PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Odontologia CONSEQUÊNCIAS DO PREPARO DO ESMALTE COM HIPOCLORITO DE SÓDIO E ÁCIDOS POLIACRÍLICO E FOSFÓRICO NA COLAGEM COM IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADO POR RESINA ALESSANDRA MARQUES TRINDADE Belo Horizonte 2011
Alessandra Marques Trindade CONSEQUÊNCIAS DO PREPARO DO ESMALTE COM HIPOCLORITO DE SÓDIO E ÁCIDOS POLIACRÍLICO E FOSFÓRICO NA COLAGEM COM IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADO POR RESINA Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Odontologia. Área de concentração: Ortodontia. Orientador: Prof. Dr. Dauro Douglas Oliveira Co-orientador: Prof. Dr. Perrin Smith Neto Belo Horizonte 2011
FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais T833c Trindade, Alessandra Marques Consequências do preparo do esmalte com hipoclorito de sódio e ácidos poliacrílico e fosfórico na colagem com ionômero de vidro modificado por resina / Alessandra Marques Trindade. Belo Horizonte, 2011. 39f.: il. Orientador: Dauro Douglas Oliveira Coorientador: Perrin Smith Neto Dissertação (Mestrado) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. 1. Braquetes ortodônticos. 2. Resistência do cisalhamento. 3. Cimentos dentários de ionômero de vidro. 4. Hipoclorito de sódio. I. Oliveira, Dauro Douglas. II. Smith Neto, Perrin. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. IV. Título. CDU: 616.314-089.23
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aos meus amados pais, pelo exemplo de vida, amor incondicional e por serem os responsáveis por mais esta vitória alcançada. Aos meus irmãos, Rodrigo e João Marcos, pelo amor e apoio. Ao Augusto, grande amor, por ser tão compreensivo e estar sempre ao meu lado. Acima de tudo, ao PAI MAIOR, pela oportunidade de vida e de formação acadêmica. Com amor, dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS Ao meu estimado orientador, prof. Dr. Dauro Douglas Oliveira, pela confiança em mim depositada, ensinamentos transmitidos e exemplo profissional; Ao meu co-orientador, prof. Dr. Perrin Smith Neto, e ao seu aluno Osvaldo Abadia de Carvalho Filho, pela disponibilidade e atenção; À Dra. Tatiana Bahia Junqueira Pereira, por ser sempre tão solícita e imprescindível para a realização deste trabalho; Aos professores do Mestrado em Ortodontia: Dr. Armando, Dr. Bernardo, Dr. Ênio, Dr. Flávio, Dr. Hélio, Dr. Heloísio, Dr. Ildeu, Dr. José Eymard, Dr. José Maurício, Dr. Júlio e Dr. Tarcísio pela competência e seriedade com as quais conduzem o curso; Aos meus amigos de mestrado Daniel, Fernanda, Izabella, Petrus e Raquel pela sincera amizade e solidariedade nas realizações dos trabalhos. Sem dúvida, tornaram o curso mais fácil; Aos colegas da turma IX, X e XII, em especial Sara, Maria Rita e Camila, pelo grande incentivo e alegre convivência; Aos funcionários, em especial Diego, Alcides e Lorraine, e aos pacientes, pelo carinho e pela disponibilidade em contribuir para a concretização de mais uma jornada; Ao prof. Dr. Martinho Horta, coordenador dos Programas de Pós-graduação em Odontologia, pela importante disponibilidade na realização das análises estatísticas; Ao CEFET, em especial ao Bruno Cordeiro, pela boa vontade e competência; Aos professores, Dr. Paulo Seraidarian, Dr. Camilo Melgaço e Dr. Belini Freire-Maia pela importante indicação e valiosos ensinamentos; Ao grande amigo Lísius, o qual se empenhou fortemente para realização deste meu objetivo; Aos meus familiares, em especial minhas avós Eron e Ione, pelas orações e apoio; E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram e torceram pelo meu sucesso. Muito obrigada!!!
Quando amamos e acreditamos do fundo de nossa alma em algo, nos sentimos mais fortes que o mundo, e somos tomados de uma serenidade que vem da certeza de que nada poderá vencer nossa fé. Esta força faz com que sempre tomemos as decisões certas, na hora exata, e, quando atingimos o nosso objetivo ficamos surpresos com nossa própria capacidade. (PAULO COELHO)
RESUMO A busca por um material de colagem ideal e por melhorias na técnica de colagem de bráquetes para melhor atender as necessidades clínicas dos ortodontistas ainda persiste. Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da desproteinização com hipoclorito de sódio (NaOCl) a 5,25%, em esmaltes posteriormente tratados com ácidos poliacrílico a 10% (APA) e fosfórico a 35% (AF), na força de união de bráquetes ortodônticos colados com cimento de ionômero de vidro modificado por resina (CIVMR). Cem pré-molares extraídos por razões ortodônticas foram aleatoriamente divididos em 5 grupos (n=20): G1 (controle), esmalte condicionado com AF, aplicação de adesivo e colagem dos bráquetes com resina composta Transbond XT (3M/Unitek, Monrovia, CA, EUA); G2, esmalte condicionado com APA e colagem dos bráquetes com CIVMR (Fuji Ortho LC, GC América, Alsip, IL, EUA); G3, esmalte tratado com NaOCl, condicionado com APA e colagem dos bráquetes com CIVMR; G4, esmalte condicionado com AF, bráquetes colados com CIVMR; G5, esmalte tratado com NaOCl, condicionado com AF e bráquetes colados com CIVMR. Após a colagem dos bráquetes, os dentes foram armazenados em água destilada por 24 horas, em condições ambientes de temperatura e pressão, até serem submetidos ao teste de cisalhamento em máquina universal de ensaios mecânicos (EMIC DL 500, São José dos Pinhais, PR, Brasil). Os resultados demonstraram que o valor da força de união do grupo controle foi maior que os valores encontrados para todos os grupos experimentais (p<0,05). Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos colados com CIVMR (p>0,05), exceto entre G3 e G5. Quanto ao Índice de Adesivo Remanescente não houve diferenças estatisticamente significantes entre os valores médios dos cinco grupos testados (p>0,05). Conclui-se que o uso do NaOCl associado ao APA aumentou a força de união de bráquetes colados com CIVMR, sem significância estatística. A desproteinização do grupo tratado com AF diminuiu a força de união dos bráquetes, também sem ser estatisticamente significante (p>0,05). Todos os grupos colados com CIVMR apresentaram valores de força de união estatisticamente menores em relação ao valor do grupo colado com resina composta. Palavras-chave: Bráquetes. Resistência ao cisalhamento. Cimentos de ionômeros de vidro. Hipoclorito de sódio.
