mensais e anual para o estado de Goiás em função de altitude e latitude. Caderno de Ciências da Terra, São Paulo, 45, 974. ARMANI, G.; GALVANI, E. Avaliação do desempenho de um abrigo meteorológico de baixo custo. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, 25. COELHO, D.T., SEDIYAMA, G.C., VIEIRA, M. Estimativas das temperaturas médias mensais no estado de Minas Gerais. Revista Ceres, 2(2), p.455-59, 973. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO CETESB. Agência do Estado de São Paulo responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição. Disponível em <http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em 26.

Universidade de Coimbra, Maio de 2 FERREIRA, M., BURIOL, G.A., ESTEFANEL, V., PINTO, H.S. Estimativa das temperaturas médias mensais e anuais no estado do Rio Grande do Sul. Revista do Centro de Ciências Rurais,, p.2-5, 97. GALVANI, E., LIMA, N.G.B. A ocorrência inversões térmicas no perfil topoclimático do Pico das Agulhas Negras RJ. IN: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA, 7, 26. Rondonópolis. Anais... Rondonópolis: UFMT, 26. INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL IBDF / FUNDAÇÃO BRASILEIRA PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA. Plano de Manejo do Parque Nacional do Caparaó. Brasília, 98. PINTO, H.S., ALFONSI, R. R. Estimativa das temperaturas médias, máximas e mínimas mensais no estado do Paraná, em função da altitude e latitude. Caderno de Ciências da Terra, 52, São Paulo, 974. RODELA, L. G.; TARIFA, J. R. O clima da serra de Ibitipoca, Sudeste de Minas Gerais. Revista GEOUSP, Espaço e Tempo, São Paulo,, pp.- 3, 22 SELLERS, W.D. Physical Climatology. Chigago: The University of Chicago Press, 974. 272p.