ABSTRACT The search for an ideal bonding material and to improve the current bonding techniques to better suit the clinical demands of orthodontic bonding persists. The purpose of this study was to evaluate the effects of enamel deproteinization with 5.25% sodium hypochlorite (NaOCl) on the shear bond strength (SBS) of metallic brackets bonded with resin reinforced glass ionomer cements (RIGIC) to enamel surfaces conditioned with either 10% polyacrylic acid (PAA) or 35% phosphoric acid (PHA). One hundred premolars extracted for orthodontic purposes were randomly assigned to 5 groups (n = 20): G1 (control), enamel conditioned with PHA and brackets bonded with composite resin (Transbond XT, 3M/Unitek, Monrovia, CA, USA); G2, enamel conditioned with PAA and brackets bonded with RRGIC (Fuji Ortho LC, GC America, Alsip, IL, EUA); G3, enamel treated with NaOCl, conditioned with PAA and brackets bonded with RIGIC; G4, enamel conditioned with PHA and brackets bonded with RRGIC; G5, enamel treated with NaOCl, conditioned with PHA and brackets bonded with RIGIC. After bonding, all teeth were stored in distilled water for 24 hours at room temperature until ready for SBS testing. Mean SBS values were recorded for all groups immediately after debonding. The results showed that SBS of the control group were significantly higher than the values found for all experimental groups (p<0,05). There were no statistically significant differences among the four groups bonded with RRGIC (p>0,05), except when G3 SBS values were compared to G5. Relative to the Adhesive Remnant Index (ARI) there were no statistically significant differences of among the ARI registered for all five groups. The conclusion is that the use of NaOCl combined with PAA increased the bond strength of brackets bonded with RIGIC. However, these changes were not statistically significant. NaOCl enamel deproteinization associated with PHA decreased the SBS, but the differences were not statistically significant. All groups bonded with RRGIC showed significantly lower SBS values than the control samples. Key-words: Brackets. Shear strength. Glass ionomers cements. Sodium hypochlorite.
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 2 OBJETIVOS... 11 2.1 Objetivo geral... 11 2.2 Objetivos específicos... 11 3 MATERIAIS E MÉTODOS... 12 3.1 Materiais utilizados... 12 3.2 Preparo da amostra... 14 3.3 Divisão dos grupos... 16 3.4 Teste de resistência da união ao cisalhamento... 18 3.5 Análise da falha na união... 19 3.6 Imagens microscópicas... 20 3.7 Análise estatística... 20 ARTIGO... 21 REFERÊNCIAS... 36 ANEXOS... 38
9 1 INTRODUÇÃO O advento da técnica de condicionamento ácido do esmalte dentário introduzida em meados do século XX (BUONOCORE, 1955) caracterizou um decisivo e importante passo para a prática da Odontologia e, consequentemente, da Ortodontia. Outros estudos foram necessários para complementar este trabalho pioneiro. No campo da Ortodontia, esta descoberta resultou em médio prazo na substituição dos acessórios aderidos aos dentes por meio de bandas pelo uso de bráquetes colados diretamente ao esmalte dentário. Dentre inúmeras vantagens da colagem direta, destacam-se a redução do tempo de cadeira para a colocação dos aparelhos e a melhora da estética dos mesmos. Atualmente, a técnica de colagem direta com resina composta (RC) é considerada o padrão ouro para a montagem dos aparelhos ortodônticos fixos (PITHON et al., 2006; HORIUCHI et al., 2011). Apesar disso, as RC possuem algumas limitações importantes como, por exemplo, a não proteção adequada contra a desmineralização do esmalte ao redor dos bráquetes. Dessa forma, a busca pelo material de colagem ideal, ou seja, que apresente características físicas, químicas, mecânicas e biológicas para melhor atender as necessidades clínicas dos ortodontistas ainda persiste. Apresentar força de união suficiente para suportar tanto as cargas mastigatórias quanto àquelas geradas pela mecânica ortodôntica, sem, contudo ser tão alta a ponto de colocar em risco a integridade do esmalte quando da remoção dos acessórios é a propriedade principal. Além disso, o sistema de colagem ideal deveria possuir tempo de trabalho adequado para que o ortodontista posicione corretamente os acessórios e, por fim, ser biocompatível. (IANNI FILHO et al., 2004). A manutenção da higiene bucal apropriada paralela ao uso de aparelhos fixos ainda constitui um desafio para os pacientes ortodônticos. O surgimento de lesões de mancha branca durante o tratamento continua fonte de grande preocupação para os ortodontistas que, sensibilizados com o problema, permanecem atentos a novos materiais ou a variações de técnicas que possam amenizar e/ou prevenir tais danos à saúde bucal (PITHON et al., 2006; HORIUCHI et al., 2011). A fim de minimizar e/ou eliminar problemas causados pela higienização bucal inadequada, bochechos com flúor a 0,05% durante a terapia ortodôntica foram sugeridos. Porém, em apenas 15% dos casos este protocolo mostrou-se eficaz
10 (GEIGER, GORELICK, GWINNET, 1988). Stecksénblicks et al., (2007) propuseram a aplicação de vernizes com altas concentrações de flúor ao redor dos acessórios ortodônticos. Houve redução na taxa de desmineralização do esmalte em até 44%, contudo o alto custo e o elevado tempo de cadeira constituem importantes limitações dessa abordagem clínica. Portanto, a colagem de bráquetes com materiais que liberem flúor ao redor dos bráquetes ainda parece ser o ideal. Existem vários materiais para colagem de bráquetes disponíveis no mercado. Os cimentos à base de ionômero de vidro (CIV), derivados dos estudos de Wilson e Kent (1972), também podem ser empregados para a colagem de bráquetes. Estes produtos teoricamente apresentam propriedades bastante interessantes para o ortodontista, tais como: (1) biocompatibilidade ao esmalte e à dentina; (2) bom efeito cariostático, pois liberam íons fluoreto que agem sobre a área de esmalte envolvida promovendo assim sua remineralização. Entretanto, os CIV convencionais apresentam força de união abaixo do que é considerado ideal clinicamente (FORSTEN, 1998; NEWMAN, NEWMAN, SENGUPTA, 2001; BISHARA et al., 2007). Com o objetivo de aumentar a força de união dos cimentos ionoméricos, surgiu o cimento de ionômero de vidro modificado por resina (CIVMR). Essa alteração melhorou o desempenho adesivo do material, o que deve ser creditado à adição de componentes resinosos. Porém, esta maior força de união permanece aquém das forças registradas com as resinas compostas (CHOO, IRELAND, SHERRIFF, 2001; EWOLDSEN, DEMKE, 2001; WHEELER, FOLEY, MAMANDRAS, 2002). Recentemente, o uso de hipoclorito de sódio (NaOCl) a 5,25% como agente desproteinizador previamente ao condicionamento ácido e à colagem de bráquetes com CIVRM foi sugerido para promover o aumento da força de união. Este aumento seria causado pela remoção da matéria orgânica, tanto do esmalte como da película adquirida, o que afetaria a qualidade do condicionamento realizado (ESPINOSA et al., 2008, JUSTUS et al., 2010; AHUJA et al., 2010). Baseando-se na proposta supracitada ainda pouco estudada este trabalho tem como objetivo comprovar os efeitos da desproteinização do esmalte na colagem de bráquetes com CIV modificado por resina previamente condicionado com ácido poliacrílico e fosfórico.
11 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar os efeitos da desproteinização do esmalte dentário, com hipoclorito de sódio a 5,25%, na força de união de bráquetes ortodônticos colados com cimento de ionômero de vidro modificado por resina. 2.2 Objetivos específicos Avaliar se a desproteinização do esmalte com NaOCl prévia ao condicionamento com ácido poliacrílico aumenta a força de união de bráquetes metálicos colados com CIVMR; Avaliar se a desproteinização do esmalte com NaOCl prévia ao condicionamento com ácido fosfórico aumenta a força de união de bráquetes metálicos colados com CIVMR; Avaliar se há diferença na força de união de bráquetes metálicos colados com CIVMR em esmaltes condicionados com ácido poliacrílico e ácido fosfórico; Avaliar o índice de adesivo remanescente (IAR) após a descolagem de bráquetes colados com CIVMR, em esmaltes previamente tratados e não-tratados com NaOCl e, condicionados com ácido poliacrílico; Avaliar o índice de adesivo remanescente (IAR) após a descolagem de bráquetes colados com CIVMR, em esmaltes previamente tratados e não-tratados com NaOCl e, condicionados com ácido fosfórico.
12 3 MATERIAIS E MÉTODOS Os procedimentos experimentais descritos neste item foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Minas (Anexo). 3.1 Materiais utilizados Dois diferentes adesivos utilizados para colagem direta em Ortodontia foram avaliados neste estudo (FIG. 1A e B): 1. Resina composta fotopolimerizável: Transbond XT TM (3M/Unitek, Monrovia, CA, EUA). 2. Cimento de ionômero de vidro modificado por resina: Fuji Ortho LC Capsule TM (Fuji Ortho LC, GC América, Alsip, IL, EUA). Dois tipos de condicionadores de esmalte foram utilizados (FIG. 2): 1. Ácido poliacrílico 10%: Ortho Conditioner TM (Fuji Ortho LC, GC América, Alsip, IL, EUA). 2. Ácido fosfórico 35%: Transbond XT Etching Gel TM (3M/Unitek, Monrovia, CA, EUA). Um tipo de desproteinizador de esmalte: 1. Hipoclorito de sódio a 5,25% (manipulado na Farmácia Lenzafarme, Belo Horizonte, MG, Brasil).
13 Figura 1A: Resina composta fotopolimerizável (Transbond XT TM ) Fonte: Elaborada pela autora Figura 1B: CIVMR (Fuji Ortho LC Capsule TM ) Fonte: Elaborada pela autora
14 Figura 2: Condicionadores de esmalte Fonte: Elaborada pela autora 3.2 Preparo da amostra Cem pré-molares provenientes do Banco de Dentes Humanos vinculado ao Departamento de Odontologia da PUC Minas foram adquiridos, limpos e armazenados em água destilada à temperatura ambiente até o momento da colagem dos bráquetes. Como critério de inclusão, os dentes deveriam ter superfície vestibular intacta, sem lesão cariosa, cavitação e/ou restauração. Após seleção dos dentes, os mesmos tiveram suas raízes seccionadas com disco de carburundum, cerca de 2 mm apicalmente à junção cemento esmalte (JCE) para facilitar o procedimento de montagem (FIG. 3). Figura 3: Pré-molar com raízes seccionadas Fonte: Elaborada pela autora
15 Um dispositivo de montagem foi confeccionado para padronizar o preparo dos dentes e garantir o controle adequado na colagem. A extremidade de um tubo de PVC serviu de apoio para um segmento de fio 0.0215 x 0.025 (American Orthodontics, Sheboygan, WI, EUA) que foi preso à margem do tubo por meio de dois bráquetes Edgewise Standard com canaleta 0,022 x 0,028 in (American Orthodontics, Sheboygan, WI, EUA) (FIG. 4). O tubo foi suspenso em outro tubo de PVC, porém mais fino pelo apoio desse fio. O primeiro tubo foi preenchido com acrílico autopolimerizável até o nível de suas margens e do tubo mais fino (FIG. 5). Figura 4: Dispositivo de montagem Fonte: Elaborada pela autora Figura 5: Coroa do pré-molar suspensa no centro do tubo Fonte: Elaborada pela autora
16 3.3 Divisão dos grupos Uma vez confeccionados os corpos de prova, os mesmos foram aleatoriamente distribuídos em 5 grupos (n=20). Cada grupo teve a superfície vestibular de seus dentes limpos com uma mistura de pedra pomes (Asfer Indústria Química Ltda., São Caetano do Sul, SP, Brasil) e água, com auxílio de uma taça de borracha acionada em baixa rotação por 5 segundos seguidos de lavagem e secagem por igual tempo. Bráquetes com dimensões 0.022 x 0.028 Edgewise Standard (American Orthodontics, Sheboygan, WI, EUA) foram colados no centro da coroa clínica dos pré-molares e os excessos de material foram removidos da borda dos bráquetes. G1 controle: o esmalte foi condicionado com ácido fosfórico 35% por 30 segundos, lavado por 10 segundos com água e seco novamente. Uma fina cobertura de adesivo foi colocada na vestibular e fotopolimerizada por 10 segundos. Os bráquetes foram então colados com resina composta (Transbond XT TM, 3M/Unitek, Monrovia, EUA). G2: o esmalte foi condicionado com ácido poliacrílico 10% por 20 segundos, lavado com água por 10 segundos e seco com ar comprimido livre de óleo. A superfície do esmalte foi umedecida com água, conforme recomendado pelo fabricante. Os bráquetes foram colados com cimento de ionômero de vidro modificado por resina (Fuji Ortho LC TM, GC América, Alsip, IL, EUA). G3: o esmalte foi desproteinizado com hipoclorito de sódio a 5,25% por 60 segundos, lavado com água e seco com ar, condicionado com ácido poliacrílico 10% por 20 segundos, lavado com água por 10 segundos e seco com ar comprimido livre de óleo. A superfície do esmalte foi umedecida com água, conforme o recomendado pelo fabricante. Os bráquetes foram colados com CIVMR. G4: o esmalte foi condicionado com ácido fosfórico 35% por 30 segundos, lavado com por 10 segundos com água e seco com ar comprimido livre de óleo. Os bráquetes foram colados com CIVMR. G5: o esmalte foi desproteinizado com hipoclorito de sódio a 5,25% por 60 segundos, lavado com água e seco com ar, condicionado com ácido fosfórico 35%
17 por 30 segundos, lavado com água por 10 segundos e seco com ar comprimido livre de óleo. Os bráquetes foram colados com CIVMR. Todos os procedimentos foram realizados pelo mesmo operador. O CIVMR foi pré-proporcionado pelo fabricante em cápsulas, para evitar possíveis falhas na razão pó/líquido. Depois de ativada e misturada em um amalgamador por 10 segundos, uma cápsula foi usada para colar 5 dentes. A polimerização foi feita com um fotopolimerizador (Hilux TM 250 Halogen, Benlioglu, Ankara, Turkey) (FIG. 6) por 10 segundos nas superfícies mesial, distal, cervical e oclusal dos bráquetes. Antes da polimerização das amostras de cada grupo, a intensidade da luz foi aferida com um radiômetro para garantir um correto comprimento de onda entre 400 e 500nm. Após 10 minutos da colagem dos bráquetes, os dentes foram armazenados em água destilada por 24 horas à temperatura ambiente até serem submetidos ao teste de resistência ao cisalhamento. Figura 6: Fotopolimerizador (Hilux TM 250 Halogen) Fonte: Elaborada pela autora
18 3.4 Teste de resistência da união ao cisalhamento Foi utilizada a Máquina Universal de Ensaios Mecânicos (EMIC DL 500, São José dos Pinhais, PR, Brasil) com uma célula de carga de 500 Newtons (N) com velocidade de operação de 0,5 mm/min (FIG. 7). A ponta tipo cinzel foi acoplada na parte superior da máquina e posicionada para tocar homogeneamente a base dos bráquetes (FIG. 8). Os valores foram obtidos em Newton e transformados em Megapascal (MPa) utilizando a projeção da área da base do bráquete (10.55 mm 2 ), conforme informado pelo fabricante. Esta pesquisa foi conduzida no Laboratório de Análise Estrutural do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC Minas. Figuras 7: Máquina Universal de Ensaios Mecânicos Fonte: Elaborada pela autora
19 Figuras 8: Ponta tipo cinzel Fonte: Elaborada pela autora 3.5 Análise da falha na união A superfície vestibular dos pré-molares foi fotografada microscopicamente pós-descolagem por meio de um USB Digital Microscope (Digivision, Dongguan, Guangdong, China) (FIG. 9) com um aumento de 20 vezes. As imagens obtidas foram analisadas pelo mesmo examinador que foi previamente calibrado. A porcentagem de adesivo que permaneceu no esmalte foi quantificada de acordo com os valores do Índice de Adesivo Remanescente (IAR) variando de 0 a 3, previamente reportados por Artun e Bergland (1984): 0: Nenhum adesivo permaneceu na superfície do esmalte. 1: Menos de 50% do adesivo permaneceu no dente. 2: Mais de 50% do adesivo permaneceu no dente. 3: Todo o adesivo permaneceu na estrutura do dente.
20 Figura 9: USB Digital Microscope Fonte: Elaborada pela autora 3.6 Imagens microscópicas Após descolagem dos bráquetes e análise da falha na união, um dente de cada grupo teve a superfície do esmalte e o respectivo adesivo remanescente fotografados microscopicamente. Para a obtenção de tais imagens foi utilizado um Microscópio Eletrônico de Varredura (SHIMADZU SSX-550). Os dentes aleatoriamente selecionados foram então preparados para serem observados num aumento de 500 vezes. 3.7 Análise estatística A variável estudada para força de união ao cisalhamento foi de natureza cardinal com distribuição normal (normalidade aferida pelo teste D Agostino e Pearson). A existência de diferença na força de união entre os grupos foi avaliada por meio do teste ANOVA um critério, seguido pelo teste post hoc de Bonferroni. A variável estudada para IAR foi de natureza ordinal. Logo, o teste Kruskal Wallis seguido pelo teste post hoc de Dunn foi utilizado para avaliar a existência de diferença no ARI entre os grupos.os testes estatísticos foram executados utilizandose o Software GraphPad Prism (GraphPad Software, San Diego, Califórnia, USA).
21 ARTIGO Artigo formatado segundo as normas de publicação da Revista Angle Orthodontist. CONSEQUÊNCIAS DO PREPARO DO ESMALTE COM HIPOCLORITO DE SÓDIO E ÁCIDOS POLIACRÍLICO E FOSFÓRICO NA COLAGEM COM IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADO POR RESINA Alessandra Marques Trindade a ; Tatiana Bahia Junqueira Pereira b ; Perrin Smith Neto c ; Matheus Melo Pithon d ; Martinho Campolina Rebello Horta e ; Dauro Douglas Oliveira f a Mestranda em Ortodontia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. b Mestre em Ortodontia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. c Professor titular de Engenharia Mecânica, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. d Professor de Ortodontia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, BA, Brasil. e Coordenador dos Programas de Mestrado em Odontologia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. f Coordenador do Mestrado em Ortodontia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Autor para correspondência: Alessandra Marques Trindade Email: alessandra1mt@yahoo.com.br Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Pós-graduação em Odontologia Av. Dom José Gaspar, 500 Prédio 46, sala 106. Belo Horizonte, MG, Brasil, 30535-610 Telefone: 55 (31) 3319-4414, Fax: 55 (31) 3319-4415
22 RESUMO Objetivo: avaliar os efeitos da desproteinização com hipoclorito de sódio (NaOCl) a 5,25% em esmaltes tratados com ácido poliacrílico a 10% (APA) e fosfórico a 35% (AF), na força de união (FU) de bráquetes colados com cimento de ionômero de vidro modificado por resina (CIVMR). Materiais e métodos: cem pré-molares foram divididos em 5 grupos (n=20): G1 (controle), esmalte condicionado com AF, aplicação de adesivo e bráquetes foram colados com resina composta Transbond XT (3M/Unitek, Monrovia, CA, EUA); G2, esmalte condicionado com APA e colagem com CIVMR (Fuji Ortho LC, GC América, Alsip, IL, EUA); G3, esmalte tratado com NaOCl, condicionado com APA e colagem com CIVMR; G4, esmalte condicionado com AF, colagem com CIVMR; G5, esmalte tratado com NaOCl, condicionado com AF e colagem com CIVMR. Após a colagem dos bráquetes, os dentes foram armazenados em água destilada por 24 horas, em condições ambientes de temperatura e pressão, até submeterem-se ao teste de cisalhamento em máquina universal de ensaios mecânicos (EMIC DL 500, São José dos Pinhais, PR, Brasil). Resultados: valor da FU de G1 foi maior que valores encontrados para todos os grupos experimentais (p<0,05). Não houve diferenças estatisticamente significativas entre grupos colados com CIVMR (p>0,05), exceto entre G3 e G5. Quanto ao Índice de Adesivo Remanescente não houve diferenças estatisticamente significantes entre os valores médios dos grupos testados (p>0,05). Conclusões: o uso do NaOCl associado ao APA aumentou a FU de bráquetes colados com CIVMR. A desproteinização do grupo tratado com AF diminuiu a FU dos bráquetes. PALAVRAS-CHAVE: Bráquetes; Resistência ao cisalhamento; Cimentos de ionômeros de vidro; Hipoclorito de sódio
23 INTRODUÇÃO A busca pelo material de colagem ideal, ou seja, que apresente características físicas, químicas, mecânicas e biológicas para melhor atender as necessidades clínicas dos ortodontistas persiste. Apresentar força de união suficiente para suportar tanto as cargas mastigatórias quanto àquelas geradas pela mecânica ortodôntica, sem, contudo ser tão alta a ponto de colocar em risco a integridade do esmalte quando da remoção dos acessórios é a propriedade principal. Além disso, o sistema de colagem ideal deveria possuir tempo de trabalho adequado para que o ortodontista posicione corretamente os acessórios e, finalmente ser biocompatível 1. A manutenção da higiene bucal paralela ao uso de aparelhos fixos ainda constitui um desafio para pacientes ortodônticos. O surgimento de lesões de mancha branca durante o tratamento continua fonte de preocupação para os profissionais 2,3. Materiais para colagem à base de cimento de ionômero de vidro (CIV) estão disponíveis no mercado 4. Estes apresentam propriedades ideais, tais como: biocompatibilidade ao esmalte e à dentina e bom efeito cariostático. Entretanto, produtos à base de CIV apresentam força de união clinicamente baixa 5, 6, 7. Com objetivo de aumentar a força de união, surgiu o cimento de ionômero de vidro modificado por resina (CIVMR). Essa alteração melhorou o desempenho adesivo do material, o que deve ser creditado à adição de componentes resinosos. Porém, esta maior força de união permanece aquém das forças registradas com as resinas compostas 8, 9, 10. O uso do hipoclorito de sódio (NaOCl) a 5,25% como agente desproteinizador, previamente ao condicionamento ácido e à colagem de bráquetes com CIVMR foi sugerido para promover o aumento da força de união. Este aumento seria causado pela remoção da matéria orgânica, tanto do esmalte como da película adquirida, o que afetaria a qualidade do condicionamento realizado 11, 12, 13. Baseando-se na proposta supracitada, este trabalho buscou: avaliar os efeitos da desproteinização do esmalte na colagem de bráquetes com CIVMR previamente condicionado com ácido poliacrílico e fosfórico. Além disso, avaliar se há diferença na força de união de bráquetes colados com CIVMR em esmaltes condicionados com ácido poliacrílico ou fosfórico.
24 MATERIAIS E MÉTODOS Cem pré-molares provenientes do Banco de Dentes Humanos vinculado ao Departamento de Odontologia PUC Minas foram adquiridos, limpos de tecidos moles e armazenados em água destilada à temperatura ambiente até estarem prontos para uso. Como critério de inclusão, os dentes deveriam ter superfície vestibular intacta, sem lesão cariosa, cavitação e/ou restauração. Todos os procedimentos experimentais descritos neste trabalho foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Minas. Um dispositivo de montagem foi confeccionado para padronizar o preparo dos dentes e garantir o controle adequado na colagem (Figura 1). Cada grupo teve a superfície vestibular dos dentes limpos com uma mistura de pedra pomes (Asfer Indústria Química Ltda., São Caetano do Sul, SP, Brasil) e água, com auxílio de uma taça de borracha, acionada em baixa rotação por 5 segundos. Os dentes foram aleatoriamente distribuídos em cinco grupos de diferentes tratamentos do esmalte (n=20). Após esta etapa, os bráquetes metálicos com dimensões 0.022 x 0.028 Edgewise Standard (American Orthodontics, Sheboygan, WI, EUA) foram colados no centro das coroas clínicas e excessos de material foram removidos da borda dos bráquetes. Os pré-molares foram divididos nos seguintes grupos: G1 controle: esmalte condicionado com ácido fosfórico 35% por 30 segundos, lavado por 10 segundos com água e seco com ar comprimido livre de óleo. Uma fina cobertura de adesivo foi colocada e polimerizada por 10 segundos. Os bráquetes foram colados com resina composta (Transbond XT TM, 3M/Unitek, Monrovia, EUA). G2: esmalte condicionado com ácido poliacrílico 10% por 20 segundos, lavado com água por 10 segundos e seco com ar comprimido livre de óleo. A superfície do esmalte foi umedecida com água, conforme recomendado pelo fabricante. Os bráquetes foram colados com CIVMR (Fuji Ortho LC TM, GC América, Alsip, IL, EUA). G3: esmalte desproteinizado com NaOCl a 5,25% por 60 segundos, lavado com água e seco com ar, condicionado com ácido poliacrílico 10% por 20 segundos, lavado com água por 10 segundos e seco com ar comprimido livre de óleo. A
25 superfície do esmalte foi umedecida com água, conforme recomendado pelo fabricante. Os bráquetes foram colados com CIVMR. G4: esmalte condicionado com ácido fosfórico 35% por 30 segundos, lavado com por 10 segundos com água e seco com ar comprimido livre de óleo. Os bráquetes foram colados com CIVMR. G5: esmalte desproteinizado com NaOCl a 5,25% por 60 segundos, lavado com água e seco com ar, condicionado com ácido fosfórico 35% por 30 segundos, lavado com água por 10 segundos e seco com ar comprimido livre de óleo. Os bráquetes foram colados com CIVMR. Todos os procedimentos foram realizados pelo mesmo operador, seguindo recomendações do fabricante. A polimerização dos materiais de colagem foi feita com um fotopolimerizador (Hilux TM 250 Halogen, Benlioglu, Ankara, Turkey) por 10 segundos nas superfícies mesial, distal, cervical e oclusal dos bráquetes. Após colagem dos bráquetes, os dentes foram armazenados em água destilada por 24 horas à temperatura ambiente até serem submetidos ao teste de cisalhamento. Foi utilizada a Máquina Universal de Ensaios Mecânicos (EMIC DL 500, São José dos Pinhais, Paraná, Brasil) com célula de carga de 500 Newtons, velocidade de operação de 0,5 mm por minuto. A ponta tipo cinzel foi acoplada na parte superior da máquina e posicionada para tocar homogeneamente a base dos bráquetes. Os valores foram obtidos em Newton e transformados em Megapascal (MPa) utilizando a projeção da área da base do bráquete (10.55 mm 2 ), conforme informado pelo fabricante. Esta pesquisa foi conduzida no Laboratório de Análise Estrutural do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC Minas. A superfície vestibular dos pré-molares foi fotografada microscopicamente pós-descolagem por um USB Digital Microscope (Digivision, Dongguan, Guangdong, China) com aumento de 20 vezes. As imagens obtidas foram analisadas por um examinador e a porcentagem de adesivo que permaneceu no esmalte foi quantificada de acordo com valores do Índice de Adesivo Remanescente (IAR) variando de 0 a 3, reportados por Artun e Bergland (1984): 0: Nenhum adesivo permaneceu na superfície do esmalte. 1: Menos de 50% do adesivo permaneceu no dente. 2: Mais de 50% do adesivo permaneceu no dente.
26 3: Todo o adesivo permaneceu no dente. Após descolagem dos bráquetes e análise da falha na união, um dente de cada grupo teve a superfície do esmalte e o respectivo adesivo remanescente fotografados microscopicamente. Para obtenção de tais imagens foi utilizado um Microscópio Eletrônico de Varredura (SHIMADZU SSX-550). Os dentes aleatoriamente selecionados foram então preparados para serem observados num aumento de 500 vezes. A variável estudada para força de união ao cisalhamento foi de natureza cardinal com distribuição normal (normalidade aferida pelo teste D Agostino e Pearson). A existência de diferença na força de união entre os grupos foi avaliada por meio do teste ANOVA um critério, seguido pelo teste post hoc de Bonferroni. A variável estudada para IAR foi de natureza ordinal. Logo, o teste Kruskal Wallis seguido pelo teste post hoc de Dunn foi utilizado para avaliar a existência de diferença no ARI entre os grupos. Os testes estatísticos foram executados utilizando-se o Software GraphPad Prism (GraphPad Software, San Diego, Califórnia, USA). RESULTADOS Os resultados deste trabalho mostraram que o valor médio da força de união ao cisalhamento do grupo controle foi significativamente maior (p<0,05) que os valores encontrados para todos os grupos experimentais. O valor médio da força de união do G2 (8,60± 5,29) foi menor que do grupo G3, porém sem diferença estatisticamente significante (p>0,05). Ao comparar G2 com G4 e G5, os grupos tratados com ácido fosfórico apresentaram valores médios menores, mas também sem apresentarem diferenças estatisticamente significantes (p>0,05). O valor médio da força de união de G3 (9,86 ± 2,90) foi maior que do G4, porém sem diferença estatisticamente significante (p>0,05). Ao comparar G3 com G5, o valor médio do último grupo foi estatisticamente menor (p<0,05). Finalmente, a força de união média registrada para G4 (6,72 ± 2,31) foi maior que de G5 (5,00 ± 2,49), entretanto sem diferença estatisticamente significante (p>0,05). Os valores médios e de desvio padrão da força de união ao cisalhamento de todos os grupos testados são apresentados na Tabela 1 e Figura 2.
27 Analisando-se os valores de IAR (Tabela 2), assim como do grupo controle, os resultados dos grupos G3, G4 e G5 mostraram tendência a ter todo o adesivo remanescente pós-descolagem na estrutura do esmalte. Entretanto, os resultados do G2 revelaram-se diferentes daqueles observados nos grupos anteriores, ou seja, menos de 50% do adesivo permanecendo no esmalte. Apesar dessas tendências, o teste Kruskal-Wallis demonstrou ausência de diferenças estatisticamente significantes para os valores médios de IAR dos grupos estudados (p>0,05). A Figura 3 ilustra a superfície do esmalte e o respectivo adesivo remanescente correspondente a uma amostra de cada grupo estudado. DISCUSSÃO Observando-se os resultados deste trabalho, nota-se que os valores médios da força de união ao cisalhamento dos grupos G1, G2, G3 e G4 mostraram-se acima dos valores mínimos sugeridos por Reynolds (1975). Em contrapartida, G5 apresentou-se abaixo desse valor. Espinosa et al., 2008, realizaram um estudo no qual o objetivo era analisar se haveria melhora nas propriedades retentivas do esmalte ao usar NaOCl a 5,25% como etapa prévia ao condicionamento ácido (ácido fosfórico 37%). Encontraram mais padrões de descalcificação do tipo 1 e 2, enquanto sem NaOCl encontraram predominantemente padrão tipo 3. Vale relembrar que Silverstone, 1975, ao realizar a micromorfologia do esmalte observou que nos padrões de descalcificação tipo 1 e 2 há maior grau de retenção, diferentemente do padrão tipo 3. A qualidade topográfica do condicionamento não pode ser observada clinicamente. Considerando os resultados descritos por Espinosa et al., 2008, Justus et al., 2010 foram pioneiros em avaliar se a desproteinização do esmalte com NaOCl prévia ao condicionamento com ácido fosfórico aumentaria a força de união ao cisalhamento dos bráquetes colados com CIVMR. A força de união destes bráquetes encontrou-se em níveis compatíveis com aquela obtida com a resina composta. Os autores não avaliaram a combinação NaOCl e ácido poliacrílico, que é o ácido sugerido pelo fabricante. Logo, o presente trabalho objetivou se a desproteinização do esmalte prévia ao condicionamento com diferentes ácidos (poliacrílico 10% e fosfórico 35%) na colagem de bráquetes com CIVMR aumentaria a adesividade destes. O resultado
28 encontrado nos grupos condicionados com ácido poliacrílico foi um aumento na força de união quando o esmalte foi tratado com NaOCl, porém esta diferença não foi estatisticamente significante em relação aos demais. Importante diferença entre os dados encontrados e os apresentados pelo estudo de Justus et al., 2010, é que o aumento da força de união decorrente do uso de NaOCl foi estatisticamente significante em seu estudo. Nos grupos condicionados com ácido fosfórico, notou-se diminuição na força de união quando o esmalte foi tratado com NaOCl. Entretanto, esta diferença não foi estatisticamente significante. Isto implica que, analisando-se a topografia do esmalte após o condicionamento ácido, não houve importante melhora na qualidade do padrão de descalcificação no grupo desproteinizado em relação ao nãodesproteinizado. Tais dados estão de acordo com o estudo de Ahuja et al., 2010, no qual demonstraram diminuição na qualidade do padrão de descalcificação do esmalte desproteinizado com NaOCl e também condicionado com ácido fosfórico (53,58% tipo 1 e 2). No grupo não utilizado NaOCl, o padrão tipo 1 e 2 foram encontrados em 55,76% das superfícies dos esmaltes. Assim como no presente trabalho, Ahuja et al., 2010 não encontraram diferença estatisticamente significante entre os grupos. Entretanto, os resultados supracitados não corroboram com dados encontrados por Justus et al., 2010, que relataram aumento estatisticamente significante da força de união ao utilizar NaOCl previamente ao condicionamento com ácido fosfórico. Apesar do ácido poliacrílico ser recomendado pelo fabricante, para Bishara; Ferh; Jakobsen, 1993 e Toledano et al., 2003 a força de união dos CIVMR só é aceitável quando o ácido fosfórico é utilizado. Observaram menores forças de união quando o esmalte foi condicionado com ácido poliacrílico a 10 ou 20%. Pithon et al., 2006, também relataram que bráquetes colados com CIVMR e previamente condicionados com ácido fosfórico podem demonstrar valores de força de união ao cisalhamento satisfatórios assim como os de bráquetes colados com resina composta. Os autores do presente trabalho tiveram como um dos objetivos testar e comparar a força de união dos bráquetes condicionados com ácido poliacrílico e fosfórico. Já Bishara et al., 2008 encontraram resultados semelhantes aos do presente trabalho. Concluíram que o grupo dos bráquetes colados com CIVMR e previamente tratado com ácido poliacrílico apresentou maior força de união ao cisalhamento em
29 relação ao grupo previamente tratado com ácido fosfórico. Horiuchi et al., 2011, observaram microscopicamente a superfície do esmalte após realizarem condicionamento ácido com diferentes agentes (entre eles, ácido poliacrílico e fosfórico) e, em seguida realizaram testes de resistência ao cisalhamento colando os bráquetes com resina composta. Demonstraram que superfícies condicionadas pelo ácido poliacrílico permaneceram praticamente intactas, enquanto aquelas condicionadas com ácido fosfórico encontraram-se realmente porosas. Em contrapartida, ao teste de resistência ao cisalhamento o grupo condicionado com ácido poliacrílico mostrou maior força de união em relação ao condicionado com ácido fosfórico. Estes valores coincidem com os da presente pesquisa, quando se observa maior valor da força de união nos bráquetes condicionados com ácido poliacrílico que com fosfórico. Apesar do discreto acréscimo de componentes resinosos ao líquido do CIV convencional, o CIVMR apresenta vantagens como: melhora no tempo de trabalho e nas propriedades mecânicas iniciais. Entretanto, a resistência final do CIVMR não se mostra maior que a do CIV convencional 21, 22. O ácido poliacrílico tem sido utilizado para condicionar superfícies que receberão CIV convencional ou modificado por resina. Diferentemente do ácido fosfórico, o ácido poliacrílico constitui um ácido de moléculas grandes que não atua em profundidade, apenas promove uma limpeza da superfície. O CIVMR colado após o esmalte ser tratado com ácido poliacrílico não mostra prolongamentos (tags). Logo, é demonstrado que tal colagem seja mais química que mecanicamente ativada 23, 24. Considerando-se o fato supracitado e os achados do presente estudo, uma vez que a colagem do CIVMR é predominantemente ativada de forma química, o tamanho das moléculas dos ácidos não influenciará significativamente na retenção do CIVMR. Quanto aos valores de IAR, este estudo demonstrou não haver diferença estatisticamente significante entre os grupos avaliados. Estes dados contradizem aos do estudo de Justus et al., 2010, no qual o cimento permaneceu predominantemente no esmalte em grupos tratados com NaOCl. A desproteinização do esmalte utilizando-se NaOCl como complemento ao ataque ácido para elevar a força de união consiste numa técnica inovadora e pouco
30 relatada na literatura que, por sua vez, deve ser melhor testada em aspectos clínicos e laboratoriais. Os condicionamentos com ácidos poliacrílico e fosfórico, mesmo com auxílio do NaOCl, mostraram-se insuficientes para obtenção de valores de união semelhantes àqueles obtidos com o uso das resinas compostas. CONCLUSÕES Pode-se concluir com a realização deste trabalho que: 1. A desproteinização do esmalte com NaOCl prévia ao condicionamento com ácido poliacrílico aumentou a força de união de bráquetes colados com CIVMR. 2. A desproteinização do esmalte com NaOCl prévia ao condicionamento com ácido fosfórico diminuiu a força de união de bráquetes colados com CIVMR. 3. As forças de união dos bráquetes colados com CIVMR em esmaltes condicionados unicamente com ácido poliacrílico ou ácido fosfórico não apresentaram diferenças estatisticamente significantes entre si. 4. Após a descolagem dos bráquetes colados com CIVMR não se observou diferença na quantidade de adesivo remanescente no esmalte de cada grupo. REFERÊNCIAS 1. Ianni Filho D, Silva TBC, Simplício AHM, Lofredo LCM, Ribeiro RP. Avaliação in vitro da força de adesão de materiais de colagem em Ortodontia: Ensaios mecânicos de cisalhamento. Rev Dent Press Ortod Ortoped Facial. 2004;9:39-48. 2. Pithon MM, Dos Santos RL, De Oliveira MV, Ruellas AC, Romano FL. Metallic brackets bonded with resin-reforced glass ionomer cements under different enamel conditions. Angle Orthod. 2006;76:700-704. 3. Horiuchi S, Kuroda S, Hiasa M, Suge T, Saku S, Hamada K, Matsuo T, Asaoka K, Tanaka E. Reinforcement of bond strength of self-etching orthodontic adhesive. Angle Orthod. 2011;0:1-5. 4. Wilson AD, Kent BE. A new translucent cement for dentistry. The glass ionomer cement. Br Dent J. 1972;132:133-135.
31 5. Forsten L. Fluoride release and uptake by glass-ionomers and related materials and its clinical effect. Biomaterials. 1998;19:503-508. 6. Newman RA, Newman GV, Sengupta A. In vitro bond strengths of resin modified glass ionomer cements and composite resin self-cure adhesives: introduction of an adhesive system with increased bond strength and inhibition of decalcification. Angle Orthod. 2001;71:312-317. 7. Bishara SE, Ostby AW, Laffon J, Warren JJ. A self-conditioner for resin modified glass ionomers in bonding orthodontic brackets. Angle Orhod. 2007;77:711-715. 8. ChooSC, Ireland AJ, Sherriff M. An in vivo investigation into the use of resinmodified glass poly (alkenote) cements as orthodontic bonding agents. Eur J Orthod. 2001;23:403-449. 9. Ewoldensen N, Demke RS. A review of orthodontic cements and adhesives. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2001;120:45-48. 10. Wheeler AW, Foley TF, Mamandras A. Comparison of fluoride release protocols for in-vitro testing of 3 orthodontic adhesives. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2002;121:301-309. 11. Espinosa R, Valencia R, Uribe M, Ceja I, Saadia M. Emanel desproteinization and its effect on acid etching: an in vitro study. J Clin Pediatr Dent. 2008;33:13-20. 12. Espinosa R, Valencia R, Uribe M, Ceja I, Saadia M. Resin replica in enamel deproteinization and its effect on acid etching. J Clin Pediatr Dent. 2010;35:47-52. 13. Ahuja B, Yeluri R, Baliga MS, Munshi AK. Enamel deproteinization before acid etching A scanning electron microscopic observation. J Clin Pediatr Dent. 2010;35:169-172. 14. Artun J, Bergland S. Clinical trials with crystal growth conditioning as an alternative to acid-etch enamel pre-treatment. Am J Orthod. 1984;85:333-340. 15. Reynolds IR. A review of direct orthodontic bonding. Br J Orthod. 1975;2:171-178. 16. Silverstone LM, Saxton CA, Dogon IL, Fejerskov O. Variation in the pattern of acid etching of human dental enamel examined by scanning electron microscopy. Caries Res. 1975;9:373-387. 17. Justus R, Cubero T, Ondarza R, Morales F. A new technique with sodium hypochorite to increase bracket shear bond strength two adhesive systems with enamel surface deproteinization before etching. Seminars in Orthod. 2010;16:66-75.
32 18. Bishara SE, Ferh DE, Jakobsen JR. A comparative study of the debonding strengths of different ceramic brackets, enamel conditioners, and adhesives. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1993;104:170-179. 19. Toledano M, Osorio R, Osorio E, Romeo A, Higuera B, García-Godoy E. Bond strength of orthodontic brackets using different light and self-curing cements. Angle Orthod. 2003;73:56-63. 20. Bishara SE, Soliman M, Laffoon JF, Warren J. Shear bond strength of a new high fluoride release glass ionomer adhesive. Angle Orthod. 2008;78:125-128. 21. Mathis RS, Ferracane JL. Properties of a glass-ionomer/resin-composite hybrid material. Dent Mater. 1989;5:355-358. 22. Wilson AD. Resin-Modified Glass-Ionomer Cements. Int J Prosthodont. 1990;3:425-429. 23. Smith DC, Cartz L. Crystalline interface formed by Polyacrylic acid and tooth enamel. J Dent Res. 1973;52:1155. 24. Fjeld M, Øgaard B. Scanning electron microscopic evaluation of enamel surfaces exposed to 3 orthodontic bonding systems. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2006;130:575-581.
33 ILUSTRAÇÕES DO ARTIGO Figura 1. Coroa do pré-molar suspensa no tubo durante a colagem Tabela 1. Média e desvio padrão da força de união avaliada nos cinco grupos Grupo Força de união (MPa) Valor de p* G1 G2 G3 G4 G5 17,08 ±6,39 8,60 ± 5,29 9,86 ± 2,90 6,72 ± 2,31 5,00 ± 2,49 a, b, c, d, i < 0,05 e, f, g, h, j n.s. * Valor de p obtido através do teste ANOVA um critério seguido pelo teste post hoc de Bonferroni a G1 versus G2 b G1 versus G3 c G1 versus G4 d G1 versus G5 e G2 versus G3 f G2 versus G4 g G2 versus G5 h G3 versus G4 i G3 versus G5 j G4 versus G5
34 Figura 2. Média e desvio padrão da tensão avaliada nos cinco grupos avaliados Tabela 2. Índice de Adesivo Remanescente (IAR) entre os grupos avaliados IAR Grupo 0 1 2 3 1 0 4 5 11 2 3 6 5 6 3 0 5 6 9 4 0 3 7 10 5 0 3 4 13
35 Figura 3. Imagens microscópicas da superfície do esmalte após descolagem dos bráquetes e o respectivo adesivo remanescente. A - grupo G1; B grupo G2; C grupo G3; D - grupo G4 e E - grupo G5.
36 REFERÊNCIAS AHUJA, B.; YELURI, R.; BALIGA, M.S.; MUNSHI, A.K. Enamel deproteinization beforeacidetching A scanning electron microscopic observation. Journal of Clinical Pediatric Dentistry, v. 35, n. 2, p. 169-172, 2010. ARTUN, J.; BERGLAND, S. Clinical trials with crystal growth conditioning as an alternative to acid-etch enamel pre-treatment. American Journal of Orthodontics, v. 85, n. 4, p. 333-340, 1984. BISHARA, S.E.; OSTBY, A.W.; LAFFON, J.; WARREN, J.J. A self-conditioner for resin modified glass ionomers in bonding orthodontic brackets. Angle Orthodontist, v. 77, n. 4, p. 711-715, 2007. BUONOCORE, M.G. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filling material to enamel surface. Journal of Dental Research, v. 34, n. 6, p. 849-853, 1955. CHOO, S.C.; IRELAND A, J.; SHERRIFF, M. An in vivo investigation into the use of resin-modified glass poly (alkenoate) cements as orthodontic bonding agents. European Journal of Orthodontics, v. 23, n. 4, p. 403-409, 2001. ESPINOSA, R.; VALENCIA, R.; URIBE, M.; CEJA, I.; SAADIA, M. Emaneldesproteinization and its effect on acid etching: an in vitro study. Journal of Clinical Pediatric Dentistry, v. 33, n. 1, p. 13-19, 2008. EWOLDENSEN, N.; DEMKE, R.S. A review of orthodontic cements and adhesives. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, v. 120, n. 1, p. 45-48, 2001. FORSTEN, L. Fluoride release and uptake by glass-ionomers and related materials and its clinical effect. Biomaterials, v. 19, n. 6, p. 503-508, 1998. GEIGER, A.; GORELICK, L.; GWINNET, A.J.; GRISWOLD, P.G. The effect of a fluoride program on white spot formation during orthodontic treatment. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, v. 93, n. 1, p. 29-37, 1988. HORIUCHI, S.; KURODA, S.; HIASA, M.; SUGE, T.; SAKU, S.; HAMADA, K.; MATSUO, T.; ASAOKA, K.; TANAKA, E. Reinforcement of bond strength of selfetching orthodontic adhesive. Angle Orthodontist, v. 82, n. 1, p. 30-35, 2012. IANNI FILHO, D.; SILVA, T.B.C.; SIMPLÍCIO, A.H.M.; LOFREDO, L.C.M.; RIBEIRO, R.P. Avaliação in vitro da força de adesão de materiais de colagem em Ortodontia: Ensaios mecânicos de cisalhamento. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, v. 9, n. 1, p. 39-48, 2004. JUSTUS, R.; CUBERO, T.; ONDARZA, R.; MORALES, F. A new technique with sodium hypochorite to increase bracket shear bond strength two adhesive systems with enamel surface deproteinization before etching. Seminars in Orthodontics, v. 16, n. 1, p. 66-75, 2010. NEWMAN, R.A.; NEWMAN, G.V.; SENGUPTA, A. In vitro bond strengths of resin modified glass ionomer cements and composite resin self-cure adhesives: